No médio, formação une básicas a eletivas


Além de disciplinas comuns a todos, aluno pode cursar áreas com as quais tem afinidade

Por Ocimara Balmant e especial para o Estadão

Vírus e bactérias estão nas aulas de Biologia do ensino médio desde sempre. Consequências econômicas e sociais causadas por epidemias que a humanidade atravessou também não são novidade em História. Tampouco a discussão sobre a origem e a dispersão das doenças fica de fora do estudo da Geografia. 

O problema é que tudo isso sempre foi ensinado de forma estanque, talvez em anos letivos distintos, sem contextualização com o momento atual ou sinalização da importância desse conhecimento. O resultado foram décadas de ensino médio conteudista, com alto índice de evasão na rede pública. Nas escolas privadas, a etapa tem sido vista como uma época para decorar temas cobrados no vestibular e que, após a matrícula na universidade, nunca mais virão à tona.

Linguagem digital e habilidades socioemocionais permeiam todo conteúdo ensinado no Arquidiocesano, colégio pronto para o Currículo Paulista, formato da BNCC no Estado Foto: Mariana Correa/ Aquidiocesano
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“O modelo antigo, conteudista, não era inteligente. Muito não tinha serventia para a vida futura. Uma coisa é falar dos fenômenos físicos, outra completamente diferente é pedir para calcular”, diz Dionei Andreatta, coordenador do ensino médio do Colégio Arquidiocesano. 

Escolha

A instituição está pronta para implementar em 2021 o Currículo Paulista, formato desenhado pelo Estado de São Paulo para fazer valer a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A principal novidade são os itinerários formativos: o jovem decide a área em que quer aprofundar parte de seus estudos já no ensino médio, o que é uma forma de fortalecer o protagonismo e ajudá-lo a construir seu projeto de vida.

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Na prática, mantém-se a formação básica – comum a todos alunos, com todas as disciplinas – e ganham-se itinerários formativos. São cinco, sendo um deles técnico. O aluno pode estudar em uma escola técnica desde o início do médio ou escolher compor parte ou toda a carga horária de itinerário com cursos técnicos. Nessa última, tem ao menos duas possibilidades.

Na primeira, pode cursar as unidades relacionadas à formação básica em uma escola de ensino médio e, na parte destinada aos itinerários, realizar cursos técnicos em instituições parceiras. Há também o ensino médio integrado, em que o estudante pode realizar a formação geral e cursos técnicos no mesmo lugar, de forma integrada. Isso pode possibilitar o melhor aproveitamento de carga horária.

Além da formação técnica, estão entre as opções do médio: Matemática, Ciências Naturais, Linguagem e Ciências Humanas. O itinerário formativo é de escolha do estudante, a partir das possibilidades da escola.

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No Arquidiocesano, o estudante pode optar por uma ou por duas áreas simultâneas. Também é possível trocar de itinerários no decorrer do ano. “Todo trimestre há a opção se quer permanecer ou se quer fazer novo hub. O importante é que as habilidades sejam desenvolvidas. O tema muda, mas o modus operandi não”, diz Andreatta. Ele se refere às premissas para todo conteúdo do Arquidiocesano: linguagem digital e habilidades socioemocionais. Digital é a linguagem moderna, e os alunos precisam saber como é constituída. As habilidades sociocomportamentais a escola mapeou na discussão sobre o futuro do mercado de trabalho no Fórum de Davos. Estão na lista: capacidade de resolver problemas complexos, criatividade, trabalho colaborativo, empatia, resiliência e inteligência emocional. “Robôs já fazem muita coisa. Sobra o que é essencialmente humano. No entanto, essas habilidades não são dons divinos, precisam ser desenvolvidas. E a escola é o melhor lugar.”

