Sírio, ESPM e Ibmec: colégios fazem parceria com faculdades para disciplinas do novo ensino médio


Matérias optativas fazem parte da carga horária flexível do currículo e ajudam na escolha profissional; oferta de conteúdos diversos é um desafio após reforma da etapa de ensino

Por Isabela Moya
Atualização:

Diante da demanda de currículos variados do novo ensino médio, escolas de São Paulo têm apostado em parcerias com faculdades para ampliar a oferta de conteúdos. A reforma da etapa de ensino, que ganhou força a partir de 2022, divide as matérias em dois blocos: as obrigatórias (Matemática, Química, Geografia etc), igual para todos, e aquelas em que há possibilidade de o aluno escolher conforme seu interesse. As disciplinas em colaboração com as universidades entram no segundo bloco.

Para alunos do ensino médio do Marista, disciplinas optativas têm sido também uma oportunidade de ter uma experiência com área profissional de interesse Foto: Marcelo Chello/Estadão

Entre as vantagens, segundo os colégios e as instituições parceiras, estão tornar as classes mais atrativas para os jovens e ainda permitir a vivência de uma área profissional, o que pode ajudar na decisão para o vestibular. As aulas - de Arquitetura à Robótica - têm o apoio de faculdades como ESPM, Ibmec, Sírio-Libanês, FAAP, Instituto Mauá de Tecnologia e a Federal do ABC (UFABC).

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A definição de quais eletivas serão oferecidas parte dos colégios, que relatam ouvir os alunos por meio de votações. “Com a implementação do novo ensino médio, a legislação dá certa liberdade às escolas no que diz respeito aos itinerários optativos. Tentamos fazer um cardápio o mais variado possível para dar oportunidade de o aluno experimentar áreas do conhecimento numa perspectiva mais ‘mão na massa’”, conta Patrick Lima, coordenador do Ensino Médio do Colégio Marista Arquidiocesano.

A escola, na zona sul de São Paulo, tem neste semestre, parceria com a ESPM, Ibmec, Instituto Mauá de Tecnologia, Universidade Federal do ABC (UFABC) e Faculdade Sírio-Libanês.

“No início do ano, fazemos um ‘feirão’, botamos todas as parceiras e professores no auditório e cada um tem dez minutos para convencer os alunos de que o seu curso é o mais interessante do semestre”, explica.

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“Além da degustação do ambiente universitário, é, acima de tudo, um grande teste vocacional. Ajuda a dar repertório, não só acadêmico mas também social”, reforça Lima. Segundo ele, os jovens têm manifestado interesses profissionais diversos, o que inclui empreendedorismo, atuação em ONGs, produção de conteúdo digital, entre outros.

Aluna do 2º ano do ensino médio do Marista, Lígia Luz estava em dúvida entre cursar Direito e Administração. Ela fez uma disciplina que abordava empreendedorismo e outra sobre cidadania digital e assuntos jurídicos. Agora ela, decidiu que vai seguir na área de gestão. ““É difícil escolher e conseguimos ter uma noção do que vai ser a faculdade, uma imersão, como se fosse um teste do que seria a graduação”, conta.

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Alunos do ensino médio do Colegio Marista Arquidiocesano participam da disciplina Desvendando a metodologia científica, dada em parceria com a UFABC Foto: Marcelo Chello/Estadão

“Essas aulas clareiam para o aluno (a visão sobre a carreira) e diminuem a chance do erro”, acrescenta Lima. “E o professor (universitário) trata de maneira diferente, são menos ‘mão na cabeça’ e mais diretos, isso impacta nosso aluno e é bem-vindo.”

A linguagem diferente das aulas também é elogiada pelos adolescentes. “São aulas mais dinâmicas, é de estudante para estudante”, relata Larissa Silva, aluna do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Godofredo Furtado, na zona oeste de São Paulo, que tem uma parceria com a FAAP para lecionar uma eletiva com foco em simulações de assembleias das Nações Unidas (ONU).

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A iniciativa da disciplina foi do escritório de São Paulo do Ministério das Relações Exteriores em parceria com faculdades que têm o curso de Relações Internacionais. Nesse projeto, não são os professores das faculdades que vão às escolas, mas os estudantes de graduação.

Os debates dividem os estudantes em grupos que representam determinados países e são uma forma de melhorar o desempenho dos estudantes na escrita, pensamento e argumentação, além de beneficiá-los nas redações de vestibular, cita a professora da escola, Amanda de Paula Costa Santos.

(A eletiva) Se relaciona com as demais disciplinas e aprofunda conhecimentos da Base Curricular Nacional Comum (a BNCC, documento do Ministério da Educação que define os objetivos de aprendizagem para cada série), de forma prática e interdisciplinar”, afirma ela.

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No Marista, alunos do ensino médio têm aulas com profissionais do Hospital Sirio-Libanês, um dos principais centros médicos do País Foto: Marcelo Chello/Estadão

“No início é difícil, eles querem defender sua opinião, mas mostramos que é para focar no posicionamento do país. Eles exercem muito a empatia e a tolerância, têm de ouvir as outras ideias, argumentar”, acrescenta Amanda.

“Mudou minha visão de mundo e hoje em dia penso em seguir carreira de diplomacia, quero muito isso no futuro”, relata Larissa, do 1º ano.

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Beatriz Cortez, do 2º ano da Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) também teve o seu interesse confirmado após cursar uma eletiva de Arquitetura, “É muito legal, estamos fazendo maquete. Conforme temos as aulas, tenho mais certeza de que quero cursar arquitetura”, conta.

“As eletivas abrem um leque de opções. E, ao mesmo tempo diminuem, porque vou vendo o que quero fazer, já consigo ver os caminhos que quero trilhar no futuro”, afirma José Henriques Pusch, do 1º ano.

No Gracinha, a cada semestre, uma faculdade leciona eletivas na escola. Já passaram pela escola, o Mackenzie, a FAAP, a ESPM e a Escola da Cidade. Coordenador pedagógico da escola, Paulo Rota destaca que as parcerias sempre observam o interesse dos alunos. “O professor universitário no contexto do ensino médio traz outra experiência e outro ponto de vista para os alunos”, afirma.

