Duas histórias recentes em escolas da capital paulista levantam a discussão sobre a missão de educar, já extremamente desafiadora no mundo atual, com suas rápidas transformações tecnológicas e imensidão de informações. Junta-se a isso o contexto de um ano eleitoral no País e a polarização que se exacerba. E, para finalizar, os anos em casa durante a pandemia completam um quadro composto de crianças e adolescentes menos preparados para as relações sociais. No Colégio Bandeirantes, berço tradicional da elite paulistana, um aluno do ensino médio horrorizou colegas e professores ao fazer uma postagem com alusão ao nazismo em um grupo da sala. Estudantes diziam saber de quem se tratava porque não era a primeira vez em que ele mostrava simpatia à suástica, acusaram um dos meninos, que negou inicialmente, mas depois confirmou ser o autor. Pediu desculpas e disse não ser nazista.
Pais (muitos deles judeus) reclamam que a escola deveria ter feito algo que impedisse o aluno de repetir tais comportamentos. Conversas e mais conversas dos orientadores com os estudantes começaram e vão continuar na sala para que os adolescentes consigam conviver melhor. E para aquele que violou a lei e os direitos humanos, qual o papel da educação agora? Punir ou “trabalhar a questão”? Já na Avenues, a escola internacional que ganhou fama por ter mensalidade de R$ 10 mil, durante uma palestra, um aluno reclamou do que dizia a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara. Levou uma bronca pesada do professor. Ambos, despreparados para o debate com ideias divergentes.
O aluno era contra a reforma agrária e foi hostil ao pedir que Sonia “melhorasse”. O professor o humilhou ao considerar que ele nada sabia por se tratar de um adolescente e enumerou seus próprios títulos. Defensores do movimento Escola sem Partido atacaram o professor alegando que ele estaria querendo “impor uma ideologia”. A carta da Avenues para os pais – alguns ameaçam tirar os filhos porque discordam de dar espaço a Sonia em evento do colégio – diz o essencial: “ensinamos os alunos como pensar, e não o que pensar”. Para se formar caráter, ter equilíbrio mental, flexibilidade, empatia, pensamento crítico e colaboração, habilidades que mais importarão quando esses adolescentes forem adultos, é preciso ser exposto ao diferente, ouvir, refletir. Como diz Yuval Noah Harari em 21 Lições para o Século 21,“a última coisa que um professor precisa dar a seus alunos é informação”.