Como falar de racismo em sala aula em meio aos conteúdos cobrados no vestibular?


Encontro promovido pelo ‘Estadão’ reuniu especialistas para discutir a educação antirracista; herança africana no Brasil foi tema da redação do Enem, o que reforça ainda mais a importância do tema

Por Ocimara Balmant
Atualização:

No último domingo, mais de 4 milhões de jovens escreveram sobre os “Desafios para valorização da herança africana no Brasil”. O assunto, tema da redação do Enem, é um reforço à implementação de um currículo antirracista, previsto em legislação, mas muito pouco colocado em prática no País. Isso porque uma das justificativas frequentes de escolas e professores é de que a inserção da pauta tomaria o espaço dedicado aos conteúdos cobrados nos vestibulares. Como falar de racismo entre a aula de genética e a de ótica, que serão cobradas no vestibular?

“Agora, você tem a legitimidade institucional da política educacional reconhecendo esse conteúdo como fundamental da formação de todo e qualquer estudante de nível médio no Brasil”, afirma Suelem Benício, consultora de relações ético-raciais na educação e uma das participantes do Meet Point que o Estadão promoveu nesta quarta-feira, 6, para discutir a educação antirracista.

Estadão promove ciclo de debates Reconstrução da Educação; da esquerda para a direita a repórter especial Renata Cafardo, Iracema Nascimento, Regina Scarpa e Suelem Benício. Foto: Felipe Rau/Estadão
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A partir do momento em que o racismo “cai no Enem”, a conversa muda de tom. “Fazer a formação de professores com essa nova carta na manga nos reposiciona, nos faz ganhar fôlego para reprocessar os nossos argumentos. Afinal, estamos falando de uma disputa de poder, uma disputa ideológica em relação a uma sociedade que a gente almeja.”

O desafio maior é combater a naturalidade com que o racismo passa despercebido por boa parte da comunidade escolar (professores, famílias e estudantes). “A gente precisa criar uma nova naturalidade. Porque num projeto colonial de 500 anos naturalizou-se a ideia de que pessoas negras e indígenas seriam inferiores”, afirma Iracema Nascimento, que é professora da Faculdade de Educação da USP.

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Piadas racistas e sexistas

Combater o racismo passa, muitas vezes, por conscientizar o próprio estudante negro. Iracema conta que no convívio com alunos seus que são docentes de escolas públicas da periferia de São Paulo tem ouvido relatos de que os adolescentes, especialmente meninos, reproduzem piadas racistas e sexistas. “O professor conversa, mas não conseguem convencer o jovem de que está agindo contra ele mesmo.”

O exemplo dá o tom de como a questão é complexa, mas ao mesmo tempo lembra que a escola deve ser exatamente esse lugar de questionamento, em que é possível formar cidadãos críticos e conscientes.

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“Existe uma falsa expectativa de professoras e professores estão preparados para tudo. Não estão. Acho que precisam estar preparados para um diálogo honesto e para exercer sua autoridade, não autoritarismo. Sempre os incentivo a não responder certas questões, mas a perguntar porque está dizendo aquilo, onde ouviu, se concorda.”

E quando o racismo acontece?

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Trabalhar um currículo antirracista não blinda a escola de situações de racismo. Em abril deste ano, um caso com ampla repercussão foi denunciado pela atriz Samara Felippo. A atriz registrou boletim de ocorrência após sua filha, de 14 anos, ter sido vítima de racismo na Escola Vera Cruz, uma escola de alto padrão em São Paulo. No relato, ela conta que ofensas racistas foram escritas em um dos cadernos da adolescente.

À época debateu-se se as duas alunas que praticaram o ato racista deviam ou não ser expulsas do colégio – o que não aconteceu, mas as famílias acabaram por pedir transferência.

Emblemático, o caso é apenas um dentre os tantos que acontecem rotineiramente nas escolas brasileiras, o que sinaliza a importância de protocolos de enfrentamento.

