Por que centros de excelência hospitalares estão apostando na formação de profissionais?


Existe hoje expansão de graduações na área de Medicina, mas a qualidade é desigual e uma pós-graduação faz a diferença

Por Paulo Reda
Atualização:

Além das tradicionais faculdades de Medicina públicas e privadas, que mantêm parcerias com hospitais para a formação e para programas de residência, o Brasil tem visto nos últimos anos o crescimento de cursos na área de Saúde criados por centros de excelência hospitalares já consolidados. Esses utilizam sua estrutura e o conhecimento do quadro clínico na preparação dos futuros profissionais da área.

Inaugurado em 1971, o Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo foi uma das primeiras instituições a apostar nesse segmento. O presidente do Einstein, Sidney Klajner, destaca que o centro médico sempre colocou como missão, além da responsabilidade social, a geração do conhecimento, por meio da pesquisa e ensino. “Existe o medo de apagão de profissionais de Saúde pelo mundo. Esse ensino é de enorme responsabilidade.”

A experiência inicial ocorreu com a implementação da Faculdade de Enfermagem, que este ano completa 35 anos, e na sequência vieram os programas de residência e pós. “A partir de 2016, passamos a atuar em uma área que representa uma das maiores necessidades do País, que é a formação de médicos, com um projeto pedagógico inovador.”

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‘Existe o medo de apagão de profissionais. Esse ensino é de enorme responsabilidade’, afirma Klajner. Foto: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN/DIVULGAÇÃO

No ano que vem, a perspectiva é de aumentar as opções de graduação, com o lançamento do programa de Psicologia (já existem as opções de Fisioterapia, Odontologia e Administração em Saúde). Por ano, o setor educacional do Albert Einstein já forma mais de 60 mil alunos.

E Klajner ressalta que a boa formação de um profissional de Saúde não passa apenas por apostilas. “Existem eixos de humanidades dentro do projeto, com foco na ética e na humanização do atendimento. Na maioria das vezes, a prevenção e a atenção básica são fundamentais. Por isso, optamos por adotar a disciplina de Saúde da Família desde o primeiro ano.”

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Fundado há quase 50 anos e outro centro de referência, o HCor também investe em programas de formação de novos profissionais. De acordo com Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de ensino e pesquisa do hospital, nos últimos anos o foco tem ido para além da residência médica. “Mantemos programas de aprimoramento médico, com duração entre 1 e 3 anos, voltados a preparar especialistas em diversas áreas. E oferecemos formação em Cardiologia para outras áreas de Saúde, como Psicologia e Enfermagem. Já atendemos mais de 6 mil alunos nesses cursos intensivos.”

Desde o ano passado, em parceria com a PUC do Paraná, o HCor passou também a ofertar programas de pós e MBA em Gestão de Saúde, Cardiologia Clínica e Psicologia Hospitalar. Em 2024, foram implementados Enfermagem em Cardiologia e Nutrologia em Pediatria.

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Cavalcanti alerta que existe hoje uma expansão de graduações na área de Medicina, mas a qualidade ainda é desigual. “Nesse contexto, é fundamental que os profissionais busquem uma qualificação após a conclusão da graduação, sob o risco de descontrole da qualidade do serviço.”

Fernanda Tovar-Moll dirige o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor), criado há 14 anos pelo Rede D’Or. De acordo com ela, no início o investimento ocorreu principalmente em pesquisa, mas posteriormente também no ensino. “Desde 2017 oferecemos mestrado e doutorado próprios. Estudamos muito o que já era feito no Brasil e no mundo e buscamos criar um modelo”.

Para ela, a principal vantagem dessa união entre a rotina de um hospital de ponta e o ensino é a possibilidade de formação de profissionais vinculados à ciência, mas com uma conexão direta com a rede de atendimento. “Temos mais de 100 pesquisadores. Além isso, mantemos mais de 67 programas de residência médica, não apenas na rede hospitalar, mas também ambulatorial.”

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Diretor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Erich Vinicius de Paula acredita que a entrada dos centros de excelência na área educacional de Saúde é uma iniciativa importante, mas ainda são “ilhas” no meio de uma série de cursos privados de qualidade inferior.

