Quais devem ser as 3 prioridades do Brasil na educação ao se preparar para o futuro do trabalho?


Especialista do Movimento Brasil Competitivo fala da importância da educação nessa transformação, com foco no ensino técnico, letramento digital e formação de professores

Por Renata Cafardo
Atualização:
Foto: Isaac Oliveira
Entrevista comTatiana RibeiroDiretora executiva do Movimento Brasil Competitivo

O Brasil não está preparado para o futuro do trabalho - com uma economia digitalizada - e a grande chave para mudar esse cenário é a educação. É o que acredita a diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo, Tatiana Ribeiro. A organização apoia transformações em áreas consideradas estratégicas para o avanço econômico, como governança e gestão, transformação digital, redução do chamado custo Brasil.

Educação profissional é uma das soluções para melhorar cenário socioeconômico do País Foto: Felipe Rau/Estadão

“Já há uma necessidade urgente de mão de obra e o caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico”, afirma. O problema, diz, é o estigma negativo que a escola técnica ainda carrega no País.

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No Brasil, só cerca de 10% dos alunos do ensino médio estão na modalidade profissional e tecnológica, quando a taxa é de 68% na Finlândia e de 49% na Alemanha.

O grupo finalizou este mês um relatório, com participação de representantes do empresariado, da indústria, do Congresso e do governo, que está sendo entregue em vários ministérios, com recomendações para que o Brasil se adapte a uma economia digitalizada.

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“A competitividade de um país e sua relevância no cenário econômico global dependem do avanço tecnológico e de planejamento que coloque a economia digital no centro dos esforços de desenvolvimento”, diz o documento.

Segundo cálculos do MBC, o despreparo dos trabalhadores no Brasil já representa custo adicional de cerca de R$ 335 bilhões ao ano para o setor produtivo.

Além de investir no ensino técnico, o grupo recomenda mais duas medidas na educação para que o País esteja preparado para as transformações tecnológicas do novo mercado de trabalho: letramento digital e melhor formação dos professores.

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“Há dois desafios. O primeiro é não perder essa geração que está hoje no ensino médio e que já vai entrar na transição para uma economia do futuro. E, ao mesmo tempo, trabalhar com políticas públicas estruturantes para endereçar o problema da baixíssima qualidade na educação básica”, afirma Tatiana.

Tatiana Ribeiro, diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo FOTÓGRAFO/CRIADOR Isaac Oliveira Foto: Isaac Oliveira

Como você vê as mudanças no mercado de trabalho por causa das transformações digitais e como o Brasil está posicionado?

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A maior digitalização tem impacto importante no mercado de trabalho, inclusive realocando funções que estão sendo substituídas. Uma série de postos de trabalho deixará de existir, mas novas oportunidades estão sendo criadas, que demandam articulação forte para que a gente consiga trazer a visão da educação de forma conjunta. A gente precisa trabalhar para criar as novas profissões, formar esses novos profissionais e também requalificar a mão de obra que está sendo realocada. Sabe-se que 40% dos trabalhadores precisarão aprimorar suas habilidades para atender às novas demandas e que 23% dos postos de trabalho vão passar por modificações, segundo dados do Fórum Econômico Mundial. Olhando esse cenário, existe um desafio grande para ajustar e alinhar a qualificação profissional dentro dessa agenda.

Vocês apontam no relatório a educação como elemento chave para isso.

A educação é o elemento mais importante, uma educação em diferentes perspectivas. A gente tem, por exemplo, necessidade de ampliar as habilidades digitais das crianças. E um segundo desafio: pensar e olhar para o futuro, entender quais são essas novas profissões e como se cria uma nova oferta de cursos, que seja alinhada a elas. Talvez precise inclusive rever o modelo educacional que a gente tem hoje. Quando a gente olha para profissões que estão mais ligadas à tecnologia, talvez cursos de graduação façam menos sentido do que os cursos técnicos. Mas temos um desafio muito grande quando a gente olha hoje para educação técnica, que é uma necessidade de mudança cultural. Os níveis de adesão ao ensino técnico entre os países da OCDE é de 40% e o Brasil está na casa dos 10%.

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Mas como fazer essa mudança de estigma?

É realmente uma mudança cultural, são ações diversas. Enquanto MBC, temos trabalhado junto ao setor privado para que haja cada vez mais oferta de empregos para carreiras de nível técnico também. Acho que o estigma está em todos os lados. O novo ensino médio também é uma oportunidade importante para consolidar o ensino técnico como alternativa, com a trilha de ensino profissional e tecnológico. Inclusive garantindo que os jovens tenham mais contato com funções e atividades que vão estar mais relacionadas ao dia a dia deles no futuro, e saindo dessa trajetória com ascensão profissional mais garantida.

O Brasil também ainda tem baixo índice de formados no ensino superior, esse aumento, na sua opinião, não deve ser prioritário?

