A semana começou com uma mulher favorita ao cargo de ministra da Educação, algo inédito no Brasil, e terminou com seu antigo chefe quase dono do posto. Entristece ver a política, mais que o machismo neste caso, tirar o lugar de uma mulher competente. Mas Lula não vai ficar livre das corretas cobranças sobre gênero se anunciar mesmo Camilo Santana (PT) em vez de Izolda Cela no Ministério da Educação (MEC).
Até agora, há só uma ministra, Margareth Menezes, da Cultura. Esperava-se mais anúncios semana passada, mas só com machos no páreo ia ser difícil fazer uma foto representativa. Tem ainda Arthur Lira embolando as decisões do ministério. Quem sabe Lula encontra outras mulheres para anunciar com o ex-governador e causar melhor impressão.
Mesmo sem uma história ligada à educação, Camilo foi duas vezes governador do Estado referência na área e continuou uma política educacional de sucesso, iniciada há 20 anos. Política essa que foi criada por Izolda, quando era secretária municipal de Sobral. Em seguida, na Educação do Estado, com Cid Gomes (PDT), ela ampliou a ideia para um sistema exemplar de ajuda aos municípios, que fez o ensino no Ceará todo crescer junto. O Brasil viu o Estado tomar o primeiro lugar dos rankings de avaliações, deixando ricos do Sul e Sudeste correndo atrás. Não sem o descontentamento de uma parte da academia, que enxerga um modelo voltado para resultados em provas e não para formação crítica.
Com a aliança entre PT e PDT, Camilo tornou Izolda sua vice ao se candidatar a governador em 2014. Foi depois reeleito e este ano a deixou como governadora para tentar o Senado. Novamente vitorioso, não deve assumir porque prefere os voos mais altos do MEC.
A educação é um dos serviços públicos mais próximos do cidadão, quase toda família tem uma criança de 4 a 17 anos na escola, ou menores na creche, maiores na universidade. O ministério é um dos grandes orçamentos do governo. Uma gestão de sucesso traz visibilidade para um PT que precisa de quadros para 2026.
Mas o desafio é enorme em um País que já aviltava suas crianças e ficou anos sob Bolsonaro e pandemia. Tem o Enem para ser repensado, programas destruídos, universidades ávidas por recursos. É compreensível que o petista Camilo seja preferido, é o jogo político, Izolda está sem partido depois de uma vida no PDT. Mas o novo ministro precisa ser rápido em reconstruir o MEC, com o ano letivo batendo à porta. A decisão de Lula já passou da hora; o escolhido precisa esquecer a política e se voltar logo para a educação.