USP perde 800 professores em uma década e cursos tem aulas canceladas: ‘Sentimento é de frustração’


Reitoria autorizou em 2022 reposição desses docentes que se aposentaram ou saíram, mas processo é demorado. Estudantes fazem protestos em algumas faculdades

Por Renata Cafardo e Giovanna Castro
Atualização:

A Universidade de São Paulo (USP), considerada nesta semana a melhor instituição de ensino superior da América Latina e Caribe, perdeu 818 professores entre 2014 e 2023. São 15% a menos de docentes, sem que tenha mudado o número de alunos, resultado de anos de crise financeira e do período de pandemia, quando não foram autorizadas novas contratações.

Nos últimos meses, disciplinas obrigatórias não puderam ser oferecidas, atrasando a formatura em alguns cursos, o que levou a protestos dos estudantes. A reitoria havia autorizado a contratação de 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, e teve de adiantar às pressas, há cerca de quinze dias, uma parte das vagas.

Mesmo assim, a maioria dos novos professores só deve chegar à universidade no ano que vem, já que é preciso abrir edital para concursos públicos e realizar os processos de seleção.

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A estudante Clara Moreno, de 23 anos, aluna do 8º semestre de Artes Visuais, não pôde cursar na Escola de Comunicação e Artes (ECA) a disciplina de História da Arte porque ela foi cancelada, este semestre, por falta de professor. “É obrigatória e a última que eu precisava fazer para me formar no bacharelado”, conta. “Vou demorar mais para entrar no mercado de trabalho. E, no caso das Artes, a entrada no mercado já é desafiadora e demorada.”

Clara Moreno, aluna da ECA, que não pode cursar uma disciplina por falta de professores Foto: FELIPE RAU

Segundo a diretoria da ECA, nove disciplinas obrigatórias não estão sendo oferecidas neste semestre por falta de docente responsável, em quatro cursos: Música, Artes Visuais, Editoração e Publicidade. A ECA tem, em média, cerca de 400 disciplinas por semestre em 18 cursos. Algumas eletivas (matérias de caráter opcional) também foram canceladas.

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Entre as 879 vagas autorizadas pela reitoria para toda a universidade no ano passado, 36 são para a ECA. Mas só nove delas haviam sido liberadas no ano passado. Segundo a direção, os concursos foram feitos e oito professores foram contratados. Após as manifestações dos alunos e pedidos das unidades, o restante foi autorizado em 31 de agosto.

Todo ano, a USP perde entre 100 e 120 professores, a maioria por aposentadoria e morte, alguns poucos por outros desligamentos. “O ideal é que se faça reposição logo, não esperar oito, nove anos, como está acontecendo agora”, diz o reitor Carlos Gilberto Carlotti Júnior. Segundo o anuário da universidade, eram 6.090 professores em 2014 e, em agosto de 2023, são 5.272.

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O ano de 2014 é representativo porque foi quando a crise na USP atingiu seu ápice, após anos de expansão, com abertura de novas vagas e contratações de professores. A situação financeira do País também contribuiu negativamente, já que os recursos da universidade vêm da arrecadação do ICMS do Estado - 5% para a USP. Naquele ano, mais de 106% do orçamento da instituição estavam comprometidos com a folha de pagamento, o que só melhorou em 2017.

A universidade mais conceituada do País abriu seu primeiro plano de demissão voluntária da história (de servidores técnico-administrativos), paralisou obras, consumiu quase todo seu fundo de reserva, de R$ 600 milhões. O cenário então começou a se estabilizar e, na pandemia, a USP economizou, já que manteve os câmpus fechados por um ano e meio. E ainda uma lei federal impediu contratações de servidores públicos e aumentos de salários até o fim de 2021.

No período de crise, a USP passou a contratar professores temporários, que ficavam no cargo por cerca de 2 anos. Mas, o modelo nao considerado ideal nem pela reitoria atual nem pela associação de docentes. “São contratados por um salário mais baixo, por pouco tempo, não acho que seja uma forma para fazermos uma universidade de qualidade.” Uma lei estadual de 2022 também não permite mais a contratação de temporários sem razões e períodos específicos.

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“O sentimento é de frustração”, diz Monique Mosso, de 22 anos, aluna de Letras que faz habilitação em Japonês. Ela também está em seu último semestre na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e ficou sem professor em uma das disciplinas obrigatórias da grade, Literatura Japonesa Clássica II, que está suspensa.

