Opinião|A angústia, temor e espanto de adultos que repetem com os filhos modelos de seus pais


Para uma pessoa formar uma nova família, ela precisa realizar um processo de desligamento de sua família de origem

Por Rosely Sayão
Atualização:

Ao organizar as mensagens que recebo de mães, pais e adultos que convivem diariamente com crianças e adolescentes, observei um tema recorrente que me instigou a refletir.

Há angústia, temor e espanto em adultos que têm filhos e se sentem repetindo os modelos parentais aos quais foram submetidos enquanto eram responsabilidade de seus pais.

“Meu pai era absolutamente silencioso comigo, só minha mãe falava”, escreveu um homem que lamenta não encontrar meios de conversar com o filho adolescente. “Tenho a lembrança viva de minha mãe gritando o tempo todo comigo e com meu irmão, e agora percebo que grito muito com meus filhos, perco a paciência com muita rapidez”, contou uma jovem mulher.

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“Não quero ser como meu pai” e “Não quero repetir minha mãe” foram frases que eu li diversas vezes. Por que isso acontece, mesmo à revelia de quem se auto-observa?

Para fazer diferente dos pais, é preciso buscar o autoconhecimento e ser crítico em relação ao ambiente sociocultural em que vivemos Foto: Steven Van Loy/Unsplash

Para uma pessoa formar uma nova família, ter filhos, ela precisa realizar um processo de desligamento de sua família de origem, processo esse que contém uma certa dose de destruição: das imagens parentais idealizadas e percebidas, dos modelos repetidos, dos estilos de viver em grupo familiar, das tradições etc.

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Claro que esse processo não ocorre totalmente de uma vez: ele vai acontecendo no trajeto da vida com a nova família. E se há uma expectativa desses adultos, ela é a de fazer diferente principalmente o que não deu certo, que não funcionou, que não provocou consequências consideradas positivas. É aí que começa o processo de reconstrução.

Entretanto, tal reconstrução não depende apenas do novo grupo e/ou de uma pessoa: ele ocorre em um contexto social e cultural determinado.

Vamos pensar nos gritos que a mãe que me escreveu dá com frequência, por exemplo. Você já percebeu, leitor, que neste tempo em que vivemos, os gritos expressam mais do que as palavras? Observe seu entorno: ouvimos gritos em todos os locais que frequentamos ou passamos. Gritar expressa alegria, entusiasmo, espanto, medo, raiva, autoridade etc. e tem efeito cascata, não é mesmo? Sabia que o nível de ruído na escola chega a atingir 100 decibéis na hora do recreio e 80 em sala de aula? Como aprender com um barulho desse?

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Gritar está na ordem do dia e não se trata apenas de uma experiência pessoal da mãe que grita em demasia com os filhos. Podemos dizer a mesma coisa a respeito de mutismo de muitos pais com seus filhos: os adultos querem falar, mas pouco ouvem, e não há conversa possível sem escuta.

O adulto que percebe que repete alguns erros cometidos por seus pais consegue fazer diferente se estiver sempre em busca do autoconhecimento e for crítico em relação ao ambiente sociocultural em que vivemos.

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Rosely Sayão é psicóloga, consultora educacional e autora do livro Educação Sem Blá-blá-blá

Ao organizar as mensagens que recebo de mães, pais e adultos que convivem diariamente com crianças e adolescentes, observei um tema recorrente que me instigou a refletir.

Há angústia, temor e espanto em adultos que têm filhos e se sentem repetindo os modelos parentais aos quais foram submetidos enquanto eram responsabilidade de seus pais.

“Meu pai era absolutamente silencioso comigo, só minha mãe falava”, escreveu um homem que lamenta não encontrar meios de conversar com o filho adolescente. “Tenho a lembrança viva de minha mãe gritando o tempo todo comigo e com meu irmão, e agora percebo que grito muito com meus filhos, perco a paciência com muita rapidez”, contou uma jovem mulher.

“Não quero ser como meu pai” e “Não quero repetir minha mãe” foram frases que eu li diversas vezes. Por que isso acontece, mesmo à revelia de quem se auto-observa?

Para fazer diferente dos pais, é preciso buscar o autoconhecimento e ser crítico em relação ao ambiente sociocultural em que vivemos Foto: Steven Van Loy/Unsplash

Para uma pessoa formar uma nova família, ter filhos, ela precisa realizar um processo de desligamento de sua família de origem, processo esse que contém uma certa dose de destruição: das imagens parentais idealizadas e percebidas, dos modelos repetidos, dos estilos de viver em grupo familiar, das tradições etc.

