Instituições, sistemas e indicadores da educação superior, da ciência e da tecnologia no Brasil e no mundo

Microcredenciais, Universidades e Empregabiidade -- Missão Complementar ou Substitutiva? Como Pensam os Especialistas Internacionais


Por roberto-lobo

Microcredenciais, Universidades e Empregabiidade - Missão

Complementar ou Substitutiva? Como Pensam os

Especialistas Internacionais

continua após a publicidade

Roberto Lobo  30 de outubro de 2024

Há poucos dias escrevi o artigo "Ensino Superior, Universidades e

Empregabilidade - As Missões da Educação Superior" e entendo

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que este novo artigo complementa o primeiro.

O tema empregabilidade e o ensino superior também foi tema de outro artigo, de

Simon Marginson "Empregabilidade: uma crise existencial do ensino superior"

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de outubro de 2023, publicado pela Global, parte do qual traduzi livremente. O

foco do estudo é a empregabilidade e a equidade. Não necessariamente a

qualidade da educação superior em seu amplo espectro.

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Seguem alguns trechos elucidativos e que devem gerar nos formadores de

políticas para a educação, pelo menos, uma ampla reflexão:

Recentemente, Dirk Van Damme, ex-chefe do Centro de Pesquisa e

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Inovação Educacional da Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE), questionou a expansão do ensino

superior internacionalmente.

continua após a publicidade

"Há sinais prementes de que altos níveis de conclusão universitária não

têm apenas efeitos positivos nas sociedades e economias", afirmou Van

Damme, observando "subemprego de graduados, superqualificação,

incompatibilidades e efeitos de substituição". Mais promissor, disse ele, é

"o interesse em rápida expansão em programas curtos e certificações não

tradicionais, como microcredenciais".

O colega de Van Damme na OCDE, Andreas Schleicher, diretor da OCDE

para educação e habilidades, concorda. As microcredenciais "dão aos

empregadores melhores sinais do que as pessoas sabem e podem fazer",

argumentou ele em Londres em março de 2023, comparando-as

novamente, e favoravelmente, com as universidades. Para as

universidades, a vida é "realmente muito confortável", disse ele. "Você

agrupa conteúdo, entrega, credenciamento - você pode obter um bom

retorno pelo monopólio."

Mudar para microcredenciais significaria que o status do provedor não

importa mais. Parece que as microcredenciais são o novo caminho para

a equidade. É difícil acreditar que combinar diplomas para a classe média

com microcredenciais para as massas criará equidade social, mas há

evidências crescentes de que os formuladores de políticas com inclinação

econômica estão perdendo a paciência com o ensino superior como o

conhecemos.

Na Austrália, o governo nacional pede "graduados prontos para o

trabalho" e financiou o desenvolvimento de programas que levam a

microcredenciais. Em cada caso, o diagnóstico do problema e a solução

2

são os mesmos. O ensino superior deve ser principal (ou exclusivamente)

e diretamente vocacional. A ideia de "graduados prontos para o trabalho"

resume isso.

Mas o ensino superior não é adequado para esse propósito específico. A

preparação para o trabalho é uma de suas missões, mas nunca foi a

missão principal. Menos ainda é a única missão.

O ensino superior não é principalmente a formação de graduados

"empregáveis". É a formação cultural de pessoas por meio da imersão no

conhecimento baseado em disciplinas. Os alunos são formados - ou

melhor, se formam - por meio de aprendizado profundo em vários campos

acadêmicos e profissionais. É o conhecimento, não a empregabilidade,

que unifica o ensino superior."

Missões intrínsecas e extrínsecas

O ensino superior tem múltiplas missões, como Clark Kerr argumentou ao rotular

as universidades como "multiversidades".

Existem dois tipos de missões: missões intrínsecas e missões

extrínsecas.

As missões intrínsecas - o núcleo clássico do ensino superior - são a

educação dos alunos e a transmissão, criação e disseminação de

conhecimento. Essas missões moldam a organização interna do setor. O

ensino, a aprendizagem e a pesquisa são baseadas em disciplinas

epistêmicas, programas de estudo e departamentos, ou escolas.

Para Marginson, qualquer educação digna desse nome deve sempre

contribuir para processos de subjetivação que permitam que os formados

se tornem mais autônomos e independentes em seu pensar e agir. Desta

forma, o ensino superior prepara os alunos para toda a vida, incluindo o

trabalho.

O ensino superior também tem missões extrínsecas, que realiza em

parceria com outros setores sociais, incluindo governo, empregadores,

profissões liberais e comunidades locais.

No entanto, a política econômica geralmente se concentra apenas na

preparação extrínseca para o trabalho, como se as outras missões não

existissem. As microcredenciais reduzem o ensino superior à qualificação

e dividem-no em fragmentos."

Educação e Trabalho

Quando o foco é a empregabilidade e a educação segue como um reboque, o

que esperar do ensino superior?

