‘Quando se fala em ensino técnico, pouca gente fala do agronegócio’, diz Claudia Costin


Para a especialista em Educação, a forma de seleção deve ser revista, bem como as particularidades regionais

Por Roberta Jansen
Entrevista comClaudia CostinPresidente do Instituto Singularidades

O governo federal anunciou nesta terça-feira, 12, a criação de 100 câmpus de institutos federais em todo o País. Com a medida, a expectativa é criar 140 mil vagas, a maioria em cursos técnicos integrados ao ensino médio.

Para a especialista em Educação Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades de Ensino Superior e ex-diretora de Educação do Banco Mundial, a iniciativa é positiva “por expandir e interiorizar” a rede de ensino técnico. “Mas, precisamos repensar um pouco o modelo do ensino técnico”, afirmou, em entrevista ao Estadão.

O investimento anunciado é de R$ 2,5 bilhões e a expectativa é de que algumas novas escolas já estejam funcionando em 2026. Além disso, o governo anunciou um investimento de R$ 1,4 bilhão no aprimoramento das unidades já existentes. Atualmente, a rede federal tem 656 câmpus em todo o País.

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Claudia Costin destaca que é preciso pensar no desenvolvimento local. “Quando se fala em ensino técnico, pouca gente fala do agronegócio, por exemplo, uma área em que o Brasil avança com muita tecnologia”, exemplifica.

Novos câmpus de institutos federais devem criar 140 mil vagas, a maioria em cursos técnicos integrados ao ensino médio Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Como a senhora recebeu o anúncio da criação de 100 câmpus de institutos federais em todo o País?

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Naturalmente é positivo, não só por expandir a rede de ensino técnico, mas também por interioriza-la. Acho, no entanto, que precisamos repensar um pouco o modelo do ensino técnico.

De que forma?

Hoje, temos um porcentual baixo de alunos no ensino técnico. Quando perguntamos aos jovens onde gostariam de estudar, muitos dizem que gostariam de fazer ensino técnico, mas acabam não fazendo.

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Por qual razão?

Atualmente, quem frequenta o ensino técnico é, predominantemente, o aluno que quer se preparar para a universidade e não exatamente o que quer fazer o ensino técnico. Isso ocorre porque o ensino técnico, em geral, é em tempo integral, tem professores mais bem remunerados, infraestrutura melhor e acaba atraindo os alunos da escola pública – e também de privadas – que querem se preparar para o vestibular. As provas para entrar geralmente são difíceis, concorridas, mas acaba que a seleção não passa pelo interesse no curso em si.

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A senhora poderia citar um exemplo?

Outro dia, conversando com uma jovem, ela me contou sua experiência. Decidiu fazer o ensino técnico de mecatrônica porque sabia que, dessa forma, conseguiria entrar na USP. Do ponto de vista dela, obviamente, ela estava correta. A escola em que estudava era fraca e ela não tinha dinheiro para pagar um cursinho. Do ponto de vista da política pública, no entanto, não pode ser assim. O ensino técnico da mecatrônica demanda equipamento sofisticado, professores especializados, e acaba tendo problemas na seleção dos alunos, que não são exatamente aqueles que querem fazer o ensino técnico.

Mas não é válido que o aluno queira fazer a universidade?

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Claro, não é que não possa fazer faculdade depois. Mas gosto, por exemplo, do modelo da Coreia do Sul, em que há ensino técnico de tecnologia de ponta no nível médio. Se o aluno fizer o curso, que tem alta empregabilidade, e trabalhar três anos na área, ele pode entrar direto no curso superior da engenharia correspondente sem precisar participar do temido vestibular coreano.

Outra coisa importante é o modelo dual, em que o processo do ensino técnico dialoga com o mundo do trabalho, em que a formação é feita nas escolas e nos laboratórios, mas também dentro das empresas. Esse modelo é comum na Áustria, Alemanha e na Suécia. Por aqui ainda há pouco diálogo, o setor produtivo não tem esse papel de refletir sobre as demandas. O melhor modelo que temos por aqui é o do Sesi/Senai, em que o setor produtivo tem voz para dizer que cursos devem ser criados. Há muitas demandas na indústria para as quais não há gente especializada.

