Novo Ensino Médio: ‘O jovem quer uma experiência antenada com suas vocações’, defende Priscila Cruz


Presidente do Todos Pela Educação explica por que, apesar da necessidade de ‘melhoras substanciais’, revogar o modelo proposto não seria o melhor caminho para alunos e professores

Por João Ker
Atualização:
Foto: HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO
Entrevista comPriscila Cruzpresidente do Todos Pela Educação

Especialista em educação pública e presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz diz que o Brasil precisa “mudar a forma como enxerga política educacional” e lidar com os problemas apontados no modelo do Novo Ensino Médio. Contrária à revogação da proposta como um todo, ela diz que é hora de “parar a bola no campo, reorganizar o jogo e depois continuar”.

“Quando a gente analisa as experiências que dão certo no exterior, nunca vemos o modelo anterior que tinha no Brasil, com 12 disciplinas esmagadas em quatro horas”, afirma Priscila. Apesar de defender “a essência” do Novo Ensino Médio, ela diz que a proposta atual precisa de “melhoras substanciais” em quatro pontos fundamentais, dentre eles a remuneração e o plano de carreira dos professores, para que eles sejam exclusivos de uma única escola e criem vínculos com aquela comunidade.

O Estadão ouviu dois especialistas sobre o tema. Doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC, Fernando Cássio acredita que o modelo proposto do Novo Ensino Médio “não tem salvação”. Já para Priscila, ajustes são necessários. Veja abaixo a entrevista com ela.

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Priscila Cruz, presidente executiva do Todos Pela Educação Foto: Daniel Teixeira / Estadão

A reforma do ensino médio deve ser revogada? Se não, qual é a alternativa?

A nossa posição é que não deveria ser revogada nem analisada sob a ótica de fazer alguns ajustes. Defendemos uma posição intermediária, de que o novo Novo Ensino Médio precisa de melhorias muito substanciais, que não são ajustes. Aí sim poderíamos chamar de um novo ensino médio.

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Quais os problemas de revogar a reforma neste momento?

Um problema é criar uma insegurança muito grande nas redes, porque uma revogação no meio da implementação emite um sinal de falta de segurança das lideranças do País. Para quem está na ponta, isso não é do governo a ou b, mas do serviço público. Isso cria resistência em relação às mudanças de qualquer política, inclusive educacionais.

Outro ponto é que, se ela for revogada, a gente volta para o ensino médio de 12 disciplinas espremidas em quatro horas, que já não dava certo. O que colocar no lugar? O terceiro problema é uma questão da postura que precisamos adotar no Brasil: quando existem problemas, eles devem ser resolvidos e não abandonados ou trocados pelo modelo anterior.

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É sobre como enxergamos políticas que impactam a rotina de milhares de alunos, pais, professores e escolas. Essa cultura de melhorias progressivas e avaliar a política pública o tempo inteiro, corrigir os problemas e fazer uma mudança contínua na continuação é questão de como enxergar política educacional.

Entretanto, a gente entende que existem problemas a serem solucionados. Não é só questão de fazer alguns ajustes e deixar a bola rolar no campo. Não, precisa parar o jogo, reorganizar e depois continuar. Tem muita gente sendo afetada por essas propostas.

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Quais foram os principais erros e dificuldades na implementação do novo modelo?

São quatro pontos principais. O primeiro é retirar o teto de 1.800 horas para formação geral básica. A lei coloca esse limite, mas se estamos falando da base, a solidez dela é importante e fundamental para o aprofundamento em áreas.

O segundo ponto é justamente os itinerários. Do jeito que a abertura da legislação deixou, essa oferta tende ao infinito. Temos visto uma dispersão muito grande de ofertas. Precisamos definir muito mais para alinhar como isso entra em livros didáticos, como é avaliado pelo Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e até a formação de professores.

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Terceiro, precisamos retirar a possibilidade de até 20% da carga total ser feita por ensino à distância. Isso é uma falha da legislação com a qual nunca concordamos e que, agora, ficou muito mais forte, porque passamos pela pandemia que mostrou como o EAD não funcionou. É muito importante o espaço escolar, a convivência com alunos e professores.