“Os professores do departamento estão tentando dar um jeito de nos ajudar, já que dependemos dessa matéria para graduar esse ano. Eles estão chamando professores para darem palestras e assim conseguirmos cumprir as horas necessárias para a disciplina, mas não sabemos se vai dar certo”, diz a aluna.

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A FFLCH perdeu 71 professores desde 2014, segundo dados do anuário e do portal da transparência da USP, o que representa 16% da quantidade que tinha há nove anos. De acordo com a vice-diretora da unidade, Ana Paula Megiani, estudos de uma comissão da unidade mostravam a necessidade de cerca de 80 novos docentes, quantidade que foi apresentada à reitoria.

Com a primeira liberação, a unidade recebeu 20 vagas em 2022, muitas delas distribuídas para cursos que mais precisavam. Entre eles, o departamento de Letras Modernas, com Inglês, Francês, Espanhol, que tem a maior quantidade de alunos.

Segundo ela, a falta na habilitação em Japonês foi uma “falha” não percebida pela comissão, que deverá ser corrigida agora com o adiantamento de outras 70 vagas no mês passado, mas que ainda serão abertos concursos. “Não tendo a disciplina de japonês quem ia se formar não vai” afirma. “Se tivessem vindo todas as vagas de uma vez, teríamos tido mais maleabilidade.”

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Outras unidades também tiveram grande redução no número de professores, segundo dados da própria universidade. Duas das mais afetadas é a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), com redução de 28% no quadro docente e a Faculdade de Administração e Economia (FEA), com 25%. A Medicina e a Escola Politécnica perderam 16% e 14%, respectivamente.

O problema se repete na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), conhecida como USP Leste por ficar nessa região da cidade. Amanda Ribeiro, de 27 anos, aluna do 3º ano do curso de Obstetrícia, conta que uma das professoras morreu no início do ano. “O curso já está atrasado um ano porque durante a pandemia os estágios foram suspensos. Com o quadro de docentes em déficit e precarizado, é impossível resolver essa bola de neve”, acredita.

A unidade foi ocupada por alunos, em julho, que protestavam contra a falta de professores. Manifestações também aconteceram na FFLCH e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. O atraso na graduação preocupa mais ainda estudantes de baixa renda e que vêm de outras cidades, já que o custo de moradia aumenta.

Para a Associação dos Docentes da USP (Adusp) o déficit atual de vagas é maior, de 1.039, considerando a folha de pagamentos também. A Adusp apoia as manifestações e afirma que a falta de professores, além de comprometer as disciplinas, “gera sobrecarga de trabalho, o que tem desencadeado uma série de consequências, entre elas o adoecimento”.

Na semana passada, a reitoria instalou uma comissão para analisar os casos em que há cancelamento de disciplinas em virtude da falta de professores e pretende ouvir diretores de unidades afetadas, alunos e docentes.

A Universidade de São Paulo (USP), considerada nesta semana a melhor instituição de ensino superior da América Latina e Caribe, perdeu 818 professores entre 2014 e 2023. São 15% a menos de docentes, sem que tenha mudado o número de alunos, resultado de anos de crise financeira e do período de pandemia, quando não foram autorizadas novas contratações.

Nos últimos meses, disciplinas obrigatórias não puderam ser oferecidas, atrasando a formatura em alguns cursos, o que levou a protestos dos estudantes. A reitoria havia autorizado a contratação de 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, e teve de adiantar às pressas, há cerca de quinze dias, uma parte das vagas.

Mesmo assim, a maioria dos novos professores só deve chegar à universidade no ano que vem, já que é preciso abrir edital para concursos públicos e realizar os processos de seleção.

A estudante Clara Moreno, de 23 anos, aluna do 8º semestre de Artes Visuais, não pôde cursar na Escola de Comunicação e Artes (ECA) a disciplina de História da Arte porque ela foi cancelada, este semestre, por falta de professor. “É obrigatória e a última que eu precisava fazer para me formar no bacharelado”, conta. “Vou demorar mais para entrar no mercado de trabalho. E, no caso das Artes, a entrada no mercado já é desafiadora e demorada.”