Se a política econômica se propusesse a projetar o ensino superior desde

o início focado apenas em graduados empregáveis, ela não usaria a

formação cultural, o conhecimento acadêmico e o nexo ensino-pesquisa

como blocos de construção. Mas as sociedades querem mais do ensino

superior.

3

Estudos constatam repetidamente que a maioria dos alunos tem múltiplos

objetivos no ensino superior. Eles querem desenvolvimento pessoal,

imersão em conhecimento disciplinar e empregos de pós-graduação: não

é um ou outro.

O ensino superior e o trabalho são mais bem entendidos como fracamente

acoplados. A relação entre ensino superior e trabalho não é um fluxo

linear. Pressionar a educação e o trabalho em um único processo - seja

tratando-os como essencialmente iguais, ou subordinando um ao outro -

é violar o trabalho ou o ensino superior.

Não há prêmios para adivinhar qual é mais vulnerável.

Uma crise existencial emergente

Como as relações de trabalho impactam a educação superior e que soluções

são mais adotadas?

Abriu-se um abismo entre a função educacional intrínseca e as

expectativas vocacionais da política e da mídia. Não seria necessário

posicionar a educação intrínseca como sendo conflitante com a

contribuição extrínseca.

Mas os formuladores de políticas na Austrália e no Reino Unido, bem

como em alguns outros países, estão fazendo tentativas firmes de instalar

a missão extrínseca de preparação para o trabalho, não ao lado, mas no

lugar da missão educacional intrínseca.

A empregabilidade está se incorporando ao ensino superior de massa

com considerável autoridade moral. Todo mundo quer um emprego e o

trabalho é visto como um direito humano. No entanto, o ensino superior

não é muito eficaz na preparação direta para o trabalho e não pode criar

empregos - e o mantra da empregabilidade bloqueia a visão de sua

missão educacional central, que é a autoformação do aluno por meio da

imersão no conhecimento."

Em artigo recente, Malcolm Tight, "Empregabilidade: um papel central do

ensino superior", o professor e escritor inglês, autor de vários livros sobre

tema como "Academic Freedom and Responsability", também abordou o

tema da empregabilidade.

"Este estudo sobre empregabilidade no ensino superior colocou em

discussão o atual no contexto de debates de longo prazo sobre os

propósitos e valores do ensino superior. A crescente ênfase nas iniciativas

de empregabilidade enfatiza os propósitos vocacionais do ensino superior,

vendo-o como pouco mais do que uma preparação final para uma vida

inteira de trabalho produtivo.

4

Embora seja ingênuo argumentar, em contraste, que o papel principal do

ensino superior é o desenvolvimento do pensador individual dentro de

uma perspectiva disciplinar, uma abordagem mais equilibrada é

certamente possível e desejável. É verdade que a maioria dos programas

de ensino superior está preparando os estudantes para funções

vocacionais ou profissionais específicas ou genéricas. No entanto, esses

programas, e a experiência do ensino superior como um todo, também

visam fazer muito mais, e esse objetivo não deve ser perdido pelo foco

contemporâneo na empregabilidade dos graduados.

Este argumento recebe maior peso pelas evidências de pesquisa que

mostram que:

- Não existe um consenso sobre quais as competências de

empregabilidade mais importantes;

- Não há evidências convincentes de que as iniciativas de

empregabilidade realmente funcionem, além do que o ensino superior já

faz; e

- Muitos empregadores continuam satisfeitos com a qualidade dos

graduados que empregam ou não estão dispostos a se envolver com o

ensino superior em iniciativas de empregabilidade."

Talvez seja hora de revisar o sistema de ensino superior e suas interseções com

o mundo do trabalho.

Sem desvalorizar a importância da universidade de pesquisa, que precisa ser

sempre mantida e apoiada, é preciso encontrar outros caminhos que atendam

às "demandas explícitas" mais baratas e mais objetivas para o mundo do

trabalho.

Novamente, defendo que não pode haver um modelo único para o que se chama

de Universidade no Brasil, assim como uma maior pluralidade de missões e até

mesmo de estruturas institucionais, que não seja, necessariamente

universidades, pois a rigor, constitucionalmente, nossas universidades seguem

o modelo (cada vez mais restritivo diante da realidade) de universidades de

pesquisa, o que não é atendido, na prática, o que se desejava da universidade

pela grande maioria dessas instituições brasileiras.

Seria mais coerente ampliar a oferta do ensino superior, incentivando formações

paralelas e incorporando novas tecnologias na EaD, o potencial da Inteligência

artificial para ajudar no aprendizado, reforçando e fortalecendo os dois

caminhos, e não a escolha de um em detrimento do outro: a formação

universitária tradicional formando pesquisadores e profissionais com boa base

científica e cultural e a formação imediata, mais curta e objetiva, para o trabalho

pelas microcompetências, estimulando, paralelamente, o ensino técnico no nível

médio e incorporando-o na trajetória formativa de estudantes que tenham esta

vocação.

