Só neste semestre o Estado do Pará passou a servir açaí - com farinha e uma proteína, como é típico da região - nas escolas públicas. É quase inacreditável que o alimento mais produzido e consumido pelas famílias locais não fizesse parte da merenda oferecida na rede de ensino.
Crianças chegavam a levar seu próprio saquinho de açaí para a escola, tamanho era o costume. A gestão atual mudou as regras, buscou fornecedores e agora compra o produto da agricultura familiar, que além de fortalecer a ligação da educação com a cultura local, ainda ajuda os pais dos alunos em seu meio de sobrevivência.
De quebra, o açaí é super saudável, rico em muitos nutrientes (e lá ninguém come com açúcar e granola, como no Sudeste).
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A história é uma forma de entender como muitas vezes a educação ainda negligencia a política alimentar nas escolas, algo que é tão básico e essencial para a aprendizagem que já deveria estar superado há tempos.
Pesquisa feita com pais e mães de escolas públicas do País mostra que 46% dos que vivem na Região Norte acham que a merenda é regular, ruim ou péssima; no Nordeste, são 47% e no Sudeste, 27%. O levantamento foi encomendado ao Datafolha pelo Itaú Social, Fundação Lemann e Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Ele indica ainda que 53% das famílias brasileiras que recebem até 2,5 salários mínimos dizem que têm menos comida em casa do que seria suficiente para alimentar seus filhos. O lanche e o almoço da escola são mais que garantia de aprendizagem, são o direito humano dessas crianças e adolescentes de se alimentarem.
A relação pode não parecer imediata, mas uma das formas de fazer valer esse direito é a escola em tempo integral. Além dos seus inúmeros benefícios já comprovados em pesquisas - redução das desigualdades, mais conexão com a escola, maiores salários para os formados, menor taxa de homicídios de jovens - o tempo estendido faz com que o estudante coma várias vezes ao dia.
Hoje o Brasil tem apenas 21,9% dos alunos estudando o dia todo nas escolas, número que deve aumentar com novos incentivos do Ministério da Educação (MEC). Mas nos países desenvolvidos, o que aqui chamamos de tempo integral (7 horas de aula), chama-se simplesmente escola. E, claro, com ao menos três refeições diárias.
Para que qualquer outra política educacional dê certo, se queremos as crianças aprendendo a ler e a escrever na idade certa, apreciando as maravilhas da Matemática, da Ciência ou da História, buscando suas vocações e sonhos, é preciso começar garantindo o básico. Que elas estejam mais tempo na escola e bem alimentadas.