Clara Moreno, aluna da ECA, que não pode cursar uma disciplina por falta de professores Foto: FELIPE RAU

Segundo a diretoria da ECA, nove disciplinas obrigatórias não estão sendo oferecidas neste semestre por falta de docente responsável, em quatro cursos: Música, Artes Visuais, Editoração e Publicidade. A ECA tem, em média, cerca de 400 disciplinas por semestre em 18 cursos. Algumas eletivas (matérias de caráter opcional) também foram canceladas.

Entre as 879 vagas autorizadas pela reitoria para toda a universidade no ano passado, 36 são para a ECA. Mas só nove delas haviam sido liberadas no ano passado. Segundo a direção, os concursos foram feitos e oito professores foram contratados. Após as manifestações dos alunos e pedidos das unidades, o restante foi autorizado em 31 de agosto.

Todo ano, a USP perde entre 100 e 120 professores, a maioria por aposentadoria e morte, alguns poucos por outros desligamentos. “O ideal é que se faça reposição logo, não esperar oito, nove anos, como está acontecendo agora”, diz o reitor Carlos Gilberto Carlotti Júnior. Segundo o anuário da universidade, eram 6.090 professores em 2014 e, em agosto de 2023, são 5.272.

O ano de 2014 é representativo porque foi quando a crise na USP atingiu seu ápice, após anos de expansão, com abertura de novas vagas e contratações de professores. A situação financeira do País também contribuiu negativamente, já que os recursos da universidade vêm da arrecadação do ICMS do Estado - 5% para a USP. Naquele ano, mais de 106% do orçamento da instituição estavam comprometidos com a folha de pagamento, o que só melhorou em 2017.

A universidade mais conceituada do País abriu seu primeiro plano de demissão voluntária da história (de servidores técnico-administrativos), paralisou obras, consumiu quase todo seu fundo de reserva, de R$ 600 milhões. O cenário então começou a se estabilizar e, na pandemia, a USP economizou, já que manteve os câmpus fechados por um ano e meio. E ainda uma lei federal impediu contratações de servidores públicos e aumentos de salários até o fim de 2021.

No período de crise, a USP passou a contratar professores temporários, que ficavam no cargo por cerca de 2 anos. Mas, o modelo nao considerado ideal nem pela reitoria atual nem pela associação de docentes. “São contratados por um salário mais baixo, por pouco tempo, não acho que seja uma forma para fazermos uma universidade de qualidade.” Uma lei estadual de 2022 também não permite mais a contratação de temporários sem razões e períodos específicos.

“O sentimento é de frustração”, diz Monique Mosso, de 22 anos, aluna de Letras que faz habilitação em Japonês. Ela também está em seu último semestre na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e ficou sem professor em uma das disciplinas obrigatórias da grade, Literatura Japonesa Clássica II, que está suspensa.

“Os professores do departamento estão tentando dar um jeito de nos ajudar, já que dependemos dessa matéria para graduar esse ano. Eles estão chamando professores para darem palestras e assim conseguirmos cumprir as horas necessárias para a disciplina, mas não sabemos se vai dar certo”, diz a aluna.

A FFLCH perdeu 71 professores desde 2014, segundo dados do anuário e do portal da transparência da USP, o que representa 16% da quantidade que tinha há nove anos. De acordo com a vice-diretora da unidade, Ana Paula Megiani, estudos de uma comissão da unidade mostravam a necessidade de cerca de 80 novos docentes, quantidade que foi apresentada à reitoria.

Com a primeira liberação, a unidade recebeu 20 vagas em 2022, muitas delas distribuídas para cursos que mais precisavam. Entre eles, o departamento de Letras Modernas, com Inglês, Francês, Espanhol, que tem a maior quantidade de alunos.

Segundo ela, a falta na habilitação em Japonês foi uma “falha” não percebida pela comissão, que deverá ser corrigida agora com o adiantamento de outras 70 vagas no mês passado, mas que ainda serão abertos concursos. “Não tendo a disciplina de japonês quem ia se formar não vai” afirma. “Se tivessem vindo todas as vagas de uma vez, teríamos tido mais maleabilidade.”

Outras unidades também tiveram grande redução no número de professores, segundo dados da própria universidade. Duas das mais afetadas é a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), com redução de 28% no quadro docente e a Faculdade de Administração e Economia (FEA), com 25%. A Medicina e a Escola Politécnica perderam 16% e 14%, respectivamente.