*Roberto Lobo é PhD em física pela Purdue University, foi reitor da USP e é

presidente do Instituto Lobo

 

Microcredenciais, Universidades e Empregabiidade - Missão

Complementar ou Substitutiva? Como Pensam os

Especialistas Internacionais

Roberto Lobo  30 de outubro de 2024

Há poucos dias escrevi o artigo "Ensino Superior, Universidades e

Empregabilidade - As Missões da Educação Superior" e entendo

que este novo artigo complementa o primeiro.

O tema empregabilidade e o ensino superior também foi tema de outro artigo, de

Simon Marginson "Empregabilidade: uma crise existencial do ensino superior"

de outubro de 2023, publicado pela Global, parte do qual traduzi livremente. O

foco do estudo é a empregabilidade e a equidade. Não necessariamente a

qualidade da educação superior em seu amplo espectro.

Seguem alguns trechos elucidativos e que devem gerar nos formadores de

políticas para a educação, pelo menos, uma ampla reflexão:

Recentemente, Dirk Van Damme, ex-chefe do Centro de Pesquisa e

Inovação Educacional da Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE), questionou a expansão do ensino

superior internacionalmente.

"Há sinais prementes de que altos níveis de conclusão universitária não

têm apenas efeitos positivos nas sociedades e economias", afirmou Van

Damme, observando "subemprego de graduados, superqualificação,

incompatibilidades e efeitos de substituição". Mais promissor, disse ele, é

"o interesse em rápida expansão em programas curtos e certificações não

tradicionais, como microcredenciais".

O colega de Van Damme na OCDE, Andreas Schleicher, diretor da OCDE

para educação e habilidades, concorda. As microcredenciais "dão aos

empregadores melhores sinais do que as pessoas sabem e podem fazer",

argumentou ele em Londres em março de 2023, comparando-as

novamente, e favoravelmente, com as universidades. Para as

universidades, a vida é "realmente muito confortável", disse ele. "Você

agrupa conteúdo, entrega, credenciamento - você pode obter um bom

retorno pelo monopólio."

Mudar para microcredenciais significaria que o status do provedor não

importa mais. Parece que as microcredenciais são o novo caminho para

a equidade. É difícil acreditar que combinar diplomas para a classe média

com microcredenciais para as massas criará equidade social, mas há

evidências crescentes de que os formuladores de políticas com inclinação

econômica estão perdendo a paciência com o ensino superior como o

conhecemos.

Na Austrália, o governo nacional pede "graduados prontos para o

trabalho" e financiou o desenvolvimento de programas que levam a

microcredenciais. Em cada caso, o diagnóstico do problema e a solução

2

são os mesmos. O ensino superior deve ser principal (ou exclusivamente)

e diretamente vocacional. A ideia de "graduados prontos para o trabalho"

resume isso.

Mas o ensino superior não é adequado para esse propósito específico. A

preparação para o trabalho é uma de suas missões, mas nunca foi a

missão principal. Menos ainda é a única missão.

O ensino superior não é principalmente a formação de graduados

"empregáveis". É a formação cultural de pessoas por meio da imersão no

conhecimento baseado em disciplinas. Os alunos são formados - ou

melhor, se formam - por meio de aprendizado profundo em vários campos

acadêmicos e profissionais. É o conhecimento, não a empregabilidade,

que unifica o ensino superior."

Missões intrínsecas e extrínsecas

O ensino superior tem múltiplas missões, como Clark Kerr argumentou ao rotular

as universidades como "multiversidades".

Existem dois tipos de missões: missões intrínsecas e missões

extrínsecas.

As missões intrínsecas - o núcleo clássico do ensino superior - são a

educação dos alunos e a transmissão, criação e disseminação de

conhecimento. Essas missões moldam a organização interna do setor. O

ensino, a aprendizagem e a pesquisa são baseadas em disciplinas

epistêmicas, programas de estudo e departamentos, ou escolas.

Para Marginson, qualquer educação digna desse nome deve sempre

contribuir para processos de subjetivação que permitam que os formados

se tornem mais autônomos e independentes em seu pensar e agir. Desta

forma, o ensino superior prepara os alunos para toda a vida, incluindo o

trabalho.

O ensino superior também tem missões extrínsecas, que realiza em

parceria com outros setores sociais, incluindo governo, empregadores,

profissões liberais e comunidades locais.

No entanto, a política econômica geralmente se concentra apenas na

preparação extrínseca para o trabalho, como se as outras missões não

existissem. As microcredenciais reduzem o ensino superior à qualificação

e dividem-no em fragmentos."

Educação e Trabalho

Quando o foco é a empregabilidade e a educação segue como um reboque, o

que esperar do ensino superior?