Ele defende mudanças curriculares e de práticas de ensino na formação dos profissionais de Saúde. “A quantidade de informação está crescendo muito rápido. É preciso ter a capacidade de atender, saber navegar pelo sistema de saúde, se comunicar, valorizar a ética e apostar no aprendizado contínuo, com a consciência de que não é possível se ensinar tudo na graduação.”

Inteligência artificial precisa entrar na prática, ao lado de ética e cuidados

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Como em muitas outras áreas do conhecimento, a inteligência artificial (IA) também entrou definitivamente na rotina dos cursos de Saúde. Gestores do setor acreditam que o uso da ferramenta tem um potencial grande para auxiliar no diagnóstico e tratamento, mas alertam que é preciso adotar procedimentos adequados.

Para Giovanni Cerri, presidente dos conselhos dos institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a IA é algo que estará presente no curto prazo em todas as áreas como facilitadora, sobretudo em avaliação e simulação de casos clínicos. “A IA pode, por exemplo, adequar a linguagem de exames radiológicos tanto para médicos quanto para pacientes.”

Ele tem participado do debate nacional sobre a regulamentação e observa que, inicialmente, esse uso chegou a ser considerado de alto risco, pela necessidade de criar um banco de dados mais qualificado. “Não podemos simplesmente importar algoritmos de outras soluções. Podemos usar algoritmos, desde que validados.” Já foi elaborada uma proposta inicial no Senado. “O projeto evoluiu, mas é um tema complexo e necessário, que exige cautela na regulamentação.”

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Ele destaca, porém, que o avanço da IA pode ajudar tanto o profissional quanto o paciente. “É uma ferramenta que pode diminuir os erros médicos e contribuir muito no ensino, mas necessita de profissionais qualificados para difundir esses conhecimentos.”

Alexandre Holthausen, diretor-superintendente de Ensino e Consultoria do Hospital Albert Einstein, afirma que a maioria dos docentes que atuam nas instituições dedicadas ao ensino na área de Saúde ainda não está totalmente preparada para a utilização da IA, mas o potencial de disrupção é maior do que o de avanços tecnológicos anteriores. “O que não se deve fazer é ficar esperando o que vai acontecer nem achar que a IA resolve tudo. É fundamental estudar e traçar um plano.”

Especialista em Gestão de Saúde, Marcon Censoni Ávila e Lima defende a tese de que não é inteligente lutar contra o uso de IA nos cursos. “A inteligência artificial não chega a conclusões sozinha. Na Medicina, é fundamental conhecer a fonte. Quanto mais tecnologia, mais tempo esses futuros profissionais terão para viabilizar um atendimento humanizado”, afirma.

Além das tradicionais faculdades de Medicina públicas e privadas, que mantêm parcerias com hospitais para a formação e para programas de residência, o Brasil tem visto nos últimos anos o crescimento de cursos na área de Saúde criados por centros de excelência hospitalares já consolidados. Esses utilizam sua estrutura e o conhecimento do quadro clínico na preparação dos futuros profissionais da área.

Inaugurado em 1971, o Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo foi uma das primeiras instituições a apostar nesse segmento. O presidente do Einstein, Sidney Klajner, destaca que o centro médico sempre colocou como missão, além da responsabilidade social, a geração do conhecimento, por meio da pesquisa e ensino. “Existe o medo de apagão de profissionais de Saúde pelo mundo. Esse ensino é de enorme responsabilidade.”

A experiência inicial ocorreu com a implementação da Faculdade de Enfermagem, que este ano completa 35 anos, e na sequência vieram os programas de residência e pós. “A partir de 2016, passamos a atuar em uma área que representa uma das maiores necessidades do País, que é a formação de médicos, com um projeto pedagógico inovador.”

‘Existe o medo de apagão de profissionais. Esse ensino é de enorme responsabilidade’, afirma Klajner. Foto: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN/DIVULGAÇÃO

No ano que vem, a perspectiva é de aumentar as opções de graduação, com o lançamento do programa de Psicologia (já existem as opções de Fisioterapia, Odontologia e Administração em Saúde). Por ano, o setor educacional do Albert Einstein já forma mais de 60 mil alunos.