Por fim, precisamos reforçar a educação integral dos alunos e dos professores. Parte da dificuldade que professores têm com o Novo Ensino Médio é ter que aumentar o número de escolas que precisam atender. Precisamos levar a sério a grande experiência internacional, que mostra que a grande virada na educação acontece quando o professor é “daquela escola”, em tempo integral, e não trabalhando em mais de uma. Essa realidade de que o professor no Brasil precisa ir para várias escolas é ruim para eles e para os alunos.

Quais são os maiores méritos do modelo proposto?

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A essência do Novo Ensino Médio a gente defende desde 2012. Precisamos ampliar o seu alcance e fazer com que ela chegue nos alunos, com uma formação geral básica sólida e a possibilidade de dar aos estudantes aprofundamento em determinadas áreas.

Do jeito que está, a gente não pode dar o nome de Novo Ensino Médio, porque tem chegado de forma incompleta e insuficiente nas escolas. Por isso também somos contra revogar, porque é voltar a uma discussão que já tínhamos superado. O ensino médio antigo era fordista, como linha de produção. O jovem hoje quer uma experiência mais antenada com as suas vocações, nem que seja apenas para experimentá-las.

Que tipos de parcerias e formações são necessárias para que a reforma tenha êxito?

Acho muito importante construir o verdadeiro Novo Ensino Médio junto com os governos estaduais, que deveriam ser os principais parceiros do Ministério da Educação. São eles os responsáveis pela implementação e gestão, qualquer mudança ou alinhamento precisa ser feito com eles.

Um passo importante seria o MEC chamar os governadores para uma conversa sobre ensino médio. Claro, tem que ouvir professores e alunos, tendo uma escuta ampla. Eles precisam ter espaço para relatar os problemas que vivem nas escolas e, assim, termos um diagnóstico preciso. Esse governo, com a bandeira da reconstrução, precisa reconstruir essas pontes com os governos estaduais.

Especialista em educação pública e presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz diz que o Brasil precisa “mudar a forma como enxerga política educacional” e lidar com os problemas apontados no modelo do Novo Ensino Médio. Contrária à revogação da proposta como um todo, ela diz que é hora de “parar a bola no campo, reorganizar o jogo e depois continuar”.

“Quando a gente analisa as experiências que dão certo no exterior, nunca vemos o modelo anterior que tinha no Brasil, com 12 disciplinas esmagadas em quatro horas”, afirma Priscila. Apesar de defender “a essência” do Novo Ensino Médio, ela diz que a proposta atual precisa de “melhoras substanciais” em quatro pontos fundamentais, dentre eles a remuneração e o plano de carreira dos professores, para que eles sejam exclusivos de uma única escola e criem vínculos com aquela comunidade.

O Estadão ouviu dois especialistas sobre o tema. Doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC, Fernando Cássio acredita que o modelo proposto do Novo Ensino Médio “não tem salvação”. Já para Priscila, ajustes são necessários. Veja abaixo a entrevista com ela.

Priscila Cruz, presidente executiva do Todos Pela Educação Foto: Daniel Teixeira / Estadão

A reforma do ensino médio deve ser revogada? Se não, qual é a alternativa?

A nossa posição é que não deveria ser revogada nem analisada sob a ótica de fazer alguns ajustes. Defendemos uma posição intermediária, de que o novo Novo Ensino Médio precisa de melhorias muito substanciais, que não são ajustes. Aí sim poderíamos chamar de um novo ensino médio.

Quais os problemas de revogar a reforma neste momento?

Um problema é criar uma insegurança muito grande nas redes, porque uma revogação no meio da implementação emite um sinal de falta de segurança das lideranças do País. Para quem está na ponta, isso não é do governo a ou b, mas do serviço público. Isso cria resistência em relação às mudanças de qualquer política, inclusive educacionais.

Outro ponto é que, se ela for revogada, a gente volta para o ensino médio de 12 disciplinas espremidas em quatro horas, que já não dava certo. O que colocar no lugar? O terceiro problema é uma questão da postura que precisamos adotar no Brasil: quando existem problemas, eles devem ser resolvidos e não abandonados ou trocados pelo modelo anterior.

