Quais são os cursos da USP em que mais alunos desistem? Veja lista


Taxa de evasão entre cotistas e na área de Exatas é maior do que entre os outros alunos; ações afirmativas devem estar acompanhadas de iniciativas de apoio à permanência estudantil

Por Guilherme Santiago
Atualização:

Alunos da área de Exatas e cotistas estão entre os que mais abandonam os cursos na Universidade de São Paulo (USP), segundo novo estudo que avaliou as taxas de abandono na mais importante instituição de ensino superior do País. A evasão também é mais frequente nos dois primeiros anos da graduação, mostra a análise.

O trabalho é considerado importante para aperfeiçoar as políticas de inclusão na universidade, de forma a permitir não só o ingresso, mas a permanência de estudantes mais vulneráveis no ensino superior. Além disso, a análise ajuda a tornar as propostas pedagógicas mais conectadas à realidade e aos interesses dos alunos e evita o desperdício de recursos públicos com vagas ociosas.

A pesquisa de Luís Pedro Polesi usou dados da Pró-Reitoria de Graduação sobre cerca de 11 mil alunos que iniciaram em 2018, primeiro ano em que a USP adotou as cotas. A taxa geral de abandono na USP é de 17,41%, considerada até abaixo das estimativas iniciais dos pesquisadores, que previam números superiores a 20%. A reitoria não informou quais são as taxas gerais de evasão nos últimos anos.

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Em relação aos ingressantes de 2017, o Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), aponta taxa de desistência acumulada, até 2021, de 39% nas universidades federais. Nas particulares, é de 59%.

USP é a principal instituição de ensino superior do País Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Em comparação com ingressantes pela ampla concorrência (sem ações afirmativas), os cotistas têm taxa de evasão até 8,9 pontos percentuais mais altas. Entre não cotistas, o índice de abandono é de 15%; entre os que ocuparam vagas destinadas para alunos da rede pública, a evasão é de 18,6%. Já entre os estudantes de escola pública pretos, pardos e indígenas, o valor sobe para 23,9%.

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Segundo Polesi, a evasão maior entre cotistas mostra que políticas de ação afirmativa são importantes para tornar as universidades mais diversas, mas devem vir acompanhadas de iniciativas de apoio à permanência do aluno, como auxílios financeiros (bolsas, moradia estudantil, restaurante universitário etc) e pedagógicos (aulas de reforço, auxílio com material didático etc). No último processo seletivo, 54% dos calouros da USP vieram da rede pública.

Estudos anteriores em universidades públicas já mostraram que o desempenho de alunos cotistas é próximo e, em alguns casos, até superior ao de alunos não cotistas. Outras pesquisas indicaram que essa diferença começa maior, mas cai ao longo do curso, quando os ingressantes pelas ações afirmativas conseguem ter mais acesso e diminuir eventuais déficits de aprendizagem ou repertório.

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Além das variações conforme a modalidade de ingresso, Polesi ressalta também que a taxa de evasão varia de acordo com as características dos cursos. Enquanto alguns registram taxa de evasão zero, como o bacharelado em Jornalismo, outros enfrentam o abandono de mais da metade da turma, como o bacharelado em Matemática Aplicada e Computacional, cuja taxa de evasão é de 54%.

“Mesmo se entrassem turmas iguais em todos os cursos da USP, a taxa de evasão entre os cursos também seria diferente”, afirma Polesi, que concluiu o mestrado em Ciência Política. “Isso porque alguns cursos têm certas características que favorecem a evasão”, explica. Segundo ele, cursos nas áreas de Exatas, como Matemática, Química e Física (disciplinas em que os alunos tradicionalmente têm mais dificuldades), costumam ter evasão maior.

Há variações também segundo o local. As cidades de São Paulo e Santos, por exemplo, têm taxas de evasão maiores do que unidades da USP no interior, diante dos custos de vida mais elevados

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O que a pesquisa concluiu?