E Klajner ressalta que a boa formação de um profissional de Saúde não passa apenas por apostilas. “Existem eixos de humanidades dentro do projeto, com foco na ética e na humanização do atendimento. Na maioria das vezes, a prevenção e a atenção básica são fundamentais. Por isso, optamos por adotar a disciplina de Saúde da Família desde o primeiro ano.”

Fundado há quase 50 anos e outro centro de referência, o HCor também investe em programas de formação de novos profissionais. De acordo com Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de ensino e pesquisa do hospital, nos últimos anos o foco tem ido para além da residência médica. “Mantemos programas de aprimoramento médico, com duração entre 1 e 3 anos, voltados a preparar especialistas em diversas áreas. E oferecemos formação em Cardiologia para outras áreas de Saúde, como Psicologia e Enfermagem. Já atendemos mais de 6 mil alunos nesses cursos intensivos.”

Desde o ano passado, em parceria com a PUC do Paraná, o HCor passou também a ofertar programas de pós e MBA em Gestão de Saúde, Cardiologia Clínica e Psicologia Hospitalar. Em 2024, foram implementados Enfermagem em Cardiologia e Nutrologia em Pediatria.

Cavalcanti alerta que existe hoje uma expansão de graduações na área de Medicina, mas a qualidade ainda é desigual. “Nesse contexto, é fundamental que os profissionais busquem uma qualificação após a conclusão da graduação, sob o risco de descontrole da qualidade do serviço.”

Fernanda Tovar-Moll dirige o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor), criado há 14 anos pelo Rede D’Or. De acordo com ela, no início o investimento ocorreu principalmente em pesquisa, mas posteriormente também no ensino. “Desde 2017 oferecemos mestrado e doutorado próprios. Estudamos muito o que já era feito no Brasil e no mundo e buscamos criar um modelo”.

Para ela, a principal vantagem dessa união entre a rotina de um hospital de ponta e o ensino é a possibilidade de formação de profissionais vinculados à ciência, mas com uma conexão direta com a rede de atendimento. “Temos mais de 100 pesquisadores. Além isso, mantemos mais de 67 programas de residência médica, não apenas na rede hospitalar, mas também ambulatorial.”

Diretor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Erich Vinicius de Paula acredita que a entrada dos centros de excelência na área educacional de Saúde é uma iniciativa importante, mas ainda são “ilhas” no meio de uma série de cursos privados de qualidade inferior.

Ele defende mudanças curriculares e de práticas de ensino na formação dos profissionais de Saúde. “A quantidade de informação está crescendo muito rápido. É preciso ter a capacidade de atender, saber navegar pelo sistema de saúde, se comunicar, valorizar a ética e apostar no aprendizado contínuo, com a consciência de que não é possível se ensinar tudo na graduação.”

Inteligência artificial precisa entrar na prática, ao lado de ética e cuidados

Como em muitas outras áreas do conhecimento, a inteligência artificial (IA) também entrou definitivamente na rotina dos cursos de Saúde. Gestores do setor acreditam que o uso da ferramenta tem um potencial grande para auxiliar no diagnóstico e tratamento, mas alertam que é preciso adotar procedimentos adequados.

Para Giovanni Cerri, presidente dos conselhos dos institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a IA é algo que estará presente no curto prazo em todas as áreas como facilitadora, sobretudo em avaliação e simulação de casos clínicos. “A IA pode, por exemplo, adequar a linguagem de exames radiológicos tanto para médicos quanto para pacientes.”

Ele tem participado do debate nacional sobre a regulamentação e observa que, inicialmente, esse uso chegou a ser considerado de alto risco, pela necessidade de criar um banco de dados mais qualificado. “Não podemos simplesmente importar algoritmos de outras soluções. Podemos usar algoritmos, desde que validados.” Já foi elaborada uma proposta inicial no Senado. “O projeto evoluiu, mas é um tema complexo e necessário, que exige cautela na regulamentação.”

Ele destaca, porém, que o avanço da IA pode ajudar tanto o profissional quanto o paciente. “É uma ferramenta que pode diminuir os erros médicos e contribuir muito no ensino, mas necessita de profissionais qualificados para difundir esses conhecimentos.”