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O que já está em andamento

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC) está elaborando um protocolo de prevenção e resposta ao racismo da educação infantil ao ensino superior. A ideia é que o dispositivo traga recomendações objetivas e claras para precaver bem como os modos de agir em cada caso, o que inclui as punições.

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“Um protocolo precisa conter diretrizes que tenham a ver com a compreensão sobre o que é uma educação para as relações étnico-raciais”, afirma Regina Scarpa, diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, onde estudava a filha da atriz Samara Felippo.

Regina entende que as escolas que adotam políticas afirmativas precisam estar dispostas a viver situações de racismo, sob o risco de se renderem à segregação. “Pode ser que tenha reincidência, que a gente precise fazer transferências compulsórias, a depender da situação, mas a gente vai tentar. A gente não quer mostrar que a convivência é impossível.”

Os próximos eventos do Reconstrução da Educação serão:

  • Dia 8/11 - Desinformação e fake news: Como promover uma educação midiática
  • Dia 18/11 - Evento presencial Reconstrução da Educação, no Museu do Ipiranga

No último domingo, mais de 4 milhões de jovens escreveram sobre os “Desafios para valorização da herança africana no Brasil”. O assunto, tema da redação do Enem, é um reforço à implementação de um currículo antirracista, previsto em legislação, mas muito pouco colocado em prática no País. Isso porque uma das justificativas frequentes de escolas e professores é de que a inserção da pauta tomaria o espaço dedicado aos conteúdos cobrados nos vestibulares. Como falar de racismo entre a aula de genética e a de ótica, que serão cobradas no vestibular?

“Agora, você tem a legitimidade institucional da política educacional reconhecendo esse conteúdo como fundamental da formação de todo e qualquer estudante de nível médio no Brasil”, afirma Suelem Benício, consultora de relações ético-raciais na educação e uma das participantes do Meet Point que o Estadão promoveu nesta quarta-feira, 6, para discutir a educação antirracista.

Estadão promove ciclo de debates Reconstrução da Educação; da esquerda para a direita a repórter especial Renata Cafardo, Iracema Nascimento, Regina Scarpa e Suelem Benício. Foto: Felipe Rau/Estadão

A partir do momento em que o racismo “cai no Enem”, a conversa muda de tom. “Fazer a formação de professores com essa nova carta na manga nos reposiciona, nos faz ganhar fôlego para reprocessar os nossos argumentos. Afinal, estamos falando de uma disputa de poder, uma disputa ideológica em relação a uma sociedade que a gente almeja.”

O desafio maior é combater a naturalidade com que o racismo passa despercebido por boa parte da comunidade escolar (professores, famílias e estudantes). “A gente precisa criar uma nova naturalidade. Porque num projeto colonial de 500 anos naturalizou-se a ideia de que pessoas negras e indígenas seriam inferiores”, afirma Iracema Nascimento, que é professora da Faculdade de Educação da USP.

Piadas racistas e sexistas

Combater o racismo passa, muitas vezes, por conscientizar o próprio estudante negro. Iracema conta que no convívio com alunos seus que são docentes de escolas públicas da periferia de São Paulo tem ouvido relatos de que os adolescentes, especialmente meninos, reproduzem piadas racistas e sexistas. “O professor conversa, mas não conseguem convencer o jovem de que está agindo contra ele mesmo.”

O exemplo dá o tom de como a questão é complexa, mas ao mesmo tempo lembra que a escola deve ser exatamente esse lugar de questionamento, em que é possível formar cidadãos críticos e conscientes.

“Existe uma falsa expectativa de professoras e professores estão preparados para tudo. Não estão. Acho que precisam estar preparados para um diálogo honesto e para exercer sua autoridade, não autoritarismo. Sempre os incentivo a não responder certas questões, mas a perguntar porque está dizendo aquilo, onde ouviu, se concorda.”

E quando o racismo acontece?