  • A evasão geral na USP é de 17,41%, mas varia conforme o curso.
  • Entre alunos de escola pública (cotistas), a taxa de evasão é 18,6%; entre pretos, pardos e indígenas, 23,9%; para ampla concorrência, 15%.
  • O curso líder em desistência é o bacharelado em Matemática Aplicada e Computacional (54%).
  • Bacharelados em Música, Jornalismo e Nutrição e Metabolismo não registraram desistência no período analisado.
  • Em geral, homens, negros e com renda familiar mais baixa são os mais propensos a evadir.
  • A evasão é mais frequente no 1º e no 2º ano da graduação.
  • A maior evasão é em cursos em que os alunos têm muitas reprovações em matérias de Exatas.
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O que motiva a evasão?

Para a professora Marta Arretche, que orientou o trabalho de Polesi, as razões para o abandono são multifatoriais e podem ser divididas em dois grupos: fatores pré-existentes ao ingresso na USP (perfil socioeconômico do aluno e formação pré-universitária) ou relacionados à própria vivência do estudante na universidade (adequação à proposta pedagógica, desempenho acadêmico e relacionamento interpessoal).

Mas ela destaca que alguns cursos concentram alunos com maior propensão para evadir. “Cursos que têm maior concentração de homens, de mais alta idade, de baixa renda e em período noturno estão mais propensos”, afirma. Segundo ela, a grade curricular também influencia. “Cursos com maior exigência de fundamentos em Matemática também têm maior propensão”, diz.

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O alto nível de exigência dos cursos leva, em geral, a notas mais baixas no 1º ano da graduação, explica Marta. “Alguns estudantes não aguentam essa dificuldade e desistem. Mas há também alunos que chegam a se formar, mesmo com notas baixas, e outros que se recuperam a partir do 3º ano.”

André Félix de Oliveira abandonou a graduação de Matemática Aplicada e Computacional na USP; ele havia ingressou em 2018, com cotas para aluno de escolas públicas, mas saiu em 2021 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Isso aconteceu com o estudante André Félix de Oliveira, de 24 anos, ex-aluno de Matemática Aplicada e Computacional na USP. Ele ingressou em 2018, na cota para escola pública, mas em 2021 decidiu largar a formação. De acordo com ele, saúde mental e dificuldades acadêmicas foram cruciais para sua decisão.

“Nos dois primeiros semestres, consegui me sair bem. Não tive notas tão ruins quanto o esperado para os alunos do IME (Instituto de Matemática e Estatística da USP)”, conta. “Mas, no 2º ano, as coisas começaram a desandar. Eu não conseguia absorver o conteúdo, principalmente nas disciplinas de Cálculo, que exigem muitos conhecimentos de Matemática. Isso foi me deixando frustrado com o curso”, diz.

Félix conta que tentou participar de cursos desenvolvidos pelo centro acadêmico para apoiar os estudantes, com aulas básicas de Matemática, Lógica e Programação, mas não foi suficiente. “Esses cursos aconteciam apenas no 1º semestre. E me ajudaram no começo, mas ainda assim não deu para acompanhar”, relata.

‘Eu não estava feliz. Não consegui acompanhar’

Abandonar o curso também foi a escolha de Gustavo da Costa, de 23 anos, da Engenharia Química na USP, em Lorena, no interior. Ele ingressou em 2019 pelas cotas de alunos da escola pública e para pretos, pardos e indígenas. Em 2022, porém, diante das dificuldades em acompanhar o curso e da insatisfação com a carreira escolhida, resolveu sair.

“Vi que aquilo não era para mim, eu não estava feliz”, revela. “Eu sentia muita dificuldade em acompanhar o curso. Algumas matérias dependem muito de uma base inicial. Mesmo tendo feito ensino médio técnico em Química, não consegui acompanhar”, conta ele.