Alexandre Holthausen, diretor-superintendente de Ensino e Consultoria do Hospital Albert Einstein, afirma que a maioria dos docentes que atuam nas instituições dedicadas ao ensino na área de Saúde ainda não está totalmente preparada para a utilização da IA, mas o potencial de disrupção é maior do que o de avanços tecnológicos anteriores. “O que não se deve fazer é ficar esperando o que vai acontecer nem achar que a IA resolve tudo. É fundamental estudar e traçar um plano.”

Especialista em Gestão de Saúde, Marcon Censoni Ávila e Lima defende a tese de que não é inteligente lutar contra o uso de IA nos cursos. “A inteligência artificial não chega a conclusões sozinha. Na Medicina, é fundamental conhecer a fonte. Quanto mais tecnologia, mais tempo esses futuros profissionais terão para viabilizar um atendimento humanizado”, afirma.

Além das tradicionais faculdades de Medicina públicas e privadas, que mantêm parcerias com hospitais para a formação e para programas de residência, o Brasil tem visto nos últimos anos o crescimento de cursos na área de Saúde criados por centros de excelência hospitalares já consolidados. Esses utilizam sua estrutura e o conhecimento do quadro clínico na preparação dos futuros profissionais da área.

Inaugurado em 1971, o Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo foi uma das primeiras instituições a apostar nesse segmento. O presidente do Einstein, Sidney Klajner, destaca que o centro médico sempre colocou como missão, além da responsabilidade social, a geração do conhecimento, por meio da pesquisa e ensino. “Existe o medo de apagão de profissionais de Saúde pelo mundo. Esse ensino é de enorme responsabilidade.”

A experiência inicial ocorreu com a implementação da Faculdade de Enfermagem, que este ano completa 35 anos, e na sequência vieram os programas de residência e pós. “A partir de 2016, passamos a atuar em uma área que representa uma das maiores necessidades do País, que é a formação de médicos, com um projeto pedagógico inovador.”

‘Existe o medo de apagão de profissionais. Esse ensino é de enorme responsabilidade’, afirma Klajner. Foto: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN/DIVULGAÇÃO

No ano que vem, a perspectiva é de aumentar as opções de graduação, com o lançamento do programa de Psicologia (já existem as opções de Fisioterapia, Odontologia e Administração em Saúde). Por ano, o setor educacional do Albert Einstein já forma mais de 60 mil alunos.

E Klajner ressalta que a boa formação de um profissional de Saúde não passa apenas por apostilas. “Existem eixos de humanidades dentro do projeto, com foco na ética e na humanização do atendimento. Na maioria das vezes, a prevenção e a atenção básica são fundamentais. Por isso, optamos por adotar a disciplina de Saúde da Família desde o primeiro ano.”

Fundado há quase 50 anos e outro centro de referência, o HCor também investe em programas de formação de novos profissionais. De acordo com Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de ensino e pesquisa do hospital, nos últimos anos o foco tem ido para além da residência médica. “Mantemos programas de aprimoramento médico, com duração entre 1 e 3 anos, voltados a preparar especialistas em diversas áreas. E oferecemos formação em Cardiologia para outras áreas de Saúde, como Psicologia e Enfermagem. Já atendemos mais de 6 mil alunos nesses cursos intensivos.”

Desde o ano passado, em parceria com a PUC do Paraná, o HCor passou também a ofertar programas de pós e MBA em Gestão de Saúde, Cardiologia Clínica e Psicologia Hospitalar. Em 2024, foram implementados Enfermagem em Cardiologia e Nutrologia em Pediatria.

Cavalcanti alerta que existe hoje uma expansão de graduações na área de Medicina, mas a qualidade ainda é desigual. “Nesse contexto, é fundamental que os profissionais busquem uma qualificação após a conclusão da graduação, sob o risco de descontrole da qualidade do serviço.”

Fernanda Tovar-Moll dirige o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor), criado há 14 anos pelo Rede D’Or. De acordo com ela, no início o investimento ocorreu principalmente em pesquisa, mas posteriormente também no ensino. “Desde 2017 oferecemos mestrado e doutorado próprios. Estudamos muito o que já era feito no Brasil e no mundo e buscamos criar um modelo”.

