O pensador liberal à frente do MEC


Futuro ministro da Educação, Vélez Rodríguez critica aparelhamento do Estado por marxistas e vê iniciativa privada como saída

Por Pablo Pereira
Ricardo Vélez Rodríguez, novo ministro da Educação. Foto: GILBERTO ABELHA ARQUIVO GAZETA DO POVO

SÃO PAULO - Ele bate com as duas mãos no PT, na Teologia da Libertação, no aparelhamento do Estado por marxistas e em tudo mais que lhe pareça associado às ideias do italiano Antonio Gramsci (1891-1937), principal teórico, para ele, de movimento mundial, cultural e educacional de conquista de governos pela esquerda. O norte do pensamento político de Ricardo Vélez Rodríguez, de 75 anos, futuro ministro da Educação, está na direita liberal, amparado na matriz do francês Alexis de Tocqueville (1802-1859), defensor do sistema de representação política americano que, por outro lado, temia o despotismo de maiorias.

O ministro de Jair Bolsonaro é favorável ao projeto da Escola sem Partido, critica a discussão de gênero nos colégios, e acredita que a saída está na iniciativa privada e numa cultura liberal construída de baixo para cima, desde o ambiente político dos municípios. Colombiano radicado no Brasil, chegou nos anos 1970 para estudar. Cursou mestrado em Filosofia (PUC-RJ) e doutorado (Gama Filho-RJ), após ter se graduado na matéria em 1964 pela Universidade Pontifícia Javeriana, de Bogotá, e em Teologia no Seminário Conciliar de Bogotá (1967). 

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É seguidor religioso do autor de A Democracia na América (1835) e do modo de vida dos Estados Unidos, onde vive o escritor Olavo de Carvalho, responsável por indicá-lo ao governo. Vélez nunca teve experiência como a que encontrará em janeiro nem geriu orçamentos enormes – o do Ministério da Educação está na casa de R$ 108 bilhões. O que o levou ao cargo foram seu conhecimento da política do País e claras posições antimarxistas contrárias ao que chama de “lulopetismo”.

Professor emérito da Escola de Comando do Estado-Maior do Exército (Eceme), Vélez costuma refletir que o líder sindical que chegou ao poder em 2002 – e hoje cumpre pena por corrupção em Curitiba – é parte do plano esquerdista de controle social segundo os preceitos gramscianos da “hegemonia da classe trabalhadora”, pregação encontrada nos Cadernos do Cárcere, obra de Gramsci.

Em artigos no Estado, Vélez analisa a realidade do País desde os caudilhos do século 19, período de pesquisa acadêmica que embasa sua retórica liberal.Uma obra sua é Castilhismo: Uma Filosofia da República, em que disseca o republicano gaúcho Júlio Prates de Castilhos (1860-1903) para concluir: “O autocratismo castilhista não entrou no jogo ao acaso ou como simples transposição de uma teoria estrangeira. Preencheu um vazio no pensamento da elite dirigente brasileira, desobrigando-a da má consciência de haver contestado radicalmente a monarquia, sem dar solução ao problema fundamental colocado por ela: a representação”. 

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Em Por Que Ler Saint-Simon, no Estado de 22 de março de 1981, trata da religião na organização social e discute o que chamou de “messianismo da Teologia da Libertação”, atuação de setores da Igreja Católica na política brasileira à esquerda desde a redemocratização. “Ideologia totalizante visando a redenção do homem latino-americano das cadeias da dependência, mediante implantação da ditadura do proletariado.”

No texto Política e Regeneração Nacional, de 25 de junho de 2017, atacou seguidores de Lula. “A reação da sociedade brasileira contra os desmandos do lulopetismo, potencializado pelo cientificismo marxista, não pode cair nesse beco sem saída que nos leva direto ao passado da ditadura positivista.” Nem tanto lá, nem tanto cá, uma preocupação tocquevilliana. 

Dilma e militares. Em 29 de agosto de 2012, Vélez formulou, porém, ao menos como linha de argumento, que “Dilma (Rousseff, presidente cassada) pode firmar-se como estadista se, com as privatizações necessárias, confrontar de forma decidida os dirigentes do grevismo irresponsável”. No texto, diz que não votou em Dilma ou Lula. Mas sustentava o raciocínio de que ela deveria seguir a líder britânica Margaret Thatcher (1925-2013). As liberdades e a iniciativa privada são pontos centrais em sua obra, além de defender a redução da participação do Estado nos negócios.

