Com serviços gratuitos, instituição apoia crianças com câncer além da doença


Casa Hope oferece suporte emocional, social e educacional, este em risco por falta de patrocínio

Por Ludimila Honorato
Casa Hope atende crianças e adolescentes com câncer, entre zero e 18 anos de idade, além de transplantados de medula óssea, rim e fígado. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Tratar de um câncer não é apenas fazer quimioterapia, radioterapia e, eventualmente, uma cirurgia para retirada do tumor. É preciso cuidar também da mente, do emocional, se sentir acolhido e ter o suporte necessário em tudo o mais que envolve esse processo. Em São Paulo, a Casa Hope é a instituição que cumpre esse papel de forma carinhosa, algo que é manifestado pelas crianças, adolescentes e familiares que passam pelo local.

Nesta sexta-feira, 15, é celebrado o Dia Internacional de Luta Contra o Câncer na Infância e os serviços oferecidos pela instituição têm muito a ver com a melhora dos pequenos no tratamento.

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Localizada no Planalto Paulista, zona sul da cidade de São Paulo, a Casa Hope disponibiliza 192 vagas para pacientes e acompanhantes que chegam de todo o Brasil para tratar a doença. Além da hospedagem, eles dispõem de alimentação, medicamentos, terapia ocupacional, psicologia, escola paras as crianças e cursos profissionalizantes para o familiar.

"Quando vim para São Paulo, não tinha certeza se iam salvar minha perna, eu estava desanimado. No primeiro dia [na Casa Hope], já fiz amigos, tinha muita coisa para aprender", diz André, de 13 anos, que foi diagnosticado com osteossarcoma no fêmur em 2017. Em outubro daquele ano, ele e a mãe chegaram à ONG para iniciar o tratamento dele.

"Foi difícil passar por essa nova fase", diz Fabiana Chaves, mãe do menino. "Viemos muito deprimidos, mas foi quando recebi o maior apoio da Casa, psicologicamente, apoio em relação ao André, quando tem passeio eles colocam ele junto para se animar. Foi melhorando o ânimo dos dois e só vinham boas notícias em relação à doença", conta ela, que veio de Manaus com o filho.

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André foi diagnosticado com osteossarcoma no fêmur e teve de amputar a perna; na Casa Hope, ele sente a autoestima elevadapara seguir com o tratamento. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Infelizmente, o menino teve a perna amputada devido ao tumor, mas isso não é mais motivo para ele ficar desanimado. "Eu posso ter uma perna a menos, mas é a mesma coisa. Muitas vezes eu queria morrer, mas aqui percebi que sou importante para várias pessoas."

André é uma das oito mil pessoas que passaram pela Casa Hope em quase 23 anos de atuação. Tudo começou com a atual presidente Claudia Bonfiglioli, que foi voluntária no Hospital do Câncer e percebeu a dificuldade das famílias em vir para São Paulo e não ter onde morar. "Ela uniu alguns amigos, alugou uma casa grande na Vila Mariana, adaptou e começamos uma unidade", conta Izilda Moribe, diretora técnica da ONG, 'braço direito' de Claudia e que está com ela desde a primeira criança acolhida.

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Naquela época, em 1996, a organização tinha um total de 34 leitos para pacientes e acompanhante. Desde então, a equipe fica em contato direto com o serviço social de hospitais para viabilizar uma vaga. A pedido do Hospital das Clínicas, começaram a atender transplantados de medula óssea, fígado e rim, o que deu origem a uma nova unidade, também na Vila Mariana.

Claudia Bonfiglioli, presidente da Casa Hope, deu início às atividades da ONG em 1996. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Hoje, todo o atendimento da Casa está concentrado na unidade atual, cujo custo mensal é de quase R$ 560 mil. Desde o início até agora, a ONG conta com a colaboração de parceiros para todas as atividades realizadas no local, bem como de patrocínios que mantêm, por exemplo, o funcionamento da escola. Esta, porém, teve de fechar dois ciclos escolares.