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A universidade segue fundamental, mas nosso desafio é de médio prazo e já vai começar a ser sentido no curto prazo. Alguns setores específicos da economia - por exemplo, a tecnologia - já têm apagão de mão de obra. A gente está perdendo vários profissionais de alta qualidade para empresas do exterior que oferecem contratações com a possibilidade de trabalhar de forma remota. Nesse setor, com o volume de investimentos anunciados no País ao longo dos últimos anos, a gente tem dificuldade de enxergar a capacidade de oferta de mão de obra para fazer as coisas acontecerem. É uma agenda urgente. O caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico.

Como lidar, ao mesmo tempo, com a necessidade de as crianças e jovens terem letramento digital para essa economia do futuro e com os riscos cada vez mais propagados da tecnologia, dos celulares?

Precisa ter equilíbrio. Entendo e concordo com o prejuízo que o uso excessivo da tecnologia pode trazer para crianças e adolescentes, mas ao mesmo tempo, precisamos dar competências para que as crianças utilizem aquilo como ferramenta. Também precisa cada vez mais reforçar habilidades socioemocionais, que sejam capazes de suprir desafios vividos em sala em sala de aula e que de alguma forma são afetados pela tecnologia. Reforçar nossas competências efetivamente humanas, se relacionar com os outros, a criatividade, o senso crítico. Acredito que esse balanço ainda não tenha sido encontrado e que talvez seja um dos grandes desafios da sociedade.

Como preparar os jovens do Brasil para essa economia do futuro se ainda temos problemas básicos, como só 56% das crianças alfabetizadas e índices muito ruins também em Matemática?

Há dois desafios e tem de olhar para eles de forma separada. O primeiro é não perder essa geração hoje no ensino médio e que já vai entrar na transição para uma economia do futuro. E, ao mesmo tempo, trabalhar com políticas públicas estruturantes para endereçar o problema da baixíssima qualidade na educação básica, que acredito ser o maior desafio que temos enquanto nação.

Pelo que está dizendo, o Brasil não está preparado para a economia do futuro.

O Brasil não está preparado para a economia do futuro e a educação é o ponto mais importante dessa trajetória. Não estamos falando de algo que se possa resolver no curto prazo. É um processo que exige engajamento e desenvolvimento contínuo.

Que exemplos vocês têm de outros países mais preparados?

O Brasil tem um desafio grande pela sua magnitude; é difícil comparar. Mas um país que acho muito preparado e tem olhado para isso de forma constante é Cingapura. Existe uma agência lá que faz toda essa aproximação com o setor privado e identifica as potencialidades ou as vocações do que o país quer atrair. A partir disso, eles pensam na trajetória educacional alinhada a isso. Mas o Brasil está avançando agora nesse momento numa série de planos, como PAC, plano de transição ecológica, que preveem também uma série de demandas focadas, inclusive no Norte e no Nordeste, por empregos verdes, que são parte da sua economia do futuro. Há a discussão sobre um plano de Inteligência artificial também: o Brasil tem avançado em uma série de planejamentos ligados a essa economia do futuro. Precisamos ver como a gente articula essa visão com a clareza da necessidade de educação. Pode ser curso técnico, pode ser graduação, mas como é que a gente articula essas várias necessidades para formar essa mão de obra para esses investimentos que estão sendo estruturados. Então acho que existe uma janela de oportunidade muito grande e a gente não pode perder o timing.

Quais profissões, fora as ligadas à tecnologia, vocês mapeiam como importantes na economia do futuro?

Fala-se muito também da economia do cuidado. Em especial no pós pandemia, a gente está reforçando cada vez mais as características humanas, então acredito que profissões como médico, enfermeiro, muito ligadas ao cuidar das pessoas. Além disso, toda essa agenda da economia verde, então tudo que está muito ligado a biotecnologia e questões relacionadas às energias renováveis. Para isso, a gente também defende novos modelos de trabalho que sejam mais flexíveis, obviamente garantindo a proteção social adequada, mas que permitam com que essa nova economia também se desenvolva.

E com relação aos professores, o que vocês propõem?

Os professores também são um desafio grande em termos culturais. O Brasil não valoriza seus professores, acaba sendo a escolha das pessoas que não conseguiram ingressar em outras carreiras. Tem uma discussão importante em relação à remuneração e à qualificação dos professores. É importante ter olhar claro e direto para a formação desses professores também nesse novo momento em que você traz tecnologia. Como não concorrer ou competir e usar aquilo como aliado? Eu imagino o desafio que é você hoje dar uma aula para crianças que têm celular, é uma competição que realmente não existe. Então, entendo que a medida de tirar o celular da sala de aula faz muito sentido.

Para o desafio do ensino técnico, precisa trabalhar com a formação de professores em várias áreas. E não necessariamente áreas puramente da carreira educacional. Temos de aproximar o setor privado e incentivar a busca de professores que possam trazer experiências práticas em setores e áreas específicas. Aproximar das carreiras trazendo pessoas que possam dar experiência prática, do setor privado, do setor produtivo, e com visão de oferta e demanda. Precisa ter clareza sobre as demandas atuais e futuras, para que o setor público consiga endereçar e ofertar cursos que atendam às demandas do setor privado. Ter o engenheiro de software, com a participação da empresa de tecnologia, que vai inclusive ofertar o espaço para que o aluno possa ir lá, interagir com empregados.