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Um dos criadores do Instituto Humanidades, concorda com premissas do golpe de 1964, elogia a ação dos militares que, segundo defende, livrou o País do “comunismo”. Mas, como bom tocquevilliano, tem críticas e objeções à ditadura.

Em palestra na Universidade Federal de Juiz de Fora, onde coordena o Centro de Pesquisas Estratégicas Paulino Soares de Souza, divergiu do governo militar. Sua reflexão é que o modelo adotado atrapalhou o desenvolvimento do pensamento liberal. Critica “generais gaúchos” que comandaram o País em ao menos um ponto. Para ele, os militares concentraram política patrimonialista e estatizante. Por tabela, isolaram pensadores liberais impedindo-os de florescer como alternativa. 

Diz que intelectuais da esquerda voltaram no fim dos anos 1970 e acharam terreno fértil para teses esquerdizantes pela falta de consistência no conhecimento teórico dos liberais. Para Vélez, a posição do regime permitiu o avanço esquerdista levou à eleição de governos, sequência interrompida só com o impeachment em 2016. 

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No Itamaraty, em abril de 2017, disse que para o câmbio político era preciso “chutar o pau da barraca”, de “dentro do governo para fora” e não esperar um movimento de fora para dentro. Para ele, a figura brasileira liberal que executou essa atuação política foi Roberto Campos (1917-2001), quem ele compara a John Locke (1632-1704), pai do liberalismo e teórico da Revolução de 1688 na Inglaterra. 

Colômbia. Processo reconstrutivo semelhante ao que vive hoje o Brasil ocorreu no seu país natal, aColômbia, atravessada por décadas de conflitos revolucionários das Farc e outros grupos rebeldes. No artigo "A Colômbia após as Farc", publicado em 8 de julho de 2008, o futuro ministro da Educação trata de uma reconstrução que consumiu, pelos cálculos dele, pelo menos 15 anos de esforços. Segundo Vélez, houve "a vontade do povo colombiano de rejeitar os narcotraficantes pela revitalização do tecido municipal". Ele argumentou que a limpeza começou nos anos 1990 com a demissão em massa de agentes da Polícia Nacional, seguida de uma reforma das Forças Armadas que tiveram a ajuda do Plano Colômbia, bombado pelos americanos, além da criação de um corpo de "inteligência militar".

Todo esse processo colombiano teve ainda o apoio de grupos da sociedade civil daquele País, que impulsionaram a retomada da vida democrática, bem ao modo de iniciativas de movimentos da sociedade civil recentes do Brasil, operadores presentes, por exemplo, na campanha política que elegeu Bolsonaro. Vélez Rodrigues é hoje professor aposentado, mora em Londrina, onde atua também na Faculdade Arthur Thomas.

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Meta é educação humanista voltada para a cidadania

Para quem quer entender melhor a cabeça do futuro ministro da Educação, a dica é buscar autores como Miguel Reale, José Guilherme Merquior, Roque Spencer Maciel de Barros e José Osvaldo de Meira Penna, além de Francisco José Oliveira Viana, Rui Barbosa, Roberto Campos e, obviamente, Alexis de Tocqueville, todos eles base relevante no pensamento de Vélez Rodríguez. Mas um deles é especial para ele: o baiano Antônio Paim. Também com um passado de formação ligado ao pensamento marxista, Paim viveu na União Soviética, onde se formou em Filosofia em Moscou antes de tornar-se um pensador liberal brasileiro. Ele se aposentou quando atuava da Universidade Gama Filho, no Rio. 

Numa reflexão sobre Paim, também crítico do patrimonialismo brasileiro, Vélez dá pistas da educação que pensa para o Brasil. “A educação brasileira somente poderá ser renovada se superar, de forma radical, o vezo profissionalizante, mediante a volta ao estudo das humanidades”, disse ele. O alvo, com base nas ideias do mestre, é ser uma educação humanista, com foco na moral. Num curso sobre o tema, elaborado pelo educador liberal e que contou com a participação do futuro ministro, Paim prega a educaçãopara a cidadania, “a única que verdadeiramente consolida a modernidade”.

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Vélez cita Paim quando este defende a quebra do “modelo encadeado, atualmente vigente, para um que faça de cada uma dessas séries etapa independente”. “O ensino primário, assim, seria terminal e teria como finalidade primordial formar a consciência cidadã e dotar as crianças dos conhecimentos mínimos necessários para a sua inserção na sociedade."

