Jogar videogame ou assistir a vídeos do YouTube com os pais pode ajudar as crianças a aprender mais, mostram diversas pesquisas. Em vez de apenas controlar o tempo que os filhos passam diante do celular, estudiosos têm chamado a atenção para a importância do “engajamento conjunto com a mídia”. Não que seja algo fácil; muitos pais justamente deixam os filhos no celular ou na TV quando não têm tempo para estar com eles.
O conceito, traduzido de “joint media engagement (JME)”, em inglês, foi cunhado por um consórcio de pesquisadores das universidades de Stanford, Northwestern, Washington e Colorado Boulder, nos Estados Unidos. A ideia é a de que atividades como assistir, jogar e pesquisar na internet com a mediação dos pais ou mães fazem as experiências com tecnologias serem mais significativas para as crianças.
De acordo com as pesquisas, o engajamento conjunto pode ajudar na alfabetização, especialmente em habilidades básicas de leitura, em conhecimento cultural, científico e em educação midiática, que é a habilidade de usar criticamente as novas mídias.
Uma das mais antigas evidências sobre esse benefício é o programa Vila Sésamo, que teve uma versão brasileira nos anos 1970, mas que o original está no ar até hoje nos Estados Unidos. O programa foi pioneiro em juntar educação e entretenimento, com consultoria de educadores renomados.
As histórias eram pensadas de uma forma que divertissem e ajudassem também as crianças a se alfabetizar ou a aprender matemática. Pesquisas subsequentes mostraram que os telespectadores cujos pais assistiam aos programas com eles foram mais beneficiados, especialmente os de nível socioeconômico mais baixo.
A presença dos adultos não apenas é essencial para monitorar conteúdos inapropriados, mas também para criar oportunidades de conversas e interações, responder dúvidas, compartilhar perspectivas e valores, acolher sentimentos, valorizar desempenho e incentivar a criação de projetos, dizem os pesquisadores.
Além disso, é uma “oportunidade valiosa para os adultos saírem de papéis típicos autoritários ou de mentoria, permitindo que as crianças liderem a atividade” já que muitas vezes elas sabem usar a tecnologia melhor que os pais, afirma um dos estudos. Essa mudança momentânea de posições pode fortalecer vínculos e trazer mais segurança para os filhos.
Mas o desafio é que os pais e mães estão cada vez mais ocupados, com trabalho fora ou dentro de casa, com preocupações da vida adulta, online e offline. Ou preferem - e têm todo o direito - usar seu tempo de telas com conteúdo que os interessa, bem diferente do que escolheriam as crianças e adolescentes.
Uma das soluções, dizem cientistas, é que conteúdos e plataformas digitais fossem criados pensando nesse engajamento conjunto, sugerindo interações, projetos, incluindo pais e filhos. Enquanto isso está longe de ser realidade, famílias podem tentar encontrar juntas algo que gostem em comum. Tornar ao menos alguns desses momentos de uso de mídias uma experiência mais significativa já será um grande avanço.