Em 2022, ele ingressou em um curso online de Programação e se apaixonou pela área. Hoje, estuda Sistemas de Informação em uma faculdade particular em Presidente Prudente, onde vive com a mãe, e afirma que foi boa escolha. “Não me arrependo. Agora encontrei o que realmente quero profissionalmente.”

Iniciativas para reduzir a evasão

Segundo Aluísio Augusto Cotrim Segurado, pró-reitor de Graduação da USP, para reduzir a evasão, a USP desenvolve iniciativas de apoio à permanência do estudante. Se o aluno enfrenta problemas com desempenho acadêmico, há iniciativas de tutorias acadêmicas, em que estudantes de séries mais avançadas oferecem suporte a outros alunos com dificuldades iniciais.

“Nosso objetivo é solucionar as lacunas de aprendizado das formações pré-universitárias, que vão impactar no desempenho nas disciplinas oferecidas no início do curso”, afirma. Também que são ofertadas bolsas para manutenção financeira para despesas como moradia, alimentação e transporte.

“Nos últimos anos, a USP aumentou de forma considerável o volume de recursos orçamentários alocado nas políticas de permanência estudantil”, afirma. “De 2022 para 2023, passamos de um orçamento anual para permanência estudantil de R$ 60 milhões para R$ 130 milhões.”

Além disso, o pró-reitor revela que a universidade tem feito revisões frequentes em seus currículos acadêmicos. “Queremos garantir que as propostas pedagógicas acompanhem as mudanças do mercado de trabalho e da estrutura da sociedade”, defende.

Alunos da área de Exatas e cotistas estão entre os que mais abandonam os cursos na Universidade de São Paulo (USP), segundo novo estudo que avaliou as taxas de abandono na mais importante instituição de ensino superior do País. A evasão também é mais frequente nos dois primeiros anos da graduação, mostra a análise.

O trabalho é considerado importante para aperfeiçoar as políticas de inclusão na universidade, de forma a permitir não só o ingresso, mas a permanência de estudantes mais vulneráveis no ensino superior. Além disso, a análise ajuda a tornar as propostas pedagógicas mais conectadas à realidade e aos interesses dos alunos e evita o desperdício de recursos públicos com vagas ociosas.

A pesquisa de Luís Pedro Polesi usou dados da Pró-Reitoria de Graduação sobre cerca de 11 mil alunos que iniciaram em 2018, primeiro ano em que a USP adotou as cotas. A taxa geral de abandono na USP é de 17,41%, considerada até abaixo das estimativas iniciais dos pesquisadores, que previam números superiores a 20%. A reitoria não informou quais são as taxas gerais de evasão nos últimos anos.

Em relação aos ingressantes de 2017, o Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), aponta taxa de desistência acumulada, até 2021, de 39% nas universidades federais. Nas particulares, é de 59%.

USP é a principal instituição de ensino superior do País Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Em comparação com ingressantes pela ampla concorrência (sem ações afirmativas), os cotistas têm taxa de evasão até 8,9 pontos percentuais mais altas. Entre não cotistas, o índice de abandono é de 15%; entre os que ocuparam vagas destinadas para alunos da rede pública, a evasão é de 18,6%. Já entre os estudantes de escola pública pretos, pardos e indígenas, o valor sobe para 23,9%.

Segundo Polesi, a evasão maior entre cotistas mostra que políticas de ação afirmativa são importantes para tornar as universidades mais diversas, mas devem vir acompanhadas de iniciativas de apoio à permanência do aluno, como auxílios financeiros (bolsas, moradia estudantil, restaurante universitário etc) e pedagógicos (aulas de reforço, auxílio com material didático etc). No último processo seletivo, 54% dos calouros da USP vieram da rede pública.

Estudos anteriores em universidades públicas já mostraram que o desempenho de alunos cotistas é próximo e, em alguns casos, até superior ao de alunos não cotistas. Outras pesquisas indicaram que essa diferença começa maior, mas cai ao longo do curso, quando os ingressantes pelas ações afirmativas conseguem ter mais acesso e diminuir eventuais déficits de aprendizagem ou repertório.