Pela regra atual, as escolas têm liberdade para escolher conteúdos do currículo flexível. “A oferta dos diferentes itinerários formativos e o quantitativo de opções que devem ser ofertados em cada escola fica a critério dos sistemas de ensino que deverão considerar o interesse dos estudantes, as condições concretas para a oferta de um ou mais itinerários em cada escola - infraestrutura das escolas, modulação de professores, área de formação dos professores - para a distribuição da oferta dos diferentes itinerários nas escolas da rede”, informa o MEC.

Reforma passa por ajustes no Congresso

Uma das principais tônicas do novo ensino médio é a divisão entre a formação básica comum e a parte optativa, que pode ser um aprofundamento de estudos em áreas diversas ou a educação técnica e profissional.

Em março, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que altera a reforma do ensino médio. Um novo texto foi enviado pelo governo federal ao Congresso após críticas de especialistas, professores e estudantes à implementação do novo modelo.

Entre as queixas, estava o número insuficiente de horas para as disciplinas obrigatórias comuns, que são cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e a falta de estrutura e de docentes especializados para ministrar os novos conteúdos. Ofertas restritas da parte flexível do currículo também foram alvo de críticas.

Parcerias com instituições técnicas e de ensino superior para uso compartilhado de laboratórios, equipamentos, materiais didáticos e até professores são estratégias sugeridas pelos especialistas para minimizar os efeitos dos recursos limitados das escolas.

Pelo novo texto, a carga mínima para formação básica obrigatória sobe de 1,8 mil para 2,4 mil horas. Para o caso de curso técnico integrado ao médio, as disciplinas comuns terão 2,1 mil horas, das quais 300 poderão ser usadas como articulação entre a base curricular do médio e a formação técnica profissional. O PL agora será analisado pelo Senado.

Faculdades costumam bancar classes optativas

Para a maior parte das instituições de ensino superior que lecionam as eletivas, o ganho não é financeiro - ao menos não diretamente -, pois são as próprias faculdades que custeiam as aulas. O objetivo é ter visibilidade em seu público-alvo, estudantes que logo serão vestibulandos.

“Não existe troca financeira. Temos preocupação grande em deixar a nossa marca como referência nas linhas de conhecimento em que atuamos e essa é uma forma de contar na prática como atuamos”, explica Fernanda Steck, gerente de Trade e Marketing da ESPM.

“Outro ganho é despertar o interesse do jovem, para aquele que tem vocação, para as áreas de conhecimentos em que atuamos”, diz ela. A faculdade tem professores lecionando em 11 escolas neste semestre

Já a Faculdade Sírio-Libanês, ligada ao hospital homônimo, diz que iniciou a aproximação com escolas para captar talentos e propiciar “alinhamento cultural” dos vestibulandos com a instituição.

Há preocupação em adaptar os conhecimentos das Ciências da Saúde para o contexto dos estudantes. Por isso, privilegiam tecnologias aplicada à realidade dos jovens. Além disso, decidiram por não privilegiar apenas um profissional da saúde, mas fazem um rodízio dos responsáveis por lecionar a disciplina.

“Focamos em temas emergentes para carreiras de saúde. Temos psicólogos , fisioterapeutas, médicos, enfermeiros (atuando como professores da disciplina eletiva)”, diz Denise Greff, gerente de ensino na Faculdade Sírio-Libanês.

“O objetivo é uma vivência do nosso ensino de ciências básicas, anatomia, fisiologia, biologia molecular. Os alunos também podem experimentar nossa infraestrutura de laboratório e tecnologias”, completa Mike Yoshio Hamasaki, coordenador de concepção e novos produtos da instituição.

O desafio foi adaptar o processo de aprendizagem diante do público-alvo distinto: em vez de alunos graduação, os adolescente do ensino médio. Foram feitas mudanças na metodologia e na profundidade em que os temas são abordados, e o foco ficou para as aulas práticas, com experimentos, atividades com realidade virtual e outros recursos tecnológicos.

Diante da demanda de currículos variados do novo ensino médio, escolas de São Paulo têm apostado em parcerias com faculdades para ampliar a oferta de conteúdos. A reforma da etapa de ensino, que ganhou força a partir de 2022, divide as matérias em dois blocos: as obrigatórias (Matemática, Química, Geografia etc), igual para todos, e aquelas em que há possibilidade de o aluno escolher conforme seu interesse. As disciplinas em colaboração com as universidades entram no segundo bloco.

Para alunos do ensino médio do Marista, disciplinas optativas têm sido também uma oportunidade de ter uma experiência com área profissional de interesse Foto: Marcelo Chello/Estadão

Entre as vantagens, segundo os colégios e as instituições parceiras, estão tornar as classes mais atrativas para os jovens e ainda permitir a vivência de uma área profissional, o que pode ajudar na decisão para o vestibular. As aulas - de Arquitetura à Robótica - têm o apoio de faculdades como ESPM, Ibmec, Sírio-Libanês, FAAP, Instituto Mauá de Tecnologia e a Federal do ABC (UFABC).

A definição de quais eletivas serão oferecidas parte dos colégios, que relatam ouvir os alunos por meio de votações. “Com a implementação do novo ensino médio, a legislação dá certa liberdade às escolas no que diz respeito aos itinerários optativos. Tentamos fazer um cardápio o mais variado possível para dar oportunidade de o aluno experimentar áreas do conhecimento numa perspectiva mais ‘mão na massa’”, conta Patrick Lima, coordenador do Ensino Médio do Colégio Marista Arquidiocesano.

A escola, na zona sul de São Paulo, tem neste semestre, parceria com a ESPM, Ibmec, Instituto Mauá de Tecnologia, Universidade Federal do ABC (UFABC) e Faculdade Sírio-Libanês.

“No início do ano, fazemos um ‘feirão’, botamos todas as parceiras e professores no auditório e cada um tem dez minutos para convencer os alunos de que o seu curso é o mais interessante do semestre”, explica.

“Além da degustação do ambiente universitário, é, acima de tudo, um grande teste vocacional. Ajuda a dar repertório, não só acadêmico mas também social”, reforça Lima. Segundo ele, os jovens têm manifestado interesses profissionais diversos, o que inclui empreendedorismo, atuação em ONGs, produção de conteúdo digital, entre outros.