Avaliação

Na Escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, a discussão sobre a reforma do médio teve início em 2016 e agora o colégio já introduziu as eletivas, todas interdisciplinares. Esses conteúdos são avaliados a cada ano: o que funcionou e o que precisa melhorar. Neste ano, por exemplo, entre as eletivas estão Dados Abertos, Políticas Públicas, Movimento Hacker – que usa princípios matemáticos para lidar com dados de políticas públicas – e Dinamídia: Bússola para Desinformação e Fake News, que trabalha linguagem, leitura crítica e comunicação. 

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“As eletivas chegam com novas abordagens do curso regular, como proposta de iniciação científica”, diz o diretor, Wagner Cafagni Borja.

Ao dar espaço para o estudante escolher, ele já começa a ganhar autonomia e também a se conhecer

Wagner Cafagni Borja, diretor da Escola Nossa Senhora das Graças

Aprender empreendedorismo pelo bem do planeta

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Tema deve ser abordado, mas para estudantes pensarem em aproveitar melhor os recursos ambientais e sociais

Em março, quando a pandemia parou o comércio, dona Teresa Ragusa precisou fechar as portas da loja de roupas que mantém em um shopping de São Paulo. Quando Maria Clara Ragusa Marcicano soube que o faturamento da avó iria cair, não hesitou. A adolescente de 14 anos usou o que aprendeu nas aulas de empreendedorismo no colégio para reinventar a forma de a empresa se comunicar com clientes. A principal ação foi mudar o Instagram, com hashtags para promoção de fotos, mais postagens e um padrão de cores para o feed. Com isso, aumentou o número de visualizações e, claro, as compras online. 

“É um caso que exemplifica como nossos alunos são protagonistas e põem em prática não só os conceitos de empreendedorismo, como os conteúdos que complementam esse aprendizado, como empatia e resolução de problemas”, diz Juliana Ragusa, coordenadora de Tecnologia Educacional da Escola Internacional de Alphaville.

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Ana Carolina, da escola de Alphaville, faz roupas com plástico reciclado Foto: Escola Internacional de Alphaville

Lá, os alunos de 1.º e 2.º anos do ensino médio cursam a disciplina Empreendedorismo e Escolhas de Vida. Apoiados em tecnologias inovadoras, são instigados a criar modelos de negócio com base no desenvolvimento de habilidades técnicas e socioemocionais. “Estudamos cases de sucesso e analisamos as causas de fracasso de startups. Mas, acima de tudo, fazemos uma discussão crítica sobre novas tecnologias e tendências, ponderamos as implicações éticas do uso de inteligência artificial, por exemplo”, afirma Juliana.

Ana Carolina de Lima Silva, do 1.º ano do médio, aplicou o que aprendeu para criar a Janelas para o Futuro, plataforma para ensinar inglês a alunos atendidos por um projeto social do colégio. E o engajamento se reflete no visual: ela costura roupas com plástico reciclado.

Sentido

Abordar empreendedorismo não é mais opcional. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é um dos eixos que deve orientar os itinerários formativos dos alunos do ensino médio. Não numa perspectiva de abrir o próprio negócio, mas em uma visão que considere o aproveitamento dos recursos ambientais e sociais do planeta na gestão dos empreendimentos.

“Aqui ninguém aprende a fazer tortinha para vender. Nosso propósito é criar produtos para reduzir o descarte dos resíduos sólidos. Não é só sustentabilidade, mas economia circular, que tem a ver com prolongar o tempo de vida de um determinado objeto”, afirma Márcia Sakay, coordenadora dos projetos de empreendedorismo do Centro Educacional Pioneiro.

Dos 5 Erres da Sustentabilidade – Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar –, os projetos da instituição centram foco na reutilização. Entretanto, naquela que cria inovação. “Não é pegar a garrafa PET e fazer virar um carrinho que não anda. Mas é pegar a PET, refilar e, a partir daí, fazer o que quiser”, acrescenta Márcia.

O que os alunos em assembleia decidiram fazer foi almofada para pets com garrafa pet. Como pano de fundo, o crescimento do segmento voltado aos animais domésticos. As garrafas refiladas viraram o recheio da almofada e a capa foi feita com forro externo de guarda-chuva quebrado, material impermeável.