Ricardo Vélez Rodríguez, novo ministro da Educação. Foto: GILBERTO ABELHA ARQUIVO GAZETA DO POVO

SÃO PAULO - Ele bate com as duas mãos no PT, na Teologia da Libertação, no aparelhamento do Estado por marxistas e em tudo mais que lhe pareça associado às ideias do italiano Antonio Gramsci (1891-1937), principal teórico, para ele, de movimento mundial, cultural e educacional de conquista de governos pela esquerda. O norte do pensamento político de Ricardo Vélez Rodríguez, de 75 anos, futuro ministro da Educação, está na direita liberal, amparado na matriz do francês Alexis de Tocqueville (1802-1859), defensor do sistema de representação política americano que, por outro lado, temia o despotismo de maiorias.

O ministro de Jair Bolsonaro é favorável ao projeto da Escola sem Partido, critica a discussão de gênero nos colégios, e acredita que a saída está na iniciativa privada e numa cultura liberal construída de baixo para cima, desde o ambiente político dos municípios. Colombiano radicado no Brasil, chegou nos anos 1970 para estudar. Cursou mestrado em Filosofia (PUC-RJ) e doutorado (Gama Filho-RJ), após ter se graduado na matéria em 1964 pela Universidade Pontifícia Javeriana, de Bogotá, e em Teologia no Seminário Conciliar de Bogotá (1967). 

É seguidor religioso do autor de A Democracia na América (1835) e do modo de vida dos Estados Unidos, onde vive o escritor Olavo de Carvalho, responsável por indicá-lo ao governo. Vélez nunca teve experiência como a que encontrará em janeiro nem geriu orçamentos enormes – o do Ministério da Educação está na casa de R$ 108 bilhões. O que o levou ao cargo foram seu conhecimento da política do País e claras posições antimarxistas contrárias ao que chama de “lulopetismo”.

Professor emérito da Escola de Comando do Estado-Maior do Exército (Eceme), Vélez costuma refletir que o líder sindical que chegou ao poder em 2002 – e hoje cumpre pena por corrupção em Curitiba – é parte do plano esquerdista de controle social segundo os preceitos gramscianos da “hegemonia da classe trabalhadora”, pregação encontrada nos Cadernos do Cárcere, obra de Gramsci.

Em artigos no Estado, Vélez analisa a realidade do País desde os caudilhos do século 19, período de pesquisa acadêmica que embasa sua retórica liberal.Uma obra sua é Castilhismo: Uma Filosofia da República, em que disseca o republicano gaúcho Júlio Prates de Castilhos (1860-1903) para concluir: “O autocratismo castilhista não entrou no jogo ao acaso ou como simples transposição de uma teoria estrangeira. Preencheu um vazio no pensamento da elite dirigente brasileira, desobrigando-a da má consciência de haver contestado radicalmente a monarquia, sem dar solução ao problema fundamental colocado por ela: a representação”. 

Em Por Que Ler Saint-Simon, no Estado de 22 de março de 1981, trata da religião na organização social e discute o que chamou de “messianismo da Teologia da Libertação”, atuação de setores da Igreja Católica na política brasileira à esquerda desde a redemocratização. “Ideologia totalizante visando a redenção do homem latino-americano das cadeias da dependência, mediante implantação da ditadura do proletariado.”

No texto Política e Regeneração Nacional, de 25 de junho de 2017, atacou seguidores de Lula. “A reação da sociedade brasileira contra os desmandos do lulopetismo, potencializado pelo cientificismo marxista, não pode cair nesse beco sem saída que nos leva direto ao passado da ditadura positivista.” Nem tanto lá, nem tanto cá, uma preocupação tocquevilliana. 

Dilma e militares. Em 29 de agosto de 2012, Vélez formulou, porém, ao menos como linha de argumento, que “Dilma (Rousseff, presidente cassada) pode firmar-se como estadista se, com as privatizações necessárias, confrontar de forma decidida os dirigentes do grevismo irresponsável”. No texto, diz que não votou em Dilma ou Lula. Mas sustentava o raciocínio de que ela deveria seguir a líder britânica Margaret Thatcher (1925-2013). As liberdades e a iniciativa privada são pontos centrais em sua obra, além de defender a redução da participação do Estado nos negócios.