Aluna do 2º ano do ensino médio do Marista, Lígia Luz estava em dúvida entre cursar Direito e Administração. Ela fez uma disciplina que abordava empreendedorismo e outra sobre cidadania digital e assuntos jurídicos. Agora ela, decidiu que vai seguir na área de gestão. ““É difícil escolher e conseguimos ter uma noção do que vai ser a faculdade, uma imersão, como se fosse um teste do que seria a graduação”, conta.

Alunos do ensino médio do Colegio Marista Arquidiocesano participam da disciplina Desvendando a metodologia científica, dada em parceria com a UFABC Foto: Marcelo Chello/Estadão

“Essas aulas clareiam para o aluno (a visão sobre a carreira) e diminuem a chance do erro”, acrescenta Lima. “E o professor (universitário) trata de maneira diferente, são menos ‘mão na cabeça’ e mais diretos, isso impacta nosso aluno e é bem-vindo.”

A linguagem diferente das aulas também é elogiada pelos adolescentes. “São aulas mais dinâmicas, é de estudante para estudante”, relata Larissa Silva, aluna do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Godofredo Furtado, na zona oeste de São Paulo, que tem uma parceria com a FAAP para lecionar uma eletiva com foco em simulações de assembleias das Nações Unidas (ONU).

A iniciativa da disciplina foi do escritório de São Paulo do Ministério das Relações Exteriores em parceria com faculdades que têm o curso de Relações Internacionais. Nesse projeto, não são os professores das faculdades que vão às escolas, mas os estudantes de graduação.

Os debates dividem os estudantes em grupos que representam determinados países e são uma forma de melhorar o desempenho dos estudantes na escrita, pensamento e argumentação, além de beneficiá-los nas redações de vestibular, cita a professora da escola, Amanda de Paula Costa Santos.

(A eletiva) Se relaciona com as demais disciplinas e aprofunda conhecimentos da Base Curricular Nacional Comum (a BNCC, documento do Ministério da Educação que define os objetivos de aprendizagem para cada série), de forma prática e interdisciplinar”, afirma ela.

No Marista, alunos do ensino médio têm aulas com profissionais do Hospital Sirio-Libanês, um dos principais centros médicos do País Foto: Marcelo Chello/Estadão

“No início é difícil, eles querem defender sua opinião, mas mostramos que é para focar no posicionamento do país. Eles exercem muito a empatia e a tolerância, têm de ouvir as outras ideias, argumentar”, acrescenta Amanda.

“Mudou minha visão de mundo e hoje em dia penso em seguir carreira de diplomacia, quero muito isso no futuro”, relata Larissa, do 1º ano.

Beatriz Cortez, do 2º ano da Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) também teve o seu interesse confirmado após cursar uma eletiva de Arquitetura, “É muito legal, estamos fazendo maquete. Conforme temos as aulas, tenho mais certeza de que quero cursar arquitetura”, conta.

“As eletivas abrem um leque de opções. E, ao mesmo tempo diminuem, porque vou vendo o que quero fazer, já consigo ver os caminhos que quero trilhar no futuro”, afirma José Henriques Pusch, do 1º ano.

No Gracinha, a cada semestre, uma faculdade leciona eletivas na escola. Já passaram pela escola, o Mackenzie, a FAAP, a ESPM e a Escola da Cidade. Coordenador pedagógico da escola, Paulo Rota destaca que as parcerias sempre observam o interesse dos alunos. “O professor universitário no contexto do ensino médio traz outra experiência e outro ponto de vista para os alunos”, afirma.

Pela regra atual, as escolas têm liberdade para escolher conteúdos do currículo flexível. “A oferta dos diferentes itinerários formativos e o quantitativo de opções que devem ser ofertados em cada escola fica a critério dos sistemas de ensino que deverão considerar o interesse dos estudantes, as condições concretas para a oferta de um ou mais itinerários em cada escola - infraestrutura das escolas, modulação de professores, área de formação dos professores - para a distribuição da oferta dos diferentes itinerários nas escolas da rede”, informa o MEC.

Reforma passa por ajustes no Congresso

Uma das principais tônicas do novo ensino médio é a divisão entre a formação básica comum e a parte optativa, que pode ser um aprofundamento de estudos em áreas diversas ou a educação técnica e profissional.

Em março, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que altera a reforma do ensino médio. Um novo texto foi enviado pelo governo federal ao Congresso após críticas de especialistas, professores e estudantes à implementação do novo modelo.

Entre as queixas, estava o número insuficiente de horas para as disciplinas obrigatórias comuns, que são cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e a falta de estrutura e de docentes especializados para ministrar os novos conteúdos. Ofertas restritas da parte flexível do currículo também foram alvo de críticas.

Parcerias com instituições técnicas e de ensino superior para uso compartilhado de laboratórios, equipamentos, materiais didáticos e até professores são estratégias sugeridas pelos especialistas para minimizar os efeitos dos recursos limitados das escolas.

Pelo novo texto, a carga mínima para formação básica obrigatória sobe de 1,8 mil para 2,4 mil horas. Para o caso de curso técnico integrado ao médio, as disciplinas comuns terão 2,1 mil horas, das quais 300 poderão ser usadas como articulação entre a base curricular do médio e a formação técnica profissional. O PL agora será analisado pelo Senado.

Faculdades costumam bancar classes optativas

Para a maior parte das instituições de ensino superior que lecionam as eletivas, o ganho não é financeiro - ao menos não diretamente -, pois são as próprias faculdades que custeiam as aulas. O objetivo é ter visibilidade em seu público-alvo, estudantes que logo serão vestibulandos.

“Não existe troca financeira. Temos preocupação grande em deixar a nossa marca como referência nas linhas de conhecimento em que atuamos e essa é uma forma de contar na prática como atuamos”, explica Fernanda Steck, gerente de Trade e Marketing da ESPM.