O Brasil não está preparado para o futuro do trabalho - com uma economia digitalizada - e a grande chave para mudar esse cenário é a educação. É o que acredita a diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo, Tatiana Ribeiro. A organização apoia transformações em áreas consideradas estratégicas para o avanço econômico, como governança e gestão, transformação digital, redução do chamado custo Brasil.

Educação profissional é uma das soluções para melhorar cenário socioeconômico do País Foto: Felipe Rau/Estadão

“Já há uma necessidade urgente de mão de obra e o caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico”, afirma. O problema, diz, é o estigma negativo que a escola técnica ainda carrega no País.

No Brasil, só cerca de 10% dos alunos do ensino médio estão na modalidade profissional e tecnológica, quando a taxa é de 68% na Finlândia e de 49% na Alemanha.

O grupo finalizou este mês um relatório, com participação de representantes do empresariado, da indústria, do Congresso e do governo, que está sendo entregue em vários ministérios, com recomendações para que o Brasil se adapte a uma economia digitalizada.

“A competitividade de um país e sua relevância no cenário econômico global dependem do avanço tecnológico e de planejamento que coloque a economia digital no centro dos esforços de desenvolvimento”, diz o documento.

Segundo cálculos do MBC, o despreparo dos trabalhadores no Brasil já representa custo adicional de cerca de R$ 335 bilhões ao ano para o setor produtivo.

Além de investir no ensino técnico, o grupo recomenda mais duas medidas na educação para que o País esteja preparado para as transformações tecnológicas do novo mercado de trabalho: letramento digital e melhor formação dos professores.

“Há dois desafios. O primeiro é não perder essa geração que está hoje no ensino médio e que já vai entrar na transição para uma economia do futuro. E, ao mesmo tempo, trabalhar com políticas públicas estruturantes para endereçar o problema da baixíssima qualidade na educação básica”, afirma Tatiana.

Tatiana Ribeiro, diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo FOTÓGRAFO/CRIADOR Isaac Oliveira Foto: Isaac Oliveira

Como você vê as mudanças no mercado de trabalho por causa das transformações digitais e como o Brasil está posicionado?

A maior digitalização tem impacto importante no mercado de trabalho, inclusive realocando funções que estão sendo substituídas. Uma série de postos de trabalho deixará de existir, mas novas oportunidades estão sendo criadas, que demandam articulação forte para que a gente consiga trazer a visão da educação de forma conjunta. A gente precisa trabalhar para criar as novas profissões, formar esses novos profissionais e também requalificar a mão de obra que está sendo realocada. Sabe-se que 40% dos trabalhadores precisarão aprimorar suas habilidades para atender às novas demandas e que 23% dos postos de trabalho vão passar por modificações, segundo dados do Fórum Econômico Mundial. Olhando esse cenário, existe um desafio grande para ajustar e alinhar a qualificação profissional dentro dessa agenda.

Vocês apontam no relatório a educação como elemento chave para isso.

A educação é o elemento mais importante, uma educação em diferentes perspectivas. A gente tem, por exemplo, necessidade de ampliar as habilidades digitais das crianças. E um segundo desafio: pensar e olhar para o futuro, entender quais são essas novas profissões e como se cria uma nova oferta de cursos, que seja alinhada a elas. Talvez precise inclusive rever o modelo educacional que a gente tem hoje. Quando a gente olha para profissões que estão mais ligadas à tecnologia, talvez cursos de graduação façam menos sentido do que os cursos técnicos. Mas temos um desafio muito grande quando a gente olha hoje para educação técnica, que é uma necessidade de mudança cultural. Os níveis de adesão ao ensino técnico entre os países da OCDE é de 40% e o Brasil está na casa dos 10%.

Mas como fazer essa mudança de estigma?

É realmente uma mudança cultural, são ações diversas. Enquanto MBC, temos trabalhado junto ao setor privado para que haja cada vez mais oferta de empregos para carreiras de nível técnico também. Acho que o estigma está em todos os lados. O novo ensino médio também é uma oportunidade importante para consolidar o ensino técnico como alternativa, com a trilha de ensino profissional e tecnológico. Inclusive garantindo que os jovens tenham mais contato com funções e atividades que vão estar mais relacionadas ao dia a dia deles no futuro, e saindo dessa trajetória com ascensão profissional mais garantida.

O Brasil também ainda tem baixo índice de formados no ensino superior, esse aumento, na sua opinião, não deve ser prioritário?