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Escola da Casa Hope

Izilda relata que a educação infantil está funcionando com recursos próprios da instituição, o fundamental I por meio de um processo de apoio. Já o fundamental II e o ensino médio estão fechados. "Há três anos fechamos porque, com a crise, o patrocinador teve de cortar esse recurso".

"A escola é um dos projetos de maior importância aqui. É muito difícil aceitar que os adolescentes fiquem sem ela. Agora, estamos com dificuldade de manter a educação infantil, que vai desde a brinquedoteca para bebês até alfabetização", diz a diretora técnica.

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Casa Hope oferece educação infantil, fundamental I e II e ensino médio; setor está comprometido por falta de recursos. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Os alunos também lamentam a falta de estudo. "A escola é muito importante, aprender algo para ter futuro. Creio que vai ter e vou continuar estudando aqui", diz André. Fabiana, mãe dele, explica que quando o garoto foi para o sexto ano do ensino fundamental não havia ciclo na Casa Hope e ele teve de estudar no hospital.

Atualmente, ele estuda em Manaus e mãe e filho viajam para São Paulo a cada dois meses porque depois do tumor no fêmur, André apresentou metástase no pulmão. A preocupação de Fabiana é que ele fique atrasado na escola.

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Jessica Laura, hoje com oito anos, ainda está sendo beneficiada com a educação infantil na casa. A mãe dela, Alcione Maria dos Santos, veio com a menina e o marido de Pernambuco quando a pequena precisou de um transplante de fígado. O pai foi o doador. "Fiquei desesperada porque nunca tinha vindo para São Paulo. Quando chegamos na Casa Hope, em agosto de 2011, fomos muito bem acolhidos. Assim que pisei na casa, todo o medo passou", conta Alcione. "Aqui encontrei forças para cuidar da minha filha bem tranquila."

Jessica Laura, de oito anos, fica mais animada quando volta do hospital para a Casa Hope. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Cinco anos depois do transplante, Jessica foi diagnosticada com um tumor no abdome. "Foi outra fase difícil, porque foi no ano em que ela começou a estudar e teve de parar por conta do tratamento. Vim com essa preocupação, mas chegando aqui ela teve todo o acompanhamento pedagógico", diz Alcione.

Após passar por todos os tratamentos, a menina só faz exames de rotina e vai ficar em São Paulo até o fim de fevereiro. A mãe conta que ela vai para a escola todos os dias e, assim que volta do hospital, corre para a brinquedoteca. "Quando chega na casa, ela fica mais animada."

"No nosso entendimento, não é só dar suporte para o momento da doença, mas pensar no futuro, que elas têm que seguir a vida e isso é muito importante no processo de cura delas. Trabalhamos todos os setores, emocional, social, e isso elas levam para a vida", afirma a diretora Izilda. Prova do benefício desse acolhimento para o tratamento é André, que tinha três tumores no pulmão por causa da metástase e agora tem apenas um que não está aumentando. "Como dizem no hospital, pessoa desanimada faz o câncer piorar, tem que ter autoestima como eu tenho hoje", diz o menino.

ACasa Hope oferece alimentação, transporte, remédios, dentre outros serviços, gratuitamente aos acolhidos. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Apoio aos familiares

O suporte não é apenas subjetivo, é concreto. Dentro da Casa Hope, as pessoas que acompanham os pacientes têm à disposição cursos profissionalizantes. A mãe de André tem dois certificados de um curso de bijuteria e começou o de design de sobrancelhas. Há ainda cursos de informática básica, moda, gastronomia, manicure. Segundo Izilda, os serviços permitem que as pessoas voltem para seus locais de origem e tenham condições de trabalhar.

"Elas [as pessoas] chegam muito vulnerabilizadas, tanto paciente como o familiar. Com todo o trabalho feito, elas vão ganhando confiança, se sentem mais amparadas e fortalecidas para continuar com o tratamento", diz a diretora técnica.