“Outro ganho é despertar o interesse do jovem, para aquele que tem vocação, para as áreas de conhecimentos em que atuamos”, diz ela. A faculdade tem professores lecionando em 11 escolas neste semestre

Já a Faculdade Sírio-Libanês, ligada ao hospital homônimo, diz que iniciou a aproximação com escolas para captar talentos e propiciar “alinhamento cultural” dos vestibulandos com a instituição.

Há preocupação em adaptar os conhecimentos das Ciências da Saúde para o contexto dos estudantes. Por isso, privilegiam tecnologias aplicada à realidade dos jovens. Além disso, decidiram por não privilegiar apenas um profissional da saúde, mas fazem um rodízio dos responsáveis por lecionar a disciplina.

“Focamos em temas emergentes para carreiras de saúde. Temos psicólogos , fisioterapeutas, médicos, enfermeiros (atuando como professores da disciplina eletiva)”, diz Denise Greff, gerente de ensino na Faculdade Sírio-Libanês.

“O objetivo é uma vivência do nosso ensino de ciências básicas, anatomia, fisiologia, biologia molecular. Os alunos também podem experimentar nossa infraestrutura de laboratório e tecnologias”, completa Mike Yoshio Hamasaki, coordenador de concepção e novos produtos da instituição.

O desafio foi adaptar o processo de aprendizagem diante do público-alvo distinto: em vez de alunos graduação, os adolescente do ensino médio. Foram feitas mudanças na metodologia e na profundidade em que os temas são abordados, e o foco ficou para as aulas práticas, com experimentos, atividades com realidade virtual e outros recursos tecnológicos.

Diante da demanda de currículos variados do novo ensino médio, escolas de São Paulo têm apostado em parcerias com faculdades para ampliar a oferta de conteúdos. A reforma da etapa de ensino, que ganhou força a partir de 2022, divide as matérias em dois blocos: as obrigatórias (Matemática, Química, Geografia etc), igual para todos, e aquelas em que há possibilidade de o aluno escolher conforme seu interesse. As disciplinas em colaboração com as universidades entram no segundo bloco.

Para alunos do ensino médio do Marista, disciplinas optativas têm sido também uma oportunidade de ter uma experiência com área profissional de interesse Foto: Marcelo Chello/Estadão

Entre as vantagens, segundo os colégios e as instituições parceiras, estão tornar as classes mais atrativas para os jovens e ainda permitir a vivência de uma área profissional, o que pode ajudar na decisão para o vestibular. As aulas - de Arquitetura à Robótica - têm o apoio de faculdades como ESPM, Ibmec, Sírio-Libanês, FAAP, Instituto Mauá de Tecnologia e a Federal do ABC (UFABC).

A definição de quais eletivas serão oferecidas parte dos colégios, que relatam ouvir os alunos por meio de votações. “Com a implementação do novo ensino médio, a legislação dá certa liberdade às escolas no que diz respeito aos itinerários optativos. Tentamos fazer um cardápio o mais variado possível para dar oportunidade de o aluno experimentar áreas do conhecimento numa perspectiva mais ‘mão na massa’”, conta Patrick Lima, coordenador do Ensino Médio do Colégio Marista Arquidiocesano.

A escola, na zona sul de São Paulo, tem neste semestre, parceria com a ESPM, Ibmec, Instituto Mauá de Tecnologia, Universidade Federal do ABC (UFABC) e Faculdade Sírio-Libanês.

“No início do ano, fazemos um ‘feirão’, botamos todas as parceiras e professores no auditório e cada um tem dez minutos para convencer os alunos de que o seu curso é o mais interessante do semestre”, explica.

“Além da degustação do ambiente universitário, é, acima de tudo, um grande teste vocacional. Ajuda a dar repertório, não só acadêmico mas também social”, reforça Lima. Segundo ele, os jovens têm manifestado interesses profissionais diversos, o que inclui empreendedorismo, atuação em ONGs, produção de conteúdo digital, entre outros.

Aluna do 2º ano do ensino médio do Marista, Lígia Luz estava em dúvida entre cursar Direito e Administração. Ela fez uma disciplina que abordava empreendedorismo e outra sobre cidadania digital e assuntos jurídicos. Agora ela, decidiu que vai seguir na área de gestão. ““É difícil escolher e conseguimos ter uma noção do que vai ser a faculdade, uma imersão, como se fosse um teste do que seria a graduação”, conta.

Alunos do ensino médio do Colegio Marista Arquidiocesano participam da disciplina Desvendando a metodologia científica, dada em parceria com a UFABC Foto: Marcelo Chello/Estadão

“Essas aulas clareiam para o aluno (a visão sobre a carreira) e diminuem a chance do erro”, acrescenta Lima. “E o professor (universitário) trata de maneira diferente, são menos ‘mão na cabeça’ e mais diretos, isso impacta nosso aluno e é bem-vindo.”

A linguagem diferente das aulas também é elogiada pelos adolescentes. “São aulas mais dinâmicas, é de estudante para estudante”, relata Larissa Silva, aluna do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Godofredo Furtado, na zona oeste de São Paulo, que tem uma parceria com a FAAP para lecionar uma eletiva com foco em simulações de assembleias das Nações Unidas (ONU).

A iniciativa da disciplina foi do escritório de São Paulo do Ministério das Relações Exteriores em parceria com faculdades que têm o curso de Relações Internacionais. Nesse projeto, não são os professores das faculdades que vão às escolas, mas os estudantes de graduação.

Os debates dividem os estudantes em grupos que representam determinados países e são uma forma de melhorar o desempenho dos estudantes na escrita, pensamento e argumentação, além de beneficiá-los nas redações de vestibular, cita a professora da escola, Amanda de Paula Costa Santos.

(A eletiva) Se relaciona com as demais disciplinas e aprofunda conhecimentos da Base Curricular Nacional Comum (a BNCC, documento do Ministério da Educação que define os objetivos de aprendizagem para cada série), de forma prática e interdisciplinar”, afirma ela.

No Marista, alunos do ensino médio têm aulas com profissionais do Hospital Sirio-Libanês, um dos principais centros médicos do País Foto: Marcelo Chello/Estadão

“No início é difícil, eles querem defender sua opinião, mas mostramos que é para focar no posicionamento do país. Eles exercem muito a empatia e a tolerância, têm de ouvir as outras ideias, argumentar”, acrescenta Amanda.

