Programa oferece bolsas de pós-doutorado para mulheres negras; saiba como se inscrever


Iniciativa também contempla pesquisadoras quilombolas, indígenas e ciganas; inscrições vão até o dia 31

Por Gonçalo Junior
Atualização:

Ampliar a participação de mulheres negras, ciganas, quilombolas e indígenas na ciência é o objetivo central do projeto de oferecimento de bolsas de doutorado-sanduíche e pós-doutorado no exterior “Chamada Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência”, do governo federal. As inscrições vão até o dia 31 de janeiro. Para mais informações acesse a Chamada na íntegra.

Criado pelo Ministério da Igualdade Racial, em parceria com os ministérios das Mulheres, dos Povos Indígenas, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em novembro do ano passado, o programa vai investir R$ 6 milhões no pagamento das bolsas no exterior, oferecidas para qualquer área de conhecimento.

Para se inscrever, as interessadas devem estar matriculadas em cursos de doutorado ou ter concluído seus estudos em programa de pós-graduação reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

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Bolsas de pós-doutorado são oferecidas para mulheres negras, ciganas, quilombolas e indígenas Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

A chamada pública completa também está disponível para consulta no site do CNPq. As bolsas têm duração máxima de nove meses. As propostas poderão concorrer nas seguintes faixas:

Faixa 1: Doutorado Sanduíche no Exterior: apoio a alunas formalmente matriculadas em curso de doutorado no Brasil que comprove qualificação para usufruir, no exterior, da oportunidade de aprofundamento teórico, coleta e/ou tratamento de dados ou desenvolvimento parcial da parte experimental de sua tese a ser defendida no Brasil

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Faixa 2: Pós-Doutorado no Exterior (PDE): possibilitar às portadoras de títulos de doutorado a capacitação e atualização de seus conhecimentos por meio de estágio e desenvolvimento de projeto com conteúdo científico ou tecnológico inovador, em instituição no exterior.

O nome do programa presta homenagem à professora e historiadora sergipana Beatriz Nascimento, que sempre aliou a luta antirracista à vida acadêmica. Como pesquisadora, Nascimento estudou as formações dos quilombos no Brasil por duas décadas. Foi expoente do feminismo negro, pesquisando as práticas discriminatórias que pesam sobre os corpos das mulheres negras.

Beatriz morreu, vítima de feminicídio, em janeiro de 1995. Na época, ela cursava mestrado em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2021, Beatriz Nascimento se tornou doutora honoris causa in memoriam pela UFRJ.

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Combate às desigualdades nas universidades

O programa de bolsas para mulheres negras representa um avanço no combate às desigualdades nas políticas de seleção e avaliação das universidades e agências de fomento. Essa é a avaliação da professora Marcia Rangel Candido, subcoordenadora de pesquisas no Grupo de Estudos multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) e pesquisadora de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).

“Mulheres estão em desvantagem, sobretudo as mulheres negras, na busca por um currículo de excelência hoje em dia nos parâmetros determinados por universidades e agências de fomento. Ele exige disponibilidade de tempo e de recursos socioeconômicos. As demandas por produtividade acadêmica são mais contempláveis por homens brancos”, opina.

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Além disso, a maior exposição às desigualdades de renda faz com que pessoas negras frequentemente não tenham chance de formação equivalente à das brancas, diz a especialista. “Exemplos disso são a possibilidade de cursar uma pós-graduação sem recorrer a trabalhos extras fora da academia ou a exposição já precoce a outros idiomas, oriunda de cursos ou viagens ao exterior. As duas coisas são mais acessíveis às classes mais abastadas, ou seja, pessoas majoritariamente de cor branca.”

“O primeiro desafio é o acesso às comunidades científicas. Quando se consegue acessar, o desafio é se manter com sucesso, com acesso bolsas, intercâmbios; participação em eventos científicos com apoio. Todo esse processo é atravessado pelo racismo institucional, social e ambiental que estrutura as instituições. Esse racismo exclui, mata sonhos, adoece”, diz Iraneide Soares, presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).

A falta de representatividade faz com que os avanços científicos não atendam às necessidades da comunidade de modo geral. “A população negra tem patologias próprias. Quando as ciências médicas não consideram a origem desse segmento populacional, elas não produzem ciência que acolha essa demanda”, exemplifica Iraneide.

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A discussão é tão relevante no mundo acadêmico que algumas entidades promovem programas específicos para minimizar as dificuldades dos negros que se tornam cientistas. Uma delas é o projeto Afrocientista, que procura proporcionar aos estudantes da educação básica a construção de repertório político, científico e tecnológico pautados numa educação antirracista. No final do ano passado, a ABPN promoveu o 1.º Encontro Nacional Afrocientista, realizado na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

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Com o apoio financeiro do Instituto Unibanco, o projeto se sustenta em três pilares: iniciação às práticas da ciência; instrumentalização sobre o fazer ciências; e formação para a cidadania e mobilização social. Em sua quarta edição, o Projeto Afrocientista proporciona a jovens da educação básica a oportunidade de construir repertório político, científico e tecnológico pautados numa educação antirracista.