É sobre como enxergamos políticas que impactam a rotina de milhares de alunos, pais, professores e escolas. Essa cultura de melhorias progressivas e avaliar a política pública o tempo inteiro, corrigir os problemas e fazer uma mudança contínua na continuação é questão de como enxergar política educacional.

Entretanto, a gente entende que existem problemas a serem solucionados. Não é só questão de fazer alguns ajustes e deixar a bola rolar no campo. Não, precisa parar o jogo, reorganizar e depois continuar. Tem muita gente sendo afetada por essas propostas.

Quais foram os principais erros e dificuldades na implementação do novo modelo?

São quatro pontos principais. O primeiro é retirar o teto de 1.800 horas para formação geral básica. A lei coloca esse limite, mas se estamos falando da base, a solidez dela é importante e fundamental para o aprofundamento em áreas.

O segundo ponto é justamente os itinerários. Do jeito que a abertura da legislação deixou, essa oferta tende ao infinito. Temos visto uma dispersão muito grande de ofertas. Precisamos definir muito mais para alinhar como isso entra em livros didáticos, como é avaliado pelo Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e até a formação de professores.

Terceiro, precisamos retirar a possibilidade de até 20% da carga total ser feita por ensino à distância. Isso é uma falha da legislação com a qual nunca concordamos e que, agora, ficou muito mais forte, porque passamos pela pandemia que mostrou como o EAD não funcionou. É muito importante o espaço escolar, a convivência com alunos e professores.

Por fim, precisamos reforçar a educação integral dos alunos e dos professores. Parte da dificuldade que professores têm com o Novo Ensino Médio é ter que aumentar o número de escolas que precisam atender. Precisamos levar a sério a grande experiência internacional, que mostra que a grande virada na educação acontece quando o professor é “daquela escola”, em tempo integral, e não trabalhando em mais de uma. Essa realidade de que o professor no Brasil precisa ir para várias escolas é ruim para eles e para os alunos.

Quais são os maiores méritos do modelo proposto?

A essência do Novo Ensino Médio a gente defende desde 2012. Precisamos ampliar o seu alcance e fazer com que ela chegue nos alunos, com uma formação geral básica sólida e a possibilidade de dar aos estudantes aprofundamento em determinadas áreas.

Do jeito que está, a gente não pode dar o nome de Novo Ensino Médio, porque tem chegado de forma incompleta e insuficiente nas escolas. Por isso também somos contra revogar, porque é voltar a uma discussão que já tínhamos superado. O ensino médio antigo era fordista, como linha de produção. O jovem hoje quer uma experiência mais antenada com as suas vocações, nem que seja apenas para experimentá-las.

Que tipos de parcerias e formações são necessárias para que a reforma tenha êxito?

Acho muito importante construir o verdadeiro Novo Ensino Médio junto com os governos estaduais, que deveriam ser os principais parceiros do Ministério da Educação. São eles os responsáveis pela implementação e gestão, qualquer mudança ou alinhamento precisa ser feito com eles.

Um passo importante seria o MEC chamar os governadores para uma conversa sobre ensino médio. Claro, tem que ouvir professores e alunos, tendo uma escuta ampla. Eles precisam ter espaço para relatar os problemas que vivem nas escolas e, assim, termos um diagnóstico preciso. Esse governo, com a bandeira da reconstrução, precisa reconstruir essas pontes com os governos estaduais.

Especialista em educação pública e presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz diz que o Brasil precisa “mudar a forma como enxerga política educacional” e lidar com os problemas apontados no modelo do Novo Ensino Médio. Contrária à revogação da proposta como um todo, ela diz que é hora de “parar a bola no campo, reorganizar o jogo e depois continuar”.

