Para incentivar melhor comportamento dos alunos em casa, o Colégio Brasil Objetivo, em Interlagos, propõe que os pais avaliem os filhos. Por meio de um questionário bimestral de 30 perguntas, o responsável anota se o filho tem arrumado a cama, feito a lição de casa e escovado os dentes. Ao final, é dada uma nota e, se o jovem cumpriu todas as obrigações no lar, o estudante pode ganhar até dois pontos na composição da nota.
A iniciativa surgiu quando a diretora Deverlene Rocha percebeu que os familiares tinham dificuldades em disciplinar o filho em casa. Aos poucos, ela e as coordenadoras notaram que cronogramas de bom comportamento na porta da geladeira surtiam pouco ou nenhum efeito. Daí resolveram apostar na nota como forma de recompensa em um sistema que o Brasil Objetivo chama de “avaliação de vida diária”, a AVD, pela qual passam todos os alunos do fundamental e médio.
A diretora afirma que a AVD não é apenas um método de recompensa para a criança. É uma forma de inserir a família no processo educacional. “É fazer com que o pai se torne mais participativo”, afirma. Além disso, a diretora sempre recomenda que a família não faça perguntas ao filho, e sim que observe se ele cumpre as obrigações. “Não quero que só a escola dê a nota”, comenta.
No dia a dia escolar do Brasil Objetivo, os dois pontos máximos das AVDs são somados à nota de participação em sala de aula (até 5 pontos) com a vistoria da coordenação, que pode dar até 3 pontos para aqueles que têm o caderno em dia, por exemplo. Esses 10 pontos máximos são depois somados com as avaliações mais tradicionais, como provas e trabalhos. Só então é feita a média.
Parceria
Mas e se os pais forem exigentes ou relapsos demais nas avaliações? Deverlene confessa que esse é um ponto negativo do projeto, mas a coordenadoria faz um cruzamento de informações entre as avaliações de vida diária e o desempenho no espaço escolar. Se há uma grande discrepância durante muito tempo, o jeito é chamar a família para conversar. “A gente quer esse pai mais parceiro”, conta. Do mesmo jeito que um professor imprime subjetividade durante a avaliação de participação, o pai não consegue saber se o comportamento do filho é comum à faixa etária, por exemplo. Para a diretora, é nessa hora que a escola entra para calibrar essa dosagem.
Tatiane Angelini sentiu uma diferença positiva no filho Heitor após baixar a nota da avaliação de vida diária. Por “comodismo”, nas palavras dela, o garoto de 9 anos deixava de fazer a lição de casa ou só fazia com auxílio da mãe. Com a baixa avaliação, o comportamento mudou. “Acho interessante participar da nota do filho, sabendo que você contribuiu e houve melhora”, diz.
“No começo, você acha a AVD um pouco diferente, mas com o passar do tempo a evolução é fantástica”, comenta a mãe. Seus outros dois filhos também estudam no Colégio Brasil Objetivo e também passam pelo crivo avaliativo da mãe, que garante que nunca deram trabalho nesse aspecto.
Hoje, a filha mais velha, Camila, está para se formar no 3.º ano do ensino médio após passar a vida toda estudando na mesma instituição.
Nas AVDs, o conteúdo varia conforme o ciclo de educação. Do 1.º ao 5.º ano, o responsável deve avaliar se a criança conhece o trabalho do pai ou da mãe e se compreende o contexto dentro de casa. Depois, o aluno deve estar atento à vida financeira da casa e, no médio, se há preparação para o vestibular, estudo de uma segunda língua e leitura. “A gente mexe com a casa”, brinca Deverlene.
Postura
Nos outros aspectos, no entanto, a escola é bastante tradicional. “Não tenho receio de dizer isso”, comenta a diretora. Ela exemplifica: é obrigatório o uso de uniforme, vetado calçar chinelo quando há aulas de educação física, e não fazer lição de casa perde ponto. Para ela, o mercado de trabalho vai cobrar um comportamento rígido, por isso é dever da escola já preparar o aluno para as etapas seguintes.
Para a maior parte dos alunos, o passo seguinte é o vestibular. Na visão do colégio, ir bem na prova não é uma tarefa isolada. Para garantir a vaga no ensino superior, é preciso dedicação, doutrina e cumprir horários. O amadurecimento é um fator importante na rotina de estudos e, de acordo com Deverlene, não ser uma pessoa com o quarto desorganizado já é um bom início. Por isso o colégio trabalha a relação de responsabilidade que o aluno deve ter não apenas no espaço físico do colégio, mas também em casa.
“As avaliações de vida diárias são um desenvolvimento integral”, diz Deverlene. Fazendo somente ajustes pontuais conforme a necessidade dos pais, ela diz que não há planos para alterar a metodologia das AVDs por enquanto. A diretora defende que a avaliação não pode ser só feita pela escola, e sim um trabalho conjunto para avaliar o indivíduo como um todo. “O ser humano não é um diploma, é uma junção de tudo”, afirma Deverlene.
Professores são avaliados pelos estudantes
O Colégio Marista Arquidiocesano, na zona sul de São Paulo, trata seus professores como qualquer empresa lida com os funcionários: com metas de desempenho anuais. Pontualidade, comprometimento, planejamento, estratégia de aula e relacionamento com alunos e colegas são fatores que estão sob análise ao pensar nos objetivos de um docente da escola.
Para mensurar essas metas, a coordenadoria da escola faz com que os professores façam uma autoavaliação, enquanto os gestores avaliam o trabalho do professor a partir de critérios como pontualidade. No fim do processo, os estudantes também contribuem com a perspectiva da sala de aula. “Temos de dar um painel de informações e de desempenho profissional do professor como um todo”, conta o coordenador do ensino médio do Arquidiocesano, Welington Nunes de Souza. “Serve para que o professor perceba como está o trabalho dele”, afirma Souza.
O ensino médio do Arquidiocesano tem foco em vestibulares, em especial a Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), que é a prova com maior horizontalidade de conteúdo, segundo o coordenador. Além de dedicar esforços na formação do estudante, com palestras, aulas de reforço e interdisciplinaridade, a instituição de ensino colabora com a melhora da qualidade dos professores ao dar um feedback das avaliações feitas. Com o retorno avaliativo em mãos, o professor repensa a metodologia junto com a escola, como um plano de desenvolvimento individual.
Outro rumo
Souza conta que uma determinada disciplina com baixo desempenho entre os alunos teve as propostas didáticas alteradas depois que a coordenação se sentou com o docente para pensar novos métodos de ensino. “A gente identificou que o professor focava em aula expositiva e sem diálogo com os alunos”, lembra.
As mudanças didáticas, como materiais extras e rodas de discussão, aumentaram o desempenho da turma. Como consequência, o professor se sentiu fidelizado à escola pelo reconhecimento e o ambiente de trabalho e aprendizado fica favorável. “Estamos aqui pra somar”, afirma o coordenador. “Nosso professor não está sozinho na sala de aula. E quem se beneficia do processo é o aluno.”