Para ela, a principal vantagem dessa união entre a rotina de um hospital de ponta e o ensino é a possibilidade de formação de profissionais vinculados à ciência, mas com uma conexão direta com a rede de atendimento. “Temos mais de 100 pesquisadores. Além isso, mantemos mais de 67 programas de residência médica, não apenas na rede hospitalar, mas também ambulatorial.”

Diretor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Erich Vinicius de Paula acredita que a entrada dos centros de excelência na área educacional de Saúde é uma iniciativa importante, mas ainda são “ilhas” no meio de uma série de cursos privados de qualidade inferior.

Ele defende mudanças curriculares e de práticas de ensino na formação dos profissionais de Saúde. “A quantidade de informação está crescendo muito rápido. É preciso ter a capacidade de atender, saber navegar pelo sistema de saúde, se comunicar, valorizar a ética e apostar no aprendizado contínuo, com a consciência de que não é possível se ensinar tudo na graduação.”

Inteligência artificial precisa entrar na prática, ao lado de ética e cuidados

Como em muitas outras áreas do conhecimento, a inteligência artificial (IA) também entrou definitivamente na rotina dos cursos de Saúde. Gestores do setor acreditam que o uso da ferramenta tem um potencial grande para auxiliar no diagnóstico e tratamento, mas alertam que é preciso adotar procedimentos adequados.

Para Giovanni Cerri, presidente dos conselhos dos institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a IA é algo que estará presente no curto prazo em todas as áreas como facilitadora, sobretudo em avaliação e simulação de casos clínicos. “A IA pode, por exemplo, adequar a linguagem de exames radiológicos tanto para médicos quanto para pacientes.”

Ele tem participado do debate nacional sobre a regulamentação e observa que, inicialmente, esse uso chegou a ser considerado de alto risco, pela necessidade de criar um banco de dados mais qualificado. “Não podemos simplesmente importar algoritmos de outras soluções. Podemos usar algoritmos, desde que validados.” Já foi elaborada uma proposta inicial no Senado. “O projeto evoluiu, mas é um tema complexo e necessário, que exige cautela na regulamentação.”

Ele destaca, porém, que o avanço da IA pode ajudar tanto o profissional quanto o paciente. “É uma ferramenta que pode diminuir os erros médicos e contribuir muito no ensino, mas necessita de profissionais qualificados para difundir esses conhecimentos.”

Alexandre Holthausen, diretor-superintendente de Ensino e Consultoria do Hospital Albert Einstein, afirma que a maioria dos docentes que atuam nas instituições dedicadas ao ensino na área de Saúde ainda não está totalmente preparada para a utilização da IA, mas o potencial de disrupção é maior do que o de avanços tecnológicos anteriores. “O que não se deve fazer é ficar esperando o que vai acontecer nem achar que a IA resolve tudo. É fundamental estudar e traçar um plano.”

Especialista em Gestão de Saúde, Marcon Censoni Ávila e Lima defende a tese de que não é inteligente lutar contra o uso de IA nos cursos. “A inteligência artificial não chega a conclusões sozinha. Na Medicina, é fundamental conhecer a fonte. Quanto mais tecnologia, mais tempo esses futuros profissionais terão para viabilizar um atendimento humanizado”, afirma.

Além das tradicionais faculdades de Medicina públicas e privadas, que mantêm parcerias com hospitais para a formação e para programas de residência, o Brasil tem visto nos últimos anos o crescimento de cursos na área de Saúde criados por centros de excelência hospitalares já consolidados. Esses utilizam sua estrutura e o conhecimento do quadro clínico na preparação dos futuros profissionais da área.

Inaugurado em 1971, o Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo foi uma das primeiras instituições a apostar nesse segmento. O presidente do Einstein, Sidney Klajner, destaca que o centro médico sempre colocou como missão, além da responsabilidade social, a geração do conhecimento, por meio da pesquisa e ensino. “Existe o medo de apagão de profissionais de Saúde pelo mundo. Esse ensino é de enorme responsabilidade.”