A universidade segue fundamental, mas nosso desafio é de médio prazo e já vai começar a ser sentido no curto prazo. Alguns setores específicos da economia - por exemplo, a tecnologia - já têm apagão de mão de obra. A gente está perdendo vários profissionais de alta qualidade para empresas do exterior que oferecem contratações com a possibilidade de trabalhar de forma remota. Nesse setor, com o volume de investimentos anunciados no País ao longo dos últimos anos, a gente tem dificuldade de enxergar a capacidade de oferta de mão de obra para fazer as coisas acontecerem. É uma agenda urgente. O caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico.

Como lidar, ao mesmo tempo, com a necessidade de as crianças e jovens terem letramento digital para essa economia do futuro e com os riscos cada vez mais propagados da tecnologia, dos celulares?

Precisa ter equilíbrio. Entendo e concordo com o prejuízo que o uso excessivo da tecnologia pode trazer para crianças e adolescentes, mas ao mesmo tempo, precisamos dar competências para que as crianças utilizem aquilo como ferramenta. Também precisa cada vez mais reforçar habilidades socioemocionais, que sejam capazes de suprir desafios vividos em sala em sala de aula e que de alguma forma são afetados pela tecnologia. Reforçar nossas competências efetivamente humanas, se relacionar com os outros, a criatividade, o senso crítico. Acredito que esse balanço ainda não tenha sido encontrado e que talvez seja um dos grandes desafios da sociedade.

Como preparar os jovens do Brasil para essa economia do futuro se ainda temos problemas básicos, como só 56% das crianças alfabetizadas e índices muito ruins também em Matemática?

Há dois desafios e tem de olhar para eles de forma separada. O primeiro é não perder essa geração hoje no ensino médio e que já vai entrar na transição para uma economia do futuro. E, ao mesmo tempo, trabalhar com políticas públicas estruturantes para endereçar o problema da baixíssima qualidade na educação básica, que acredito ser o maior desafio que temos enquanto nação.

Pelo que está dizendo, o Brasil não está preparado para a economia do futuro.

O Brasil não está preparado para a economia do futuro e a educação é o ponto mais importante dessa trajetória. Não estamos falando de algo que se possa resolver no curto prazo. É um processo que exige engajamento e desenvolvimento contínuo.

Que exemplos vocês têm de outros países mais preparados?

O Brasil tem um desafio grande pela sua magnitude; é difícil comparar. Mas um país que acho muito preparado e tem olhado para isso de forma constante é Cingapura. Existe uma agência lá que faz toda essa aproximação com o setor privado e identifica as potencialidades ou as vocações do que o país quer atrair. A partir disso, eles pensam na trajetória educacional alinhada a isso. Mas o Brasil está avançando agora nesse momento numa série de planos, como PAC, plano de transição ecológica, que preveem também uma série de demandas focadas, inclusive no Norte e no Nordeste, por empregos verdes, que são parte da sua economia do futuro. Há a discussão sobre um plano de Inteligência artificial também: o Brasil tem avançado em uma série de planejamentos ligados a essa economia do futuro. Precisamos ver como a gente articula essa visão com a clareza da necessidade de educação. Pode ser curso técnico, pode ser graduação, mas como é que a gente articula essas várias necessidades para formar essa mão de obra para esses investimentos que estão sendo estruturados. Então acho que existe uma janela de oportunidade muito grande e a gente não pode perder o timing.

Quais profissões, fora as ligadas à tecnologia, vocês mapeiam como importantes na economia do futuro?

Fala-se muito também da economia do cuidado. Em especial no pós pandemia, a gente está reforçando cada vez mais as características humanas, então acredito que profissões como médico, enfermeiro, muito ligadas ao cuidar das pessoas. Além disso, toda essa agenda da economia verde, então tudo que está muito ligado a biotecnologia e questões relacionadas às energias renováveis. Para isso, a gente também defende novos modelos de trabalho que sejam mais flexíveis, obviamente garantindo a proteção social adequada, mas que permitam com que essa nova economia também se desenvolva.

E com relação aos professores, o que vocês propõem?

Os professores também são um desafio grande em termos culturais. O Brasil não valoriza seus professores, acaba sendo a escolha das pessoas que não conseguiram ingressar em outras carreiras. Tem uma discussão importante em relação à remuneração e à qualificação dos professores. É importante ter olhar claro e direto para a formação desses professores também nesse novo momento em que você traz tecnologia. Como não concorrer ou competir e usar aquilo como aliado? Eu imagino o desafio que é você hoje dar uma aula para crianças que têm celular, é uma competição que realmente não existe. Então, entendo que a medida de tirar o celular da sala de aula faz muito sentido.

Para o desafio do ensino técnico, precisa trabalhar com a formação de professores em várias áreas. E não necessariamente áreas puramente da carreira educacional. Temos de aproximar o setor privado e incentivar a busca de professores que possam trazer experiências práticas em setores e áreas específicas. Aproximar das carreiras trazendo pessoas que possam dar experiência prática, do setor privado, do setor produtivo, e com visão de oferta e demanda. Precisa ter clareza sobre as demandas atuais e futuras, para que o setor público consiga endereçar e ofertar cursos que atendam às demandas do setor privado. Ter o engenheiro de software, com a participação da empresa de tecnologia, que vai inclusive ofertar o espaço para que o aluno possa ir lá, interagir com empregados.