Quais são os principais desafios da interiorização do ensino técnico?

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O desafio é grande, com certeza. Será preciso pensar no desenvolvimento local, nas áreas mais importantes. Quando se fala em ensino técnico, pouca gente fala do agronegócio, por exemplo, uma área em que o Brasil avança com muita tecnologia. O que acontece na prática é que o jovem local acaba saindo das áreas rurais, enquanto outros, de grandes centros, vão para a região trabalhar com a tecnologia do agro. Seria mais lógico incentivar os jovens locais a trabalharem no agronegócio, não só plantando, mas operando drones e inteligência artificial. Esse é só um exemplo da pouca oferta que existe de curso técnico que leve em conta as particularidades de cada local e que leve em conta um plano de desenvolvimento das microrregiões.

Ainda há muito preconceito com o ensino técnico no Brasil?

É uma questão de visão social. Em geral, o ensino técnico é visto como algo para quem não faz faculdade. E quem não faz faculdade pertence a um grupo social menos privilegiado. Mas, precisamos mudar essa visão. Primeiro porque não quer dizer que não vá fazer faculdade. O ensino médio pode ser uma forma de postergar a faculdade e, ao mesmo tempo, já trabalhar na área, ganhando conhecimento prévio e dinheiro. Poderia até haver uma política no sentido de usar alguns créditos no ensino superior, por exemplo.

O governo federal anunciou nesta terça-feira, 12, a criação de 100 câmpus de institutos federais em todo o País. Com a medida, a expectativa é criar 140 mil vagas, a maioria em cursos técnicos integrados ao ensino médio.

Para a especialista em Educação Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades de Ensino Superior e ex-diretora de Educação do Banco Mundial, a iniciativa é positiva “por expandir e interiorizar” a rede de ensino técnico. “Mas, precisamos repensar um pouco o modelo do ensino técnico”, afirmou, em entrevista ao Estadão.

O investimento anunciado é de R$ 2,5 bilhões e a expectativa é de que algumas novas escolas já estejam funcionando em 2026. Além disso, o governo anunciou um investimento de R$ 1,4 bilhão no aprimoramento das unidades já existentes. Atualmente, a rede federal tem 656 câmpus em todo o País.

Claudia Costin destaca que é preciso pensar no desenvolvimento local. “Quando se fala em ensino técnico, pouca gente fala do agronegócio, por exemplo, uma área em que o Brasil avança com muita tecnologia”, exemplifica.

Novos câmpus de institutos federais devem criar 140 mil vagas, a maioria em cursos técnicos integrados ao ensino médio Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Como a senhora recebeu o anúncio da criação de 100 câmpus de institutos federais em todo o País?

Naturalmente é positivo, não só por expandir a rede de ensino técnico, mas também por interioriza-la. Acho, no entanto, que precisamos repensar um pouco o modelo do ensino técnico.

De que forma?

Hoje, temos um porcentual baixo de alunos no ensino técnico. Quando perguntamos aos jovens onde gostariam de estudar, muitos dizem que gostariam de fazer ensino técnico, mas acabam não fazendo.

Por qual razão?

Atualmente, quem frequenta o ensino técnico é, predominantemente, o aluno que quer se preparar para a universidade e não exatamente o que quer fazer o ensino técnico. Isso ocorre porque o ensino técnico, em geral, é em tempo integral, tem professores mais bem remunerados, infraestrutura melhor e acaba atraindo os alunos da escola pública – e também de privadas – que querem se preparar para o vestibular. As provas para entrar geralmente são difíceis, concorridas, mas acaba que a seleção não passa pelo interesse no curso em si.

A senhora poderia citar um exemplo?