A experiência inicial ocorreu com a implementação da Faculdade de Enfermagem, que este ano completa 35 anos, e na sequência vieram os programas de residência e pós. “A partir de 2016, passamos a atuar em uma área que representa uma das maiores necessidades do País, que é a formação de médicos, com um projeto pedagógico inovador.”

‘Existe o medo de apagão de profissionais. Esse ensino é de enorme responsabilidade’, afirma Klajner. Foto: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN/DIVULGAÇÃO

No ano que vem, a perspectiva é de aumentar as opções de graduação, com o lançamento do programa de Psicologia (já existem as opções de Fisioterapia, Odontologia e Administração em Saúde). Por ano, o setor educacional do Albert Einstein já forma mais de 60 mil alunos.

E Klajner ressalta que a boa formação de um profissional de Saúde não passa apenas por apostilas. “Existem eixos de humanidades dentro do projeto, com foco na ética e na humanização do atendimento. Na maioria das vezes, a prevenção e a atenção básica são fundamentais. Por isso, optamos por adotar a disciplina de Saúde da Família desde o primeiro ano.”

Fundado há quase 50 anos e outro centro de referência, o HCor também investe em programas de formação de novos profissionais. De acordo com Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de ensino e pesquisa do hospital, nos últimos anos o foco tem ido para além da residência médica. “Mantemos programas de aprimoramento médico, com duração entre 1 e 3 anos, voltados a preparar especialistas em diversas áreas. E oferecemos formação em Cardiologia para outras áreas de Saúde, como Psicologia e Enfermagem. Já atendemos mais de 6 mil alunos nesses cursos intensivos.”

Desde o ano passado, em parceria com a PUC do Paraná, o HCor passou também a ofertar programas de pós e MBA em Gestão de Saúde, Cardiologia Clínica e Psicologia Hospitalar. Em 2024, foram implementados Enfermagem em Cardiologia e Nutrologia em Pediatria.

Cavalcanti alerta que existe hoje uma expansão de graduações na área de Medicina, mas a qualidade ainda é desigual. “Nesse contexto, é fundamental que os profissionais busquem uma qualificação após a conclusão da graduação, sob o risco de descontrole da qualidade do serviço.”

Fernanda Tovar-Moll dirige o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor), criado há 14 anos pelo Rede D’Or. De acordo com ela, no início o investimento ocorreu principalmente em pesquisa, mas posteriormente também no ensino. “Desde 2017 oferecemos mestrado e doutorado próprios. Estudamos muito o que já era feito no Brasil e no mundo e buscamos criar um modelo”.

Para ela, a principal vantagem dessa união entre a rotina de um hospital de ponta e o ensino é a possibilidade de formação de profissionais vinculados à ciência, mas com uma conexão direta com a rede de atendimento. “Temos mais de 100 pesquisadores. Além isso, mantemos mais de 67 programas de residência médica, não apenas na rede hospitalar, mas também ambulatorial.”

Diretor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Erich Vinicius de Paula acredita que a entrada dos centros de excelência na área educacional de Saúde é uma iniciativa importante, mas ainda são “ilhas” no meio de uma série de cursos privados de qualidade inferior.

Ele defende mudanças curriculares e de práticas de ensino na formação dos profissionais de Saúde. “A quantidade de informação está crescendo muito rápido. É preciso ter a capacidade de atender, saber navegar pelo sistema de saúde, se comunicar, valorizar a ética e apostar no aprendizado contínuo, com a consciência de que não é possível se ensinar tudo na graduação.”

Inteligência artificial precisa entrar na prática, ao lado de ética e cuidados

Como em muitas outras áreas do conhecimento, a inteligência artificial (IA) também entrou definitivamente na rotina dos cursos de Saúde. Gestores do setor acreditam que o uso da ferramenta tem um potencial grande para auxiliar no diagnóstico e tratamento, mas alertam que é preciso adotar procedimentos adequados.

Para Giovanni Cerri, presidente dos conselhos dos institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a IA é algo que estará presente no curto prazo em todas as áreas como facilitadora, sobretudo em avaliação e simulação de casos clínicos. “A IA pode, por exemplo, adequar a linguagem de exames radiológicos tanto para médicos quanto para pacientes.”