“Mudou minha visão de mundo e hoje em dia penso em seguir carreira de diplomacia, quero muito isso no futuro”, relata Larissa, do 1º ano.

Beatriz Cortez, do 2º ano da Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) também teve o seu interesse confirmado após cursar uma eletiva de Arquitetura, “É muito legal, estamos fazendo maquete. Conforme temos as aulas, tenho mais certeza de que quero cursar arquitetura”, conta.

“As eletivas abrem um leque de opções. E, ao mesmo tempo diminuem, porque vou vendo o que quero fazer, já consigo ver os caminhos que quero trilhar no futuro”, afirma José Henriques Pusch, do 1º ano.

No Gracinha, a cada semestre, uma faculdade leciona eletivas na escola. Já passaram pela escola, o Mackenzie, a FAAP, a ESPM e a Escola da Cidade. Coordenador pedagógico da escola, Paulo Rota destaca que as parcerias sempre observam o interesse dos alunos. “O professor universitário no contexto do ensino médio traz outra experiência e outro ponto de vista para os alunos”, afirma.

Pela regra atual, as escolas têm liberdade para escolher conteúdos do currículo flexível. “A oferta dos diferentes itinerários formativos e o quantitativo de opções que devem ser ofertados em cada escola fica a critério dos sistemas de ensino que deverão considerar o interesse dos estudantes, as condições concretas para a oferta de um ou mais itinerários em cada escola - infraestrutura das escolas, modulação de professores, área de formação dos professores - para a distribuição da oferta dos diferentes itinerários nas escolas da rede”, informa o MEC.

Reforma passa por ajustes no Congresso

Uma das principais tônicas do novo ensino médio é a divisão entre a formação básica comum e a parte optativa, que pode ser um aprofundamento de estudos em áreas diversas ou a educação técnica e profissional.

Em março, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que altera a reforma do ensino médio. Um novo texto foi enviado pelo governo federal ao Congresso após críticas de especialistas, professores e estudantes à implementação do novo modelo.

Entre as queixas, estava o número insuficiente de horas para as disciplinas obrigatórias comuns, que são cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e a falta de estrutura e de docentes especializados para ministrar os novos conteúdos. Ofertas restritas da parte flexível do currículo também foram alvo de críticas.

Parcerias com instituições técnicas e de ensino superior para uso compartilhado de laboratórios, equipamentos, materiais didáticos e até professores são estratégias sugeridas pelos especialistas para minimizar os efeitos dos recursos limitados das escolas.

Pelo novo texto, a carga mínima para formação básica obrigatória sobe de 1,8 mil para 2,4 mil horas. Para o caso de curso técnico integrado ao médio, as disciplinas comuns terão 2,1 mil horas, das quais 300 poderão ser usadas como articulação entre a base curricular do médio e a formação técnica profissional. O PL agora será analisado pelo Senado.

Faculdades costumam bancar classes optativas

Para a maior parte das instituições de ensino superior que lecionam as eletivas, o ganho não é financeiro - ao menos não diretamente -, pois são as próprias faculdades que custeiam as aulas. O objetivo é ter visibilidade em seu público-alvo, estudantes que logo serão vestibulandos.

“Não existe troca financeira. Temos preocupação grande em deixar a nossa marca como referência nas linhas de conhecimento em que atuamos e essa é uma forma de contar na prática como atuamos”, explica Fernanda Steck, gerente de Trade e Marketing da ESPM.

“Outro ganho é despertar o interesse do jovem, para aquele que tem vocação, para as áreas de conhecimentos em que atuamos”, diz ela. A faculdade tem professores lecionando em 11 escolas neste semestre

Já a Faculdade Sírio-Libanês, ligada ao hospital homônimo, diz que iniciou a aproximação com escolas para captar talentos e propiciar “alinhamento cultural” dos vestibulandos com a instituição.

Há preocupação em adaptar os conhecimentos das Ciências da Saúde para o contexto dos estudantes. Por isso, privilegiam tecnologias aplicada à realidade dos jovens. Além disso, decidiram por não privilegiar apenas um profissional da saúde, mas fazem um rodízio dos responsáveis por lecionar a disciplina.

“Focamos em temas emergentes para carreiras de saúde. Temos psicólogos , fisioterapeutas, médicos, enfermeiros (atuando como professores da disciplina eletiva)”, diz Denise Greff, gerente de ensino na Faculdade Sírio-Libanês.

“O objetivo é uma vivência do nosso ensino de ciências básicas, anatomia, fisiologia, biologia molecular. Os alunos também podem experimentar nossa infraestrutura de laboratório e tecnologias”, completa Mike Yoshio Hamasaki, coordenador de concepção e novos produtos da instituição.

O desafio foi adaptar o processo de aprendizagem diante do público-alvo distinto: em vez de alunos graduação, os adolescente do ensino médio. Foram feitas mudanças na metodologia e na profundidade em que os temas são abordados, e o foco ficou para as aulas práticas, com experimentos, atividades com realidade virtual e outros recursos tecnológicos.

Diante da demanda de currículos variados do novo ensino médio, escolas de São Paulo têm apostado em parcerias com faculdades para ampliar a oferta de conteúdos. A reforma da etapa de ensino, que ganhou força a partir de 2022, divide as matérias em dois blocos: as obrigatórias (Matemática, Química, Geografia etc), igual para todos, e aquelas em que há possibilidade de o aluno escolher conforme seu interesse. As disciplinas em colaboração com as universidades entram no segundo bloco.

Para alunos do ensino médio do Marista, disciplinas optativas têm sido também uma oportunidade de ter uma experiência com área profissional de interesse Foto: Marcelo Chello/Estadão

Entre as vantagens, segundo os colégios e as instituições parceiras, estão tornar as classes mais atrativas para os jovens e ainda permitir a vivência de uma área profissional, o que pode ajudar na decisão para o vestibular. As aulas - de Arquitetura à Robótica - têm o apoio de faculdades como ESPM, Ibmec, Sírio-Libanês, FAAP, Instituto Mauá de Tecnologia e a Federal do ABC (UFABC).