O Brasil não está preparado para o futuro do trabalho - com uma economia digitalizada - e a grande chave para mudar esse cenário é a educação. É o que acredita a diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo, Tatiana Ribeiro. A organização apoia transformações em áreas consideradas estratégicas para o avanço econômico, como governança e gestão, transformação digital, redução do chamado custo Brasil.

Educação profissional é uma das soluções para melhorar cenário socioeconômico do País Foto: Felipe Rau/Estadão

“Já há uma necessidade urgente de mão de obra e o caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico”, afirma. O problema, diz, é o estigma negativo que a escola técnica ainda carrega no País.

No Brasil, só cerca de 10% dos alunos do ensino médio estão na modalidade profissional e tecnológica, quando a taxa é de 68% na Finlândia e de 49% na Alemanha.

O grupo finalizou este mês um relatório, com participação de representantes do empresariado, da indústria, do Congresso e do governo, que está sendo entregue em vários ministérios, com recomendações para que o Brasil se adapte a uma economia digitalizada.

“A competitividade de um país e sua relevância no cenário econômico global dependem do avanço tecnológico e de planejamento que coloque a economia digital no centro dos esforços de desenvolvimento”, diz o documento.

Segundo cálculos do MBC, o despreparo dos trabalhadores no Brasil já representa custo adicional de cerca de R$ 335 bilhões ao ano para o setor produtivo.

Além de investir no ensino técnico, o grupo recomenda mais duas medidas na educação para que o País esteja preparado para as transformações tecnológicas do novo mercado de trabalho: letramento digital e melhor formação dos professores.

“Há dois desafios. O primeiro é não perder essa geração que está hoje no ensino médio e que já vai entrar na transição para uma economia do futuro. E, ao mesmo tempo, trabalhar com políticas públicas estruturantes para endereçar o problema da baixíssima qualidade na educação básica”, afirma Tatiana.

Tatiana Ribeiro, diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo FOTÓGRAFO/CRIADOR Isaac Oliveira Foto: Isaac Oliveira

Como você vê as mudanças no mercado de trabalho por causa das transformações digitais e como o Brasil está posicionado?

A maior digitalização tem impacto importante no mercado de trabalho, inclusive realocando funções que estão sendo substituídas. Uma série de postos de trabalho deixará de existir, mas novas oportunidades estão sendo criadas, que demandam articulação forte para que a gente consiga trazer a visão da educação de forma conjunta. A gente precisa trabalhar para criar as novas profissões, formar esses novos profissionais e também requalificar a mão de obra que está sendo realocada. Sabe-se que 40% dos trabalhadores precisarão aprimorar suas habilidades para atender às novas demandas e que 23% dos postos de trabalho vão passar por modificações, segundo dados do Fórum Econômico Mundial. Olhando esse cenário, existe um desafio grande para ajustar e alinhar a qualificação profissional dentro dessa agenda.

Vocês apontam no relatório a educação como elemento chave para isso.

A educação é o elemento mais importante, uma educação em diferentes perspectivas. A gente tem, por exemplo, necessidade de ampliar as habilidades digitais das crianças. E um segundo desafio: pensar e olhar para o futuro, entender quais são essas novas profissões e como se cria uma nova oferta de cursos, que seja alinhada a elas. Talvez precise inclusive rever o modelo educacional que a gente tem hoje. Quando a gente olha para profissões que estão mais ligadas à tecnologia, talvez cursos de graduação façam menos sentido do que os cursos técnicos. Mas temos um desafio muito grande quando a gente olha hoje para educação técnica, que é uma necessidade de mudança cultural. Os níveis de adesão ao ensino técnico entre os países da OCDE é de 40% e o Brasil está na casa dos 10%.

Mas como fazer essa mudança de estigma?

É realmente uma mudança cultural, são ações diversas. Enquanto MBC, temos trabalhado junto ao setor privado para que haja cada vez mais oferta de empregos para carreiras de nível técnico também. Acho que o estigma está em todos os lados. O novo ensino médio também é uma oportunidade importante para consolidar o ensino técnico como alternativa, com a trilha de ensino profissional e tecnológico. Inclusive garantindo que os jovens tenham mais contato com funções e atividades que vão estar mais relacionadas ao dia a dia deles no futuro, e saindo dessa trajetória com ascensão profissional mais garantida.

O Brasil também ainda tem baixo índice de formados no ensino superior, esse aumento, na sua opinião, não deve ser prioritário?

A universidade segue fundamental, mas nosso desafio é de médio prazo e já vai começar a ser sentido no curto prazo. Alguns setores específicos da economia - por exemplo, a tecnologia - já têm apagão de mão de obra. A gente está perdendo vários profissionais de alta qualidade para empresas do exterior que oferecem contratações com a possibilidade de trabalhar de forma remota. Nesse setor, com o volume de investimentos anunciados no País ao longo dos últimos anos, a gente tem dificuldade de enxergar a capacidade de oferta de mão de obra para fazer as coisas acontecerem. É uma agenda urgente. O caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico.