Se a política econômica se propusesse a projetar o ensino superior desde

o início focado apenas em graduados empregáveis, ela não usaria a

formação cultural, o conhecimento acadêmico e o nexo ensino-pesquisa

como blocos de construção. Mas as sociedades querem mais do ensino

superior.

3

Estudos constatam repetidamente que a maioria dos alunos tem múltiplos

objetivos no ensino superior. Eles querem desenvolvimento pessoal,

imersão em conhecimento disciplinar e empregos de pós-graduação: não

é um ou outro.

O ensino superior e o trabalho são mais bem entendidos como fracamente

acoplados. A relação entre ensino superior e trabalho não é um fluxo

linear. Pressionar a educação e o trabalho em um único processo - seja

tratando-os como essencialmente iguais, ou subordinando um ao outro -

é violar o trabalho ou o ensino superior.

Não há prêmios para adivinhar qual é mais vulnerável.

Uma crise existencial emergente

Como as relações de trabalho impactam a educação superior e que soluções

são mais adotadas?

Abriu-se um abismo entre a função educacional intrínseca e as

expectativas vocacionais da política e da mídia. Não seria necessário

posicionar a educação intrínseca como sendo conflitante com a

contribuição extrínseca.

Mas os formuladores de políticas na Austrália e no Reino Unido, bem

como em alguns outros países, estão fazendo tentativas firmes de instalar

a missão extrínseca de preparação para o trabalho, não ao lado, mas no

lugar da missão educacional intrínseca.

A empregabilidade está se incorporando ao ensino superior de massa

com considerável autoridade moral. Todo mundo quer um emprego e o

trabalho é visto como um direito humano. No entanto, o ensino superior

não é muito eficaz na preparação direta para o trabalho e não pode criar

empregos - e o mantra da empregabilidade bloqueia a visão de sua

missão educacional central, que é a autoformação do aluno por meio da

imersão no conhecimento."

Em artigo recente, Malcolm Tight, "Empregabilidade: um papel central do

ensino superior", o professor e escritor inglês, autor de vários livros sobre

tema como "Academic Freedom and Responsability", também abordou o

tema da empregabilidade.

"Este estudo sobre empregabilidade no ensino superior colocou em

discussão o atual no contexto de debates de longo prazo sobre os

propósitos e valores do ensino superior. A crescente ênfase nas iniciativas

de empregabilidade enfatiza os propósitos vocacionais do ensino superior,

vendo-o como pouco mais do que uma preparação final para uma vida

inteira de trabalho produtivo.

4

Embora seja ingênuo argumentar, em contraste, que o papel principal do

ensino superior é o desenvolvimento do pensador individual dentro de

uma perspectiva disciplinar, uma abordagem mais equilibrada é

certamente possível e desejável. É verdade que a maioria dos programas

de ensino superior está preparando os estudantes para funções

vocacionais ou profissionais específicas ou genéricas. No entanto, esses

programas, e a experiência do ensino superior como um todo, também

visam fazer muito mais, e esse objetivo não deve ser perdido pelo foco

contemporâneo na empregabilidade dos graduados.

Este argumento recebe maior peso pelas evidências de pesquisa que

mostram que:

- Não existe um consenso sobre quais as competências de

empregabilidade mais importantes;

- Não há evidências convincentes de que as iniciativas de

empregabilidade realmente funcionem, além do que o ensino superior já

faz; e

- Muitos empregadores continuam satisfeitos com a qualidade dos

graduados que empregam ou não estão dispostos a se envolver com o

ensino superior em iniciativas de empregabilidade."

Talvez seja hora de revisar o sistema de ensino superior e suas interseções com

o mundo do trabalho.

Sem desvalorizar a importância da universidade de pesquisa, que precisa ser

sempre mantida e apoiada, é preciso encontrar outros caminhos que atendam

às "demandas explícitas" mais baratas e mais objetivas para o mundo do

trabalho.

Novamente, defendo que não pode haver um modelo único para o que se chama

de Universidade no Brasil, assim como uma maior pluralidade de missões e até

mesmo de estruturas institucionais, que não seja, necessariamente

universidades, pois a rigor, constitucionalmente, nossas universidades seguem

o modelo (cada vez mais restritivo diante da realidade) de universidades de

pesquisa, o que não é atendido, na prática, o que se desejava da universidade

pela grande maioria dessas instituições brasileiras.

Seria mais coerente ampliar a oferta do ensino superior, incentivando formações

paralelas e incorporando novas tecnologias na EaD, o potencial da Inteligência

artificial para ajudar no aprendizado, reforçando e fortalecendo os dois

caminhos, e não a escolha de um em detrimento do outro: a formação

universitária tradicional formando pesquisadores e profissionais com boa base

científica e cultural e a formação imediata, mais curta e objetiva, para o trabalho

pelas microcompetências, estimulando, paralelamente, o ensino técnico no nível

médio e incorporando-o na trajetória formativa de estudantes que tenham esta

vocação.

