Opinião|Guerras e luto: criança precisa reconhecer e vivenciar sofrimentos que suas perdas provocam


Conflitos entre países distantes também afetam as nossas crianças, assim como mudanças e perdas familiares; conversa com pequenos é fundamental

Por Rosely Sayão

A mãe de uma menina de 7 anos e de um bebê de 11 meses sentiu falta da filha por perto dela e foi procurá-la pela casa. Para sua surpresa, encontrou-a na cama chorando. Perguntou o que tinha acontecido e ouviu uma resposta inesperada: “Estou muito triste por causa das guerras”, disse ela – assim mesmo, no plural.

Essa situação é uma boa motivação para conversarmos a respeito dos lutos. As guerras entre países distantes do nosso afetam as crianças? Sim. A localização geográfica pouco importa a elas: é o fato que as angustia. E, no caso de crianças com mais de 7 anos, afeta mais porque elas já começam a entender o significado da morte na vida real. “Nunca mais”, na primeira infância, não faz sentido. A partir dos 7, 8, 9 anos – depende de cada uma – já faz.

Há também a despedida da primeira infância, que provoca luto na família e na criança que faz a passagem para uma nova etapa do seu desenvolvimento. Todos perdem algo: a família perde um filho pequeno, e a criança perde o mundo da imaginação.

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Quando os filhos entram na adolescência, o luto familiar ocorre porque os pais perdem a criança que era totalmente dependente deles. Deixar a infância para trás pode causar uma perda que é mais significativa que os ganhos a alguns jovens e o luto pode ser inevitável para alguns.

Crianças precisam falar sobre perdas e luto para aprenderem a lidar com momentos difíceis Foto: Pavlo Palamachurk/Reuters

Há quem associe o luto apenas à perda de uma pessoa querida e/ou próxima, mas o fenômeno é mais amplo: desfazer um relacionamento, deixar o emprego, mudar de cidade/escola/trabalho, perder o animal de estimação, passar de uma fase da vida para a próxima etc. Todas essas situações e ainda outras podem provocar luto. E, vamos lembrar, a pandemia e suas consequências fizeram muitos passar pelo luto.

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Como ajudar uma criança que está em luto, seja por motivos pessoais ou sociais? O primeiro passo é ouvir a criança, de todas as maneiras que ela se expressa. O que ela sente? O que ela acha que pode acontecer com ela e com os pais? Colaborar para que ela entenda melhor o que se passa com ela e quais sentimentos ocorrem é uma boa maneira de ajudar.

Não devemos tentar tirar a criança de seu luto: para que ela possa superar esse momento da vida, ela precisa reconhecer e vivenciar os sofrimentos que a sua perda provoca. Falar da morte com as crianças deveria ser mais comum: afinal, ela faz parte da vida, não é? E, para os pais que não se sentem muito à vontade com o tema, é bom saber que temos obras literárias dirigidas ao público infantil de excelente qualidade que têm a morte como argumento central.

ROSELY SAYÃO É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO ‘EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLÁ'

A mãe de uma menina de 7 anos e de um bebê de 11 meses sentiu falta da filha por perto dela e foi procurá-la pela casa. Para sua surpresa, encontrou-a na cama chorando. Perguntou o que tinha acontecido e ouviu uma resposta inesperada: “Estou muito triste por causa das guerras”, disse ela – assim mesmo, no plural.

Essa situação é uma boa motivação para conversarmos a respeito dos lutos. As guerras entre países distantes do nosso afetam as crianças? Sim. A localização geográfica pouco importa a elas: é o fato que as angustia. E, no caso de crianças com mais de 7 anos, afeta mais porque elas já começam a entender o significado da morte na vida real. “Nunca mais”, na primeira infância, não faz sentido. A partir dos 7, 8, 9 anos – depende de cada uma – já faz.

Há também a despedida da primeira infância, que provoca luto na família e na criança que faz a passagem para uma nova etapa do seu desenvolvimento. Todos perdem algo: a família perde um filho pequeno, e a criança perde o mundo da imaginação.

Quando os filhos entram na adolescência, o luto familiar ocorre porque os pais perdem a criança que era totalmente dependente deles. Deixar a infância para trás pode causar uma perda que é mais significativa que os ganhos a alguns jovens e o luto pode ser inevitável para alguns.