Trabalhar um currículo antirracista não blinda a escola de situações de racismo. Em abril deste ano, um caso com ampla repercussão foi denunciado pela atriz Samara Felippo. A atriz registrou boletim de ocorrência após sua filha, de 14 anos, ter sido vítima de racismo na Escola Vera Cruz, uma escola de alto padrão em São Paulo. No relato, ela conta que ofensas racistas foram escritas em um dos cadernos da adolescente.

À época debateu-se se as duas alunas que praticaram o ato racista deviam ou não ser expulsas do colégio – o que não aconteceu, mas as famílias acabaram por pedir transferência.

Emblemático, o caso é apenas um dentre os tantos que acontecem rotineiramente nas escolas brasileiras, o que sinaliza a importância de protocolos de enfrentamento.

O que já está em andamento

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC) está elaborando um protocolo de prevenção e resposta ao racismo da educação infantil ao ensino superior. A ideia é que o dispositivo traga recomendações objetivas e claras para precaver bem como os modos de agir em cada caso, o que inclui as punições.

“Um protocolo precisa conter diretrizes que tenham a ver com a compreensão sobre o que é uma educação para as relações étnico-raciais”, afirma Regina Scarpa, diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, onde estudava a filha da atriz Samara Felippo.

Regina entende que as escolas que adotam políticas afirmativas precisam estar dispostas a viver situações de racismo, sob o risco de se renderem à segregação. “Pode ser que tenha reincidência, que a gente precise fazer transferências compulsórias, a depender da situação, mas a gente vai tentar. A gente não quer mostrar que a convivência é impossível.”

Os próximos eventos do Reconstrução da Educação serão:

  • Dia 8/11 - Desinformação e fake news: Como promover uma educação midiática
  • Dia 18/11 - Evento presencial Reconstrução da Educação, no Museu do Ipiranga

No último domingo, mais de 4 milhões de jovens escreveram sobre os “Desafios para valorização da herança africana no Brasil”. O assunto, tema da redação do Enem, é um reforço à implementação de um currículo antirracista, previsto em legislação, mas muito pouco colocado em prática no País. Isso porque uma das justificativas frequentes de escolas e professores é de que a inserção da pauta tomaria o espaço dedicado aos conteúdos cobrados nos vestibulares. Como falar de racismo entre a aula de genética e a de ótica, que serão cobradas no vestibular?

“Agora, você tem a legitimidade institucional da política educacional reconhecendo esse conteúdo como fundamental da formação de todo e qualquer estudante de nível médio no Brasil”, afirma Suelem Benício, consultora de relações ético-raciais na educação e uma das participantes do Meet Point que o Estadão promoveu nesta quarta-feira, 6, para discutir a educação antirracista.

Estadão promove ciclo de debates Reconstrução da Educação; da esquerda para a direita a repórter especial Renata Cafardo, Iracema Nascimento, Regina Scarpa e Suelem Benício. Foto: Felipe Rau/Estadão

A partir do momento em que o racismo “cai no Enem”, a conversa muda de tom. “Fazer a formação de professores com essa nova carta na manga nos reposiciona, nos faz ganhar fôlego para reprocessar os nossos argumentos. Afinal, estamos falando de uma disputa de poder, uma disputa ideológica em relação a uma sociedade que a gente almeja.”

O desafio maior é combater a naturalidade com que o racismo passa despercebido por boa parte da comunidade escolar (professores, famílias e estudantes). “A gente precisa criar uma nova naturalidade. Porque num projeto colonial de 500 anos naturalizou-se a ideia de que pessoas negras e indígenas seriam inferiores”, afirma Iracema Nascimento, que é professora da Faculdade de Educação da USP.

Piadas racistas e sexistas

Combater o racismo passa, muitas vezes, por conscientizar o próprio estudante negro. Iracema conta que no convívio com alunos seus que são docentes de escolas públicas da periferia de São Paulo tem ouvido relatos de que os adolescentes, especialmente meninos, reproduzem piadas racistas e sexistas. “O professor conversa, mas não conseguem convencer o jovem de que está agindo contra ele mesmo.”