Além das variações conforme a modalidade de ingresso, Polesi ressalta também que a taxa de evasão varia de acordo com as características dos cursos. Enquanto alguns registram taxa de evasão zero, como o bacharelado em Jornalismo, outros enfrentam o abandono de mais da metade da turma, como o bacharelado em Matemática Aplicada e Computacional, cuja taxa de evasão é de 54%.

“Mesmo se entrassem turmas iguais em todos os cursos da USP, a taxa de evasão entre os cursos também seria diferente”, afirma Polesi, que concluiu o mestrado em Ciência Política. “Isso porque alguns cursos têm certas características que favorecem a evasão”, explica. Segundo ele, cursos nas áreas de Exatas, como Matemática, Química e Física (disciplinas em que os alunos tradicionalmente têm mais dificuldades), costumam ter evasão maior.

Há variações também segundo o local. As cidades de São Paulo e Santos, por exemplo, têm taxas de evasão maiores do que unidades da USP no interior, diante dos custos de vida mais elevados

O que a pesquisa concluiu?

  • A evasão geral na USP é de 17,41%, mas varia conforme o curso.
  • Entre alunos de escola pública (cotistas), a taxa de evasão é 18,6%; entre pretos, pardos e indígenas, 23,9%; para ampla concorrência, 15%.
  • O curso líder em desistência é o bacharelado em Matemática Aplicada e Computacional (54%).
  • Bacharelados em Música, Jornalismo e Nutrição e Metabolismo não registraram desistência no período analisado.
  • Em geral, homens, negros e com renda familiar mais baixa são os mais propensos a evadir.
  • A evasão é mais frequente no 1º e no 2º ano da graduação.
  • A maior evasão é em cursos em que os alunos têm muitas reprovações em matérias de Exatas.

O que motiva a evasão?

Para a professora Marta Arretche, que orientou o trabalho de Polesi, as razões para o abandono são multifatoriais e podem ser divididas em dois grupos: fatores pré-existentes ao ingresso na USP (perfil socioeconômico do aluno e formação pré-universitária) ou relacionados à própria vivência do estudante na universidade (adequação à proposta pedagógica, desempenho acadêmico e relacionamento interpessoal).

Mas ela destaca que alguns cursos concentram alunos com maior propensão para evadir. “Cursos que têm maior concentração de homens, de mais alta idade, de baixa renda e em período noturno estão mais propensos”, afirma. Segundo ela, a grade curricular também influencia. “Cursos com maior exigência de fundamentos em Matemática também têm maior propensão”, diz.

O alto nível de exigência dos cursos leva, em geral, a notas mais baixas no 1º ano da graduação, explica Marta. “Alguns estudantes não aguentam essa dificuldade e desistem. Mas há também alunos que chegam a se formar, mesmo com notas baixas, e outros que se recuperam a partir do 3º ano.”

André Félix de Oliveira abandonou a graduação de Matemática Aplicada e Computacional na USP; ele havia ingressou em 2018, com cotas para aluno de escolas públicas, mas saiu em 2021 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Isso aconteceu com o estudante André Félix de Oliveira, de 24 anos, ex-aluno de Matemática Aplicada e Computacional na USP. Ele ingressou em 2018, na cota para escola pública, mas em 2021 decidiu largar a formação. De acordo com ele, saúde mental e dificuldades acadêmicas foram cruciais para sua decisão.

“Nos dois primeiros semestres, consegui me sair bem. Não tive notas tão ruins quanto o esperado para os alunos do IME (Instituto de Matemática e Estatística da USP)”, conta. “Mas, no 2º ano, as coisas começaram a desandar. Eu não conseguia absorver o conteúdo, principalmente nas disciplinas de Cálculo, que exigem muitos conhecimentos de Matemática. Isso foi me deixando frustrado com o curso”, diz.