A definição de quais eletivas serão oferecidas parte dos colégios, que relatam ouvir os alunos por meio de votações. “Com a implementação do novo ensino médio, a legislação dá certa liberdade às escolas no que diz respeito aos itinerários optativos. Tentamos fazer um cardápio o mais variado possível para dar oportunidade de o aluno experimentar áreas do conhecimento numa perspectiva mais ‘mão na massa’”, conta Patrick Lima, coordenador do Ensino Médio do Colégio Marista Arquidiocesano.

A escola, na zona sul de São Paulo, tem neste semestre, parceria com a ESPM, Ibmec, Instituto Mauá de Tecnologia, Universidade Federal do ABC (UFABC) e Faculdade Sírio-Libanês.

“No início do ano, fazemos um ‘feirão’, botamos todas as parceiras e professores no auditório e cada um tem dez minutos para convencer os alunos de que o seu curso é o mais interessante do semestre”, explica.

“Além da degustação do ambiente universitário, é, acima de tudo, um grande teste vocacional. Ajuda a dar repertório, não só acadêmico mas também social”, reforça Lima. Segundo ele, os jovens têm manifestado interesses profissionais diversos, o que inclui empreendedorismo, atuação em ONGs, produção de conteúdo digital, entre outros.

Aluna do 2º ano do ensino médio do Marista, Lígia Luz estava em dúvida entre cursar Direito e Administração. Ela fez uma disciplina que abordava empreendedorismo e outra sobre cidadania digital e assuntos jurídicos. Agora ela, decidiu que vai seguir na área de gestão. ““É difícil escolher e conseguimos ter uma noção do que vai ser a faculdade, uma imersão, como se fosse um teste do que seria a graduação”, conta.

Alunos do ensino médio do Colegio Marista Arquidiocesano participam da disciplina Desvendando a metodologia científica, dada em parceria com a UFABC Foto: Marcelo Chello/Estadão

“Essas aulas clareiam para o aluno (a visão sobre a carreira) e diminuem a chance do erro”, acrescenta Lima. “E o professor (universitário) trata de maneira diferente, são menos ‘mão na cabeça’ e mais diretos, isso impacta nosso aluno e é bem-vindo.”

A linguagem diferente das aulas também é elogiada pelos adolescentes. “São aulas mais dinâmicas, é de estudante para estudante”, relata Larissa Silva, aluna do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Godofredo Furtado, na zona oeste de São Paulo, que tem uma parceria com a FAAP para lecionar uma eletiva com foco em simulações de assembleias das Nações Unidas (ONU).

A iniciativa da disciplina foi do escritório de São Paulo do Ministério das Relações Exteriores em parceria com faculdades que têm o curso de Relações Internacionais. Nesse projeto, não são os professores das faculdades que vão às escolas, mas os estudantes de graduação.

Os debates dividem os estudantes em grupos que representam determinados países e são uma forma de melhorar o desempenho dos estudantes na escrita, pensamento e argumentação, além de beneficiá-los nas redações de vestibular, cita a professora da escola, Amanda de Paula Costa Santos.

(A eletiva) Se relaciona com as demais disciplinas e aprofunda conhecimentos da Base Curricular Nacional Comum (a BNCC, documento do Ministério da Educação que define os objetivos de aprendizagem para cada série), de forma prática e interdisciplinar”, afirma ela.

No Marista, alunos do ensino médio têm aulas com profissionais do Hospital Sirio-Libanês, um dos principais centros médicos do País Foto: Marcelo Chello/Estadão

“No início é difícil, eles querem defender sua opinião, mas mostramos que é para focar no posicionamento do país. Eles exercem muito a empatia e a tolerância, têm de ouvir as outras ideias, argumentar”, acrescenta Amanda.

“Mudou minha visão de mundo e hoje em dia penso em seguir carreira de diplomacia, quero muito isso no futuro”, relata Larissa, do 1º ano.

Beatriz Cortez, do 2º ano da Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) também teve o seu interesse confirmado após cursar uma eletiva de Arquitetura, “É muito legal, estamos fazendo maquete. Conforme temos as aulas, tenho mais certeza de que quero cursar arquitetura”, conta.

“As eletivas abrem um leque de opções. E, ao mesmo tempo diminuem, porque vou vendo o que quero fazer, já consigo ver os caminhos que quero trilhar no futuro”, afirma José Henriques Pusch, do 1º ano.

No Gracinha, a cada semestre, uma faculdade leciona eletivas na escola. Já passaram pela escola, o Mackenzie, a FAAP, a ESPM e a Escola da Cidade. Coordenador pedagógico da escola, Paulo Rota destaca que as parcerias sempre observam o interesse dos alunos. “O professor universitário no contexto do ensino médio traz outra experiência e outro ponto de vista para os alunos”, afirma.

Pela regra atual, as escolas têm liberdade para escolher conteúdos do currículo flexível. “A oferta dos diferentes itinerários formativos e o quantitativo de opções que devem ser ofertados em cada escola fica a critério dos sistemas de ensino que deverão considerar o interesse dos estudantes, as condições concretas para a oferta de um ou mais itinerários em cada escola - infraestrutura das escolas, modulação de professores, área de formação dos professores - para a distribuição da oferta dos diferentes itinerários nas escolas da rede”, informa o MEC.

Reforma passa por ajustes no Congresso

Uma das principais tônicas do novo ensino médio é a divisão entre a formação básica comum e a parte optativa, que pode ser um aprofundamento de estudos em áreas diversas ou a educação técnica e profissional.

Em março, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que altera a reforma do ensino médio. Um novo texto foi enviado pelo governo federal ao Congresso após críticas de especialistas, professores e estudantes à implementação do novo modelo.

Entre as queixas, estava o número insuficiente de horas para as disciplinas obrigatórias comuns, que são cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e a falta de estrutura e de docentes especializados para ministrar os novos conteúdos. Ofertas restritas da parte flexível do currículo também foram alvo de críticas.

Parcerias com instituições técnicas e de ensino superior para uso compartilhado de laboratórios, equipamentos, materiais didáticos e até professores são estratégias sugeridas pelos especialistas para minimizar os efeitos dos recursos limitados das escolas.

