A Universidade de São Paulo (USP) tem planos de transformar um prédio do câmpus Butantã, originalmente construído para ser um centro de convenções, em um distrito de inovação. A obra, que começou em 2012 e foi interrompida em 2014 por falta de dinheiro, é um “elefante branco” na Cidade Universitária - até hoje, a construção nunca foi utilizada e segue inacabada. Se levado à frente o projeto, o edifício abrigará pesquisas em inteligência artificial, internet das coisas, captação de carbono, microprocessadores, entre outras, em parceria com empresas privadas e entidades governamentais, a exemplo do que já é feito no InovaUSP.
Segundo o Escritório de Parcerias da USP, a construção do edifício, que tem 36 mil metros quadrados, já custou cerca de R$ 100 milhões e está 70% concluída. Faltam agora mais R$ 100 milhões para adaptar e terminar o projeto. O dinheiro viria da verba da universidade, segundo a reitoria. A USP tem orçamento anual de cerca de R$ 7,5 bilhões (a maior parte da verba oriunda do Tesouro estadual). Desse total, é previsto aproximadamente R$ 130 milhões para investimentos.
Ao Estadão, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior disse que a USP tem condições de pagar pela reforma e que ela não embargaria outras obras vistas como necessárias. No entanto, o orçamento da universidade não conseguiria arcar com gastos com manutenção e funcionários do prédio. Por isso estão sendo estudadas parcerias com empresas e com o governo para subsídio.
“O problema da universidade não é o investimento que você faz e ele termina. O grande problema da universidade é quando assume gastos que ficarão incumbidos no orçamento por vários anos“, diz Carlotti. “Estamos estudando e estabelecendo um plano de trabalho para ver se isso realmente é eficaz e viável, se conseguimos visualizar com certeza que essas parcerias futuras acontecerão, que tanto os governos quanto a iniciativa privada terão interesse na manutenção do espaço.”
Segundo ele, a USP já tem conversado com entidades do governo e com empresas para entender se há interesse no investimento e, de início, tem recebido respostas positivas. Esse período de avaliação da viabilidade do projeto e a obra, se for autorizada, devem levar entre 3 e 6 meses.
“Elefante branco”
O plano original para o prédio previa que ali funcionasse um centro de convenções - por ser a maior universidade da América Latina, na época, o então reitor João Grandino Rodas justificou a construção dizendo que a USP receberia milhares de visitantes para feiras, palestras, entre outros eventos a serem realizados no local.
O projeto, assinado pelo arquiteto Paulo Bruna, previa três auditórios, com 1.450, 620 e 218 assentos, sala de projeções com 157 lugares, espaços para exposição, dois restaurantes ou lanchonetes com cozinhas especializadas, 20 salas multiuso e um saguão de 1.750 metros quadrados. O que não estava previsto, no entanto, seria a falta de dinheiro para concretizá-lo.
Como a USP é mantida principalmente pelo dinheiro que vem da arrecadação do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por parte do governo estadual, o seu orçamento pode variar de ano para ano. Em 2014, a universidade se viu estrangulada financeiramente diante do aumento dos gastos com salários e paralisou a obra do centro de convenções como medida para cortar despesas.
Em 2021, a USP promoveu uma concorrência nacional, na modalidade maior lance ou oferta, com o objetivo de conseguir uma concessão de direito de uso e exploração do centro de convenções pela iniciativa privada, mas não houve interessados.
Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
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Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
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Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
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Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
Foto: Daniel Teixeira ▲Prédio abandonado da USP pode se tornar distrito de inovação
Foto: Daniel Teixeira ▲Novo projeto
Após assumir a reitoria, em dezembro de 2021, Carlotti decidiu pensar em alternativa para o projeto. “É um prédio bastante arrojado e sólido, com uma construção muito boa”, afirma.
Segundo o reitor, a ideia de um centro de convenções, local para reunião de milhares de pessoas presencialmente, deixou de fazer tanto sentido após a pandemia, em que eventos online ganharam força e grande aglomerações foram repensadas. Por isso, a reitoria chegou à ideia do distrito de inovação.
O projeto é inspirado em modelos internacionais, em especial o MaRS, distrito de inovação de Toronto, no Canadá, que se propõe a estudar e desenvolver soluções para desafios sociais, impulsionando novas e velhas empresas (em especial startups) e colaborando para a geração de novos empregos no país.
“Os ganhos disso são vários: transmitir para a sociedade o que estamos desenvolvendo, ter um campo de treinamento para alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutorado, dar oportunidades para que esses alunos e pós-doutorandos se relacionem com entidades privadas e públicas e pensem em carreiras futuras e até mesmo colaborar para a empregabilidade, pois certamente teremos um espaço de criação de startups.“, diz Carlotti.
Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, Vahan Agopyan, que também foi reitor da USP, o novo centro seria uma extensão das políticas públicas que vêm sendo implementadas nas últimas duas décadas no sentido de promover maior contato entre as instituições de ensino superior estaduais e o setor privado.
“A experiência que as universidades estaduais paulistas estão sendo muito proveitosas. Na hora que nós colocamos o usuário do conhecimento junto com quem vai desenvolver o conhecimento, a transferência (desse conhecimento para as empresas e para a sociedade) é muito mais rápida”, diz o secretário.
Já a Associação de Docentes da USP (Adusp) diz que o projeto vai contra os ideais da universidade pública. “Defendemos o ensino e a pesquisa públicos, com financiamento público adequado. No caso do ensino superior, não custa lembrar que as universidades públicas e institutos públicos de pesquisa, estaduais e federais, respondem pela quase totalidade da pesquisa científica produzida no Brasil”, diz.
Segundo a entidade, a USP já tem espaços físicos suficientes para inovação e há outras prioridades de investimento, a exemplo da valorização do quadro de funcionários e docentes e ampliação das políticas de permanência estudantil, que garantem a sobrevivência de estudantes de baixa renda na universidade.