Doações

A Casa Hope atende pessoas com câncer de zero a 18 anos de idade. Há aqueles que chegam, saem após o tratamento e precisam voltar. No caso dos transplantados, são acolhidos pacientes de todas as idades. Com disposição de veículos 24 horas por dia, ambulâncias, escola, brinquedoteca e demais espaços, a instituição aceita doações financeiras e de materiais comumente usados numa casa.

Brinquedos, roupas, móveis são bem-vindos e a ONG pode enviar uma caminhão para buscar os materiais. Para doar, basta entrar em contato com a organização por meio do site (hope.org.br), do e-mail (faleconosco@hope.org.br) ou do telefone (11) 5056-9700, ramal 778.

Casa Hope atende crianças e adolescentes com câncer, entre zero e 18 anos de idade, além de transplantados de medula óssea, rim e fígado. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Tratar de um câncer não é apenas fazer quimioterapia, radioterapia e, eventualmente, uma cirurgia para retirada do tumor. É preciso cuidar também da mente, do emocional, se sentir acolhido e ter o suporte necessário em tudo o mais que envolve esse processo. Em São Paulo, a Casa Hope é a instituição que cumpre esse papel de forma carinhosa, algo que é manifestado pelas crianças, adolescentes e familiares que passam pelo local.

Nesta sexta-feira, 15, é celebrado o Dia Internacional de Luta Contra o Câncer na Infância e os serviços oferecidos pela instituição têm muito a ver com a melhora dos pequenos no tratamento.

Localizada no Planalto Paulista, zona sul da cidade de São Paulo, a Casa Hope disponibiliza 192 vagas para pacientes e acompanhantes que chegam de todo o Brasil para tratar a doença. Além da hospedagem, eles dispõem de alimentação, medicamentos, terapia ocupacional, psicologia, escola paras as crianças e cursos profissionalizantes para o familiar.

"Quando vim para São Paulo, não tinha certeza se iam salvar minha perna, eu estava desanimado. No primeiro dia [na Casa Hope], já fiz amigos, tinha muita coisa para aprender", diz André, de 13 anos, que foi diagnosticado com osteossarcoma no fêmur em 2017. Em outubro daquele ano, ele e a mãe chegaram à ONG para iniciar o tratamento dele.

"Foi difícil passar por essa nova fase", diz Fabiana Chaves, mãe do menino. "Viemos muito deprimidos, mas foi quando recebi o maior apoio da Casa, psicologicamente, apoio em relação ao André, quando tem passeio eles colocam ele junto para se animar. Foi melhorando o ânimo dos dois e só vinham boas notícias em relação à doença", conta ela, que veio de Manaus com o filho.

André foi diagnosticado com osteossarcoma no fêmur e teve de amputar a perna; na Casa Hope, ele sente a autoestima elevadapara seguir com o tratamento. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Infelizmente, o menino teve a perna amputada devido ao tumor, mas isso não é mais motivo para ele ficar desanimado. "Eu posso ter uma perna a menos, mas é a mesma coisa. Muitas vezes eu queria morrer, mas aqui percebi que sou importante para várias pessoas."

André é uma das oito mil pessoas que passaram pela Casa Hope em quase 23 anos de atuação. Tudo começou com a atual presidente Claudia Bonfiglioli, que foi voluntária no Hospital do Câncer e percebeu a dificuldade das famílias em vir para São Paulo e não ter onde morar. "Ela uniu alguns amigos, alugou uma casa grande na Vila Mariana, adaptou e começamos uma unidade", conta Izilda Moribe, diretora técnica da ONG, 'braço direito' de Claudia e que está com ela desde a primeira criança acolhida.

Naquela época, em 1996, a organização tinha um total de 34 leitos para pacientes e acompanhante. Desde então, a equipe fica em contato direto com o serviço social de hospitais para viabilizar uma vaga. A pedido do Hospital das Clínicas, começaram a atender transplantados de medula óssea, fígado e rim, o que deu origem a uma nova unidade, também na Vila Mariana.