O exemplo dá o tom de como a questão é complexa, mas ao mesmo tempo lembra que a escola deve ser exatamente esse lugar de questionamento, em que é possível formar cidadãos críticos e conscientes.

“Existe uma falsa expectativa de professoras e professores estão preparados para tudo. Não estão. Acho que precisam estar preparados para um diálogo honesto e para exercer sua autoridade, não autoritarismo. Sempre os incentivo a não responder certas questões, mas a perguntar porque está dizendo aquilo, onde ouviu, se concorda.”

E quando o racismo acontece?

Trabalhar um currículo antirracista não blinda a escola de situações de racismo. Em abril deste ano, um caso com ampla repercussão foi denunciado pela atriz Samara Felippo. A atriz registrou boletim de ocorrência após sua filha, de 14 anos, ter sido vítima de racismo na Escola Vera Cruz, uma escola de alto padrão em São Paulo. No relato, ela conta que ofensas racistas foram escritas em um dos cadernos da adolescente.

À época debateu-se se as duas alunas que praticaram o ato racista deviam ou não ser expulsas do colégio – o que não aconteceu, mas as famílias acabaram por pedir transferência.

Emblemático, o caso é apenas um dentre os tantos que acontecem rotineiramente nas escolas brasileiras, o que sinaliza a importância de protocolos de enfrentamento.

O que já está em andamento

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC) está elaborando um protocolo de prevenção e resposta ao racismo da educação infantil ao ensino superior. A ideia é que o dispositivo traga recomendações objetivas e claras para precaver bem como os modos de agir em cada caso, o que inclui as punições.

“Um protocolo precisa conter diretrizes que tenham a ver com a compreensão sobre o que é uma educação para as relações étnico-raciais”, afirma Regina Scarpa, diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, onde estudava a filha da atriz Samara Felippo.

Regina entende que as escolas que adotam políticas afirmativas precisam estar dispostas a viver situações de racismo, sob o risco de se renderem à segregação. “Pode ser que tenha reincidência, que a gente precise fazer transferências compulsórias, a depender da situação, mas a gente vai tentar. A gente não quer mostrar que a convivência é impossível.”

Os próximos eventos do Reconstrução da Educação serão:

  • Dia 8/11 - Desinformação e fake news: Como promover uma educação midiática
  • Dia 18/11 - Evento presencial Reconstrução da Educação, no Museu do Ipiranga

No último domingo, mais de 4 milhões de jovens escreveram sobre os “Desafios para valorização da herança africana no Brasil”. O assunto, tema da redação do Enem, é um reforço à implementação de um currículo antirracista, previsto em legislação, mas muito pouco colocado em prática no País. Isso porque uma das justificativas frequentes de escolas e professores é de que a inserção da pauta tomaria o espaço dedicado aos conteúdos cobrados nos vestibulares. Como falar de racismo entre a aula de genética e a de ótica, que serão cobradas no vestibular?

“Agora, você tem a legitimidade institucional da política educacional reconhecendo esse conteúdo como fundamental da formação de todo e qualquer estudante de nível médio no Brasil”, afirma Suelem Benício, consultora de relações ético-raciais na educação e uma das participantes do Meet Point que o Estadão promoveu nesta quarta-feira, 6, para discutir a educação antirracista.

Estadão promove ciclo de debates Reconstrução da Educação; da esquerda para a direita a repórter especial Renata Cafardo, Iracema Nascimento, Regina Scarpa e Suelem Benício. Foto: Felipe Rau/Estadão

A partir do momento em que o racismo “cai no Enem”, a conversa muda de tom. “Fazer a formação de professores com essa nova carta na manga nos reposiciona, nos faz ganhar fôlego para reprocessar os nossos argumentos. Afinal, estamos falando de uma disputa de poder, uma disputa ideológica em relação a uma sociedade que a gente almeja.”