Um dos criadores do Instituto Humanidades, concorda com premissas do golpe de 1964, elogia a ação dos militares que, segundo defende, livrou o País do “comunismo”. Mas, como bom tocquevilliano, tem críticas e objeções à ditadura.

Em palestra na Universidade Federal de Juiz de Fora, onde coordena o Centro de Pesquisas Estratégicas Paulino Soares de Souza, divergiu do governo militar. Sua reflexão é que o modelo adotado atrapalhou o desenvolvimento do pensamento liberal. Critica “generais gaúchos” que comandaram o País em ao menos um ponto. Para ele, os militares concentraram política patrimonialista e estatizante. Por tabela, isolaram pensadores liberais impedindo-os de florescer como alternativa. 

Diz que intelectuais da esquerda voltaram no fim dos anos 1970 e acharam terreno fértil para teses esquerdizantes pela falta de consistência no conhecimento teórico dos liberais. Para Vélez, a posição do regime permitiu o avanço esquerdista levou à eleição de governos, sequência interrompida só com o impeachment em 2016. 

No Itamaraty, em abril de 2017, disse que para o câmbio político era preciso “chutar o pau da barraca”, de “dentro do governo para fora” e não esperar um movimento de fora para dentro. Para ele, a figura brasileira liberal que executou essa atuação política foi Roberto Campos (1917-2001), quem ele compara a John Locke (1632-1704), pai do liberalismo e teórico da Revolução de 1688 na Inglaterra. 

Colômbia. Processo reconstrutivo semelhante ao que vive hoje o Brasil ocorreu no seu país natal, aColômbia, atravessada por décadas de conflitos revolucionários das Farc e outros grupos rebeldes. No artigo "A Colômbia após as Farc", publicado em 8 de julho de 2008, o futuro ministro da Educação trata de uma reconstrução que consumiu, pelos cálculos dele, pelo menos 15 anos de esforços. Segundo Vélez, houve "a vontade do povo colombiano de rejeitar os narcotraficantes pela revitalização do tecido municipal". Ele argumentou que a limpeza começou nos anos 1990 com a demissão em massa de agentes da Polícia Nacional, seguida de uma reforma das Forças Armadas que tiveram a ajuda do Plano Colômbia, bombado pelos americanos, além da criação de um corpo de "inteligência militar".

Todo esse processo colombiano teve ainda o apoio de grupos da sociedade civil daquele País, que impulsionaram a retomada da vida democrática, bem ao modo de iniciativas de movimentos da sociedade civil recentes do Brasil, operadores presentes, por exemplo, na campanha política que elegeu Bolsonaro. Vélez Rodrigues é hoje professor aposentado, mora em Londrina, onde atua também na Faculdade Arthur Thomas.

Meta é educação humanista voltada para a cidadania

Para quem quer entender melhor a cabeça do futuro ministro da Educação, a dica é buscar autores como Miguel Reale, José Guilherme Merquior, Roque Spencer Maciel de Barros e José Osvaldo de Meira Penna, além de Francisco José Oliveira Viana, Rui Barbosa, Roberto Campos e, obviamente, Alexis de Tocqueville, todos eles base relevante no pensamento de Vélez Rodríguez. Mas um deles é especial para ele: o baiano Antônio Paim. Também com um passado de formação ligado ao pensamento marxista, Paim viveu na União Soviética, onde se formou em Filosofia em Moscou antes de tornar-se um pensador liberal brasileiro. Ele se aposentou quando atuava da Universidade Gama Filho, no Rio. 

Numa reflexão sobre Paim, também crítico do patrimonialismo brasileiro, Vélez dá pistas da educação que pensa para o Brasil. “A educação brasileira somente poderá ser renovada se superar, de forma radical, o vezo profissionalizante, mediante a volta ao estudo das humanidades”, disse ele. O alvo, com base nas ideias do mestre, é ser uma educação humanista, com foco na moral. Num curso sobre o tema, elaborado pelo educador liberal e que contou com a participação do futuro ministro, Paim prega a educaçãopara a cidadania, “a única que verdadeiramente consolida a modernidade”.

Vélez cita Paim quando este defende a quebra do “modelo encadeado, atualmente vigente, para um que faça de cada uma dessas séries etapa independente”. “O ensino primário, assim, seria terminal e teria como finalidade primordial formar a consciência cidadã e dotar as crianças dos conhecimentos mínimos necessários para a sua inserção na sociedade."