As ideias são sempre apresentadas em formato de pitch – termo próprio do mercado empreendedor, que designa uma apresentação rápida de um produto novo para angariar investidores. Há uma banca avaliadora, que inclui um designer, alguém da academia e um profissional de ONG ou empresa ligada à sustentabilidade.

O novo currículo

A implementação do Currículo Paulista no ensino médio vai ocorrer de forma escalonada: em 2021, com os alunos do 1º ano. Em 2022, para o 1º e o 2º ano; e em 2023, com todo o médio.

São quantas horas?

A etapa terá um total de 3.150, sendo que a formação geral básica percorrerá 1.800 horas ao longo dos três anos. Os itinerários formativos serão ofertados em 1.350 horas.

No que consiste a formação básica?

Ela abarca todos os componentes curriculares: Arte, Educação Física, Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Matemática, História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Química, Física e Biologia. Só que todos aparecem com menor carga horária.

E os itinerários formativos?

É a parte flexível do currículo. Se o estudante tem preferência por Ciências da Natureza pode ter mais aulas dos componentes curriculares dessa área de conhecimento (Biologia, Física e Química). O mesmo vale para os que têm preferência pelas áreas de Linguagens (Arte, Educação Física, Língua Portuguesa e Língua Inglesa), Ciências Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) e Matemática. O aluno também tem a opção de fazer itinerários formativos que integrem duas áreas de conhecimento.

Vírus e bactérias estão nas aulas de Biologia do ensino médio desde sempre. Consequências econômicas e sociais causadas por epidemias que a humanidade atravessou também não são novidade em História. Tampouco a discussão sobre a origem e a dispersão das doenças fica de fora do estudo da Geografia. 

O problema é que tudo isso sempre foi ensinado de forma estanque, talvez em anos letivos distintos, sem contextualização com o momento atual ou sinalização da importância desse conhecimento. O resultado foram décadas de ensino médio conteudista, com alto índice de evasão na rede pública. Nas escolas privadas, a etapa tem sido vista como uma época para decorar temas cobrados no vestibular e que, após a matrícula na universidade, nunca mais virão à tona.

Linguagem digital e habilidades socioemocionais permeiam todo conteúdo ensinado no Arquidiocesano, colégio pronto para o Currículo Paulista, formato da BNCC no Estado Foto: Mariana Correa/ Aquidiocesano

“O modelo antigo, conteudista, não era inteligente. Muito não tinha serventia para a vida futura. Uma coisa é falar dos fenômenos físicos, outra completamente diferente é pedir para calcular”, diz Dionei Andreatta, coordenador do ensino médio do Colégio Arquidiocesano. 

Escolha

A instituição está pronta para implementar em 2021 o Currículo Paulista, formato desenhado pelo Estado de São Paulo para fazer valer a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A principal novidade são os itinerários formativos: o jovem decide a área em que quer aprofundar parte de seus estudos já no ensino médio, o que é uma forma de fortalecer o protagonismo e ajudá-lo a construir seu projeto de vida.

Na prática, mantém-se a formação básica – comum a todos alunos, com todas as disciplinas – e ganham-se itinerários formativos. São cinco, sendo um deles técnico. O aluno pode estudar em uma escola técnica desde o início do médio ou escolher compor parte ou toda a carga horária de itinerário com cursos técnicos. Nessa última, tem ao menos duas possibilidades.

Na primeira, pode cursar as unidades relacionadas à formação básica em uma escola de ensino médio e, na parte destinada aos itinerários, realizar cursos técnicos em instituições parceiras. Há também o ensino médio integrado, em que o estudante pode realizar a formação geral e cursos técnicos no mesmo lugar, de forma integrada. Isso pode possibilitar o melhor aproveitamento de carga horária.

Além da formação técnica, estão entre as opções do médio: Matemática, Ciências Naturais, Linguagem e Ciências Humanas. O itinerário formativo é de escolha do estudante, a partir das possibilidades da escola.