O desafio maior é combater a naturalidade com que o racismo passa despercebido por boa parte da comunidade escolar (professores, famílias e estudantes). “A gente precisa criar uma nova naturalidade. Porque num projeto colonial de 500 anos naturalizou-se a ideia de que pessoas negras e indígenas seriam inferiores”, afirma Iracema Nascimento, que é professora da Faculdade de Educação da USP.

Piadas racistas e sexistas

Combater o racismo passa, muitas vezes, por conscientizar o próprio estudante negro. Iracema conta que no convívio com alunos seus que são docentes de escolas públicas da periferia de São Paulo tem ouvido relatos de que os adolescentes, especialmente meninos, reproduzem piadas racistas e sexistas. “O professor conversa, mas não conseguem convencer o jovem de que está agindo contra ele mesmo.”

O exemplo dá o tom de como a questão é complexa, mas ao mesmo tempo lembra que a escola deve ser exatamente esse lugar de questionamento, em que é possível formar cidadãos críticos e conscientes.

“Existe uma falsa expectativa de professoras e professores estão preparados para tudo. Não estão. Acho que precisam estar preparados para um diálogo honesto e para exercer sua autoridade, não autoritarismo. Sempre os incentivo a não responder certas questões, mas a perguntar porque está dizendo aquilo, onde ouviu, se concorda.”

E quando o racismo acontece?

Trabalhar um currículo antirracista não blinda a escola de situações de racismo. Em abril deste ano, um caso com ampla repercussão foi denunciado pela atriz Samara Felippo. A atriz registrou boletim de ocorrência após sua filha, de 14 anos, ter sido vítima de racismo na Escola Vera Cruz, uma escola de alto padrão em São Paulo. No relato, ela conta que ofensas racistas foram escritas em um dos cadernos da adolescente.

À época debateu-se se as duas alunas que praticaram o ato racista deviam ou não ser expulsas do colégio – o que não aconteceu, mas as famílias acabaram por pedir transferência.

Emblemático, o caso é apenas um dentre os tantos que acontecem rotineiramente nas escolas brasileiras, o que sinaliza a importância de protocolos de enfrentamento.

O que já está em andamento

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC) está elaborando um protocolo de prevenção e resposta ao racismo da educação infantil ao ensino superior. A ideia é que o dispositivo traga recomendações objetivas e claras para precaver bem como os modos de agir em cada caso, o que inclui as punições.

“Um protocolo precisa conter diretrizes que tenham a ver com a compreensão sobre o que é uma educação para as relações étnico-raciais”, afirma Regina Scarpa, diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, onde estudava a filha da atriz Samara Felippo.

Regina entende que as escolas que adotam políticas afirmativas precisam estar dispostas a viver situações de racismo, sob o risco de se renderem à segregação. “Pode ser que tenha reincidência, que a gente precise fazer transferências compulsórias, a depender da situação, mas a gente vai tentar. A gente não quer mostrar que a convivência é impossível.”

Os próximos eventos do Reconstrução da Educação serão:

  • Dia 8/11 - Desinformação e fake news: Como promover uma educação midiática
  • Dia 18/11 - Evento presencial Reconstrução da Educação, no Museu do Ipiranga

No último domingo, mais de 4 milhões de jovens escreveram sobre os “Desafios para valorização da herança africana no Brasil”. O assunto, tema da redação do Enem, é um reforço à implementação de um currículo antirracista, previsto em legislação, mas muito pouco colocado em prática no País. Isso porque uma das justificativas frequentes de escolas e professores é de que a inserção da pauta tomaria o espaço dedicado aos conteúdos cobrados nos vestibulares. Como falar de racismo entre a aula de genética e a de ótica, que serão cobradas no vestibular?

“Agora, você tem a legitimidade institucional da política educacional reconhecendo esse conteúdo como fundamental da formação de todo e qualquer estudante de nível médio no Brasil”, afirma Suelem Benício, consultora de relações ético-raciais na educação e uma das participantes do Meet Point que o Estadão promoveu nesta quarta-feira, 6, para discutir a educação antirracista.