O problema se repete na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), conhecida como USP Leste por ficar nessa região da cidade. Amanda Ribeiro, de 27 anos, aluna do 3º ano do curso de Obstetrícia, conta que uma das professoras morreu no início do ano. “O curso já está atrasado um ano porque durante a pandemia os estágios foram suspensos. Com o quadro de docentes em déficit e precarizado, é impossível resolver essa bola de neve”, acredita.

A unidade foi ocupada por alunos, em julho, que protestavam contra a falta de professores. Manifestações também aconteceram na FFLCH e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. O atraso na graduação preocupa mais ainda estudantes de baixa renda e que vêm de outras cidades, já que o custo de moradia aumenta.

Para a Associação dos Docentes da USP (Adusp) o déficit atual de vagas é maior, de 1.039, considerando a folha de pagamentos também. A Adusp apoia as manifestações e afirma que a falta de professores, além de comprometer as disciplinas, “gera sobrecarga de trabalho, o que tem desencadeado uma série de consequências, entre elas o adoecimento”.

Na semana passada, a reitoria instalou uma comissão para analisar os casos em que há cancelamento de disciplinas em virtude da falta de professores e pretende ouvir diretores de unidades afetadas, alunos e docentes.

A Universidade de São Paulo (USP), considerada nesta semana a melhor instituição de ensino superior da América Latina e Caribe, perdeu 818 professores entre 2014 e 2023. São 15% a menos de docentes, sem que tenha mudado o número de alunos, resultado de anos de crise financeira e do período de pandemia, quando não foram autorizadas novas contratações.

Nos últimos meses, disciplinas obrigatórias não puderam ser oferecidas, atrasando a formatura em alguns cursos, o que levou a protestos dos estudantes. A reitoria havia autorizado a contratação de 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, e teve de adiantar às pressas, há cerca de quinze dias, uma parte das vagas.

Mesmo assim, a maioria dos novos professores só deve chegar à universidade no ano que vem, já que é preciso abrir edital para concursos públicos e realizar os processos de seleção.

A estudante Clara Moreno, de 23 anos, aluna do 8º semestre de Artes Visuais, não pôde cursar na Escola de Comunicação e Artes (ECA) a disciplina de História da Arte porque ela foi cancelada, este semestre, por falta de professor. “É obrigatória e a última que eu precisava fazer para me formar no bacharelado”, conta. “Vou demorar mais para entrar no mercado de trabalho. E, no caso das Artes, a entrada no mercado já é desafiadora e demorada.”

Clara Moreno, aluna da ECA, que não pode cursar uma disciplina por falta de professores Foto: FELIPE RAU

Segundo a diretoria da ECA, nove disciplinas obrigatórias não estão sendo oferecidas neste semestre por falta de docente responsável, em quatro cursos: Música, Artes Visuais, Editoração e Publicidade. A ECA tem, em média, cerca de 400 disciplinas por semestre em 18 cursos. Algumas eletivas (matérias de caráter opcional) também foram canceladas.

Entre as 879 vagas autorizadas pela reitoria para toda a universidade no ano passado, 36 são para a ECA. Mas só nove delas haviam sido liberadas no ano passado. Segundo a direção, os concursos foram feitos e oito professores foram contratados. Após as manifestações dos alunos e pedidos das unidades, o restante foi autorizado em 31 de agosto.

Todo ano, a USP perde entre 100 e 120 professores, a maioria por aposentadoria e morte, alguns poucos por outros desligamentos. “O ideal é que se faça reposição logo, não esperar oito, nove anos, como está acontecendo agora”, diz o reitor Carlos Gilberto Carlotti Júnior. Segundo o anuário da universidade, eram 6.090 professores em 2014 e, em agosto de 2023, são 5.272.

O ano de 2014 é representativo porque foi quando a crise na USP atingiu seu ápice, após anos de expansão, com abertura de novas vagas e contratações de professores. A situação financeira do País também contribuiu negativamente, já que os recursos da universidade vêm da arrecadação do ICMS do Estado - 5% para a USP. Naquele ano, mais de 106% do orçamento da instituição estavam comprometidos com a folha de pagamento, o que só melhorou em 2017.

A universidade mais conceituada do País abriu seu primeiro plano de demissão voluntária da história (de servidores técnico-administrativos), paralisou obras, consumiu quase todo seu fundo de reserva, de R$ 600 milhões. O cenário então começou a se estabilizar e, na pandemia, a USP economizou, já que manteve os câmpus fechados por um ano e meio. E ainda uma lei federal impediu contratações de servidores públicos e aumentos de salários até o fim de 2021.