*Roberto Lobo é PhD em física pela Purdue University, foi reitor da USP e é

presidente do Instituto Lobo

 

Microcredenciais, Universidades e Empregabiidade - Missão

Complementar ou Substitutiva? Como Pensam os

Especialistas Internacionais

Roberto Lobo  30 de outubro de 2024

Há poucos dias escrevi o artigo "Ensino Superior, Universidades e

Empregabilidade - As Missões da Educação Superior" e entendo

que este novo artigo complementa o primeiro.

O tema empregabilidade e o ensino superior também foi tema de outro artigo, de

Simon Marginson "Empregabilidade: uma crise existencial do ensino superior"

de outubro de 2023, publicado pela Global, parte do qual traduzi livremente. O

foco do estudo é a empregabilidade e a equidade. Não necessariamente a

qualidade da educação superior em seu amplo espectro.

Seguem alguns trechos elucidativos e que devem gerar nos formadores de

políticas para a educação, pelo menos, uma ampla reflexão:

Recentemente, Dirk Van Damme, ex-chefe do Centro de Pesquisa e

Inovação Educacional da Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE), questionou a expansão do ensino

superior internacionalmente.

"Há sinais prementes de que altos níveis de conclusão universitária não

têm apenas efeitos positivos nas sociedades e economias", afirmou Van

Damme, observando "subemprego de graduados, superqualificação,

incompatibilidades e efeitos de substituição". Mais promissor, disse ele, é

"o interesse em rápida expansão em programas curtos e certificações não

tradicionais, como microcredenciais".

O colega de Van Damme na OCDE, Andreas Schleicher, diretor da OCDE

para educação e habilidades, concorda. As microcredenciais "dão aos

empregadores melhores sinais do que as pessoas sabem e podem fazer",

argumentou ele em Londres em março de 2023, comparando-as

novamente, e favoravelmente, com as universidades. Para as

universidades, a vida é "realmente muito confortável", disse ele. "Você

agrupa conteúdo, entrega, credenciamento - você pode obter um bom

retorno pelo monopólio."

Mudar para microcredenciais significaria que o status do provedor não

importa mais. Parece que as microcredenciais são o novo caminho para

a equidade. É difícil acreditar que combinar diplomas para a classe média

com microcredenciais para as massas criará equidade social, mas há

evidências crescentes de que os formuladores de políticas com inclinação

econômica estão perdendo a paciência com o ensino superior como o

conhecemos.

Na Austrália, o governo nacional pede "graduados prontos para o

trabalho" e financiou o desenvolvimento de programas que levam a

microcredenciais. Em cada caso, o diagnóstico do problema e a solução

2

são os mesmos. O ensino superior deve ser principal (ou exclusivamente)

e diretamente vocacional. A ideia de "graduados prontos para o trabalho"

resume isso.

Mas o ensino superior não é adequado para esse propósito específico. A

preparação para o trabalho é uma de suas missões, mas nunca foi a

missão principal. Menos ainda é a única missão.

O ensino superior não é principalmente a formação de graduados

"empregáveis". É a formação cultural de pessoas por meio da imersão no

conhecimento baseado em disciplinas. Os alunos são formados - ou

melhor, se formam - por meio de aprendizado profundo em vários campos

acadêmicos e profissionais. É o conhecimento, não a empregabilidade,

que unifica o ensino superior."

Missões intrínsecas e extrínsecas

O ensino superior tem múltiplas missões, como Clark Kerr argumentou ao rotular

as universidades como "multiversidades".

Existem dois tipos de missões: missões intrínsecas e missões

extrínsecas.

As missões intrínsecas - o núcleo clássico do ensino superior - são a

educação dos alunos e a transmissão, criação e disseminação de

conhecimento. Essas missões moldam a organização interna do setor. O

ensino, a aprendizagem e a pesquisa são baseadas em disciplinas

epistêmicas, programas de estudo e departamentos, ou escolas.

Para Marginson, qualquer educação digna desse nome deve sempre

contribuir para processos de subjetivação que permitam que os formados

se tornem mais autônomos e independentes em seu pensar e agir. Desta

forma, o ensino superior prepara os alunos para toda a vida, incluindo o

trabalho.

O ensino superior também tem missões extrínsecas, que realiza em

parceria com outros setores sociais, incluindo governo, empregadores,

profissões liberais e comunidades locais.

No entanto, a política econômica geralmente se concentra apenas na

preparação extrínseca para o trabalho, como se as outras missões não

existissem. As microcredenciais reduzem o ensino superior à qualificação

e dividem-no em fragmentos."

Educação e Trabalho

Quando o foco é a empregabilidade e a educação segue como um reboque, o

que esperar do ensino superior?