Claudia Bonfiglioli, presidente da Casa Hope, deu início às atividades da ONG em 1996. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Hoje, todo o atendimento da Casa está concentrado na unidade atual, cujo custo mensal é de quase R$ 560 mil. Desde o início até agora, a ONG conta com a colaboração de parceiros para todas as atividades realizadas no local, bem como de patrocínios que mantêm, por exemplo, o funcionamento da escola. Esta, porém, teve de fechar dois ciclos escolares.

Escola da Casa Hope

Izilda relata que a educação infantil está funcionando com recursos próprios da instituição, o fundamental I por meio de um processo de apoio. Já o fundamental II e o ensino médio estão fechados. "Há três anos fechamos porque, com a crise, o patrocinador teve de cortar esse recurso".

"A escola é um dos projetos de maior importância aqui. É muito difícil aceitar que os adolescentes fiquem sem ela. Agora, estamos com dificuldade de manter a educação infantil, que vai desde a brinquedoteca para bebês até alfabetização", diz a diretora técnica.

Casa Hope oferece educação infantil, fundamental I e II e ensino médio; setor está comprometido por falta de recursos. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Os alunos também lamentam a falta de estudo. "A escola é muito importante, aprender algo para ter futuro. Creio que vai ter e vou continuar estudando aqui", diz André. Fabiana, mãe dele, explica que quando o garoto foi para o sexto ano do ensino fundamental não havia ciclo na Casa Hope e ele teve de estudar no hospital.

Atualmente, ele estuda em Manaus e mãe e filho viajam para São Paulo a cada dois meses porque depois do tumor no fêmur, André apresentou metástase no pulmão. A preocupação de Fabiana é que ele fique atrasado na escola.

Jessica Laura, hoje com oito anos, ainda está sendo beneficiada com a educação infantil na casa. A mãe dela, Alcione Maria dos Santos, veio com a menina e o marido de Pernambuco quando a pequena precisou de um transplante de fígado. O pai foi o doador. "Fiquei desesperada porque nunca tinha vindo para São Paulo. Quando chegamos na Casa Hope, em agosto de 2011, fomos muito bem acolhidos. Assim que pisei na casa, todo o medo passou", conta Alcione. "Aqui encontrei forças para cuidar da minha filha bem tranquila."

Jessica Laura, de oito anos, fica mais animada quando volta do hospital para a Casa Hope. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Cinco anos depois do transplante, Jessica foi diagnosticada com um tumor no abdome. "Foi outra fase difícil, porque foi no ano em que ela começou a estudar e teve de parar por conta do tratamento. Vim com essa preocupação, mas chegando aqui ela teve todo o acompanhamento pedagógico", diz Alcione.

Após passar por todos os tratamentos, a menina só faz exames de rotina e vai ficar em São Paulo até o fim de fevereiro. A mãe conta que ela vai para a escola todos os dias e, assim que volta do hospital, corre para a brinquedoteca. "Quando chega na casa, ela fica mais animada."

"No nosso entendimento, não é só dar suporte para o momento da doença, mas pensar no futuro, que elas têm que seguir a vida e isso é muito importante no processo de cura delas. Trabalhamos todos os setores, emocional, social, e isso elas levam para a vida", afirma a diretora Izilda. Prova do benefício desse acolhimento para o tratamento é André, que tinha três tumores no pulmão por causa da metástase e agora tem apenas um que não está aumentando. "Como dizem no hospital, pessoa desanimada faz o câncer piorar, tem que ter autoestima como eu tenho hoje", diz o menino.

