Uma das formas de avaliar os programas de pós-graduação no País vai mudar a partir do ano que vem. Em vez de considerar o periódico em que a produção científica dos pesquisadores foi publicada, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), vai agora focar nos artigos.
Hoje, o sistema nacional chamado Qualis Periódicos classifica as revistas científicas com conceitos A1, A2, B1, B2, B4, B5 e C, sendo A as de maior impacto. Quanto mais trabalhos os pesquisadores de um programa de pós têm publicados em periódicos A, por exemplo, maiores são suas chances de ser melhor avaliado pelo processo.
Esse e outros parâmetros (como corpo docente, qualidade das teses, currículo) fazem parte da avaliação da pós no Brasil, feita de quatro em quatro anos pela Capes. Ela é levada em conta para o financiamento dos programas, como recursos para pesquisas e para bolsas de mestrado e doutorado.
A partir da próxima avaliação, que vai de 2025 a 2028, a Capes passará a classificar o artigo e não onde ele foi publicado. “Pode ser que um trabalho publicado em um periódico B1 tenha tido impacto sobre a ciência muito maior do que quem publicou na Nature e isso não é levado em consideração hoje em dia”, disse ao Estadão a presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho. A Nature é uma das revistas científicas de maior prestígio no mundo.
A mudança foi aprovada em outubro, mas os detalhes só serão publicados em março de 2025. A indefinição tem causado insegurança em parte da comunidade acadêmica, que teme que a análise dos artigos passe a ter caráter subjetivo.
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Presidente da Capes explica nova regra, que deixará de considerar só o periódico em que a produção científica foi publicada e vai focar na avaliação do artigo.
“A proposição de extinguir o sistema Qualis e a implementação de novos critérios de avaliação de periódicos trouxeram preocupações quanto à manutenção da previsibilidade no processo avaliativo e à ética nos processos de produção, publicação, disseminação e citações dos artigos publicados em periódicos científicos”, afirmou, em nota, o Fórum Nacional de Coordenadores de Pós-Graduação em Educação (Forpred).
“Não é verdade que Capes sepultou o Qualis Periódicos”, acrescenta Denise, que também já foi reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso porque, segundo ela, um dos procedimentos para a classificação dos artigos ainda será os indicadores dos veículos de publicação. Mas também serão consideradas as citações alcançadas, os critérios de indexação e o acesso aberto do artigo.
Segundo a Capes, a análise ainda vai levar em conta a pertinência “do tema abordado, avanço conceitual proveniente do trabalho e a contribuição científica do estudo”. “É muito mais justo que você avalie o artigo do que a revista”, completa Denise. “O que a gente quer saber é o quão original é esse trabalho, o quanto é disruptivo, o quanto fez a ciência avançar.”
O diretor do Programa SciELO, que indexa e publica em acesso aberto os periódicos de qualidade do Brasil, Abel Packer, elogia a mudança. “Agora o sistema passa a privilegiar o impacto real das pesquisas e não o impacto esperado quando é baseado no periódico onde é publicado”, afirma.
Segundo pesquisadores, a mudança também pode levar a um maior interesse em se publicar em revistas científicas nacionais, o que a presidente da Capes concorda. “Se tenho um artigo que está em inglês, indexado, acesso aberto para o mundo todo ler, e pode ser publicado na Nature ou no Brazilian Journals, vou pagar R$ 20 mil na Nature ou vou pagar aqui R$ 2 mil aqui?”, diz Denise.
Os valores para publicação de artigos em revistas internacionais são muito mais altos que os cobrados no Brasil. “Agora tenho uma opção, já que a Nature não vai ser tão mais importante.”