A reitora da Universidade Harvard, Claudine Gay renunciou nesta terça-feira, 2, em meio à crise de antissemitismo e acusação de plágio. A renúncia de Gay marcou o fim abrupto de um mandato turbulento que começou em julho. Seu período foi o mais curto de qualquer reitora na história de Harvard desde sua fundação em 1636. Ela foi a primeira presidente negra da instituição e a segunda mulher a dirigir a universidade.
“É com pesar no coração, mas com um profundo amor por Harvard, que escrevo para informar que deixarei o cargo de reitora”, escreveu Gay em uma carta.
Gay escreveu que foi uma decisão difícil, mas que “após consultar os membros da Corporação (de Harvard), ficou claro que é do melhor interesse de Harvard que eu renuncie para que nossa comunidade possa navegar neste momento de extraordinário desafio com foco na instituição e não em qualquer indivíduo”.
A decisão foi tomada em um momento tumultuado em Harvard, bem como em universidades de todo os Estados Unidos, já que a guerra entre Israel e Gaza intensifica as divisões, os protestos, as reclamações de intolerância e as preocupações com a segurança no campus.
Gay enfrentou reclamações sobre a forma como lidou inicialmente com essas tensões, e seus comentários durante uma audiência no Congresso em dezembro sobre o antissemitismo nos campi universitários suscitaram críticas intensas. Mas Gay também enfrentou críticas em outra frente, quando surgiram várias alegações de plágio.
Que fala dela gerou uma polêmica sobre antissemitismo?
Em 5 de dezembro - apenas alguns meses depois de assumir o cargo de reitora de Harvard - Gay foi convidada a testemunhar em uma audiência no Congresso sobre o antissemitismo no câmpus após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro.
Desde o ataque e a subsequente repressão de Israel, que resultou na morte de ao menos 18 mil pessoas em Gaza, protestos de ambos os lados tomaram conta dos câmpus universitários, e grupos de vigilância relataram aumento acentuado de incidentes de antissemitismo e islamofobia. Isso levou o governo Joe Biden a ordenar uma investigação das escolas dos Estados Unidos quanto à resposta a esses tipos de incidentes.
A audiência no Congresso, convocada pelo Comitê de Educação e Força de Trabalho da Câmara, liderado pelos republicanos, foi intitulada “Responsabilizando os líderes dos câmpus e enfrentando o antissemitismo”. A presidente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Sally Kornbluth, e a presidente da Universidade da Pensilvânia, Liz Magill, testemunharam com Gay - e, após a audiência, as três foram pressionadas a renunciar.
Durante a audiência, Gay foi questionada pelos legisladores sobre a política de Harvard para lidar com o antissemitismo e como a universidade equilibra isso com seu compromisso com a liberdade de expressão.
Ela argumentou que Harvard respeita o direito à “liberdade de expressão, até mesmo de opiniões que consideramos questionáveis, ultrajantes e ofensivas”, e disse que somente “quando essa expressão se torna uma conduta” é que ela viola as regras da escola. “Não hesitamos em tomar medidas” quando “nossas políticas sobre bullying, assédio, intimidação e ameaças” são violadas, disse ela.
Em conversa que circulou amplamente nas mídias sociais, a deputada Elise Stefanik (R-N.Y.) perguntou: “Em Harvard, pedir o genocídio de judeus viola as regras de bullying e assédio de Harvard, sim ou não?”
“Pode ser, dependendo do contexto”, respondeu Gay.
Vários ex-alunos de Harvard de alto nível, inclusive o bilionário Bill Ackman, gerente de fundos de hedge, pediram a renúncia de Gay. E mais de 70 membros do Congresso assinaram carta pedindo às diretorias de Harvard, Penn e MIT que destituíssem os presidentes.
Adequação em artigos e acusações de plágio
Em outubro, em resposta a perguntas do New York Post sobre sua bolsa de estudos, os funcionários da universidade disseram que Gay pediu à Harvard Corporation que realizasse uma análise independente. Essa investigação, que abrangeu todos os seus trabalhos publicados de 1993 a 2019, não foi conduzida pelas unidades de integridade de pesquisa da universidade ou da Faculdade de Artes e Ciências.
Essa decisão foi tomada para evitar a aparência de um conflito de interesses, de acordo com funcionários da universidade, uma vez que esses escritórios se reportam à reitoria. Um painel de três cientistas políticos não afiliados a Harvard e um subcomitê do conselho analisaram as alegações.
A análise não incluiu a dissertação de Gay de 1997. Mas, perguntas adicionais, incluindo um artigo no Washington Free Beacon e publicações nas mídias sociais do ativista Christopher Rufo e do jornalista Christopher Brunet, em dezembro, levaram a um exame mais minucioso do trabalho dela. O Comitê de Educação e Força de Trabalho da Câmara também iniciou uma investigação sobre as alegações de plágio e solicitou à universidade que apresentasse determinados documentos.
Um guia de Harvard para estudantes define “plágio” de forma ampla. “Quando você não cita suas fontes, ou quando as cita de forma inadequada, você está plagiando, o que é levado extremamente a sério em Harvard”, diz o guia. “O plágio é definido como o ato de enviar, intencionalmente ou não, um trabalho que foi escrito por outra pessoa.”
Mas nem todos os casos de plágio em potencial são iguais, principalmente quando não refletem nenhuma intenção de enganar, disseram alguns acadêmicos.
A dissertação de 1997 de Gay, segundo o Free Beacon, “pegou emprestado” dois parágrafos de um artigo de conferência de 1996 de Bradley Palmquist, que na época era professor de ciências políticas em Harvard, e Stephen Voss, cientista político da Universidade de Kentucky que participou do programa de doutorado de Gay em Harvard.
Em uma entrevista, Voss chamou o uso de seu trabalho por Gay, que envolveu a alteração de apenas algumas palavras, de “tecnicamente plágio”. Mas disse que o considerava “bastante benigno”, principalmente porque os parágrafos em questão envolviam uma descrição técnica.
Quem é Claudine Gay?
Gay estudou economia na Universidade de Stanford e obteve seu PhD em governo em Harvard em 1998. Enquanto estava em Harvard, ela recebeu uma distinção pela melhor dissertação em ciência política, de acordo com sua biografia oficial.
Após seus estudos, Gay lecionou em Stanford de 2000 a 2006. Ela entrou para o corpo docente de Harvard em 2006 e lecionou governo e estudos africanos e afro-americanos. Em 2018, foi nomeada Reitora da Família Edgerley da Faculdade de Artes e Ciências de Harvard.
De acordo com a escola, Gay, cujos pais imigraram do Haiti para os Estados Unidos, concentrou sua pesquisa nas relações raciais e tornou-se especialista na convergência de raça e política. Em 2017, ela fundou a Inequality in America Initiative em Harvard, que busca combater a desigualdade social e econômica por meio de pesquisa e defesa. / COM THE WASHINGTON POST E THE NEW YORK TIMES
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