Como lidar, ao mesmo tempo, com a necessidade de as crianças e jovens terem letramento digital para essa economia do futuro e com os riscos cada vez mais propagados da tecnologia, dos celulares?

Precisa ter equilíbrio. Entendo e concordo com o prejuízo que o uso excessivo da tecnologia pode trazer para crianças e adolescentes, mas ao mesmo tempo, precisamos dar competências para que as crianças utilizem aquilo como ferramenta. Também precisa cada vez mais reforçar habilidades socioemocionais, que sejam capazes de suprir desafios vividos em sala em sala de aula e que de alguma forma são afetados pela tecnologia. Reforçar nossas competências efetivamente humanas, se relacionar com os outros, a criatividade, o senso crítico. Acredito que esse balanço ainda não tenha sido encontrado e que talvez seja um dos grandes desafios da sociedade.

Como preparar os jovens do Brasil para essa economia do futuro se ainda temos problemas básicos, como só 56% das crianças alfabetizadas e índices muito ruins também em Matemática?

Há dois desafios e tem de olhar para eles de forma separada. O primeiro é não perder essa geração hoje no ensino médio e que já vai entrar na transição para uma economia do futuro. E, ao mesmo tempo, trabalhar com políticas públicas estruturantes para endereçar o problema da baixíssima qualidade na educação básica, que acredito ser o maior desafio que temos enquanto nação.

Pelo que está dizendo, o Brasil não está preparado para a economia do futuro.

O Brasil não está preparado para a economia do futuro e a educação é o ponto mais importante dessa trajetória. Não estamos falando de algo que se possa resolver no curto prazo. É um processo que exige engajamento e desenvolvimento contínuo.

Que exemplos vocês têm de outros países mais preparados?

O Brasil tem um desafio grande pela sua magnitude; é difícil comparar. Mas um país que acho muito preparado e tem olhado para isso de forma constante é Cingapura. Existe uma agência lá que faz toda essa aproximação com o setor privado e identifica as potencialidades ou as vocações do que o país quer atrair. A partir disso, eles pensam na trajetória educacional alinhada a isso. Mas o Brasil está avançando agora nesse momento numa série de planos, como PAC, plano de transição ecológica, que preveem também uma série de demandas focadas, inclusive no Norte e no Nordeste, por empregos verdes, que são parte da sua economia do futuro. Há a discussão sobre um plano de Inteligência artificial também: o Brasil tem avançado em uma série de planejamentos ligados a essa economia do futuro. Precisamos ver como a gente articula essa visão com a clareza da necessidade de educação. Pode ser curso técnico, pode ser graduação, mas como é que a gente articula essas várias necessidades para formar essa mão de obra para esses investimentos que estão sendo estruturados. Então acho que existe uma janela de oportunidade muito grande e a gente não pode perder o timing.

Quais profissões, fora as ligadas à tecnologia, vocês mapeiam como importantes na economia do futuro?

Fala-se muito também da economia do cuidado. Em especial no pós pandemia, a gente está reforçando cada vez mais as características humanas, então acredito que profissões como médico, enfermeiro, muito ligadas ao cuidar das pessoas. Além disso, toda essa agenda da economia verde, então tudo que está muito ligado a biotecnologia e questões relacionadas às energias renováveis. Para isso, a gente também defende novos modelos de trabalho que sejam mais flexíveis, obviamente garantindo a proteção social adequada, mas que permitam com que essa nova economia também se desenvolva.

E com relação aos professores, o que vocês propõem?

Os professores também são um desafio grande em termos culturais. O Brasil não valoriza seus professores, acaba sendo a escolha das pessoas que não conseguiram ingressar em outras carreiras. Tem uma discussão importante em relação à remuneração e à qualificação dos professores. É importante ter olhar claro e direto para a formação desses professores também nesse novo momento em que você traz tecnologia. Como não concorrer ou competir e usar aquilo como aliado? Eu imagino o desafio que é você hoje dar uma aula para crianças que têm celular, é uma competição que realmente não existe. Então, entendo que a medida de tirar o celular da sala de aula faz muito sentido.

Para o desafio do ensino técnico, precisa trabalhar com a formação de professores em várias áreas. E não necessariamente áreas puramente da carreira educacional. Temos de aproximar o setor privado e incentivar a busca de professores que possam trazer experiências práticas em setores e áreas específicas. Aproximar das carreiras trazendo pessoas que possam dar experiência prática, do setor privado, do setor produtivo, e com visão de oferta e demanda. Precisa ter clareza sobre as demandas atuais e futuras, para que o setor público consiga endereçar e ofertar cursos que atendam às demandas do setor privado. Ter o engenheiro de software, com a participação da empresa de tecnologia, que vai inclusive ofertar o espaço para que o aluno possa ir lá, interagir com empregados.