Ele tem participado do debate nacional sobre a regulamentação e observa que, inicialmente, esse uso chegou a ser considerado de alto risco, pela necessidade de criar um banco de dados mais qualificado. “Não podemos simplesmente importar algoritmos de outras soluções. Podemos usar algoritmos, desde que validados.” Já foi elaborada uma proposta inicial no Senado. “O projeto evoluiu, mas é um tema complexo e necessário, que exige cautela na regulamentação.”

Ele destaca, porém, que o avanço da IA pode ajudar tanto o profissional quanto o paciente. “É uma ferramenta que pode diminuir os erros médicos e contribuir muito no ensino, mas necessita de profissionais qualificados para difundir esses conhecimentos.”

Alexandre Holthausen, diretor-superintendente de Ensino e Consultoria do Hospital Albert Einstein, afirma que a maioria dos docentes que atuam nas instituições dedicadas ao ensino na área de Saúde ainda não está totalmente preparada para a utilização da IA, mas o potencial de disrupção é maior do que o de avanços tecnológicos anteriores. “O que não se deve fazer é ficar esperando o que vai acontecer nem achar que a IA resolve tudo. É fundamental estudar e traçar um plano.”

Especialista em Gestão de Saúde, Marcon Censoni Ávila e Lima defende a tese de que não é inteligente lutar contra o uso de IA nos cursos. “A inteligência artificial não chega a conclusões sozinha. Na Medicina, é fundamental conhecer a fonte. Quanto mais tecnologia, mais tempo esses futuros profissionais terão para viabilizar um atendimento humanizado”, afirma.

Além das tradicionais faculdades de Medicina públicas e privadas, que mantêm parcerias com hospitais para a formação e para programas de residência, o Brasil tem visto nos últimos anos o crescimento de cursos na área de Saúde criados por centros de excelência hospitalares já consolidados. Esses utilizam sua estrutura e o conhecimento do quadro clínico na preparação dos futuros profissionais da área.

Inaugurado em 1971, o Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo foi uma das primeiras instituições a apostar nesse segmento. O presidente do Einstein, Sidney Klajner, destaca que o centro médico sempre colocou como missão, além da responsabilidade social, a geração do conhecimento, por meio da pesquisa e ensino. “Existe o medo de apagão de profissionais de Saúde pelo mundo. Esse ensino é de enorme responsabilidade.”

A experiência inicial ocorreu com a implementação da Faculdade de Enfermagem, que este ano completa 35 anos, e na sequência vieram os programas de residência e pós. “A partir de 2016, passamos a atuar em uma área que representa uma das maiores necessidades do País, que é a formação de médicos, com um projeto pedagógico inovador.”

‘Existe o medo de apagão de profissionais. Esse ensino é de enorme responsabilidade’, afirma Klajner. Foto: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN/DIVULGAÇÃO

No ano que vem, a perspectiva é de aumentar as opções de graduação, com o lançamento do programa de Psicologia (já existem as opções de Fisioterapia, Odontologia e Administração em Saúde). Por ano, o setor educacional do Albert Einstein já forma mais de 60 mil alunos.

E Klajner ressalta que a boa formação de um profissional de Saúde não passa apenas por apostilas. “Existem eixos de humanidades dentro do projeto, com foco na ética e na humanização do atendimento. Na maioria das vezes, a prevenção e a atenção básica são fundamentais. Por isso, optamos por adotar a disciplina de Saúde da Família desde o primeiro ano.”

Fundado há quase 50 anos e outro centro de referência, o HCor também investe em programas de formação de novos profissionais. De acordo com Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de ensino e pesquisa do hospital, nos últimos anos o foco tem ido para além da residência médica. “Mantemos programas de aprimoramento médico, com duração entre 1 e 3 anos, voltados a preparar especialistas em diversas áreas. E oferecemos formação em Cardiologia para outras áreas de Saúde, como Psicologia e Enfermagem. Já atendemos mais de 6 mil alunos nesses cursos intensivos.”