No Arquidiocesano, o estudante pode optar por uma ou por duas áreas simultâneas. Também é possível trocar de itinerários no decorrer do ano. “Todo trimestre há a opção se quer permanecer ou se quer fazer novo hub. O importante é que as habilidades sejam desenvolvidas. O tema muda, mas o modus operandi não”, diz Andreatta. Ele se refere às premissas para todo conteúdo do Arquidiocesano: linguagem digital e habilidades socioemocionais. Digital é a linguagem moderna, e os alunos precisam saber como é constituída. As habilidades sociocomportamentais a escola mapeou na discussão sobre o futuro do mercado de trabalho no Fórum de Davos. Estão na lista: capacidade de resolver problemas complexos, criatividade, trabalho colaborativo, empatia, resiliência e inteligência emocional. “Robôs já fazem muita coisa. Sobra o que é essencialmente humano. No entanto, essas habilidades não são dons divinos, precisam ser desenvolvidas. E a escola é o melhor lugar.”

Avaliação

Na Escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, a discussão sobre a reforma do médio teve início em 2016 e agora o colégio já introduziu as eletivas, todas interdisciplinares. Esses conteúdos são avaliados a cada ano: o que funcionou e o que precisa melhorar. Neste ano, por exemplo, entre as eletivas estão Dados Abertos, Políticas Públicas, Movimento Hacker – que usa princípios matemáticos para lidar com dados de políticas públicas – e Dinamídia: Bússola para Desinformação e Fake News, que trabalha linguagem, leitura crítica e comunicação. 

“As eletivas chegam com novas abordagens do curso regular, como proposta de iniciação científica”, diz o diretor, Wagner Cafagni Borja.

Ao dar espaço para o estudante escolher, ele já começa a ganhar autonomia e também a se conhecer

Wagner Cafagni Borja, diretor da Escola Nossa Senhora das Graças

Aprender empreendedorismo pelo bem do planeta

Tema deve ser abordado, mas para estudantes pensarem em aproveitar melhor os recursos ambientais e sociais

Em março, quando a pandemia parou o comércio, dona Teresa Ragusa precisou fechar as portas da loja de roupas que mantém em um shopping de São Paulo. Quando Maria Clara Ragusa Marcicano soube que o faturamento da avó iria cair, não hesitou. A adolescente de 14 anos usou o que aprendeu nas aulas de empreendedorismo no colégio para reinventar a forma de a empresa se comunicar com clientes. A principal ação foi mudar o Instagram, com hashtags para promoção de fotos, mais postagens e um padrão de cores para o feed. Com isso, aumentou o número de visualizações e, claro, as compras online. 

“É um caso que exemplifica como nossos alunos são protagonistas e põem em prática não só os conceitos de empreendedorismo, como os conteúdos que complementam esse aprendizado, como empatia e resolução de problemas”, diz Juliana Ragusa, coordenadora de Tecnologia Educacional da Escola Internacional de Alphaville.

Ana Carolina, da escola de Alphaville, faz roupas com plástico reciclado Foto: Escola Internacional de Alphaville

Lá, os alunos de 1.º e 2.º anos do ensino médio cursam a disciplina Empreendedorismo e Escolhas de Vida. Apoiados em tecnologias inovadoras, são instigados a criar modelos de negócio com base no desenvolvimento de habilidades técnicas e socioemocionais. “Estudamos cases de sucesso e analisamos as causas de fracasso de startups. Mas, acima de tudo, fazemos uma discussão crítica sobre novas tecnologias e tendências, ponderamos as implicações éticas do uso de inteligência artificial, por exemplo”, afirma Juliana.

Ana Carolina de Lima Silva, do 1.º ano do médio, aplicou o que aprendeu para criar a Janelas para o Futuro, plataforma para ensinar inglês a alunos atendidos por um projeto social do colégio. E o engajamento se reflete no visual: ela costura roupas com plástico reciclado.