No período de crise, a USP passou a contratar professores temporários, que ficavam no cargo por cerca de 2 anos. Mas, o modelo nao considerado ideal nem pela reitoria atual nem pela associação de docentes. “São contratados por um salário mais baixo, por pouco tempo, não acho que seja uma forma para fazermos uma universidade de qualidade.” Uma lei estadual de 2022 também não permite mais a contratação de temporários sem razões e períodos específicos.

“O sentimento é de frustração”, diz Monique Mosso, de 22 anos, aluna de Letras que faz habilitação em Japonês. Ela também está em seu último semestre na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e ficou sem professor em uma das disciplinas obrigatórias da grade, Literatura Japonesa Clássica II, que está suspensa.

“Os professores do departamento estão tentando dar um jeito de nos ajudar, já que dependemos dessa matéria para graduar esse ano. Eles estão chamando professores para darem palestras e assim conseguirmos cumprir as horas necessárias para a disciplina, mas não sabemos se vai dar certo”, diz a aluna.

A FFLCH perdeu 71 professores desde 2014, segundo dados do anuário e do portal da transparência da USP, o que representa 16% da quantidade que tinha há nove anos. De acordo com a vice-diretora da unidade, Ana Paula Megiani, estudos de uma comissão da unidade mostravam a necessidade de cerca de 80 novos docentes, quantidade que foi apresentada à reitoria.

Com a primeira liberação, a unidade recebeu 20 vagas em 2022, muitas delas distribuídas para cursos que mais precisavam. Entre eles, o departamento de Letras Modernas, com Inglês, Francês, Espanhol, que tem a maior quantidade de alunos.

Segundo ela, a falta na habilitação em Japonês foi uma “falha” não percebida pela comissão, que deverá ser corrigida agora com o adiantamento de outras 70 vagas no mês passado, mas que ainda serão abertos concursos. “Não tendo a disciplina de japonês quem ia se formar não vai” afirma. “Se tivessem vindo todas as vagas de uma vez, teríamos tido mais maleabilidade.”

Outras unidades também tiveram grande redução no número de professores, segundo dados da própria universidade. Duas das mais afetadas é a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), com redução de 28% no quadro docente e a Faculdade de Administração e Economia (FEA), com 25%. A Medicina e a Escola Politécnica perderam 16% e 14%, respectivamente.

O problema se repete na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), conhecida como USP Leste por ficar nessa região da cidade. Amanda Ribeiro, de 27 anos, aluna do 3º ano do curso de Obstetrícia, conta que uma das professoras morreu no início do ano. “O curso já está atrasado um ano porque durante a pandemia os estágios foram suspensos. Com o quadro de docentes em déficit e precarizado, é impossível resolver essa bola de neve”, acredita.

A unidade foi ocupada por alunos, em julho, que protestavam contra a falta de professores. Manifestações também aconteceram na FFLCH e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. O atraso na graduação preocupa mais ainda estudantes de baixa renda e que vêm de outras cidades, já que o custo de moradia aumenta.

Para a Associação dos Docentes da USP (Adusp) o déficit atual de vagas é maior, de 1.039, considerando a folha de pagamentos também. A Adusp apoia as manifestações e afirma que a falta de professores, além de comprometer as disciplinas, “gera sobrecarga de trabalho, o que tem desencadeado uma série de consequências, entre elas o adoecimento”.

Na semana passada, a reitoria instalou uma comissão para analisar os casos em que há cancelamento de disciplinas em virtude da falta de professores e pretende ouvir diretores de unidades afetadas, alunos e docentes.

A Universidade de São Paulo (USP), considerada nesta semana a melhor instituição de ensino superior da América Latina e Caribe, perdeu 818 professores entre 2014 e 2023. São 15% a menos de docentes, sem que tenha mudado o número de alunos, resultado de anos de crise financeira e do período de pandemia, quando não foram autorizadas novas contratações.

Nos últimos meses, disciplinas obrigatórias não puderam ser oferecidas, atrasando a formatura em alguns cursos, o que levou a protestos dos estudantes. A reitoria havia autorizado a contratação de 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, e teve de adiantar às pressas, há cerca de quinze dias, uma parte das vagas.

Mesmo assim, a maioria dos novos professores só deve chegar à universidade no ano que vem, já que é preciso abrir edital para concursos públicos e realizar os processos de seleção.