Estadão promove ciclo de debates Reconstrução da Educação; da esquerda para a direita a repórter especial Renata Cafardo, Iracema Nascimento, Regina Scarpa e Suelem Benício. Foto: Felipe Rau/Estadão

A partir do momento em que o racismo “cai no Enem”, a conversa muda de tom. “Fazer a formação de professores com essa nova carta na manga nos reposiciona, nos faz ganhar fôlego para reprocessar os nossos argumentos. Afinal, estamos falando de uma disputa de poder, uma disputa ideológica em relação a uma sociedade que a gente almeja.”

O desafio maior é combater a naturalidade com que o racismo passa despercebido por boa parte da comunidade escolar (professores, famílias e estudantes). “A gente precisa criar uma nova naturalidade. Porque num projeto colonial de 500 anos naturalizou-se a ideia de que pessoas negras e indígenas seriam inferiores”, afirma Iracema Nascimento, que é professora da Faculdade de Educação da USP.

Piadas racistas e sexistas

Combater o racismo passa, muitas vezes, por conscientizar o próprio estudante negro. Iracema conta que no convívio com alunos seus que são docentes de escolas públicas da periferia de São Paulo tem ouvido relatos de que os adolescentes, especialmente meninos, reproduzem piadas racistas e sexistas. “O professor conversa, mas não conseguem convencer o jovem de que está agindo contra ele mesmo.”

O exemplo dá o tom de como a questão é complexa, mas ao mesmo tempo lembra que a escola deve ser exatamente esse lugar de questionamento, em que é possível formar cidadãos críticos e conscientes.

“Existe uma falsa expectativa de professoras e professores estão preparados para tudo. Não estão. Acho que precisam estar preparados para um diálogo honesto e para exercer sua autoridade, não autoritarismo. Sempre os incentivo a não responder certas questões, mas a perguntar porque está dizendo aquilo, onde ouviu, se concorda.”

E quando o racismo acontece?

Trabalhar um currículo antirracista não blinda a escola de situações de racismo. Em abril deste ano, um caso com ampla repercussão foi denunciado pela atriz Samara Felippo. A atriz registrou boletim de ocorrência após sua filha, de 14 anos, ter sido vítima de racismo na Escola Vera Cruz, uma escola de alto padrão em São Paulo. No relato, ela conta que ofensas racistas foram escritas em um dos cadernos da adolescente.

À época debateu-se se as duas alunas que praticaram o ato racista deviam ou não ser expulsas do colégio – o que não aconteceu, mas as famílias acabaram por pedir transferência.

Emblemático, o caso é apenas um dentre os tantos que acontecem rotineiramente nas escolas brasileiras, o que sinaliza a importância de protocolos de enfrentamento.

O que já está em andamento

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC) está elaborando um protocolo de prevenção e resposta ao racismo da educação infantil ao ensino superior. A ideia é que o dispositivo traga recomendações objetivas e claras para precaver bem como os modos de agir em cada caso, o que inclui as punições.

“Um protocolo precisa conter diretrizes que tenham a ver com a compreensão sobre o que é uma educação para as relações étnico-raciais”, afirma Regina Scarpa, diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, onde estudava a filha da atriz Samara Felippo.

Regina entende que as escolas que adotam políticas afirmativas precisam estar dispostas a viver situações de racismo, sob o risco de se renderem à segregação. “Pode ser que tenha reincidência, que a gente precise fazer transferências compulsórias, a depender da situação, mas a gente vai tentar. A gente não quer mostrar que a convivência é impossível.”

Os próximos eventos do Reconstrução da Educação serão:

  • Dia 8/11 - Desinformação e fake news: Como promover uma educação midiática
  • Dia 18/11 - Evento presencial Reconstrução da Educação, no Museu do Ipiranga

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