Se a política econômica se propusesse a projetar o ensino superior desde

o início focado apenas em graduados empregáveis, ela não usaria a

formação cultural, o conhecimento acadêmico e o nexo ensino-pesquisa

como blocos de construção. Mas as sociedades querem mais do ensino

superior.

3

Estudos constatam repetidamente que a maioria dos alunos tem múltiplos

objetivos no ensino superior. Eles querem desenvolvimento pessoal,

imersão em conhecimento disciplinar e empregos de pós-graduação: não

é um ou outro.

O ensino superior e o trabalho são mais bem entendidos como fracamente

acoplados. A relação entre ensino superior e trabalho não é um fluxo

linear. Pressionar a educação e o trabalho em um único processo - seja

tratando-os como essencialmente iguais, ou subordinando um ao outro -

é violar o trabalho ou o ensino superior.

Não há prêmios para adivinhar qual é mais vulnerável.

Uma crise existencial emergente

Como as relações de trabalho impactam a educação superior e que soluções

são mais adotadas?

Abriu-se um abismo entre a função educacional intrínseca e as

expectativas vocacionais da política e da mídia. Não seria necessário

posicionar a educação intrínseca como sendo conflitante com a

contribuição extrínseca.

Mas os formuladores de políticas na Austrália e no Reino Unido, bem

como em alguns outros países, estão fazendo tentativas firmes de instalar

a missão extrínseca de preparação para o trabalho, não ao lado, mas no

lugar da missão educacional intrínseca.

A empregabilidade está se incorporando ao ensino superior de massa

com considerável autoridade moral. Todo mundo quer um emprego e o

trabalho é visto como um direito humano. No entanto, o ensino superior

não é muito eficaz na preparação direta para o trabalho e não pode criar

empregos - e o mantra da empregabilidade bloqueia a visão de sua

missão educacional central, que é a autoformação do aluno por meio da

imersão no conhecimento."

Em artigo recente, Malcolm Tight, "Empregabilidade: um papel central do

ensino superior", o professor e escritor inglês, autor de vários livros sobre

tema como "Academic Freedom and Responsability", também abordou o

tema da empregabilidade.

"Este estudo sobre empregabilidade no ensino superior colocou em

discussão o atual no contexto de debates de longo prazo sobre os

propósitos e valores do ensino superior. A crescente ênfase nas iniciativas

de empregabilidade enfatiza os propósitos vocacionais do ensino superior,

vendo-o como pouco mais do que uma preparação final para uma vida

inteira de trabalho produtivo.

4

Embora seja ingênuo argumentar, em contraste, que o papel principal do

ensino superior é o desenvolvimento do pensador individual dentro de

uma perspectiva disciplinar, uma abordagem mais equilibrada é

certamente possível e desejável. É verdade que a maioria dos programas

de ensino superior está preparando os estudantes para funções

vocacionais ou profissionais específicas ou genéricas. No entanto, esses

programas, e a experiência do ensino superior como um todo, também

visam fazer muito mais, e esse objetivo não deve ser perdido pelo foco

contemporâneo na empregabilidade dos graduados.

Este argumento recebe maior peso pelas evidências de pesquisa que

mostram que:

- Não existe um consenso sobre quais as competências de

empregabilidade mais importantes;

- Não há evidências convincentes de que as iniciativas de

empregabilidade realmente funcionem, além do que o ensino superior já

faz; e

- Muitos empregadores continuam satisfeitos com a qualidade dos

graduados que empregam ou não estão dispostos a se envolver com o

ensino superior em iniciativas de empregabilidade."

Talvez seja hora de revisar o sistema de ensino superior e suas interseções com

o mundo do trabalho.

Sem desvalorizar a importância da universidade de pesquisa, que precisa ser

sempre mantida e apoiada, é preciso encontrar outros caminhos que atendam

às "demandas explícitas" mais baratas e mais objetivas para o mundo do

trabalho.

Novamente, defendo que não pode haver um modelo único para o que se chama

de Universidade no Brasil, assim como uma maior pluralidade de missões e até

mesmo de estruturas institucionais, que não seja, necessariamente

universidades, pois a rigor, constitucionalmente, nossas universidades seguem

o modelo (cada vez mais restritivo diante da realidade) de universidades de

pesquisa, o que não é atendido, na prática, o que se desejava da universidade

pela grande maioria dessas instituições brasileiras.

Seria mais coerente ampliar a oferta do ensino superior, incentivando formações

paralelas e incorporando novas tecnologias na EaD, o potencial da Inteligência

artificial para ajudar no aprendizado, reforçando e fortalecendo os dois

caminhos, e não a escolha de um em detrimento do outro: a formação

universitária tradicional formando pesquisadores e profissionais com boa base

científica e cultural e a formação imediata, mais curta e objetiva, para o trabalho

pelas microcompetências, estimulando, paralelamente, o ensino técnico no nível

médio e incorporando-o na trajetória formativa de estudantes que tenham esta

vocação.

