SÃO PAULO - De tempos em tempos, mudam os atributos que fazem a diferença no currículo dos executivos. Décadas atrás, as qualificações em formações tradicionais como Administração, Engenharia ou Marketing eram o passaporte para importantes cargos. Tempos depois, as boas perspectivas de carreira seriam conquistadas por quem dominasse diversos idiomas e tivesse alguma formação em universidade estrangeira. Atualmente, para chegar às posições de comando nas empresas, é preciso ter um perfil digital.
O termo se refere a características como ser inovador, antenado, cosmopolita e veloz, além, é claro, de estar familiarizado com os novos recursos tecnológicos. Atributos que são parte inatos, mas parte apreendidos. E é com foco no ensino desses conteúdos que as instituições de ensino - que têm executivos como público-alvo - criam novos cursos ou adaptam o currículo dos atuais.
Na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o MBA em Projetos Digitais, que teve sua primeira turma neste ano, contempla em seu programa temas como inteligência relacional, comunicação assertiva, storytelling para negócios e growth hacking, termo comum nos glossários de marketing digital que trata de aliar a busca de oportunidades para o sucesso com estratégias que resultem em crescimento rápido.
“Selecionamos competências e habilidades imprescindíveis para a transformação digital, a inovação e o empreendedorismo, além de destacar quais são as demandas emergentes desse campo em nossa região. A partir disso definimos ementa e propósitos do curso”, explica Jorge Rocha Neto, um dos coordenadores.
Além do conteúdo, a metodologia do curso da PUC Minas também se alinha às demandas do mundo digital, com a realização frequente de eventos online, produção de podcasts com especialistas em diversas áreas e a oferta de trilhas de aprendizagem para personalizar ao máximo o ensino.
No encerramento do MBA, os alunos devem apresentar um projeto prático de fôlego a ser executado no mercado, por um prazo determinado, para ser avaliado por uma banca de professores a respeito de sua viabilidade.
“É dessa forma que esse MBA, o único de Minas Gerais voltado para a capacitação prática de players que ajudarão a conduzir os passos da transformação digital no Estado, contribui para vencer os desafios do mercado”, completa Rocha Neto.
Jorge Rocha Neto, um dos coordenadores do MBA em Projetos Digitais da PUC Minas
Internacional
Ser um executivo digital também é estar alinhado com conceitos globais de gestão, que permeiam tanto o dia a dia das empresas multinacionais como o cotidiano de boa parte dos clientes. Por isso, estabelecer parcerias com centros de ensino internacionais é outra estratégia das instituições que formam executivos.
O Ibmec acaba de lançar o Mestrado Profissional Internacional em Finanças, programa realizado em parceria com a Sorbonne Business School, instituição que integra a Universidade de Paris Panthéon-Sorbonne. Com a primeira turma aberta em novembro, a proposta é o ensino de gestão financeira com parâmetros internacionais.
“A Sorbonne é uma das principais instituições do mundo, por onde passaram diversos prêmios Nobel e foi palco de importantes debates que afetaram o modelo econômico e político moderno. Além disso, com o mesmo empenho dedicado à cultura nos últimos séculos, a França investe em inovação e tecnologia”, afirma Maria Frastrone, pró-reitora de pós-graduação do Ibmec.
Maria Fastrone, pró-reitora de pós-graduação do Ibmec
Global
Para proporcionar uma experiência imersiva, o curso contempla um período de 15 dias em Paris, no câmpus da Sorbonne. Lá os estudantes farão dois módulos do programa e terão a oportunidade de interagir com organizações e profissionais de importantes empresas ao redor do mundo.
“Em um momento de intensas e céleres mudanças, com o mercado de pernas para o ar, a parceria do Ibmec com a Sorbonne Business School é uma oportunidade de desenvolver profissionais reflexivos, cooperativos, com conhecimento sólido e multidisciplinar, aplicado às reais necessidades do mercado”, completa a pró-reitora de pós-graduação do Ibmec.
Imersão
E se a exigência é ter um perfil digital, a imersão em novas tecnologias precisa fazer parte do pacote de formação. Mas não deve entrar no currículo como aulas complementares ou estanques. Para que o aprendizado seja fluido e o conteúdo possa ser aplicado, as ferramentas devem compor a metodologia de ensino.
É o que ocorre na Saint Paul Escola de Negócios, em que os estudantes do MBA Executivo Internacional têm acesso à plataforma Lit, um sistema de machine learning que orienta todo o percurso formativo do aluno.
Por meio de inteligência artificial, a LIT atua em três frentes. A primeira é o teste de personalidade, que descobre as características de aprendizagem do estudante, como se é uma pessoa que precisa de mais ou menos interação humana para aprender. Com esse mapeamento, a plataforma indica quais são os formatos - vídeos, grupos de discussão, textos - que se aplicam melhor para aquela pessoa. A outra maneira é o teste de conhecimentos, que indica ao executivo áreas nas quais ele precisa fazer um esforço maior e sobre que módulos ele já tem domínio.
Acompanhamento
Por fim, há um tutor digital, batizado como Paul, que tira dúvidas dos estudantes como se fosse um professor. Ele é capaz de abordar assuntos como inovação, empreendedorismo, contabilidade e demonstrativos financeiros, entre outros temas.
“Quanto mais interações são feitas, mais nossa IA (inteligência artificial) entende os alunos e como eles aprendem melhor”, explica Anna Andrade, gerente de Marketing da instituição.
Para a executiva Talita Queiroz Alvez, de 30 anos, aluna do MBA Executivo Internacional da Saint Paul, a própria experiência de lidar com a LIT tem sido uma oportunidade de aprimorar suas habilidades.
“Ao fazer o cadastro na plataforma, inseri cópias de conversas em aplicativos de mensagens e e-mails. Com isso, o sistema conseguiu entender o modo como eu penso e personalizou os conteúdos. Eu nunca vi algo assim antes”, afirma a estudante.
Talita é responsável pelo dimensionamento do quadro de pessoal de uma empresa. Trata-se de uma área na qual novidades vêm ganhando espaço, por exemplo, em softwares de análises comportamentais e competências, plataformas de recrutamento e sistemas remotos de controle de pessoal.
Para a executiva, seu cotidiano com a Lit permite que se habitue a algumas características das tecnologias que cedo ou tarde vão estar inseridas em seu trabalho, como inteligência artificial e trabalho remoto.
“Já me antecipei à mudança. Estou preparada para quando ela chegar”, acredita a estudante.