“Quando a gente analisa as experiências que dão certo no exterior, nunca vemos o modelo anterior que tinha no Brasil, com 12 disciplinas esmagadas em quatro horas”, afirma Priscila. Apesar de defender “a essência” do Novo Ensino Médio, ela diz que a proposta atual precisa de “melhoras substanciais” em quatro pontos fundamentais, dentre eles a remuneração e o plano de carreira dos professores, para que eles sejam exclusivos de uma única escola e criem vínculos com aquela comunidade.

O Estadão ouviu dois especialistas sobre o tema. Doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC, Fernando Cássio acredita que o modelo proposto do Novo Ensino Médio “não tem salvação”. Já para Priscila, ajustes são necessários. Veja abaixo a entrevista com ela.

Priscila Cruz, presidente executiva do Todos Pela Educação Foto: Daniel Teixeira / Estadão

A reforma do ensino médio deve ser revogada? Se não, qual é a alternativa?

A nossa posição é que não deveria ser revogada nem analisada sob a ótica de fazer alguns ajustes. Defendemos uma posição intermediária, de que o novo Novo Ensino Médio precisa de melhorias muito substanciais, que não são ajustes. Aí sim poderíamos chamar de um novo ensino médio.

Quais os problemas de revogar a reforma neste momento?

Um problema é criar uma insegurança muito grande nas redes, porque uma revogação no meio da implementação emite um sinal de falta de segurança das lideranças do País. Para quem está na ponta, isso não é do governo a ou b, mas do serviço público. Isso cria resistência em relação às mudanças de qualquer política, inclusive educacionais.

Outro ponto é que, se ela for revogada, a gente volta para o ensino médio de 12 disciplinas espremidas em quatro horas, que já não dava certo. O que colocar no lugar? O terceiro problema é uma questão da postura que precisamos adotar no Brasil: quando existem problemas, eles devem ser resolvidos e não abandonados ou trocados pelo modelo anterior.

É sobre como enxergamos políticas que impactam a rotina de milhares de alunos, pais, professores e escolas. Essa cultura de melhorias progressivas e avaliar a política pública o tempo inteiro, corrigir os problemas e fazer uma mudança contínua na continuação é questão de como enxergar política educacional.

Entretanto, a gente entende que existem problemas a serem solucionados. Não é só questão de fazer alguns ajustes e deixar a bola rolar no campo. Não, precisa parar o jogo, reorganizar e depois continuar. Tem muita gente sendo afetada por essas propostas.

Quais foram os principais erros e dificuldades na implementação do novo modelo?

São quatro pontos principais. O primeiro é retirar o teto de 1.800 horas para formação geral básica. A lei coloca esse limite, mas se estamos falando da base, a solidez dela é importante e fundamental para o aprofundamento em áreas.

O segundo ponto é justamente os itinerários. Do jeito que a abertura da legislação deixou, essa oferta tende ao infinito. Temos visto uma dispersão muito grande de ofertas. Precisamos definir muito mais para alinhar como isso entra em livros didáticos, como é avaliado pelo Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e até a formação de professores.

Terceiro, precisamos retirar a possibilidade de até 20% da carga total ser feita por ensino à distância. Isso é uma falha da legislação com a qual nunca concordamos e que, agora, ficou muito mais forte, porque passamos pela pandemia que mostrou como o EAD não funcionou. É muito importante o espaço escolar, a convivência com alunos e professores.

Por fim, precisamos reforçar a educação integral dos alunos e dos professores. Parte da dificuldade que professores têm com o Novo Ensino Médio é ter que aumentar o número de escolas que precisam atender. Precisamos levar a sério a grande experiência internacional, que mostra que a grande virada na educação acontece quando o professor é “daquela escola”, em tempo integral, e não trabalhando em mais de uma. Essa realidade de que o professor no Brasil precisa ir para várias escolas é ruim para eles e para os alunos.

Quais são os maiores méritos do modelo proposto?

A essência do Novo Ensino Médio a gente defende desde 2012. Precisamos ampliar o seu alcance e fazer com que ela chegue nos alunos, com uma formação geral básica sólida e a possibilidade de dar aos estudantes aprofundamento em determinadas áreas.

