Depois do lindo, e amplamente usado durante a pandemia, #vivasus, deveríamos instituir o #vivasne. Quem sabe se começar a aparecer no Instagram de influenciadores a educação brasileira tenha chance de ser menos desigual. Somos um dos países do mundo em que mais acontece o que deveria ser combatido: crianças pobres, que vivem em casas sem livros e com pais que estudaram menos estão nas escolas com professores de pior formação e estrutura ruim.
O Sistema Nacional de Educação, cuja sigla é SNE, aprovado na semana passada no Senado, tem como principal objetivo justamente garantir a educação pública para todos, com a mesma qualidade. Ele vai agora à Câmara e tem a torcida de educadores para que a nova votação seja rápida. Com o SNE, Estados, municípios e União passam a colaborar obrigatoriamente entre eles para evitar desperdícios de dinheiro e ainda fortalecer e disseminar o que dá certo.
Voltando ao paralelo com a saúde, a pandemia é um exemplo fácil de entender. Houve redes municipais e estaduais de ensino que ofereceram ensino online, que mobilizaram professores para buscar alunos sumidos, que equiparam escolas para voltar assim que possível ao presencial. Outras, não fizeram quase nada. Por outro lado, todas as cidades e Estados do País receberam a vacina contra covid dada pelo SUS. Não precisou o prefeito encontrar dinheiro ou tecnologia para conseguir suas doses.
Mesmo com os desmandos do governo Bolsonaro, o pacto já estava dado há muito tempo. Quando o governo federal enfim decidisse comprar a vacina, seria de todos os brasileiros. A estrutura dessa colaboração que existe há anos na saúde ajudou a imunização a chegar mais rápido e com eficiência a todos os lugares. Já o Ministério da Educação (MEC), com seu titular preocupado com disciplina militar e homossexuais, não ofereceu qualquer ajuda às escolas durante a crise sanitária.
Com o SNE em prática, a função de cada ente federativo fica mais clara e não dá para o MEC tirar o corpo fora só porque as escolas são estaduais e municipais. Países que já têm sistemas de educação semelhantes possuem conselhos nacionais que decidem sobre formação de professores, avaliação, currículo, estipulando padrões para todas as escolas.
Nos últimos dois anos, Estados e municípios se ajudaram e foi o que garantiu que não tivéssemos um desastre maior durante a pandemia. Mesmo assim, a aprendizagem regrediu uma década e precisa agora ser recuperada de maneira igual, para todos.
RENATA CAFARDO É REPÓRTER ESPECIAL DO ESTADÃO E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)