Uma parceria inédita entre a Universidade de Oxford, a Unesp, a USP e a Unicamp vai oferecer aos alunos das instituições brasileiras a disciplina optativa Ciência Translacional – uma nova cadeira que busca orientar os futuros profissionais sobre como fazer a ligação entre a pesquisa básica feita nas instituições de ensino e pesquisa e as demandas do mercado. O acordo foi assinado na última terça-feira, 30.
Este ano, num primeiro momento, serão abertas apenas 30 vagas (dez para cada universidade de São Paulo), como um programa piloto. As aulas serão online e o curso é ministrado por professores das instituições nacionais e de Oxford – entre eles especialistas que participaram do desenvolvimento da vacina contra a covid-19 na universidade britânica.
Podem se inscrever alunos que estejam matriculados em qualquer curso de graduação de uma das três instituições de São Paulo nas áreas de saúde, biológicas, agrárias exatas e engenharias.
O processo para a criação da nova disciplina teve início em agosto de 2023, reunindo representantes das quatro universidades, das mais diversas áreas da graduação, inclusive de publicidade e administração de empresas. A Ciência Translacional não é exatamente uma área nova do conhecimento científico, mas foi mais popularizada na pandemia da covid-19, quando se mostrou crucial no desenvolvimento de novas vacinas em tempo recorde, além de medicamentos e kits de diagnóstico para uma doença que, até então, ninguém conhecia.
“É comum escutarmos que o conhecimento não sai dos laboratórios, não chega na indústria; isso acontece porque falta esse profissional que conhece as demandas do mercado e sabe em quais laboratórios buscar a tecnologia”, explicou o coordenador-executivo do Centro de Estudos e Venenos de Animais Peçonhentos (Cevap), da Unesp, Rui Seabra, um dos coordenadores do novo curso. “O curso nasce justamente dessa necessidade de trazermos o tema para os cursos da graduação.”
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Segundo a professora Sue Ann Costa Clemens, representante da Universidade de Oxford signatária do protocolo, a pesquisa translacional requer a capacitação de profissionais que possam pensar o desenvolvimento de um novo produto “de ponta a ponta”, seja para contribuir para o surgimento de uma nova vacina ou para dar escala à testagem de novos biofármacos.
O trajeto de desenvolvimento de um produto desde a bancada do laboratório até o usuário final envolve tantos obstáculos que a travessia é chamada no meio acadêmico de “vale da morte”, dadas as inúmeras potenciais descobertas que “morrem” antes de terem a chance de virarem um produto.
“Há mais de dez anos venho batendo na porta de diferentes instituições com a ideia de introduzir essa disciplina extra na graduação”, afirmou a pesquisadora brasileira Sue Ann, professora de Saúde Global e Desenvolvimento Clínico, na Universidade de Oxford. “A maioria dos pesquisadores, tanto no Brasil quanto em outros países, entra em um projeto por oportunidade. São treinados pela indústria ou pela academia naquele protocolo específico, mas não sabem o que aconteceu antes, como se chegou até ali, nem o que vai acontecer depois. E é este profissional que precisamos treinar para que esteja preparado para responder às próximas epidemias e pandemias, mas também para cuidar das nossas doenças endêmicas, que tanto matam.”
De acordo com Rui Seabra, a disciplina está projetada para se tornar no futuro uma habilitação acadêmica. Ou seja, para complementar, ao final do curso de graduação, a formação dos estudantes das mais diversas áreas, que sairiam habilitados em ciência translacional.
“A ciência translacional tem impacto em todas as áreas do conhecimento. No nosso curso (de pós-graduação) de pesquisa clínica, já orientei administrador de empresa, advogado, publicitário”, disse.