Desde o ano passado, em parceria com a PUC do Paraná, o HCor passou também a ofertar programas de pós e MBA em Gestão de Saúde, Cardiologia Clínica e Psicologia Hospitalar. Em 2024, foram implementados Enfermagem em Cardiologia e Nutrologia em Pediatria.

Cavalcanti alerta que existe hoje uma expansão de graduações na área de Medicina, mas a qualidade ainda é desigual. “Nesse contexto, é fundamental que os profissionais busquem uma qualificação após a conclusão da graduação, sob o risco de descontrole da qualidade do serviço.”

Fernanda Tovar-Moll dirige o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor), criado há 14 anos pelo Rede D’Or. De acordo com ela, no início o investimento ocorreu principalmente em pesquisa, mas posteriormente também no ensino. “Desde 2017 oferecemos mestrado e doutorado próprios. Estudamos muito o que já era feito no Brasil e no mundo e buscamos criar um modelo”.

Para ela, a principal vantagem dessa união entre a rotina de um hospital de ponta e o ensino é a possibilidade de formação de profissionais vinculados à ciência, mas com uma conexão direta com a rede de atendimento. “Temos mais de 100 pesquisadores. Além isso, mantemos mais de 67 programas de residência médica, não apenas na rede hospitalar, mas também ambulatorial.”

Diretor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Erich Vinicius de Paula acredita que a entrada dos centros de excelência na área educacional de Saúde é uma iniciativa importante, mas ainda são “ilhas” no meio de uma série de cursos privados de qualidade inferior.

Ele defende mudanças curriculares e de práticas de ensino na formação dos profissionais de Saúde. “A quantidade de informação está crescendo muito rápido. É preciso ter a capacidade de atender, saber navegar pelo sistema de saúde, se comunicar, valorizar a ética e apostar no aprendizado contínuo, com a consciência de que não é possível se ensinar tudo na graduação.”

Inteligência artificial precisa entrar na prática, ao lado de ética e cuidados

Como em muitas outras áreas do conhecimento, a inteligência artificial (IA) também entrou definitivamente na rotina dos cursos de Saúde. Gestores do setor acreditam que o uso da ferramenta tem um potencial grande para auxiliar no diagnóstico e tratamento, mas alertam que é preciso adotar procedimentos adequados.

Para Giovanni Cerri, presidente dos conselhos dos institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a IA é algo que estará presente no curto prazo em todas as áreas como facilitadora, sobretudo em avaliação e simulação de casos clínicos. “A IA pode, por exemplo, adequar a linguagem de exames radiológicos tanto para médicos quanto para pacientes.”

Ele tem participado do debate nacional sobre a regulamentação e observa que, inicialmente, esse uso chegou a ser considerado de alto risco, pela necessidade de criar um banco de dados mais qualificado. “Não podemos simplesmente importar algoritmos de outras soluções. Podemos usar algoritmos, desde que validados.” Já foi elaborada uma proposta inicial no Senado. “O projeto evoluiu, mas é um tema complexo e necessário, que exige cautela na regulamentação.”

Ele destaca, porém, que o avanço da IA pode ajudar tanto o profissional quanto o paciente. “É uma ferramenta que pode diminuir os erros médicos e contribuir muito no ensino, mas necessita de profissionais qualificados para difundir esses conhecimentos.”

Alexandre Holthausen, diretor-superintendente de Ensino e Consultoria do Hospital Albert Einstein, afirma que a maioria dos docentes que atuam nas instituições dedicadas ao ensino na área de Saúde ainda não está totalmente preparada para a utilização da IA, mas o potencial de disrupção é maior do que o de avanços tecnológicos anteriores. “O que não se deve fazer é ficar esperando o que vai acontecer nem achar que a IA resolve tudo. É fundamental estudar e traçar um plano.”

Especialista em Gestão de Saúde, Marcon Censoni Ávila e Lima defende a tese de que não é inteligente lutar contra o uso de IA nos cursos. “A inteligência artificial não chega a conclusões sozinha. Na Medicina, é fundamental conhecer a fonte. Quanto mais tecnologia, mais tempo esses futuros profissionais terão para viabilizar um atendimento humanizado”, afirma.

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