O Brasil não está preparado para o futuro do trabalho - com uma economia digitalizada - e a grande chave para mudar esse cenário é a educação. É o que acredita a diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo, Tatiana Ribeiro. A organização apoia transformações em áreas consideradas estratégicas para o avanço econômico, como governança e gestão, transformação digital, redução do chamado custo Brasil.

Educação profissional é uma das soluções para melhorar cenário socioeconômico do País Foto: Felipe Rau/Estadão

“Já há uma necessidade urgente de mão de obra e o caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico”, afirma. O problema, diz, é o estigma negativo que a escola técnica ainda carrega no País.

No Brasil, só cerca de 10% dos alunos do ensino médio estão na modalidade profissional e tecnológica, quando a taxa é de 68% na Finlândia e de 49% na Alemanha.

O grupo finalizou este mês um relatório, com participação de representantes do empresariado, da indústria, do Congresso e do governo, que está sendo entregue em vários ministérios, com recomendações para que o Brasil se adapte a uma economia digitalizada.

“A competitividade de um país e sua relevância no cenário econômico global dependem do avanço tecnológico e de planejamento que coloque a economia digital no centro dos esforços de desenvolvimento”, diz o documento.

Segundo cálculos do MBC, o despreparo dos trabalhadores no Brasil já representa custo adicional de cerca de R$ 335 bilhões ao ano para o setor produtivo.

Além de investir no ensino técnico, o grupo recomenda mais duas medidas na educação para que o País esteja preparado para as transformações tecnológicas do novo mercado de trabalho: letramento digital e melhor formação dos professores.

“Há dois desafios. O primeiro é não perder essa geração que está hoje no ensino médio e que já vai entrar na transição para uma economia do futuro. E, ao mesmo tempo, trabalhar com políticas públicas estruturantes para endereçar o problema da baixíssima qualidade na educação básica”, afirma Tatiana.

Tatiana Ribeiro, diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo FOTÓGRAFO/CRIADOR Isaac Oliveira Foto: Isaac Oliveira

Como você vê as mudanças no mercado de trabalho por causa das transformações digitais e como o Brasil está posicionado?

A maior digitalização tem impacto importante no mercado de trabalho, inclusive realocando funções que estão sendo substituídas. Uma série de postos de trabalho deixará de existir, mas novas oportunidades estão sendo criadas, que demandam articulação forte para que a gente consiga trazer a visão da educação de forma conjunta. A gente precisa trabalhar para criar as novas profissões, formar esses novos profissionais e também requalificar a mão de obra que está sendo realocada. Sabe-se que 40% dos trabalhadores precisarão aprimorar suas habilidades para atender às novas demandas e que 23% dos postos de trabalho vão passar por modificações, segundo dados do Fórum Econômico Mundial. Olhando esse cenário, existe um desafio grande para ajustar e alinhar a qualificação profissional dentro dessa agenda.

Vocês apontam no relatório a educação como elemento chave para isso.

A educação é o elemento mais importante, uma educação em diferentes perspectivas. A gente tem, por exemplo, necessidade de ampliar as habilidades digitais das crianças. E um segundo desafio: pensar e olhar para o futuro, entender quais são essas novas profissões e como se cria uma nova oferta de cursos, que seja alinhada a elas. Talvez precise inclusive rever o modelo educacional que a gente tem hoje. Quando a gente olha para profissões que estão mais ligadas à tecnologia, talvez cursos de graduação façam menos sentido do que os cursos técnicos. Mas temos um desafio muito grande quando a gente olha hoje para educação técnica, que é uma necessidade de mudança cultural. Os níveis de adesão ao ensino técnico entre os países da OCDE é de 40% e o Brasil está na casa dos 10%.

Mas como fazer essa mudança de estigma?

É realmente uma mudança cultural, são ações diversas. Enquanto MBC, temos trabalhado junto ao setor privado para que haja cada vez mais oferta de empregos para carreiras de nível técnico também. Acho que o estigma está em todos os lados. O novo ensino médio também é uma oportunidade importante para consolidar o ensino técnico como alternativa, com a trilha de ensino profissional e tecnológico. Inclusive garantindo que os jovens tenham mais contato com funções e atividades que vão estar mais relacionadas ao dia a dia deles no futuro, e saindo dessa trajetória com ascensão profissional mais garantida.

O Brasil também ainda tem baixo índice de formados no ensino superior, esse aumento, na sua opinião, não deve ser prioritário?

A universidade segue fundamental, mas nosso desafio é de médio prazo e já vai começar a ser sentido no curto prazo. Alguns setores específicos da economia - por exemplo, a tecnologia - já têm apagão de mão de obra. A gente está perdendo vários profissionais de alta qualidade para empresas do exterior que oferecem contratações com a possibilidade de trabalhar de forma remota. Nesse setor, com o volume de investimentos anunciados no País ao longo dos últimos anos, a gente tem dificuldade de enxergar a capacidade de oferta de mão de obra para fazer as coisas acontecerem. É uma agenda urgente. O caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico.