Pelo novo texto, a carga mínima para formação básica obrigatória sobe de 1,8 mil para 2,4 mil horas. Para o caso de curso técnico integrado ao médio, as disciplinas comuns terão 2,1 mil horas, das quais 300 poderão ser usadas como articulação entre a base curricular do médio e a formação técnica profissional. O PL agora será analisado pelo Senado.

Faculdades costumam bancar classes optativas

Para a maior parte das instituições de ensino superior que lecionam as eletivas, o ganho não é financeiro - ao menos não diretamente -, pois são as próprias faculdades que custeiam as aulas. O objetivo é ter visibilidade em seu público-alvo, estudantes que logo serão vestibulandos.

“Não existe troca financeira. Temos preocupação grande em deixar a nossa marca como referência nas linhas de conhecimento em que atuamos e essa é uma forma de contar na prática como atuamos”, explica Fernanda Steck, gerente de Trade e Marketing da ESPM.

“Outro ganho é despertar o interesse do jovem, para aquele que tem vocação, para as áreas de conhecimentos em que atuamos”, diz ela. A faculdade tem professores lecionando em 11 escolas neste semestre

Já a Faculdade Sírio-Libanês, ligada ao hospital homônimo, diz que iniciou a aproximação com escolas para captar talentos e propiciar “alinhamento cultural” dos vestibulandos com a instituição.

Há preocupação em adaptar os conhecimentos das Ciências da Saúde para o contexto dos estudantes. Por isso, privilegiam tecnologias aplicada à realidade dos jovens. Além disso, decidiram por não privilegiar apenas um profissional da saúde, mas fazem um rodízio dos responsáveis por lecionar a disciplina.

“Focamos em temas emergentes para carreiras de saúde. Temos psicólogos , fisioterapeutas, médicos, enfermeiros (atuando como professores da disciplina eletiva)”, diz Denise Greff, gerente de ensino na Faculdade Sírio-Libanês.

“O objetivo é uma vivência do nosso ensino de ciências básicas, anatomia, fisiologia, biologia molecular. Os alunos também podem experimentar nossa infraestrutura de laboratório e tecnologias”, completa Mike Yoshio Hamasaki, coordenador de concepção e novos produtos da instituição.

O desafio foi adaptar o processo de aprendizagem diante do público-alvo distinto: em vez de alunos graduação, os adolescente do ensino médio. Foram feitas mudanças na metodologia e na profundidade em que os temas são abordados, e o foco ficou para as aulas práticas, com experimentos, atividades com realidade virtual e outros recursos tecnológicos.

Diante da demanda de currículos variados do novo ensino médio, escolas de São Paulo têm apostado em parcerias com faculdades para ampliar a oferta de conteúdos. A reforma da etapa de ensino, que ganhou força a partir de 2022, divide as matérias em dois blocos: as obrigatórias (Matemática, Química, Geografia etc), igual para todos, e aquelas em que há possibilidade de o aluno escolher conforme seu interesse. As disciplinas em colaboração com as universidades entram no segundo bloco.

Para alunos do ensino médio do Marista, disciplinas optativas têm sido também uma oportunidade de ter uma experiência com área profissional de interesse Foto: Marcelo Chello/Estadão

Entre as vantagens, segundo os colégios e as instituições parceiras, estão tornar as classes mais atrativas para os jovens e ainda permitir a vivência de uma área profissional, o que pode ajudar na decisão para o vestibular. As aulas - de Arquitetura à Robótica - têm o apoio de faculdades como ESPM, Ibmec, Sírio-Libanês, FAAP, Instituto Mauá de Tecnologia e a Federal do ABC (UFABC).

A definição de quais eletivas serão oferecidas parte dos colégios, que relatam ouvir os alunos por meio de votações. “Com a implementação do novo ensino médio, a legislação dá certa liberdade às escolas no que diz respeito aos itinerários optativos. Tentamos fazer um cardápio o mais variado possível para dar oportunidade de o aluno experimentar áreas do conhecimento numa perspectiva mais ‘mão na massa’”, conta Patrick Lima, coordenador do Ensino Médio do Colégio Marista Arquidiocesano.

A escola, na zona sul de São Paulo, tem neste semestre, parceria com a ESPM, Ibmec, Instituto Mauá de Tecnologia, Universidade Federal do ABC (UFABC) e Faculdade Sírio-Libanês.

“No início do ano, fazemos um ‘feirão’, botamos todas as parceiras e professores no auditório e cada um tem dez minutos para convencer os alunos de que o seu curso é o mais interessante do semestre”, explica.

“Além da degustação do ambiente universitário, é, acima de tudo, um grande teste vocacional. Ajuda a dar repertório, não só acadêmico mas também social”, reforça Lima. Segundo ele, os jovens têm manifestado interesses profissionais diversos, o que inclui empreendedorismo, atuação em ONGs, produção de conteúdo digital, entre outros.

Aluna do 2º ano do ensino médio do Marista, Lígia Luz estava em dúvida entre cursar Direito e Administração. Ela fez uma disciplina que abordava empreendedorismo e outra sobre cidadania digital e assuntos jurídicos. Agora ela, decidiu que vai seguir na área de gestão. ““É difícil escolher e conseguimos ter uma noção do que vai ser a faculdade, uma imersão, como se fosse um teste do que seria a graduação”, conta.

Alunos do ensino médio do Colegio Marista Arquidiocesano participam da disciplina Desvendando a metodologia científica, dada em parceria com a UFABC Foto: Marcelo Chello/Estadão

“Essas aulas clareiam para o aluno (a visão sobre a carreira) e diminuem a chance do erro”, acrescenta Lima. “E o professor (universitário) trata de maneira diferente, são menos ‘mão na cabeça’ e mais diretos, isso impacta nosso aluno e é bem-vindo.”

A linguagem diferente das aulas também é elogiada pelos adolescentes. “São aulas mais dinâmicas, é de estudante para estudante”, relata Larissa Silva, aluna do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Godofredo Furtado, na zona oeste de São Paulo, que tem uma parceria com a FAAP para lecionar uma eletiva com foco em simulações de assembleias das Nações Unidas (ONU).