Claro que esse processo não ocorre totalmente de uma vez: ele vai acontecendo no trajeto da vida com a nova família. E se há uma expectativa desses adultos, ela é a de fazer diferente principalmente o que não deu certo, que não funcionou, que não provocou consequências consideradas positivas. É aí que começa o processo de reconstrução.

Entretanto, tal reconstrução não depende apenas do novo grupo e/ou de uma pessoa: ele ocorre em um contexto social e cultural determinado.

Vamos pensar nos gritos que a mãe que me escreveu dá com frequência, por exemplo. Você já percebeu, leitor, que neste tempo em que vivemos, os gritos expressam mais do que as palavras? Observe seu entorno: ouvimos gritos em todos os locais que frequentamos ou passamos. Gritar expressa alegria, entusiasmo, espanto, medo, raiva, autoridade etc. e tem efeito cascata, não é mesmo? Sabia que o nível de ruído na escola chega a atingir 100 decibéis na hora do recreio e 80 em sala de aula? Como aprender com um barulho desse?

Gritar está na ordem do dia e não se trata apenas de uma experiência pessoal da mãe que grita em demasia com os filhos. Podemos dizer a mesma coisa a respeito de mutismo de muitos pais com seus filhos: os adultos querem falar, mas pouco ouvem, e não há conversa possível sem escuta.

O adulto que percebe que repete alguns erros cometidos por seus pais consegue fazer diferente se estiver sempre em busca do autoconhecimento e for crítico em relação ao ambiente sociocultural em que vivemos.

Rosely Sayão é psicóloga, consultora educacional e autora do livro Educação Sem Blá-blá-blá

Ao organizar as mensagens que recebo de mães, pais e adultos que convivem diariamente com crianças e adolescentes, observei um tema recorrente que me instigou a refletir.

Há angústia, temor e espanto em adultos que têm filhos e se sentem repetindo os modelos parentais aos quais foram submetidos enquanto eram responsabilidade de seus pais.

“Meu pai era absolutamente silencioso comigo, só minha mãe falava”, escreveu um homem que lamenta não encontrar meios de conversar com o filho adolescente. “Tenho a lembrança viva de minha mãe gritando o tempo todo comigo e com meu irmão, e agora percebo que grito muito com meus filhos, perco a paciência com muita rapidez”, contou uma jovem mulher.

“Não quero ser como meu pai” e “Não quero repetir minha mãe” foram frases que eu li diversas vezes. Por que isso acontece, mesmo à revelia de quem se auto-observa?

Para fazer diferente dos pais, é preciso buscar o autoconhecimento e ser crítico em relação ao ambiente sociocultural em que vivemos Foto: Steven Van Loy/Unsplash

Para uma pessoa formar uma nova família, ter filhos, ela precisa realizar um processo de desligamento de sua família de origem, processo esse que contém uma certa dose de destruição: das imagens parentais idealizadas e percebidas, dos modelos repetidos, dos estilos de viver em grupo familiar, das tradições etc.

Claro que esse processo não ocorre totalmente de uma vez: ele vai acontecendo no trajeto da vida com a nova família. E se há uma expectativa desses adultos, ela é a de fazer diferente principalmente o que não deu certo, que não funcionou, que não provocou consequências consideradas positivas. É aí que começa o processo de reconstrução.

Entretanto, tal reconstrução não depende apenas do novo grupo e/ou de uma pessoa: ele ocorre em um contexto social e cultural determinado.

Vamos pensar nos gritos que a mãe que me escreveu dá com frequência, por exemplo. Você já percebeu, leitor, que neste tempo em que vivemos, os gritos expressam mais do que as palavras? Observe seu entorno: ouvimos gritos em todos os locais que frequentamos ou passamos. Gritar expressa alegria, entusiasmo, espanto, medo, raiva, autoridade etc. e tem efeito cascata, não é mesmo? Sabia que o nível de ruído na escola chega a atingir 100 decibéis na hora do recreio e 80 em sala de aula? Como aprender com um barulho desse?

Gritar está na ordem do dia e não se trata apenas de uma experiência pessoal da mãe que grita em demasia com os filhos. Podemos dizer a mesma coisa a respeito de mutismo de muitos pais com seus filhos: os adultos querem falar, mas pouco ouvem, e não há conversa possível sem escuta.

O adulto que percebe que repete alguns erros cometidos por seus pais consegue fazer diferente se estiver sempre em busca do autoconhecimento e for crítico em relação ao ambiente sociocultural em que vivemos.

Rosely Sayão é psicóloga, consultora educacional e autora do livro Educação Sem Blá-blá-blá

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Opinião por Rosely Sayão

É psicóloga, consultora educacional e autora do livro "Educação sem Blá-blá-blá"

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