Durante o encontro, os afrocientistas discutiram temas como a educação, mercado de trabalho, carreira científica e racismo, a partir de questões de identidade e autoestima, currículo e representatividade.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Grupo de Estudos multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) e a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).

Ampliar a participação de mulheres negras, ciganas, quilombolas e indígenas na ciência é o objetivo central do projeto de oferecimento de bolsas de doutorado-sanduíche e pós-doutorado no exterior “Chamada Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência”, do governo federal. As inscrições vão até o dia 31 de janeiro. Para mais informações acesse a Chamada na íntegra.

Criado pelo Ministério da Igualdade Racial, em parceria com os ministérios das Mulheres, dos Povos Indígenas, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em novembro do ano passado, o programa vai investir R$ 6 milhões no pagamento das bolsas no exterior, oferecidas para qualquer área de conhecimento.

Para se inscrever, as interessadas devem estar matriculadas em cursos de doutorado ou ter concluído seus estudos em programa de pós-graduação reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Bolsas de pós-doutorado são oferecidas para mulheres negras, ciganas, quilombolas e indígenas Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

A chamada pública completa também está disponível para consulta no site do CNPq. As bolsas têm duração máxima de nove meses. As propostas poderão concorrer nas seguintes faixas:

Faixa 1: Doutorado Sanduíche no Exterior: apoio a alunas formalmente matriculadas em curso de doutorado no Brasil que comprove qualificação para usufruir, no exterior, da oportunidade de aprofundamento teórico, coleta e/ou tratamento de dados ou desenvolvimento parcial da parte experimental de sua tese a ser defendida no Brasil

Faixa 2: Pós-Doutorado no Exterior (PDE): possibilitar às portadoras de títulos de doutorado a capacitação e atualização de seus conhecimentos por meio de estágio e desenvolvimento de projeto com conteúdo científico ou tecnológico inovador, em instituição no exterior.

O nome do programa presta homenagem à professora e historiadora sergipana Beatriz Nascimento, que sempre aliou a luta antirracista à vida acadêmica. Como pesquisadora, Nascimento estudou as formações dos quilombos no Brasil por duas décadas. Foi expoente do feminismo negro, pesquisando as práticas discriminatórias que pesam sobre os corpos das mulheres negras.

Beatriz morreu, vítima de feminicídio, em janeiro de 1995. Na época, ela cursava mestrado em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2021, Beatriz Nascimento se tornou doutora honoris causa in memoriam pela UFRJ.

Combate às desigualdades nas universidades

O programa de bolsas para mulheres negras representa um avanço no combate às desigualdades nas políticas de seleção e avaliação das universidades e agências de fomento. Essa é a avaliação da professora Marcia Rangel Candido, subcoordenadora de pesquisas no Grupo de Estudos multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) e pesquisadora de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).

“Mulheres estão em desvantagem, sobretudo as mulheres negras, na busca por um currículo de excelência hoje em dia nos parâmetros determinados por universidades e agências de fomento. Ele exige disponibilidade de tempo e de recursos socioeconômicos. As demandas por produtividade acadêmica são mais contempláveis por homens brancos”, opina.

Além disso, a maior exposição às desigualdades de renda faz com que pessoas negras frequentemente não tenham chance de formação equivalente à das brancas, diz a especialista. “Exemplos disso são a possibilidade de cursar uma pós-graduação sem recorrer a trabalhos extras fora da academia ou a exposição já precoce a outros idiomas, oriunda de cursos ou viagens ao exterior. As duas coisas são mais acessíveis às classes mais abastadas, ou seja, pessoas majoritariamente de cor branca.”

“O primeiro desafio é o acesso às comunidades científicas. Quando se consegue acessar, o desafio é se manter com sucesso, com acesso bolsas, intercâmbios; participação em eventos científicos com apoio. Todo esse processo é atravessado pelo racismo institucional, social e ambiental que estrutura as instituições. Esse racismo exclui, mata sonhos, adoece”, diz Iraneide Soares, presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).

A falta de representatividade faz com que os avanços científicos não atendam às necessidades da comunidade de modo geral. “A população negra tem patologias próprias. Quando as ciências médicas não consideram a origem desse segmento populacional, elas não produzem ciência que acolha essa demanda”, exemplifica Iraneide.

A discussão é tão relevante no mundo acadêmico que algumas entidades promovem programas específicos para minimizar as dificuldades dos negros que se tornam cientistas. Uma delas é o projeto Afrocientista, que procura proporcionar aos estudantes da educação básica a construção de repertório político, científico e tecnológico pautados numa educação antirracista. No final do ano passado, a ABPN promoveu o 1.º Encontro Nacional Afrocientista, realizado na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

Com o apoio financeiro do Instituto Unibanco, o projeto se sustenta em três pilares: iniciação às práticas da ciência; instrumentalização sobre o fazer ciências; e formação para a cidadania e mobilização social. Em sua quarta edição, o Projeto Afrocientista proporciona a jovens da educação básica a oportunidade de construir repertório político, científico e tecnológico pautados numa educação antirracista.

Durante o encontro, os afrocientistas discutiram temas como a educação, mercado de trabalho, carreira científica e racismo, a partir de questões de identidade e autoestima, currículo e representatividade.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Grupo de Estudos multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) e a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).