Sentido

Abordar empreendedorismo não é mais opcional. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é um dos eixos que deve orientar os itinerários formativos dos alunos do ensino médio. Não numa perspectiva de abrir o próprio negócio, mas em uma visão que considere o aproveitamento dos recursos ambientais e sociais do planeta na gestão dos empreendimentos.

“Aqui ninguém aprende a fazer tortinha para vender. Nosso propósito é criar produtos para reduzir o descarte dos resíduos sólidos. Não é só sustentabilidade, mas economia circular, que tem a ver com prolongar o tempo de vida de um determinado objeto”, afirma Márcia Sakay, coordenadora dos projetos de empreendedorismo do Centro Educacional Pioneiro.

Dos 5 Erres da Sustentabilidade – Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar –, os projetos da instituição centram foco na reutilização. Entretanto, naquela que cria inovação. “Não é pegar a garrafa PET e fazer virar um carrinho que não anda. Mas é pegar a PET, refilar e, a partir daí, fazer o que quiser”, acrescenta Márcia.

O que os alunos em assembleia decidiram fazer foi almofada para pets com garrafa pet. Como pano de fundo, o crescimento do segmento voltado aos animais domésticos. As garrafas refiladas viraram o recheio da almofada e a capa foi feita com forro externo de guarda-chuva quebrado, material impermeável.

As ideias são sempre apresentadas em formato de pitch – termo próprio do mercado empreendedor, que designa uma apresentação rápida de um produto novo para angariar investidores. Há uma banca avaliadora, que inclui um designer, alguém da academia e um profissional de ONG ou empresa ligada à sustentabilidade.

O novo currículo

A implementação do Currículo Paulista no ensino médio vai ocorrer de forma escalonada: em 2021, com os alunos do 1º ano. Em 2022, para o 1º e o 2º ano; e em 2023, com todo o médio.

São quantas horas?

A etapa terá um total de 3.150, sendo que a formação geral básica percorrerá 1.800 horas ao longo dos três anos. Os itinerários formativos serão ofertados em 1.350 horas.

No que consiste a formação básica?

Ela abarca todos os componentes curriculares: Arte, Educação Física, Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Matemática, História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Química, Física e Biologia. Só que todos aparecem com menor carga horária.

E os itinerários formativos?

É a parte flexível do currículo. Se o estudante tem preferência por Ciências da Natureza pode ter mais aulas dos componentes curriculares dessa área de conhecimento (Biologia, Física e Química). O mesmo vale para os que têm preferência pelas áreas de Linguagens (Arte, Educação Física, Língua Portuguesa e Língua Inglesa), Ciências Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) e Matemática. O aluno também tem a opção de fazer itinerários formativos que integrem duas áreas de conhecimento.

Vírus e bactérias estão nas aulas de Biologia do ensino médio desde sempre. Consequências econômicas e sociais causadas por epidemias que a humanidade atravessou também não são novidade em História. Tampouco a discussão sobre a origem e a dispersão das doenças fica de fora do estudo da Geografia. 

O problema é que tudo isso sempre foi ensinado de forma estanque, talvez em anos letivos distintos, sem contextualização com o momento atual ou sinalização da importância desse conhecimento. O resultado foram décadas de ensino médio conteudista, com alto índice de evasão na rede pública. Nas escolas privadas, a etapa tem sido vista como uma época para decorar temas cobrados no vestibular e que, após a matrícula na universidade, nunca mais virão à tona.

Linguagem digital e habilidades socioemocionais permeiam todo conteúdo ensinado no Arquidiocesano, colégio pronto para o Currículo Paulista, formato da BNCC no Estado Foto: Mariana Correa/ Aquidiocesano

“O modelo antigo, conteudista, não era inteligente. Muito não tinha serventia para a vida futura. Uma coisa é falar dos fenômenos físicos, outra completamente diferente é pedir para calcular”, diz Dionei Andreatta, coordenador do ensino médio do Colégio Arquidiocesano. 