Do jeito que está, a gente não pode dar o nome de Novo Ensino Médio, porque tem chegado de forma incompleta e insuficiente nas escolas. Por isso também somos contra revogar, porque é voltar a uma discussão que já tínhamos superado. O ensino médio antigo era fordista, como linha de produção. O jovem hoje quer uma experiência mais antenada com as suas vocações, nem que seja apenas para experimentá-las.

Que tipos de parcerias e formações são necessárias para que a reforma tenha êxito?

Acho muito importante construir o verdadeiro Novo Ensino Médio junto com os governos estaduais, que deveriam ser os principais parceiros do Ministério da Educação. São eles os responsáveis pela implementação e gestão, qualquer mudança ou alinhamento precisa ser feito com eles.

Um passo importante seria o MEC chamar os governadores para uma conversa sobre ensino médio. Claro, tem que ouvir professores e alunos, tendo uma escuta ampla. Eles precisam ter espaço para relatar os problemas que vivem nas escolas e, assim, termos um diagnóstico preciso. Esse governo, com a bandeira da reconstrução, precisa reconstruir essas pontes com os governos estaduais.

Especialista em educação pública e presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz diz que o Brasil precisa “mudar a forma como enxerga política educacional” e lidar com os problemas apontados no modelo do Novo Ensino Médio. Contrária à revogação da proposta como um todo, ela diz que é hora de “parar a bola no campo, reorganizar o jogo e depois continuar”.

“Quando a gente analisa as experiências que dão certo no exterior, nunca vemos o modelo anterior que tinha no Brasil, com 12 disciplinas esmagadas em quatro horas”, afirma Priscila. Apesar de defender “a essência” do Novo Ensino Médio, ela diz que a proposta atual precisa de “melhoras substanciais” em quatro pontos fundamentais, dentre eles a remuneração e o plano de carreira dos professores, para que eles sejam exclusivos de uma única escola e criem vínculos com aquela comunidade.

O Estadão ouviu dois especialistas sobre o tema. Doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC, Fernando Cássio acredita que o modelo proposto do Novo Ensino Médio “não tem salvação”. Já para Priscila, ajustes são necessários. Veja abaixo a entrevista com ela.

Priscila Cruz, presidente executiva do Todos Pela Educação Foto: Daniel Teixeira / Estadão

A reforma do ensino médio deve ser revogada? Se não, qual é a alternativa?

A nossa posição é que não deveria ser revogada nem analisada sob a ótica de fazer alguns ajustes. Defendemos uma posição intermediária, de que o novo Novo Ensino Médio precisa de melhorias muito substanciais, que não são ajustes. Aí sim poderíamos chamar de um novo ensino médio.

Quais os problemas de revogar a reforma neste momento?

Um problema é criar uma insegurança muito grande nas redes, porque uma revogação no meio da implementação emite um sinal de falta de segurança das lideranças do País. Para quem está na ponta, isso não é do governo a ou b, mas do serviço público. Isso cria resistência em relação às mudanças de qualquer política, inclusive educacionais.

Outro ponto é que, se ela for revogada, a gente volta para o ensino médio de 12 disciplinas espremidas em quatro horas, que já não dava certo. O que colocar no lugar? O terceiro problema é uma questão da postura que precisamos adotar no Brasil: quando existem problemas, eles devem ser resolvidos e não abandonados ou trocados pelo modelo anterior.

É sobre como enxergamos políticas que impactam a rotina de milhares de alunos, pais, professores e escolas. Essa cultura de melhorias progressivas e avaliar a política pública o tempo inteiro, corrigir os problemas e fazer uma mudança contínua na continuação é questão de como enxergar política educacional.

Entretanto, a gente entende que existem problemas a serem solucionados. Não é só questão de fazer alguns ajustes e deixar a bola rolar no campo. Não, precisa parar o jogo, reorganizar e depois continuar. Tem muita gente sendo afetada por essas propostas.

Quais foram os principais erros e dificuldades na implementação do novo modelo?

São quatro pontos principais. O primeiro é retirar o teto de 1.800 horas para formação geral básica. A lei coloca esse limite, mas se estamos falando da base, a solidez dela é importante e fundamental para o aprofundamento em áreas.