*Roberto Lobo é PhD em física pela Purdue University, foi reitor da USP e é

presidente do Instituto Lobo

 

Microcredenciais, Universidades e Empregabiidade - Missão

Complementar ou Substitutiva? Como Pensam os

Especialistas Internacionais

Roberto Lobo  30 de outubro de 2024

Há poucos dias escrevi o artigo "Ensino Superior, Universidades e

Empregabilidade - As Missões da Educação Superior" e entendo

que este novo artigo complementa o primeiro.

O tema empregabilidade e o ensino superior também foi tema de outro artigo, de

Simon Marginson "Empregabilidade: uma crise existencial do ensino superior"

de outubro de 2023, publicado pela Global, parte do qual traduzi livremente. O

foco do estudo é a empregabilidade e a equidade. Não necessariamente a

qualidade da educação superior em seu amplo espectro.

Seguem alguns trechos elucidativos e que devem gerar nos formadores de

políticas para a educação, pelo menos, uma ampla reflexão:

Recentemente, Dirk Van Damme, ex-chefe do Centro de Pesquisa e

Inovação Educacional da Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE), questionou a expansão do ensino

superior internacionalmente.

"Há sinais prementes de que altos níveis de conclusão universitária não

têm apenas efeitos positivos nas sociedades e economias", afirmou Van

Damme, observando "subemprego de graduados, superqualificação,

incompatibilidades e efeitos de substituição". Mais promissor, disse ele, é

"o interesse em rápida expansão em programas curtos e certificações não

tradicionais, como microcredenciais".

O colega de Van Damme na OCDE, Andreas Schleicher, diretor da OCDE

para educação e habilidades, concorda. As microcredenciais "dão aos

empregadores melhores sinais do que as pessoas sabem e podem fazer",

argumentou ele em Londres em março de 2023, comparando-as

novamente, e favoravelmente, com as universidades. Para as

universidades, a vida é "realmente muito confortável", disse ele. "Você

agrupa conteúdo, entrega, credenciamento - você pode obter um bom

retorno pelo monopólio."

Mudar para microcredenciais significaria que o status do provedor não

importa mais. Parece que as microcredenciais são o novo caminho para

a equidade. É difícil acreditar que combinar diplomas para a classe média

com microcredenciais para as massas criará equidade social, mas há

evidências crescentes de que os formuladores de políticas com inclinação

econômica estão perdendo a paciência com o ensino superior como o

conhecemos.

Na Austrália, o governo nacional pede "graduados prontos para o

trabalho" e financiou o desenvolvimento de programas que levam a

microcredenciais. Em cada caso, o diagnóstico do problema e a solução

2

são os mesmos. O ensino superior deve ser principal (ou exclusivamente)

e diretamente vocacional. A ideia de "graduados prontos para o trabalho"

resume isso.

Mas o ensino superior não é adequado para esse propósito específico. A

preparação para o trabalho é uma de suas missões, mas nunca foi a

missão principal. Menos ainda é a única missão.

O ensino superior não é principalmente a formação de graduados

"empregáveis". É a formação cultural de pessoas por meio da imersão no

conhecimento baseado em disciplinas. Os alunos são formados - ou

melhor, se formam - por meio de aprendizado profundo em vários campos

acadêmicos e profissionais. É o conhecimento, não a empregabilidade,

que unifica o ensino superior."

Missões intrínsecas e extrínsecas

O ensino superior tem múltiplas missões, como Clark Kerr argumentou ao rotular

as universidades como "multiversidades".

Existem dois tipos de missões: missões intrínsecas e missões

extrínsecas.

As missões intrínsecas - o núcleo clássico do ensino superior - são a

educação dos alunos e a transmissão, criação e disseminação de

conhecimento. Essas missões moldam a organização interna do setor. O

ensino, a aprendizagem e a pesquisa são baseadas em disciplinas

epistêmicas, programas de estudo e departamentos, ou escolas.

Para Marginson, qualquer educação digna desse nome deve sempre

contribuir para processos de subjetivação que permitam que os formados

se tornem mais autônomos e independentes em seu pensar e agir. Desta

forma, o ensino superior prepara os alunos para toda a vida, incluindo o

trabalho.

O ensino superior também tem missões extrínsecas, que realiza em

parceria com outros setores sociais, incluindo governo, empregadores,

profissões liberais e comunidades locais.

No entanto, a política econômica geralmente se concentra apenas na

preparação extrínseca para o trabalho, como se as outras missões não

existissem. As microcredenciais reduzem o ensino superior à qualificação

e dividem-no em fragmentos."

Educação e Trabalho

Quando o foco é a empregabilidade e a educação segue como um reboque, o

que esperar do ensino superior?

Se a política econômica se propusesse a projetar o ensino superior desde

o início focado apenas em graduados empregáveis, ela não usaria a

formação cultural, o conhecimento acadêmico e o nexo ensino-pesquisa

como blocos de construção. Mas as sociedades querem mais do ensino

superior.

