A polícia volta a estaca zero nas investigações sobre o estuprador que age nos arredores da Universidade de São Paulo (USP). O caso se tornou mais complicado e já se suspeita que dois homens podem estar agindo na região. Na terça-feira, seis mulheres que foram vítimas de violência sexual tanto no câmpus como nas proximidades não reconheceram como agressor um cabo da marinha que era apontado como o principal suspeito. Elas não conseguiram identificá-lo, apesar da semelhança com o retrato falado elaborado pela estudante estuprada na quarta-feira próximo ao prédio da reitoria. Entretanto, o cabo, identificado apenas como Jorge, de 30 anos, que trabalha no Centro Tecnológico da Marinha dentro da USP, continua sob investigação. ?Foi descartada a possibilidade de dele ter sido o agressor nos outros cinco casos?, disse a delegada da 3.ª Delegacia da Mulher, Maria Cristina Mazzarello. Jorge está sendo averiguado por uma tentativa de estupro ocorrida na sexta-feira na Favela São Remo, localizada ao lado da USP. Duas suspeitas pesam contra o cabo, que é solteiro e mora em Barueri, na região metropolitana. O primeiro é que documentos e objetos pessoais dele foram encontrados no chão, após ele ter fugido de dois motoqueiros, que viram a tentativa de estupro e foram salvar a vítima. A polícia chegou ao cabo a partir desse material. ?O fato dos documentos estarem lá é um forte indício?, afirmou a delegada do 3ª. Delegacia da Mulher, Maria Cristina Mazzarello. Outro motivo é que a vítima, de 48 anos, afirmou não ter visto o rosto do maníaco, por causa da escuridão. ?Além disso, ele me pegou pelas costas?, contou a mulher. Com isso, o reconhecimento ficou prejudicado. O próximo passo da polícia é encontrar os dois motoqueiros que perseguiram o estuprador para ver se eles o reconhecem. A partir daí, o caso ficou mais complexo para a polícia, porque, embora o cabo não tenha sido reconhecido, o modo como ele atacou a mulher na favela é semelhante aos cinco casos ocorridos dentro e fora da USP. ?O modo de atuar é muito parecido?, disse a delegada. As coincidências são muitas. Todas as mulheres relatam que foram abordadas com um punhal, arma usada também contra a vítima estuprada na favela. Outra coincidência é a mochila usada pelo estuprador, parecida com aquela encontrada pela polícia com os documentos do cabo. O maníaco da USP também obrigou suas vítimas a praticarem sexo oral. Uma delas ? uma porteira violentada no dia 3 de novembro próximo a uma estação de trem ? conta que ele a obrigou a realizar o ato, mas ela se recusou e foi espancada. ?Ele quis que eu fizesse, mas disse que não faria isso e comecei a gritar?, contou a mulher violentada na favela supostamente pelo cabo, revelando outra semelhança. Diante de sua resistência, ela afirma que foi agredida na cabeça. ?Não sei o que ele usou, mas senti uma pancada muito forte na cabeça e cheguei ao hospital desacordada?, contou outra vítima, que mora em um barraco, numa favela na zona oeste e tem 13 filhos. Viúva e sem recursos, ela foi atacada quando seguia para o hospital da USP após sentir dores em razão de sua tendinite. Nesta quarta, os alunos da USP ? e algumas entidades como o sindicato de funcionários ? realizam um ato na frente do prédio da reitoria. ?Nós queremos que a reitoria tenha transparência na condução desses casos. Temos certeza que o número de ocorrências é maior que o divulgado?, afirmou o estudante Lucius Provase, de 22 anos, do Centro Acadêmico do curso de Letras. Desde que os casos vieram à tona, a reitoria e a Prefeitura da Cidade Universitária estão recebendo dezenas de telefonemas e e-mails de pais preocupados com a segurança de seus filhos.