Escolha

A instituição está pronta para implementar em 2021 o Currículo Paulista, formato desenhado pelo Estado de São Paulo para fazer valer a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A principal novidade são os itinerários formativos: o jovem decide a área em que quer aprofundar parte de seus estudos já no ensino médio, o que é uma forma de fortalecer o protagonismo e ajudá-lo a construir seu projeto de vida.

Na prática, mantém-se a formação básica – comum a todos alunos, com todas as disciplinas – e ganham-se itinerários formativos. São cinco, sendo um deles técnico. O aluno pode estudar em uma escola técnica desde o início do médio ou escolher compor parte ou toda a carga horária de itinerário com cursos técnicos. Nessa última, tem ao menos duas possibilidades.

Na primeira, pode cursar as unidades relacionadas à formação básica em uma escola de ensino médio e, na parte destinada aos itinerários, realizar cursos técnicos em instituições parceiras. Há também o ensino médio integrado, em que o estudante pode realizar a formação geral e cursos técnicos no mesmo lugar, de forma integrada. Isso pode possibilitar o melhor aproveitamento de carga horária.

Além da formação técnica, estão entre as opções do médio: Matemática, Ciências Naturais, Linguagem e Ciências Humanas. O itinerário formativo é de escolha do estudante, a partir das possibilidades da escola.

No Arquidiocesano, o estudante pode optar por uma ou por duas áreas simultâneas. Também é possível trocar de itinerários no decorrer do ano. “Todo trimestre há a opção se quer permanecer ou se quer fazer novo hub. O importante é que as habilidades sejam desenvolvidas. O tema muda, mas o modus operandi não”, diz Andreatta. Ele se refere às premissas para todo conteúdo do Arquidiocesano: linguagem digital e habilidades socioemocionais. Digital é a linguagem moderna, e os alunos precisam saber como é constituída. As habilidades sociocomportamentais a escola mapeou na discussão sobre o futuro do mercado de trabalho no Fórum de Davos. Estão na lista: capacidade de resolver problemas complexos, criatividade, trabalho colaborativo, empatia, resiliência e inteligência emocional. “Robôs já fazem muita coisa. Sobra o que é essencialmente humano. No entanto, essas habilidades não são dons divinos, precisam ser desenvolvidas. E a escola é o melhor lugar.”

Avaliação

Na Escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, a discussão sobre a reforma do médio teve início em 2016 e agora o colégio já introduziu as eletivas, todas interdisciplinares. Esses conteúdos são avaliados a cada ano: o que funcionou e o que precisa melhorar. Neste ano, por exemplo, entre as eletivas estão Dados Abertos, Políticas Públicas, Movimento Hacker – que usa princípios matemáticos para lidar com dados de políticas públicas – e Dinamídia: Bússola para Desinformação e Fake News, que trabalha linguagem, leitura crítica e comunicação. 

“As eletivas chegam com novas abordagens do curso regular, como proposta de iniciação científica”, diz o diretor, Wagner Cafagni Borja.

Ao dar espaço para o estudante escolher, ele já começa a ganhar autonomia e também a se conhecer

Wagner Cafagni Borja, diretor da Escola Nossa Senhora das Graças

Aprender empreendedorismo pelo bem do planeta

Tema deve ser abordado, mas para estudantes pensarem em aproveitar melhor os recursos ambientais e sociais

Em março, quando a pandemia parou o comércio, dona Teresa Ragusa precisou fechar as portas da loja de roupas que mantém em um shopping de São Paulo. Quando Maria Clara Ragusa Marcicano soube que o faturamento da avó iria cair, não hesitou. A adolescente de 14 anos usou o que aprendeu nas aulas de empreendedorismo no colégio para reinventar a forma de a empresa se comunicar com clientes. A principal ação foi mudar o Instagram, com hashtags para promoção de fotos, mais postagens e um padrão de cores para o feed. Com isso, aumentou o número de visualizações e, claro, as compras online. 