O segundo ponto é justamente os itinerários. Do jeito que a abertura da legislação deixou, essa oferta tende ao infinito. Temos visto uma dispersão muito grande de ofertas. Precisamos definir muito mais para alinhar como isso entra em livros didáticos, como é avaliado pelo Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e até a formação de professores.

Terceiro, precisamos retirar a possibilidade de até 20% da carga total ser feita por ensino à distância. Isso é uma falha da legislação com a qual nunca concordamos e que, agora, ficou muito mais forte, porque passamos pela pandemia que mostrou como o EAD não funcionou. É muito importante o espaço escolar, a convivência com alunos e professores.

Por fim, precisamos reforçar a educação integral dos alunos e dos professores. Parte da dificuldade que professores têm com o Novo Ensino Médio é ter que aumentar o número de escolas que precisam atender. Precisamos levar a sério a grande experiência internacional, que mostra que a grande virada na educação acontece quando o professor é “daquela escola”, em tempo integral, e não trabalhando em mais de uma. Essa realidade de que o professor no Brasil precisa ir para várias escolas é ruim para eles e para os alunos.

Quais são os maiores méritos do modelo proposto?

A essência do Novo Ensino Médio a gente defende desde 2012. Precisamos ampliar o seu alcance e fazer com que ela chegue nos alunos, com uma formação geral básica sólida e a possibilidade de dar aos estudantes aprofundamento em determinadas áreas.

Do jeito que está, a gente não pode dar o nome de Novo Ensino Médio, porque tem chegado de forma incompleta e insuficiente nas escolas. Por isso também somos contra revogar, porque é voltar a uma discussão que já tínhamos superado. O ensino médio antigo era fordista, como linha de produção. O jovem hoje quer uma experiência mais antenada com as suas vocações, nem que seja apenas para experimentá-las.

Que tipos de parcerias e formações são necessárias para que a reforma tenha êxito?

Acho muito importante construir o verdadeiro Novo Ensino Médio junto com os governos estaduais, que deveriam ser os principais parceiros do Ministério da Educação. São eles os responsáveis pela implementação e gestão, qualquer mudança ou alinhamento precisa ser feito com eles.

Um passo importante seria o MEC chamar os governadores para uma conversa sobre ensino médio. Claro, tem que ouvir professores e alunos, tendo uma escuta ampla. Eles precisam ter espaço para relatar os problemas que vivem nas escolas e, assim, termos um diagnóstico preciso. Esse governo, com a bandeira da reconstrução, precisa reconstruir essas pontes com os governos estaduais.

Especialista em educação pública e presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz diz que o Brasil precisa “mudar a forma como enxerga política educacional” e lidar com os problemas apontados no modelo do Novo Ensino Médio. Contrária à revogação da proposta como um todo, ela diz que é hora de “parar a bola no campo, reorganizar o jogo e depois continuar”.

“Quando a gente analisa as experiências que dão certo no exterior, nunca vemos o modelo anterior que tinha no Brasil, com 12 disciplinas esmagadas em quatro horas”, afirma Priscila. Apesar de defender “a essência” do Novo Ensino Médio, ela diz que a proposta atual precisa de “melhoras substanciais” em quatro pontos fundamentais, dentre eles a remuneração e o plano de carreira dos professores, para que eles sejam exclusivos de uma única escola e criem vínculos com aquela comunidade.

O Estadão ouviu dois especialistas sobre o tema. Doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC, Fernando Cássio acredita que o modelo proposto do Novo Ensino Médio “não tem salvação”. Já para Priscila, ajustes são necessários. Veja abaixo a entrevista com ela.

Priscila Cruz, presidente executiva do Todos Pela Educação Foto: Daniel Teixeira / Estadão

A reforma do ensino médio deve ser revogada? Se não, qual é a alternativa?

A nossa posição é que não deveria ser revogada nem analisada sob a ótica de fazer alguns ajustes. Defendemos uma posição intermediária, de que o novo Novo Ensino Médio precisa de melhorias muito substanciais, que não são ajustes. Aí sim poderíamos chamar de um novo ensino médio.