Outro dia, conversando com uma jovem, ela me contou sua experiência. Decidiu fazer o ensino técnico de mecatrônica porque sabia que, dessa forma, conseguiria entrar na USP. Do ponto de vista dela, obviamente, ela estava correta. A escola em que estudava era fraca e ela não tinha dinheiro para pagar um cursinho. Do ponto de vista da política pública, no entanto, não pode ser assim. O ensino técnico da mecatrônica demanda equipamento sofisticado, professores especializados, e acaba tendo problemas na seleção dos alunos, que não são exatamente aqueles que querem fazer o ensino técnico.

Mas não é válido que o aluno queira fazer a universidade?

Claro, não é que não possa fazer faculdade depois. Mas gosto, por exemplo, do modelo da Coreia do Sul, em que há ensino técnico de tecnologia de ponta no nível médio. Se o aluno fizer o curso, que tem alta empregabilidade, e trabalhar três anos na área, ele pode entrar direto no curso superior da engenharia correspondente sem precisar participar do temido vestibular coreano.

Outra coisa importante é o modelo dual, em que o processo do ensino técnico dialoga com o mundo do trabalho, em que a formação é feita nas escolas e nos laboratórios, mas também dentro das empresas. Esse modelo é comum na Áustria, Alemanha e na Suécia. Por aqui ainda há pouco diálogo, o setor produtivo não tem esse papel de refletir sobre as demandas. O melhor modelo que temos por aqui é o do Sesi/Senai, em que o setor produtivo tem voz para dizer que cursos devem ser criados. Há muitas demandas na indústria para as quais não há gente especializada.

Quais são os principais desafios da interiorização do ensino técnico?

O desafio é grande, com certeza. Será preciso pensar no desenvolvimento local, nas áreas mais importantes. Quando se fala em ensino técnico, pouca gente fala do agronegócio, por exemplo, uma área em que o Brasil avança com muita tecnologia. O que acontece na prática é que o jovem local acaba saindo das áreas rurais, enquanto outros, de grandes centros, vão para a região trabalhar com a tecnologia do agro. Seria mais lógico incentivar os jovens locais a trabalharem no agronegócio, não só plantando, mas operando drones e inteligência artificial. Esse é só um exemplo da pouca oferta que existe de curso técnico que leve em conta as particularidades de cada local e que leve em conta um plano de desenvolvimento das microrregiões.

Ainda há muito preconceito com o ensino técnico no Brasil?

É uma questão de visão social. Em geral, o ensino técnico é visto como algo para quem não faz faculdade. E quem não faz faculdade pertence a um grupo social menos privilegiado. Mas, precisamos mudar essa visão. Primeiro porque não quer dizer que não vá fazer faculdade. O ensino médio pode ser uma forma de postergar a faculdade e, ao mesmo tempo, já trabalhar na área, ganhando conhecimento prévio e dinheiro. Poderia até haver uma política no sentido de usar alguns créditos no ensino superior, por exemplo.

O governo federal anunciou nesta terça-feira, 12, a criação de 100 câmpus de institutos federais em todo o País. Com a medida, a expectativa é criar 140 mil vagas, a maioria em cursos técnicos integrados ao ensino médio.

Para a especialista em Educação Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades de Ensino Superior e ex-diretora de Educação do Banco Mundial, a iniciativa é positiva “por expandir e interiorizar” a rede de ensino técnico. “Mas, precisamos repensar um pouco o modelo do ensino técnico”, afirmou, em entrevista ao Estadão.

O investimento anunciado é de R$ 2,5 bilhões e a expectativa é de que algumas novas escolas já estejam funcionando em 2026. Além disso, o governo anunciou um investimento de R$ 1,4 bilhão no aprimoramento das unidades já existentes. Atualmente, a rede federal tem 656 câmpus em todo o País.

Claudia Costin destaca que é preciso pensar no desenvolvimento local. “Quando se fala em ensino técnico, pouca gente fala do agronegócio, por exemplo, uma área em que o Brasil avança com muita tecnologia”, exemplifica.

Novos câmpus de institutos federais devem criar 140 mil vagas, a maioria em cursos técnicos integrados ao ensino médio Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Como a senhora recebeu o anúncio da criação de 100 câmpus de institutos federais em todo o País?