Félix conta que tentou participar de cursos desenvolvidos pelo centro acadêmico para apoiar os estudantes, com aulas básicas de Matemática, Lógica e Programação, mas não foi suficiente. “Esses cursos aconteciam apenas no 1º semestre. E me ajudaram no começo, mas ainda assim não deu para acompanhar”, relata.

‘Eu não estava feliz. Não consegui acompanhar’

Abandonar o curso também foi a escolha de Gustavo da Costa, de 23 anos, da Engenharia Química na USP, em Lorena, no interior. Ele ingressou em 2019 pelas cotas de alunos da escola pública e para pretos, pardos e indígenas. Em 2022, porém, diante das dificuldades em acompanhar o curso e da insatisfação com a carreira escolhida, resolveu sair.

“Vi que aquilo não era para mim, eu não estava feliz”, revela. “Eu sentia muita dificuldade em acompanhar o curso. Algumas matérias dependem muito de uma base inicial. Mesmo tendo feito ensino médio técnico em Química, não consegui acompanhar”, conta ele.

Em 2022, ele ingressou em um curso online de Programação e se apaixonou pela área. Hoje, estuda Sistemas de Informação em uma faculdade particular em Presidente Prudente, onde vive com a mãe, e afirma que foi boa escolha. “Não me arrependo. Agora encontrei o que realmente quero profissionalmente.”

Iniciativas para reduzir a evasão

Segundo Aluísio Augusto Cotrim Segurado, pró-reitor de Graduação da USP, para reduzir a evasão, a USP desenvolve iniciativas de apoio à permanência do estudante. Se o aluno enfrenta problemas com desempenho acadêmico, há iniciativas de tutorias acadêmicas, em que estudantes de séries mais avançadas oferecem suporte a outros alunos com dificuldades iniciais.

“Nosso objetivo é solucionar as lacunas de aprendizado das formações pré-universitárias, que vão impactar no desempenho nas disciplinas oferecidas no início do curso”, afirma. Também que são ofertadas bolsas para manutenção financeira para despesas como moradia, alimentação e transporte.

“Nos últimos anos, a USP aumentou de forma considerável o volume de recursos orçamentários alocado nas políticas de permanência estudantil”, afirma. “De 2022 para 2023, passamos de um orçamento anual para permanência estudantil de R$ 60 milhões para R$ 130 milhões.”

Além disso, o pró-reitor revela que a universidade tem feito revisões frequentes em seus currículos acadêmicos. “Queremos garantir que as propostas pedagógicas acompanhem as mudanças do mercado de trabalho e da estrutura da sociedade”, defende.

Alunos da área de Exatas e cotistas estão entre os que mais abandonam os cursos na Universidade de São Paulo (USP), segundo novo estudo que avaliou as taxas de abandono na mais importante instituição de ensino superior do País. A evasão também é mais frequente nos dois primeiros anos da graduação, mostra a análise.

O trabalho é considerado importante para aperfeiçoar as políticas de inclusão na universidade, de forma a permitir não só o ingresso, mas a permanência de estudantes mais vulneráveis no ensino superior. Além disso, a análise ajuda a tornar as propostas pedagógicas mais conectadas à realidade e aos interesses dos alunos e evita o desperdício de recursos públicos com vagas ociosas.

A pesquisa de Luís Pedro Polesi usou dados da Pró-Reitoria de Graduação sobre cerca de 11 mil alunos que iniciaram em 2018, primeiro ano em que a USP adotou as cotas. A taxa geral de abandono na USP é de 17,41%, considerada até abaixo das estimativas iniciais dos pesquisadores, que previam números superiores a 20%. A reitoria não informou quais são as taxas gerais de evasão nos últimos anos.

Em relação aos ingressantes de 2017, o Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), aponta taxa de desistência acumulada, até 2021, de 39% nas universidades federais. Nas particulares, é de 59%.