A estudante Clara Moreno, de 23 anos, aluna do 8º semestre de Artes Visuais, não pôde cursar na Escola de Comunicação e Artes (ECA) a disciplina de História da Arte porque ela foi cancelada, este semestre, por falta de professor. “É obrigatória e a última que eu precisava fazer para me formar no bacharelado”, conta. “Vou demorar mais para entrar no mercado de trabalho. E, no caso das Artes, a entrada no mercado já é desafiadora e demorada.”

Clara Moreno, aluna da ECA, que não pode cursar uma disciplina por falta de professores Foto: FELIPE RAU

Segundo a diretoria da ECA, nove disciplinas obrigatórias não estão sendo oferecidas neste semestre por falta de docente responsável, em quatro cursos: Música, Artes Visuais, Editoração e Publicidade. A ECA tem, em média, cerca de 400 disciplinas por semestre em 18 cursos. Algumas eletivas (matérias de caráter opcional) também foram canceladas.

Entre as 879 vagas autorizadas pela reitoria para toda a universidade no ano passado, 36 são para a ECA. Mas só nove delas haviam sido liberadas no ano passado. Segundo a direção, os concursos foram feitos e oito professores foram contratados. Após as manifestações dos alunos e pedidos das unidades, o restante foi autorizado em 31 de agosto.

Todo ano, a USP perde entre 100 e 120 professores, a maioria por aposentadoria e morte, alguns poucos por outros desligamentos. “O ideal é que se faça reposição logo, não esperar oito, nove anos, como está acontecendo agora”, diz o reitor Carlos Gilberto Carlotti Júnior. Segundo o anuário da universidade, eram 6.090 professores em 2014 e, em agosto de 2023, são 5.272.

O ano de 2014 é representativo porque foi quando a crise na USP atingiu seu ápice, após anos de expansão, com abertura de novas vagas e contratações de professores. A situação financeira do País também contribuiu negativamente, já que os recursos da universidade vêm da arrecadação do ICMS do Estado - 5% para a USP. Naquele ano, mais de 106% do orçamento da instituição estavam comprometidos com a folha de pagamento, o que só melhorou em 2017.

A universidade mais conceituada do País abriu seu primeiro plano de demissão voluntária da história (de servidores técnico-administrativos), paralisou obras, consumiu quase todo seu fundo de reserva, de R$ 600 milhões. O cenário então começou a se estabilizar e, na pandemia, a USP economizou, já que manteve os câmpus fechados por um ano e meio. E ainda uma lei federal impediu contratações de servidores públicos e aumentos de salários até o fim de 2021.

No período de crise, a USP passou a contratar professores temporários, que ficavam no cargo por cerca de 2 anos. Mas, o modelo nao considerado ideal nem pela reitoria atual nem pela associação de docentes. “São contratados por um salário mais baixo, por pouco tempo, não acho que seja uma forma para fazermos uma universidade de qualidade.” Uma lei estadual de 2022 também não permite mais a contratação de temporários sem razões e períodos específicos.

“O sentimento é de frustração”, diz Monique Mosso, de 22 anos, aluna de Letras que faz habilitação em Japonês. Ela também está em seu último semestre na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e ficou sem professor em uma das disciplinas obrigatórias da grade, Literatura Japonesa Clássica II, que está suspensa.

“Os professores do departamento estão tentando dar um jeito de nos ajudar, já que dependemos dessa matéria para graduar esse ano. Eles estão chamando professores para darem palestras e assim conseguirmos cumprir as horas necessárias para a disciplina, mas não sabemos se vai dar certo”, diz a aluna.

A FFLCH perdeu 71 professores desde 2014, segundo dados do anuário e do portal da transparência da USP, o que representa 16% da quantidade que tinha há nove anos. De acordo com a vice-diretora da unidade, Ana Paula Megiani, estudos de uma comissão da unidade mostravam a necessidade de cerca de 80 novos docentes, quantidade que foi apresentada à reitoria.

Com a primeira liberação, a unidade recebeu 20 vagas em 2022, muitas delas distribuídas para cursos que mais precisavam. Entre eles, o departamento de Letras Modernas, com Inglês, Francês, Espanhol, que tem a maior quantidade de alunos.