Naturalmente é positivo, não só por expandir a rede de ensino técnico, mas também por interioriza-la. Acho, no entanto, que precisamos repensar um pouco o modelo do ensino técnico.

De que forma?

Hoje, temos um porcentual baixo de alunos no ensino técnico. Quando perguntamos aos jovens onde gostariam de estudar, muitos dizem que gostariam de fazer ensino técnico, mas acabam não fazendo.

Por qual razão?

Atualmente, quem frequenta o ensino técnico é, predominantemente, o aluno que quer se preparar para a universidade e não exatamente o que quer fazer o ensino técnico. Isso ocorre porque o ensino técnico, em geral, é em tempo integral, tem professores mais bem remunerados, infraestrutura melhor e acaba atraindo os alunos da escola pública – e também de privadas – que querem se preparar para o vestibular. As provas para entrar geralmente são difíceis, concorridas, mas acaba que a seleção não passa pelo interesse no curso em si.

A senhora poderia citar um exemplo?

Outro dia, conversando com uma jovem, ela me contou sua experiência. Decidiu fazer o ensino técnico de mecatrônica porque sabia que, dessa forma, conseguiria entrar na USP. Do ponto de vista dela, obviamente, ela estava correta. A escola em que estudava era fraca e ela não tinha dinheiro para pagar um cursinho. Do ponto de vista da política pública, no entanto, não pode ser assim. O ensino técnico da mecatrônica demanda equipamento sofisticado, professores especializados, e acaba tendo problemas na seleção dos alunos, que não são exatamente aqueles que querem fazer o ensino técnico.

Mas não é válido que o aluno queira fazer a universidade?

Claro, não é que não possa fazer faculdade depois. Mas gosto, por exemplo, do modelo da Coreia do Sul, em que há ensino técnico de tecnologia de ponta no nível médio. Se o aluno fizer o curso, que tem alta empregabilidade, e trabalhar três anos na área, ele pode entrar direto no curso superior da engenharia correspondente sem precisar participar do temido vestibular coreano.

Outra coisa importante é o modelo dual, em que o processo do ensino técnico dialoga com o mundo do trabalho, em que a formação é feita nas escolas e nos laboratórios, mas também dentro das empresas. Esse modelo é comum na Áustria, Alemanha e na Suécia. Por aqui ainda há pouco diálogo, o setor produtivo não tem esse papel de refletir sobre as demandas. O melhor modelo que temos por aqui é o do Sesi/Senai, em que o setor produtivo tem voz para dizer que cursos devem ser criados. Há muitas demandas na indústria para as quais não há gente especializada.

Quais são os principais desafios da interiorização do ensino técnico?

O desafio é grande, com certeza. Será preciso pensar no desenvolvimento local, nas áreas mais importantes. Quando se fala em ensino técnico, pouca gente fala do agronegócio, por exemplo, uma área em que o Brasil avança com muita tecnologia. O que acontece na prática é que o jovem local acaba saindo das áreas rurais, enquanto outros, de grandes centros, vão para a região trabalhar com a tecnologia do agro. Seria mais lógico incentivar os jovens locais a trabalharem no agronegócio, não só plantando, mas operando drones e inteligência artificial. Esse é só um exemplo da pouca oferta que existe de curso técnico que leve em conta as particularidades de cada local e que leve em conta um plano de desenvolvimento das microrregiões.

Ainda há muito preconceito com o ensino técnico no Brasil?

É uma questão de visão social. Em geral, o ensino técnico é visto como algo para quem não faz faculdade. E quem não faz faculdade pertence a um grupo social menos privilegiado. Mas, precisamos mudar essa visão. Primeiro porque não quer dizer que não vá fazer faculdade. O ensino médio pode ser uma forma de postergar a faculdade e, ao mesmo tempo, já trabalhar na área, ganhando conhecimento prévio e dinheiro. Poderia até haver uma política no sentido de usar alguns créditos no ensino superior, por exemplo.

Entrevista por Roberta Jansen

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