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Estudos constatam repetidamente que a maioria dos alunos tem múltiplos

objetivos no ensino superior. Eles querem desenvolvimento pessoal,

imersão em conhecimento disciplinar e empregos de pós-graduação: não

é um ou outro.

O ensino superior e o trabalho são mais bem entendidos como fracamente

acoplados. A relação entre ensino superior e trabalho não é um fluxo

linear. Pressionar a educação e o trabalho em um único processo - seja

tratando-os como essencialmente iguais, ou subordinando um ao outro -

é violar o trabalho ou o ensino superior.

Não há prêmios para adivinhar qual é mais vulnerável.

Uma crise existencial emergente

Como as relações de trabalho impactam a educação superior e que soluções

são mais adotadas?

Abriu-se um abismo entre a função educacional intrínseca e as

expectativas vocacionais da política e da mídia. Não seria necessário

posicionar a educação intrínseca como sendo conflitante com a

contribuição extrínseca.

Mas os formuladores de políticas na Austrália e no Reino Unido, bem

como em alguns outros países, estão fazendo tentativas firmes de instalar

a missão extrínseca de preparação para o trabalho, não ao lado, mas no

lugar da missão educacional intrínseca.

A empregabilidade está se incorporando ao ensino superior de massa

com considerável autoridade moral. Todo mundo quer um emprego e o

trabalho é visto como um direito humano. No entanto, o ensino superior

não é muito eficaz na preparação direta para o trabalho e não pode criar

empregos - e o mantra da empregabilidade bloqueia a visão de sua

missão educacional central, que é a autoformação do aluno por meio da

imersão no conhecimento."

Em artigo recente, Malcolm Tight, "Empregabilidade: um papel central do

ensino superior", o professor e escritor inglês, autor de vários livros sobre

tema como "Academic Freedom and Responsability", também abordou o

tema da empregabilidade.

"Este estudo sobre empregabilidade no ensino superior colocou em

discussão o atual no contexto de debates de longo prazo sobre os

propósitos e valores do ensino superior. A crescente ênfase nas iniciativas

de empregabilidade enfatiza os propósitos vocacionais do ensino superior,

vendo-o como pouco mais do que uma preparação final para uma vida

inteira de trabalho produtivo.

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Embora seja ingênuo argumentar, em contraste, que o papel principal do

ensino superior é o desenvolvimento do pensador individual dentro de

uma perspectiva disciplinar, uma abordagem mais equilibrada é

certamente possível e desejável. É verdade que a maioria dos programas

de ensino superior está preparando os estudantes para funções

vocacionais ou profissionais específicas ou genéricas. No entanto, esses

programas, e a experiência do ensino superior como um todo, também

visam fazer muito mais, e esse objetivo não deve ser perdido pelo foco

contemporâneo na empregabilidade dos graduados.

Este argumento recebe maior peso pelas evidências de pesquisa que

mostram que:

- Não existe um consenso sobre quais as competências de

empregabilidade mais importantes;

- Não há evidências convincentes de que as iniciativas de

empregabilidade realmente funcionem, além do que o ensino superior já

faz; e

- Muitos empregadores continuam satisfeitos com a qualidade dos

graduados que empregam ou não estão dispostos a se envolver com o

ensino superior em iniciativas de empregabilidade."

Talvez seja hora de revisar o sistema de ensino superior e suas interseções com

o mundo do trabalho.

Sem desvalorizar a importância da universidade de pesquisa, que precisa ser

sempre mantida e apoiada, é preciso encontrar outros caminhos que atendam

às "demandas explícitas" mais baratas e mais objetivas para o mundo do

trabalho.

Novamente, defendo que não pode haver um modelo único para o que se chama

de Universidade no Brasil, assim como uma maior pluralidade de missões e até

mesmo de estruturas institucionais, que não seja, necessariamente

universidades, pois a rigor, constitucionalmente, nossas universidades seguem

o modelo (cada vez mais restritivo diante da realidade) de universidades de

pesquisa, o que não é atendido, na prática, o que se desejava da universidade

pela grande maioria dessas instituições brasileiras.

Seria mais coerente ampliar a oferta do ensino superior, incentivando formações

paralelas e incorporando novas tecnologias na EaD, o potencial da Inteligência

artificial para ajudar no aprendizado, reforçando e fortalecendo os dois

caminhos, e não a escolha de um em detrimento do outro: a formação

universitária tradicional formando pesquisadores e profissionais com boa base

científica e cultural e a formação imediata, mais curta e objetiva, para o trabalho

pelas microcompetências, estimulando, paralelamente, o ensino técnico no nível

médio e incorporando-o na trajetória formativa de estudantes que tenham esta

vocação.

*Roberto Lobo é PhD em física pela Purdue University, foi reitor da USP e é

presidente do Instituto Lobo

 

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