“É um caso que exemplifica como nossos alunos são protagonistas e põem em prática não só os conceitos de empreendedorismo, como os conteúdos que complementam esse aprendizado, como empatia e resolução de problemas”, diz Juliana Ragusa, coordenadora de Tecnologia Educacional da Escola Internacional de Alphaville.

Ana Carolina, da escola de Alphaville, faz roupas com plástico reciclado Foto: Escola Internacional de Alphaville

Lá, os alunos de 1.º e 2.º anos do ensino médio cursam a disciplina Empreendedorismo e Escolhas de Vida. Apoiados em tecnologias inovadoras, são instigados a criar modelos de negócio com base no desenvolvimento de habilidades técnicas e socioemocionais. “Estudamos cases de sucesso e analisamos as causas de fracasso de startups. Mas, acima de tudo, fazemos uma discussão crítica sobre novas tecnologias e tendências, ponderamos as implicações éticas do uso de inteligência artificial, por exemplo”, afirma Juliana.

Ana Carolina de Lima Silva, do 1.º ano do médio, aplicou o que aprendeu para criar a Janelas para o Futuro, plataforma para ensinar inglês a alunos atendidos por um projeto social do colégio. E o engajamento se reflete no visual: ela costura roupas com plástico reciclado.

Sentido

Abordar empreendedorismo não é mais opcional. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é um dos eixos que deve orientar os itinerários formativos dos alunos do ensino médio. Não numa perspectiva de abrir o próprio negócio, mas em uma visão que considere o aproveitamento dos recursos ambientais e sociais do planeta na gestão dos empreendimentos.

“Aqui ninguém aprende a fazer tortinha para vender. Nosso propósito é criar produtos para reduzir o descarte dos resíduos sólidos. Não é só sustentabilidade, mas economia circular, que tem a ver com prolongar o tempo de vida de um determinado objeto”, afirma Márcia Sakay, coordenadora dos projetos de empreendedorismo do Centro Educacional Pioneiro.

Dos 5 Erres da Sustentabilidade – Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar –, os projetos da instituição centram foco na reutilização. Entretanto, naquela que cria inovação. “Não é pegar a garrafa PET e fazer virar um carrinho que não anda. Mas é pegar a PET, refilar e, a partir daí, fazer o que quiser”, acrescenta Márcia.

O que os alunos em assembleia decidiram fazer foi almofada para pets com garrafa pet. Como pano de fundo, o crescimento do segmento voltado aos animais domésticos. As garrafas refiladas viraram o recheio da almofada e a capa foi feita com forro externo de guarda-chuva quebrado, material impermeável.

As ideias são sempre apresentadas em formato de pitch – termo próprio do mercado empreendedor, que designa uma apresentação rápida de um produto novo para angariar investidores. Há uma banca avaliadora, que inclui um designer, alguém da academia e um profissional de ONG ou empresa ligada à sustentabilidade.

O novo currículo

A implementação do Currículo Paulista no ensino médio vai ocorrer de forma escalonada: em 2021, com os alunos do 1º ano. Em 2022, para o 1º e o 2º ano; e em 2023, com todo o médio.

São quantas horas?

A etapa terá um total de 3.150, sendo que a formação geral básica percorrerá 1.800 horas ao longo dos três anos. Os itinerários formativos serão ofertados em 1.350 horas.

No que consiste a formação básica?

Ela abarca todos os componentes curriculares: Arte, Educação Física, Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Matemática, História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Química, Física e Biologia. Só que todos aparecem com menor carga horária.

E os itinerários formativos?

É a parte flexível do currículo. Se o estudante tem preferência por Ciências da Natureza pode ter mais aulas dos componentes curriculares dessa área de conhecimento (Biologia, Física e Química). O mesmo vale para os que têm preferência pelas áreas de Linguagens (Arte, Educação Física, Língua Portuguesa e Língua Inglesa), Ciências Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) e Matemática. O aluno também tem a opção de fazer itinerários formativos que integrem duas áreas de conhecimento.

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