Como lidar, ao mesmo tempo, com a necessidade de as crianças e jovens terem letramento digital para essa economia do futuro e com os riscos cada vez mais propagados da tecnologia, dos celulares?

Precisa ter equilíbrio. Entendo e concordo com o prejuízo que o uso excessivo da tecnologia pode trazer para crianças e adolescentes, mas ao mesmo tempo, precisamos dar competências para que as crianças utilizem aquilo como ferramenta. Também precisa cada vez mais reforçar habilidades socioemocionais, que sejam capazes de suprir desafios vividos em sala em sala de aula e que de alguma forma são afetados pela tecnologia. Reforçar nossas competências efetivamente humanas, se relacionar com os outros, a criatividade, o senso crítico. Acredito que esse balanço ainda não tenha sido encontrado e que talvez seja um dos grandes desafios da sociedade.

Como preparar os jovens do Brasil para essa economia do futuro se ainda temos problemas básicos, como só 56% das crianças alfabetizadas e índices muito ruins também em Matemática?

Há dois desafios e tem de olhar para eles de forma separada. O primeiro é não perder essa geração hoje no ensino médio e que já vai entrar na transição para uma economia do futuro. E, ao mesmo tempo, trabalhar com políticas públicas estruturantes para endereçar o problema da baixíssima qualidade na educação básica, que acredito ser o maior desafio que temos enquanto nação.

Pelo que está dizendo, o Brasil não está preparado para a economia do futuro.

O Brasil não está preparado para a economia do futuro e a educação é o ponto mais importante dessa trajetória. Não estamos falando de algo que se possa resolver no curto prazo. É um processo que exige engajamento e desenvolvimento contínuo.

Que exemplos vocês têm de outros países mais preparados?

O Brasil tem um desafio grande pela sua magnitude; é difícil comparar. Mas um país que acho muito preparado e tem olhado para isso de forma constante é Cingapura. Existe uma agência lá que faz toda essa aproximação com o setor privado e identifica as potencialidades ou as vocações do que o país quer atrair. A partir disso, eles pensam na trajetória educacional alinhada a isso. Mas o Brasil está avançando agora nesse momento numa série de planos, como PAC, plano de transição ecológica, que preveem também uma série de demandas focadas, inclusive no Norte e no Nordeste, por empregos verdes, que são parte da sua economia do futuro. Há a discussão sobre um plano de Inteligência artificial também: o Brasil tem avançado em uma série de planejamentos ligados a essa economia do futuro. Precisamos ver como a gente articula essa visão com a clareza da necessidade de educação. Pode ser curso técnico, pode ser graduação, mas como é que a gente articula essas várias necessidades para formar essa mão de obra para esses investimentos que estão sendo estruturados. Então acho que existe uma janela de oportunidade muito grande e a gente não pode perder o timing.

Quais profissões, fora as ligadas à tecnologia, vocês mapeiam como importantes na economia do futuro?

Fala-se muito também da economia do cuidado. Em especial no pós pandemia, a gente está reforçando cada vez mais as características humanas, então acredito que profissões como médico, enfermeiro, muito ligadas ao cuidar das pessoas. Além disso, toda essa agenda da economia verde, então tudo que está muito ligado a biotecnologia e questões relacionadas às energias renováveis. Para isso, a gente também defende novos modelos de trabalho que sejam mais flexíveis, obviamente garantindo a proteção social adequada, mas que permitam com que essa nova economia também se desenvolva.

E com relação aos professores, o que vocês propõem?

Os professores também são um desafio grande em termos culturais. O Brasil não valoriza seus professores, acaba sendo a escolha das pessoas que não conseguiram ingressar em outras carreiras. Tem uma discussão importante em relação à remuneração e à qualificação dos professores. É importante ter olhar claro e direto para a formação desses professores também nesse novo momento em que você traz tecnologia. Como não concorrer ou competir e usar aquilo como aliado? Eu imagino o desafio que é você hoje dar uma aula para crianças que têm celular, é uma competição que realmente não existe. Então, entendo que a medida de tirar o celular da sala de aula faz muito sentido.

Para o desafio do ensino técnico, precisa trabalhar com a formação de professores em várias áreas. E não necessariamente áreas puramente da carreira educacional. Temos de aproximar o setor privado e incentivar a busca de professores que possam trazer experiências práticas em setores e áreas específicas. Aproximar das carreiras trazendo pessoas que possam dar experiência prática, do setor privado, do setor produtivo, e com visão de oferta e demanda. Precisa ter clareza sobre as demandas atuais e futuras, para que o setor público consiga endereçar e ofertar cursos que atendam às demandas do setor privado. Ter o engenheiro de software, com a participação da empresa de tecnologia, que vai inclusive ofertar o espaço para que o aluno possa ir lá, interagir com empregados.

Entrevista por Renata Cafardo

Repórter especial do ‘Estadão’ e fundadora da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca)

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