Ricardo Vélez Rodríguez, novo ministro da Educação. Foto: GILBERTO ABELHA ARQUIVO GAZETA DO POVO

SÃO PAULO - Ele bate com as duas mãos no PT, na Teologia da Libertação, no aparelhamento do Estado por marxistas e em tudo mais que lhe pareça associado às ideias do italiano Antonio Gramsci (1891-1937), principal teórico, para ele, de movimento mundial, cultural e educacional de conquista de governos pela esquerda. O norte do pensamento político de Ricardo Vélez Rodríguez, de 75 anos, futuro ministro da Educação, está na direita liberal, amparado na matriz do francês Alexis de Tocqueville (1802-1859), defensor do sistema de representação política americano que, por outro lado, temia o despotismo de maiorias.

O ministro de Jair Bolsonaro é favorável ao projeto da Escola sem Partido, critica a discussão de gênero nos colégios, e acredita que a saída está na iniciativa privada e numa cultura liberal construída de baixo para cima, desde o ambiente político dos municípios. Colombiano radicado no Brasil, chegou nos anos 1970 para estudar. Cursou mestrado em Filosofia (PUC-RJ) e doutorado (Gama Filho-RJ), após ter se graduado na matéria em 1964 pela Universidade Pontifícia Javeriana, de Bogotá, e em Teologia no Seminário Conciliar de Bogotá (1967). 

É seguidor religioso do autor de A Democracia na América (1835) e do modo de vida dos Estados Unidos, onde vive o escritor Olavo de Carvalho, responsável por indicá-lo ao governo. Vélez nunca teve experiência como a que encontrará em janeiro nem geriu orçamentos enormes – o do Ministério da Educação está na casa de R$ 108 bilhões. O que o levou ao cargo foram seu conhecimento da política do País e claras posições antimarxistas contrárias ao que chama de “lulopetismo”.

Professor emérito da Escola de Comando do Estado-Maior do Exército (Eceme), Vélez costuma refletir que o líder sindical que chegou ao poder em 2002 – e hoje cumpre pena por corrupção em Curitiba – é parte do plano esquerdista de controle social segundo os preceitos gramscianos da “hegemonia da classe trabalhadora”, pregação encontrada nos Cadernos do Cárcere, obra de Gramsci.

Em artigos no Estado, Vélez analisa a realidade do País desde os caudilhos do século 19, período de pesquisa acadêmica que embasa sua retórica liberal.Uma obra sua é Castilhismo: Uma Filosofia da República, em que disseca o republicano gaúcho Júlio Prates de Castilhos (1860-1903) para concluir: “O autocratismo castilhista não entrou no jogo ao acaso ou como simples transposição de uma teoria estrangeira. Preencheu um vazio no pensamento da elite dirigente brasileira, desobrigando-a da má consciência de haver contestado radicalmente a monarquia, sem dar solução ao problema fundamental colocado por ela: a representação”. 

Em Por Que Ler Saint-Simon, no Estado de 22 de março de 1981, trata da religião na organização social e discute o que chamou de “messianismo da Teologia da Libertação”, atuação de setores da Igreja Católica na política brasileira à esquerda desde a redemocratização. “Ideologia totalizante visando a redenção do homem latino-americano das cadeias da dependência, mediante implantação da ditadura do proletariado.”

No texto Política e Regeneração Nacional, de 25 de junho de 2017, atacou seguidores de Lula. “A reação da sociedade brasileira contra os desmandos do lulopetismo, potencializado pelo cientificismo marxista, não pode cair nesse beco sem saída que nos leva direto ao passado da ditadura positivista.” Nem tanto lá, nem tanto cá, uma preocupação tocquevilliana. 

Dilma e militares. Em 29 de agosto de 2012, Vélez formulou, porém, ao menos como linha de argumento, que “Dilma (Rousseff, presidente cassada) pode firmar-se como estadista se, com as privatizações necessárias, confrontar de forma decidida os dirigentes do grevismo irresponsável”. No texto, diz que não votou em Dilma ou Lula. Mas sustentava o raciocínio de que ela deveria seguir a líder britânica Margaret Thatcher (1925-2013). As liberdades e a iniciativa privada são pontos centrais em sua obra, além de defender a redução da participação do Estado nos negócios.