Quais os problemas de revogar a reforma neste momento?

Um problema é criar uma insegurança muito grande nas redes, porque uma revogação no meio da implementação emite um sinal de falta de segurança das lideranças do País. Para quem está na ponta, isso não é do governo a ou b, mas do serviço público. Isso cria resistência em relação às mudanças de qualquer política, inclusive educacionais.

Outro ponto é que, se ela for revogada, a gente volta para o ensino médio de 12 disciplinas espremidas em quatro horas, que já não dava certo. O que colocar no lugar? O terceiro problema é uma questão da postura que precisamos adotar no Brasil: quando existem problemas, eles devem ser resolvidos e não abandonados ou trocados pelo modelo anterior.

É sobre como enxergamos políticas que impactam a rotina de milhares de alunos, pais, professores e escolas. Essa cultura de melhorias progressivas e avaliar a política pública o tempo inteiro, corrigir os problemas e fazer uma mudança contínua na continuação é questão de como enxergar política educacional.

Entretanto, a gente entende que existem problemas a serem solucionados. Não é só questão de fazer alguns ajustes e deixar a bola rolar no campo. Não, precisa parar o jogo, reorganizar e depois continuar. Tem muita gente sendo afetada por essas propostas.

Quais foram os principais erros e dificuldades na implementação do novo modelo?

São quatro pontos principais. O primeiro é retirar o teto de 1.800 horas para formação geral básica. A lei coloca esse limite, mas se estamos falando da base, a solidez dela é importante e fundamental para o aprofundamento em áreas.

O segundo ponto é justamente os itinerários. Do jeito que a abertura da legislação deixou, essa oferta tende ao infinito. Temos visto uma dispersão muito grande de ofertas. Precisamos definir muito mais para alinhar como isso entra em livros didáticos, como é avaliado pelo Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e até a formação de professores.

Terceiro, precisamos retirar a possibilidade de até 20% da carga total ser feita por ensino à distância. Isso é uma falha da legislação com a qual nunca concordamos e que, agora, ficou muito mais forte, porque passamos pela pandemia que mostrou como o EAD não funcionou. É muito importante o espaço escolar, a convivência com alunos e professores.

Por fim, precisamos reforçar a educação integral dos alunos e dos professores. Parte da dificuldade que professores têm com o Novo Ensino Médio é ter que aumentar o número de escolas que precisam atender. Precisamos levar a sério a grande experiência internacional, que mostra que a grande virada na educação acontece quando o professor é “daquela escola”, em tempo integral, e não trabalhando em mais de uma. Essa realidade de que o professor no Brasil precisa ir para várias escolas é ruim para eles e para os alunos.

Quais são os maiores méritos do modelo proposto?

A essência do Novo Ensino Médio a gente defende desde 2012. Precisamos ampliar o seu alcance e fazer com que ela chegue nos alunos, com uma formação geral básica sólida e a possibilidade de dar aos estudantes aprofundamento em determinadas áreas.

Do jeito que está, a gente não pode dar o nome de Novo Ensino Médio, porque tem chegado de forma incompleta e insuficiente nas escolas. Por isso também somos contra revogar, porque é voltar a uma discussão que já tínhamos superado. O ensino médio antigo era fordista, como linha de produção. O jovem hoje quer uma experiência mais antenada com as suas vocações, nem que seja apenas para experimentá-las.

Que tipos de parcerias e formações são necessárias para que a reforma tenha êxito?

Acho muito importante construir o verdadeiro Novo Ensino Médio junto com os governos estaduais, que deveriam ser os principais parceiros do Ministério da Educação. São eles os responsáveis pela implementação e gestão, qualquer mudança ou alinhamento precisa ser feito com eles.

Um passo importante seria o MEC chamar os governadores para uma conversa sobre ensino médio. Claro, tem que ouvir professores e alunos, tendo uma escuta ampla. Eles precisam ter espaço para relatar os problemas que vivem nas escolas e, assim, termos um diagnóstico preciso. Esse governo, com a bandeira da reconstrução, precisa reconstruir essas pontes com os governos estaduais.

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