Ampliar a participação de mulheres negras, ciganas, quilombolas e indígenas na ciência é o objetivo central do projeto de oferecimento de bolsas de doutorado-sanduíche e pós-doutorado no exterior “Chamada Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência”, do governo federal. As inscrições vão até o dia 31 de janeiro. Para mais informações acesse a Chamada na íntegra.

Criado pelo Ministério da Igualdade Racial, em parceria com os ministérios das Mulheres, dos Povos Indígenas, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em novembro do ano passado, o programa vai investir R$ 6 milhões no pagamento das bolsas no exterior, oferecidas para qualquer área de conhecimento.

Para se inscrever, as interessadas devem estar matriculadas em cursos de doutorado ou ter concluído seus estudos em programa de pós-graduação reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Bolsas de pós-doutorado são oferecidas para mulheres negras, ciganas, quilombolas e indígenas Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

A chamada pública completa também está disponível para consulta no site do CNPq. As bolsas têm duração máxima de nove meses. As propostas poderão concorrer nas seguintes faixas:

Faixa 1: Doutorado Sanduíche no Exterior: apoio a alunas formalmente matriculadas em curso de doutorado no Brasil que comprove qualificação para usufruir, no exterior, da oportunidade de aprofundamento teórico, coleta e/ou tratamento de dados ou desenvolvimento parcial da parte experimental de sua tese a ser defendida no Brasil

Faixa 2: Pós-Doutorado no Exterior (PDE): possibilitar às portadoras de títulos de doutorado a capacitação e atualização de seus conhecimentos por meio de estágio e desenvolvimento de projeto com conteúdo científico ou tecnológico inovador, em instituição no exterior.

O nome do programa presta homenagem à professora e historiadora sergipana Beatriz Nascimento, que sempre aliou a luta antirracista à vida acadêmica. Como pesquisadora, Nascimento estudou as formações dos quilombos no Brasil por duas décadas. Foi expoente do feminismo negro, pesquisando as práticas discriminatórias que pesam sobre os corpos das mulheres negras.

Beatriz morreu, vítima de feminicídio, em janeiro de 1995. Na época, ela cursava mestrado em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2021, Beatriz Nascimento se tornou doutora honoris causa in memoriam pela UFRJ.

Combate às desigualdades nas universidades

O programa de bolsas para mulheres negras representa um avanço no combate às desigualdades nas políticas de seleção e avaliação das universidades e agências de fomento. Essa é a avaliação da professora Marcia Rangel Candido, subcoordenadora de pesquisas no Grupo de Estudos multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) e pesquisadora de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).

“Mulheres estão em desvantagem, sobretudo as mulheres negras, na busca por um currículo de excelência hoje em dia nos parâmetros determinados por universidades e agências de fomento. Ele exige disponibilidade de tempo e de recursos socioeconômicos. As demandas por produtividade acadêmica são mais contempláveis por homens brancos”, opina.

Além disso, a maior exposição às desigualdades de renda faz com que pessoas negras frequentemente não tenham chance de formação equivalente à das brancas, diz a especialista. “Exemplos disso são a possibilidade de cursar uma pós-graduação sem recorrer a trabalhos extras fora da academia ou a exposição já precoce a outros idiomas, oriunda de cursos ou viagens ao exterior. As duas coisas são mais acessíveis às classes mais abastadas, ou seja, pessoas majoritariamente de cor branca.”

“O primeiro desafio é o acesso às comunidades científicas. Quando se consegue acessar, o desafio é se manter com sucesso, com acesso bolsas, intercâmbios; participação em eventos científicos com apoio. Todo esse processo é atravessado pelo racismo institucional, social e ambiental que estrutura as instituições. Esse racismo exclui, mata sonhos, adoece”, diz Iraneide Soares, presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).

A falta de representatividade faz com que os avanços científicos não atendam às necessidades da comunidade de modo geral. “A população negra tem patologias próprias. Quando as ciências médicas não consideram a origem desse segmento populacional, elas não produzem ciência que acolha essa demanda”, exemplifica Iraneide.

A discussão é tão relevante no mundo acadêmico que algumas entidades promovem programas específicos para minimizar as dificuldades dos negros que se tornam cientistas. Uma delas é o projeto Afrocientista, que procura proporcionar aos estudantes da educação básica a construção de repertório político, científico e tecnológico pautados numa educação antirracista. No final do ano passado, a ABPN promoveu o 1.º Encontro Nacional Afrocientista, realizado na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

Com o apoio financeiro do Instituto Unibanco, o projeto se sustenta em três pilares: iniciação às práticas da ciência; instrumentalização sobre o fazer ciências; e formação para a cidadania e mobilização social. Em sua quarta edição, o Projeto Afrocientista proporciona a jovens da educação básica a oportunidade de construir repertório político, científico e tecnológico pautados numa educação antirracista.

Durante o encontro, os afrocientistas discutiram temas como a educação, mercado de trabalho, carreira científica e racismo, a partir de questões de identidade e autoestima, currículo e representatividade.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Grupo de Estudos multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) e a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).

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