Mesmo nessa disputa cheia de baixarias que se tornou a campanha eleitoral em São Paulo, invariavelmente os candidatos são questionados sobre educação. E as respostas são quase sempre de dois tipos: genéricas, que falam da tão óbvia importância da melhoria da educação, mas sem dizer como e com que dinheiro; ou absurdas, citando falácias que nem interlocutores nem eleitores estão preparados para rebater.
Uma delas foi quando Pablo Marçal (PRTB) afirmou que nos Estados Unidos não se aprende Geografia e, por isso, ele achava que podia ser dispensável por aqui também. As diretrizes nacionais curriculares americanas são estruturadas com foco em Inglês e Matemática, mas a Geografia está presente, sim, nos currículos dos Estados - Califórnia, Flórida e Nova York são alguns exemplos.
E, mesmo que fosse verdade, obviamente a ideia seria de uma irresponsabilidade gigantesca em tempos de crise climática. A Geografia não serve só para decorar tipos de relevo, é na disciplina que os estudantes aprendem sobre aquecimento global e os impactos do homem na natureza, que têm levado a eventos extremos e tragédias.
A questão é que o brasileiro em geral sabe pouco o que acontece nas escolas públicas, apesar das pesquisas mostrarem que “uma educação melhor para os filhos” está entre os maiores sonhos das pessoas de baixa renda. Elas, no entanto, “não sabem como conseguir isso, não têm elementos para avaliar”, explica Maurício de Almeida Prado, o diretor executivo do Plano CDE, uma empresa de pesquisa especializada em classes populares.
No 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado na semana passada em São Paulo, ele falou de como as pesquisas mostram o grande distanciamento da população com relação à escola dos filhos.
Trabalhadores braçais dificilmente conseguem o direito de deixar o emprego em algum momento do dia para estar presente em reuniões com os professores das crianças, como se permite à classe alta. Muitas vezes ainda, eles têm vergonha de participar porque sentem que não entendem o que é explicado, conta o pesquisador.
O painel do evento tinha um título sugestivo: Educação dá voto? A resposta só será “sim”, quando, de fato, o direito à educação de qualidade for assegurado no País. E a população pobre - que é a maioria do eleitorado - puder deixar de se contentar com escolas simplesmente livres do tráfico. Atualmente, as pesquisas mostram que segurança é um dos itens principais para se avaliar bem uma escola entre as famílias.
Melhorias menos tangíveis, como professores bem formados e valorizados, projeto pedagógico que realmente não deixa nenhum aluno para trás, acolhimento que faça a criança e o adolescente terem vontade de aprender, são mais difíceis de perceber do que vaga na creche e merenda na mesa.
Sim, há sempre os exemplos das cidades nordestinas, como Sobral, que elegem e reelegem quem fez a educação disparar em rankings nota 10, fáceis de compreender. Mas também o envolvimento e a proximidade das famílias com a escola é maior nos municípios pequenos ou rurais.
Já nos grandes centros urbanos, o que continua dando voto mesmo, infelizmente, é asfalto e polícia na rua (mesmo sendo a segurança de responsabilidade estadual).