Segundo ela, a falta na habilitação em Japonês foi uma “falha” não percebida pela comissão, que deverá ser corrigida agora com o adiantamento de outras 70 vagas no mês passado, mas que ainda serão abertos concursos. “Não tendo a disciplina de japonês quem ia se formar não vai” afirma. “Se tivessem vindo todas as vagas de uma vez, teríamos tido mais maleabilidade.”

Outras unidades também tiveram grande redução no número de professores, segundo dados da própria universidade. Duas das mais afetadas é a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), com redução de 28% no quadro docente e a Faculdade de Administração e Economia (FEA), com 25%. A Medicina e a Escola Politécnica perderam 16% e 14%, respectivamente.

O problema se repete na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), conhecida como USP Leste por ficar nessa região da cidade. Amanda Ribeiro, de 27 anos, aluna do 3º ano do curso de Obstetrícia, conta que uma das professoras morreu no início do ano. “O curso já está atrasado um ano porque durante a pandemia os estágios foram suspensos. Com o quadro de docentes em déficit e precarizado, é impossível resolver essa bola de neve”, acredita.

A unidade foi ocupada por alunos, em julho, que protestavam contra a falta de professores. Manifestações também aconteceram na FFLCH e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. O atraso na graduação preocupa mais ainda estudantes de baixa renda e que vêm de outras cidades, já que o custo de moradia aumenta.

Para a Associação dos Docentes da USP (Adusp) o déficit atual de vagas é maior, de 1.039, considerando a folha de pagamentos também. A Adusp apoia as manifestações e afirma que a falta de professores, além de comprometer as disciplinas, “gera sobrecarga de trabalho, o que tem desencadeado uma série de consequências, entre elas o adoecimento”.

Na semana passada, a reitoria instalou uma comissão para analisar os casos em que há cancelamento de disciplinas em virtude da falta de professores e pretende ouvir diretores de unidades afetadas, alunos e docentes.

A Universidade de São Paulo (USP), considerada nesta semana a melhor instituição de ensino superior da América Latina e Caribe, perdeu 818 professores entre 2014 e 2023. São 15% a menos de docentes, sem que tenha mudado o número de alunos, resultado de anos de crise financeira e do período de pandemia, quando não foram autorizadas novas contratações.

Nos últimos meses, disciplinas obrigatórias não puderam ser oferecidas, atrasando a formatura em alguns cursos, o que levou a protestos dos estudantes. A reitoria havia autorizado a contratação de 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, e teve de adiantar às pressas, há cerca de quinze dias, uma parte das vagas.

Mesmo assim, a maioria dos novos professores só deve chegar à universidade no ano que vem, já que é preciso abrir edital para concursos públicos e realizar os processos de seleção.

A estudante Clara Moreno, de 23 anos, aluna do 8º semestre de Artes Visuais, não pôde cursar na Escola de Comunicação e Artes (ECA) a disciplina de História da Arte porque ela foi cancelada, este semestre, por falta de professor. “É obrigatória e a última que eu precisava fazer para me formar no bacharelado”, conta. “Vou demorar mais para entrar no mercado de trabalho. E, no caso das Artes, a entrada no mercado já é desafiadora e demorada.”

Clara Moreno, aluna da ECA, que não pode cursar uma disciplina por falta de professores Foto: FELIPE RAU

Segundo a diretoria da ECA, nove disciplinas obrigatórias não estão sendo oferecidas neste semestre por falta de docente responsável, em quatro cursos: Música, Artes Visuais, Editoração e Publicidade. A ECA tem, em média, cerca de 400 disciplinas por semestre em 18 cursos. Algumas eletivas (matérias de caráter opcional) também foram canceladas.

Entre as 879 vagas autorizadas pela reitoria para toda a universidade no ano passado, 36 são para a ECA. Mas só nove delas haviam sido liberadas no ano passado. Segundo a direção, os concursos foram feitos e oito professores foram contratados. Após as manifestações dos alunos e pedidos das unidades, o restante foi autorizado em 31 de agosto.

Todo ano, a USP perde entre 100 e 120 professores, a maioria por aposentadoria e morte, alguns poucos por outros desligamentos. “O ideal é que se faça reposição logo, não esperar oito, nove anos, como está acontecendo agora”, diz o reitor Carlos Gilberto Carlotti Júnior. Segundo o anuário da universidade, eram 6.090 professores em 2014 e, em agosto de 2023, são 5.272.