USP é a principal instituição de ensino superior do País Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Em comparação com ingressantes pela ampla concorrência (sem ações afirmativas), os cotistas têm taxa de evasão até 8,9 pontos percentuais mais altas. Entre não cotistas, o índice de abandono é de 15%; entre os que ocuparam vagas destinadas para alunos da rede pública, a evasão é de 18,6%. Já entre os estudantes de escola pública pretos, pardos e indígenas, o valor sobe para 23,9%.

Segundo Polesi, a evasão maior entre cotistas mostra que políticas de ação afirmativa são importantes para tornar as universidades mais diversas, mas devem vir acompanhadas de iniciativas de apoio à permanência do aluno, como auxílios financeiros (bolsas, moradia estudantil, restaurante universitário etc) e pedagógicos (aulas de reforço, auxílio com material didático etc). No último processo seletivo, 54% dos calouros da USP vieram da rede pública.

Estudos anteriores em universidades públicas já mostraram que o desempenho de alunos cotistas é próximo e, em alguns casos, até superior ao de alunos não cotistas. Outras pesquisas indicaram que essa diferença começa maior, mas cai ao longo do curso, quando os ingressantes pelas ações afirmativas conseguem ter mais acesso e diminuir eventuais déficits de aprendizagem ou repertório.

Além das variações conforme a modalidade de ingresso, Polesi ressalta também que a taxa de evasão varia de acordo com as características dos cursos. Enquanto alguns registram taxa de evasão zero, como o bacharelado em Jornalismo, outros enfrentam o abandono de mais da metade da turma, como o bacharelado em Matemática Aplicada e Computacional, cuja taxa de evasão é de 54%.

“Mesmo se entrassem turmas iguais em todos os cursos da USP, a taxa de evasão entre os cursos também seria diferente”, afirma Polesi, que concluiu o mestrado em Ciência Política. “Isso porque alguns cursos têm certas características que favorecem a evasão”, explica. Segundo ele, cursos nas áreas de Exatas, como Matemática, Química e Física (disciplinas em que os alunos tradicionalmente têm mais dificuldades), costumam ter evasão maior.

Há variações também segundo o local. As cidades de São Paulo e Santos, por exemplo, têm taxas de evasão maiores do que unidades da USP no interior, diante dos custos de vida mais elevados

O que a pesquisa concluiu?

  • A evasão geral na USP é de 17,41%, mas varia conforme o curso.
  • Entre alunos de escola pública (cotistas), a taxa de evasão é 18,6%; entre pretos, pardos e indígenas, 23,9%; para ampla concorrência, 15%.
  • O curso líder em desistência é o bacharelado em Matemática Aplicada e Computacional (54%).
  • Bacharelados em Música, Jornalismo e Nutrição e Metabolismo não registraram desistência no período analisado.
  • Em geral, homens, negros e com renda familiar mais baixa são os mais propensos a evadir.
  • A evasão é mais frequente no 1º e no 2º ano da graduação.
  • A maior evasão é em cursos em que os alunos têm muitas reprovações em matérias de Exatas.

O que motiva a evasão?

Para a professora Marta Arretche, que orientou o trabalho de Polesi, as razões para o abandono são multifatoriais e podem ser divididas em dois grupos: fatores pré-existentes ao ingresso na USP (perfil socioeconômico do aluno e formação pré-universitária) ou relacionados à própria vivência do estudante na universidade (adequação à proposta pedagógica, desempenho acadêmico e relacionamento interpessoal).

Mas ela destaca que alguns cursos concentram alunos com maior propensão para evadir. “Cursos que têm maior concentração de homens, de mais alta idade, de baixa renda e em período noturno estão mais propensos”, afirma. Segundo ela, a grade curricular também influencia. “Cursos com maior exigência de fundamentos em Matemática também têm maior propensão”, diz.