Crianças precisam falar sobre perdas e luto para aprenderem a lidar com momentos difíceis Foto: Pavlo Palamachurk/Reuters

Há quem associe o luto apenas à perda de uma pessoa querida e/ou próxima, mas o fenômeno é mais amplo: desfazer um relacionamento, deixar o emprego, mudar de cidade/escola/trabalho, perder o animal de estimação, passar de uma fase da vida para a próxima etc. Todas essas situações e ainda outras podem provocar luto. E, vamos lembrar, a pandemia e suas consequências fizeram muitos passar pelo luto.

Como ajudar uma criança que está em luto, seja por motivos pessoais ou sociais? O primeiro passo é ouvir a criança, de todas as maneiras que ela se expressa. O que ela sente? O que ela acha que pode acontecer com ela e com os pais? Colaborar para que ela entenda melhor o que se passa com ela e quais sentimentos ocorrem é uma boa maneira de ajudar.

Não devemos tentar tirar a criança de seu luto: para que ela possa superar esse momento da vida, ela precisa reconhecer e vivenciar os sofrimentos que a sua perda provoca. Falar da morte com as crianças deveria ser mais comum: afinal, ela faz parte da vida, não é? E, para os pais que não se sentem muito à vontade com o tema, é bom saber que temos obras literárias dirigidas ao público infantil de excelente qualidade que têm a morte como argumento central.

ROSELY SAYÃO É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO ‘EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLÁ'

A mãe de uma menina de 7 anos e de um bebê de 11 meses sentiu falta da filha por perto dela e foi procurá-la pela casa. Para sua surpresa, encontrou-a na cama chorando. Perguntou o que tinha acontecido e ouviu uma resposta inesperada: “Estou muito triste por causa das guerras”, disse ela – assim mesmo, no plural.

Essa situação é uma boa motivação para conversarmos a respeito dos lutos. As guerras entre países distantes do nosso afetam as crianças? Sim. A localização geográfica pouco importa a elas: é o fato que as angustia. E, no caso de crianças com mais de 7 anos, afeta mais porque elas já começam a entender o significado da morte na vida real. “Nunca mais”, na primeira infância, não faz sentido. A partir dos 7, 8, 9 anos – depende de cada uma – já faz.

Há também a despedida da primeira infância, que provoca luto na família e na criança que faz a passagem para uma nova etapa do seu desenvolvimento. Todos perdem algo: a família perde um filho pequeno, e a criança perde o mundo da imaginação.

Quando os filhos entram na adolescência, o luto familiar ocorre porque os pais perdem a criança que era totalmente dependente deles. Deixar a infância para trás pode causar uma perda que é mais significativa que os ganhos a alguns jovens e o luto pode ser inevitável para alguns.

Crianças precisam falar sobre perdas e luto para aprenderem a lidar com momentos difíceis Foto: Pavlo Palamachurk/Reuters

Há quem associe o luto apenas à perda de uma pessoa querida e/ou próxima, mas o fenômeno é mais amplo: desfazer um relacionamento, deixar o emprego, mudar de cidade/escola/trabalho, perder o animal de estimação, passar de uma fase da vida para a próxima etc. Todas essas situações e ainda outras podem provocar luto. E, vamos lembrar, a pandemia e suas consequências fizeram muitos passar pelo luto.

Como ajudar uma criança que está em luto, seja por motivos pessoais ou sociais? O primeiro passo é ouvir a criança, de todas as maneiras que ela se expressa. O que ela sente? O que ela acha que pode acontecer com ela e com os pais? Colaborar para que ela entenda melhor o que se passa com ela e quais sentimentos ocorrem é uma boa maneira de ajudar.

Não devemos tentar tirar a criança de seu luto: para que ela possa superar esse momento da vida, ela precisa reconhecer e vivenciar os sofrimentos que a sua perda provoca. Falar da morte com as crianças deveria ser mais comum: afinal, ela faz parte da vida, não é? E, para os pais que não se sentem muito à vontade com o tema, é bom saber que temos obras literárias dirigidas ao público infantil de excelente qualidade que têm a morte como argumento central.

ROSELY SAYÃO É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO ‘EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLÁ'

Opinião por Rosely Sayão

É psicóloga, consultora educacional e autora do livro "Educação sem Blá-blá-blá"

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