A iniciativa da disciplina foi do escritório de São Paulo do Ministério das Relações Exteriores em parceria com faculdades que têm o curso de Relações Internacionais. Nesse projeto, não são os professores das faculdades que vão às escolas, mas os estudantes de graduação.

Os debates dividem os estudantes em grupos que representam determinados países e são uma forma de melhorar o desempenho dos estudantes na escrita, pensamento e argumentação, além de beneficiá-los nas redações de vestibular, cita a professora da escola, Amanda de Paula Costa Santos.

(A eletiva) Se relaciona com as demais disciplinas e aprofunda conhecimentos da Base Curricular Nacional Comum (a BNCC, documento do Ministério da Educação que define os objetivos de aprendizagem para cada série), de forma prática e interdisciplinar”, afirma ela.

No Marista, alunos do ensino médio têm aulas com profissionais do Hospital Sirio-Libanês, um dos principais centros médicos do País Foto: Marcelo Chello/Estadão

“No início é difícil, eles querem defender sua opinião, mas mostramos que é para focar no posicionamento do país. Eles exercem muito a empatia e a tolerância, têm de ouvir as outras ideias, argumentar”, acrescenta Amanda.

“Mudou minha visão de mundo e hoje em dia penso em seguir carreira de diplomacia, quero muito isso no futuro”, relata Larissa, do 1º ano.

Beatriz Cortez, do 2º ano da Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) também teve o seu interesse confirmado após cursar uma eletiva de Arquitetura, “É muito legal, estamos fazendo maquete. Conforme temos as aulas, tenho mais certeza de que quero cursar arquitetura”, conta.

“As eletivas abrem um leque de opções. E, ao mesmo tempo diminuem, porque vou vendo o que quero fazer, já consigo ver os caminhos que quero trilhar no futuro”, afirma José Henriques Pusch, do 1º ano.

No Gracinha, a cada semestre, uma faculdade leciona eletivas na escola. Já passaram pela escola, o Mackenzie, a FAAP, a ESPM e a Escola da Cidade. Coordenador pedagógico da escola, Paulo Rota destaca que as parcerias sempre observam o interesse dos alunos. “O professor universitário no contexto do ensino médio traz outra experiência e outro ponto de vista para os alunos”, afirma.

Pela regra atual, as escolas têm liberdade para escolher conteúdos do currículo flexível. “A oferta dos diferentes itinerários formativos e o quantitativo de opções que devem ser ofertados em cada escola fica a critério dos sistemas de ensino que deverão considerar o interesse dos estudantes, as condições concretas para a oferta de um ou mais itinerários em cada escola - infraestrutura das escolas, modulação de professores, área de formação dos professores - para a distribuição da oferta dos diferentes itinerários nas escolas da rede”, informa o MEC.

Reforma passa por ajustes no Congresso

Uma das principais tônicas do novo ensino médio é a divisão entre a formação básica comum e a parte optativa, que pode ser um aprofundamento de estudos em áreas diversas ou a educação técnica e profissional.

Em março, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que altera a reforma do ensino médio. Um novo texto foi enviado pelo governo federal ao Congresso após críticas de especialistas, professores e estudantes à implementação do novo modelo.

Entre as queixas, estava o número insuficiente de horas para as disciplinas obrigatórias comuns, que são cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e a falta de estrutura e de docentes especializados para ministrar os novos conteúdos. Ofertas restritas da parte flexível do currículo também foram alvo de críticas.

Parcerias com instituições técnicas e de ensino superior para uso compartilhado de laboratórios, equipamentos, materiais didáticos e até professores são estratégias sugeridas pelos especialistas para minimizar os efeitos dos recursos limitados das escolas.

Pelo novo texto, a carga mínima para formação básica obrigatória sobe de 1,8 mil para 2,4 mil horas. Para o caso de curso técnico integrado ao médio, as disciplinas comuns terão 2,1 mil horas, das quais 300 poderão ser usadas como articulação entre a base curricular do médio e a formação técnica profissional. O PL agora será analisado pelo Senado.

Faculdades costumam bancar classes optativas

Para a maior parte das instituições de ensino superior que lecionam as eletivas, o ganho não é financeiro - ao menos não diretamente -, pois são as próprias faculdades que custeiam as aulas. O objetivo é ter visibilidade em seu público-alvo, estudantes que logo serão vestibulandos.

“Não existe troca financeira. Temos preocupação grande em deixar a nossa marca como referência nas linhas de conhecimento em que atuamos e essa é uma forma de contar na prática como atuamos”, explica Fernanda Steck, gerente de Trade e Marketing da ESPM.

“Outro ganho é despertar o interesse do jovem, para aquele que tem vocação, para as áreas de conhecimentos em que atuamos”, diz ela. A faculdade tem professores lecionando em 11 escolas neste semestre

Já a Faculdade Sírio-Libanês, ligada ao hospital homônimo, diz que iniciou a aproximação com escolas para captar talentos e propiciar “alinhamento cultural” dos vestibulandos com a instituição.

Há preocupação em adaptar os conhecimentos das Ciências da Saúde para o contexto dos estudantes. Por isso, privilegiam tecnologias aplicada à realidade dos jovens. Além disso, decidiram por não privilegiar apenas um profissional da saúde, mas fazem um rodízio dos responsáveis por lecionar a disciplina.

“Focamos em temas emergentes para carreiras de saúde. Temos psicólogos , fisioterapeutas, médicos, enfermeiros (atuando como professores da disciplina eletiva)”, diz Denise Greff, gerente de ensino na Faculdade Sírio-Libanês.

“O objetivo é uma vivência do nosso ensino de ciências básicas, anatomia, fisiologia, biologia molecular. Os alunos também podem experimentar nossa infraestrutura de laboratório e tecnologias”, completa Mike Yoshio Hamasaki, coordenador de concepção e novos produtos da instituição.

O desafio foi adaptar o processo de aprendizagem diante do público-alvo distinto: em vez de alunos graduação, os adolescente do ensino médio. Foram feitas mudanças na metodologia e na profundidade em que os temas são abordados, e o foco ficou para as aulas práticas, com experimentos, atividades com realidade virtual e outros recursos tecnológicos.

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