O alto nível de exigência dos cursos leva, em geral, a notas mais baixas no 1º ano da graduação, explica Marta. “Alguns estudantes não aguentam essa dificuldade e desistem. Mas há também alunos que chegam a se formar, mesmo com notas baixas, e outros que se recuperam a partir do 3º ano.”

André Félix de Oliveira abandonou a graduação de Matemática Aplicada e Computacional na USP; ele havia ingressou em 2018, com cotas para aluno de escolas públicas, mas saiu em 2021 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Isso aconteceu com o estudante André Félix de Oliveira, de 24 anos, ex-aluno de Matemática Aplicada e Computacional na USP. Ele ingressou em 2018, na cota para escola pública, mas em 2021 decidiu largar a formação. De acordo com ele, saúde mental e dificuldades acadêmicas foram cruciais para sua decisão.

“Nos dois primeiros semestres, consegui me sair bem. Não tive notas tão ruins quanto o esperado para os alunos do IME (Instituto de Matemática e Estatística da USP)”, conta. “Mas, no 2º ano, as coisas começaram a desandar. Eu não conseguia absorver o conteúdo, principalmente nas disciplinas de Cálculo, que exigem muitos conhecimentos de Matemática. Isso foi me deixando frustrado com o curso”, diz.

Félix conta que tentou participar de cursos desenvolvidos pelo centro acadêmico para apoiar os estudantes, com aulas básicas de Matemática, Lógica e Programação, mas não foi suficiente. “Esses cursos aconteciam apenas no 1º semestre. E me ajudaram no começo, mas ainda assim não deu para acompanhar”, relata.

‘Eu não estava feliz. Não consegui acompanhar’

Abandonar o curso também foi a escolha de Gustavo da Costa, de 23 anos, da Engenharia Química na USP, em Lorena, no interior. Ele ingressou em 2019 pelas cotas de alunos da escola pública e para pretos, pardos e indígenas. Em 2022, porém, diante das dificuldades em acompanhar o curso e da insatisfação com a carreira escolhida, resolveu sair.

“Vi que aquilo não era para mim, eu não estava feliz”, revela. “Eu sentia muita dificuldade em acompanhar o curso. Algumas matérias dependem muito de uma base inicial. Mesmo tendo feito ensino médio técnico em Química, não consegui acompanhar”, conta ele.

Em 2022, ele ingressou em um curso online de Programação e se apaixonou pela área. Hoje, estuda Sistemas de Informação em uma faculdade particular em Presidente Prudente, onde vive com a mãe, e afirma que foi boa escolha. “Não me arrependo. Agora encontrei o que realmente quero profissionalmente.”

Iniciativas para reduzir a evasão

Segundo Aluísio Augusto Cotrim Segurado, pró-reitor de Graduação da USP, para reduzir a evasão, a USP desenvolve iniciativas de apoio à permanência do estudante. Se o aluno enfrenta problemas com desempenho acadêmico, há iniciativas de tutorias acadêmicas, em que estudantes de séries mais avançadas oferecem suporte a outros alunos com dificuldades iniciais.

“Nosso objetivo é solucionar as lacunas de aprendizado das formações pré-universitárias, que vão impactar no desempenho nas disciplinas oferecidas no início do curso”, afirma. Também que são ofertadas bolsas para manutenção financeira para despesas como moradia, alimentação e transporte.

“Nos últimos anos, a USP aumentou de forma considerável o volume de recursos orçamentários alocado nas políticas de permanência estudantil”, afirma. “De 2022 para 2023, passamos de um orçamento anual para permanência estudantil de R$ 60 milhões para R$ 130 milhões.”

Além disso, o pró-reitor revela que a universidade tem feito revisões frequentes em seus currículos acadêmicos. “Queremos garantir que as propostas pedagógicas acompanhem as mudanças do mercado de trabalho e da estrutura da sociedade”, defende.

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