O ano de 2014 é representativo porque foi quando a crise na USP atingiu seu ápice, após anos de expansão, com abertura de novas vagas e contratações de professores. A situação financeira do País também contribuiu negativamente, já que os recursos da universidade vêm da arrecadação do ICMS do Estado - 5% para a USP. Naquele ano, mais de 106% do orçamento da instituição estavam comprometidos com a folha de pagamento, o que só melhorou em 2017.

A universidade mais conceituada do País abriu seu primeiro plano de demissão voluntária da história (de servidores técnico-administrativos), paralisou obras, consumiu quase todo seu fundo de reserva, de R$ 600 milhões. O cenário então começou a se estabilizar e, na pandemia, a USP economizou, já que manteve os câmpus fechados por um ano e meio. E ainda uma lei federal impediu contratações de servidores públicos e aumentos de salários até o fim de 2021.

No período de crise, a USP passou a contratar professores temporários, que ficavam no cargo por cerca de 2 anos. Mas, o modelo nao considerado ideal nem pela reitoria atual nem pela associação de docentes. “São contratados por um salário mais baixo, por pouco tempo, não acho que seja uma forma para fazermos uma universidade de qualidade.” Uma lei estadual de 2022 também não permite mais a contratação de temporários sem razões e períodos específicos.

“O sentimento é de frustração”, diz Monique Mosso, de 22 anos, aluna de Letras que faz habilitação em Japonês. Ela também está em seu último semestre na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e ficou sem professor em uma das disciplinas obrigatórias da grade, Literatura Japonesa Clássica II, que está suspensa.

“Os professores do departamento estão tentando dar um jeito de nos ajudar, já que dependemos dessa matéria para graduar esse ano. Eles estão chamando professores para darem palestras e assim conseguirmos cumprir as horas necessárias para a disciplina, mas não sabemos se vai dar certo”, diz a aluna.

A FFLCH perdeu 71 professores desde 2014, segundo dados do anuário e do portal da transparência da USP, o que representa 16% da quantidade que tinha há nove anos. De acordo com a vice-diretora da unidade, Ana Paula Megiani, estudos de uma comissão da unidade mostravam a necessidade de cerca de 80 novos docentes, quantidade que foi apresentada à reitoria.

Com a primeira liberação, a unidade recebeu 20 vagas em 2022, muitas delas distribuídas para cursos que mais precisavam. Entre eles, o departamento de Letras Modernas, com Inglês, Francês, Espanhol, que tem a maior quantidade de alunos.

Segundo ela, a falta na habilitação em Japonês foi uma “falha” não percebida pela comissão, que deverá ser corrigida agora com o adiantamento de outras 70 vagas no mês passado, mas que ainda serão abertos concursos. “Não tendo a disciplina de japonês quem ia se formar não vai” afirma. “Se tivessem vindo todas as vagas de uma vez, teríamos tido mais maleabilidade.”

Outras unidades também tiveram grande redução no número de professores, segundo dados da própria universidade. Duas das mais afetadas é a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), com redução de 28% no quadro docente e a Faculdade de Administração e Economia (FEA), com 25%. A Medicina e a Escola Politécnica perderam 16% e 14%, respectivamente.

O problema se repete na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), conhecida como USP Leste por ficar nessa região da cidade. Amanda Ribeiro, de 27 anos, aluna do 3º ano do curso de Obstetrícia, conta que uma das professoras morreu no início do ano. “O curso já está atrasado um ano porque durante a pandemia os estágios foram suspensos. Com o quadro de docentes em déficit e precarizado, é impossível resolver essa bola de neve”, acredita.

A unidade foi ocupada por alunos, em julho, que protestavam contra a falta de professores. Manifestações também aconteceram na FFLCH e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. O atraso na graduação preocupa mais ainda estudantes de baixa renda e que vêm de outras cidades, já que o custo de moradia aumenta.

Para a Associação dos Docentes da USP (Adusp) o déficit atual de vagas é maior, de 1.039, considerando a folha de pagamentos também. A Adusp apoia as manifestações e afirma que a falta de professores, além de comprometer as disciplinas, “gera sobrecarga de trabalho, o que tem desencadeado uma série de consequências, entre elas o adoecimento”.

Na semana passada, a reitoria instalou uma comissão para analisar os casos em que há cancelamento de disciplinas em virtude da falta de professores e pretende ouvir diretores de unidades afetadas, alunos e docentes.

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