Um dos criadores do Instituto Humanidades, concorda com premissas do golpe de 1964, elogia a ação dos militares que, segundo defende, livrou o País do “comunismo”. Mas, como bom tocquevilliano, tem críticas e objeções à ditadura.

Em palestra na Universidade Federal de Juiz de Fora, onde coordena o Centro de Pesquisas Estratégicas Paulino Soares de Souza, divergiu do governo militar. Sua reflexão é que o modelo adotado atrapalhou o desenvolvimento do pensamento liberal. Critica “generais gaúchos” que comandaram o País em ao menos um ponto. Para ele, os militares concentraram política patrimonialista e estatizante. Por tabela, isolaram pensadores liberais impedindo-os de florescer como alternativa. 

Diz que intelectuais da esquerda voltaram no fim dos anos 1970 e acharam terreno fértil para teses esquerdizantes pela falta de consistência no conhecimento teórico dos liberais. Para Vélez, a posição do regime permitiu o avanço esquerdista levou à eleição de governos, sequência interrompida só com o impeachment em 2016. 

No Itamaraty, em abril de 2017, disse que para o câmbio político era preciso “chutar o pau da barraca”, de “dentro do governo para fora” e não esperar um movimento de fora para dentro. Para ele, a figura brasileira liberal que executou essa atuação política foi Roberto Campos (1917-2001), quem ele compara a John Locke (1632-1704), pai do liberalismo e teórico da Revolução de 1688 na Inglaterra. 

Colômbia. Processo reconstrutivo semelhante ao que vive hoje o Brasil ocorreu no seu país natal, aColômbia, atravessada por décadas de conflitos revolucionários das Farc e outros grupos rebeldes. No artigo "A Colômbia após as Farc", publicado em 8 de julho de 2008, o futuro ministro da Educação trata de uma reconstrução que consumiu, pelos cálculos dele, pelo menos 15 anos de esforços. Segundo Vélez, houve "a vontade do povo colombiano de rejeitar os narcotraficantes pela revitalização do tecido municipal". Ele argumentou que a limpeza começou nos anos 1990 com a demissão em massa de agentes da Polícia Nacional, seguida de uma reforma das Forças Armadas que tiveram a ajuda do Plano Colômbia, bombado pelos americanos, além da criação de um corpo de "inteligência militar".

Todo esse processo colombiano teve ainda o apoio de grupos da sociedade civil daquele País, que impulsionaram a retomada da vida democrática, bem ao modo de iniciativas de movimentos da sociedade civil recentes do Brasil, operadores presentes, por exemplo, na campanha política que elegeu Bolsonaro. Vélez Rodrigues é hoje professor aposentado, mora em Londrina, onde atua também na Faculdade Arthur Thomas.

Meta é educação humanista voltada para a cidadania

Para quem quer entender melhor a cabeça do futuro ministro da Educação, a dica é buscar autores como Miguel Reale, José Guilherme Merquior, Roque Spencer Maciel de Barros e José Osvaldo de Meira Penna, além de Francisco José Oliveira Viana, Rui Barbosa, Roberto Campos e, obviamente, Alexis de Tocqueville, todos eles base relevante no pensamento de Vélez Rodríguez. Mas um deles é especial para ele: o baiano Antônio Paim. Também com um passado de formação ligado ao pensamento marxista, Paim viveu na União Soviética, onde se formou em Filosofia em Moscou antes de tornar-se um pensador liberal brasileiro. Ele se aposentou quando atuava da Universidade Gama Filho, no Rio. 

Numa reflexão sobre Paim, também crítico do patrimonialismo brasileiro, Vélez dá pistas da educação que pensa para o Brasil. “A educação brasileira somente poderá ser renovada se superar, de forma radical, o vezo profissionalizante, mediante a volta ao estudo das humanidades”, disse ele. O alvo, com base nas ideias do mestre, é ser uma educação humanista, com foco na moral. Num curso sobre o tema, elaborado pelo educador liberal e que contou com a participação do futuro ministro, Paim prega a educaçãopara a cidadania, “a única que verdadeiramente consolida a modernidade”.

Vélez cita Paim quando este defende a quebra do “modelo encadeado, atualmente vigente, para um que faça de cada uma dessas séries etapa independente”. “O ensino primário, assim, seria terminal e teria como finalidade primordial formar a consciência cidadã e dotar as crianças dos conhecimentos mínimos necessários para a sua inserção na sociedade."

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