ACasa Hope oferece alimentação, transporte, remédios, dentre outros serviços, gratuitamente aos acolhidos. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Apoio aos familiares

O suporte não é apenas subjetivo, é concreto. Dentro da Casa Hope, as pessoas que acompanham os pacientes têm à disposição cursos profissionalizantes. A mãe de André tem dois certificados de um curso de bijuteria e começou o de design de sobrancelhas. Há ainda cursos de informática básica, moda, gastronomia, manicure. Segundo Izilda, os serviços permitem que as pessoas voltem para seus locais de origem e tenham condições de trabalhar.

"Elas [as pessoas] chegam muito vulnerabilizadas, tanto paciente como o familiar. Com todo o trabalho feito, elas vão ganhando confiança, se sentem mais amparadas e fortalecidas para continuar com o tratamento", diz a diretora técnica.

Doações

A Casa Hope atende pessoas com câncer de zero a 18 anos de idade. Há aqueles que chegam, saem após o tratamento e precisam voltar. No caso dos transplantados, são acolhidos pacientes de todas as idades. Com disposição de veículos 24 horas por dia, ambulâncias, escola, brinquedoteca e demais espaços, a instituição aceita doações financeiras e de materiais comumente usados numa casa.

Brinquedos, roupas, móveis são bem-vindos e a ONG pode enviar uma caminhão para buscar os materiais. Para doar, basta entrar em contato com a organização por meio do site (hope.org.br), do e-mail (faleconosco@hope.org.br) ou do telefone (11) 5056-9700, ramal 778.

Casa Hope atende crianças e adolescentes com câncer, entre zero e 18 anos de idade, além de transplantados de medula óssea, rim e fígado. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Tratar de um câncer não é apenas fazer quimioterapia, radioterapia e, eventualmente, uma cirurgia para retirada do tumor. É preciso cuidar também da mente, do emocional, se sentir acolhido e ter o suporte necessário em tudo o mais que envolve esse processo. Em São Paulo, a Casa Hope é a instituição que cumpre esse papel de forma carinhosa, algo que é manifestado pelas crianças, adolescentes e familiares que passam pelo local.

Nesta sexta-feira, 15, é celebrado o Dia Internacional de Luta Contra o Câncer na Infância e os serviços oferecidos pela instituição têm muito a ver com a melhora dos pequenos no tratamento.

Localizada no Planalto Paulista, zona sul da cidade de São Paulo, a Casa Hope disponibiliza 192 vagas para pacientes e acompanhantes que chegam de todo o Brasil para tratar a doença. Além da hospedagem, eles dispõem de alimentação, medicamentos, terapia ocupacional, psicologia, escola paras as crianças e cursos profissionalizantes para o familiar.

"Quando vim para São Paulo, não tinha certeza se iam salvar minha perna, eu estava desanimado. No primeiro dia [na Casa Hope], já fiz amigos, tinha muita coisa para aprender", diz André, de 13 anos, que foi diagnosticado com osteossarcoma no fêmur em 2017. Em outubro daquele ano, ele e a mãe chegaram à ONG para iniciar o tratamento dele.

"Foi difícil passar por essa nova fase", diz Fabiana Chaves, mãe do menino. "Viemos muito deprimidos, mas foi quando recebi o maior apoio da Casa, psicologicamente, apoio em relação ao André, quando tem passeio eles colocam ele junto para se animar. Foi melhorando o ânimo dos dois e só vinham boas notícias em relação à doença", conta ela, que veio de Manaus com o filho.

André foi diagnosticado com osteossarcoma no fêmur e teve de amputar a perna; na Casa Hope, ele sente a autoestima elevadapara seguir com o tratamento. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Infelizmente, o menino teve a perna amputada devido ao tumor, mas isso não é mais motivo para ele ficar desanimado. "Eu posso ter uma perna a menos, mas é a mesma coisa. Muitas vezes eu queria morrer, mas aqui percebi que sou importante para várias pessoas."

André é uma das oito mil pessoas que passaram pela Casa Hope em quase 23 anos de atuação. Tudo começou com a atual presidente Claudia Bonfiglioli, que foi voluntária no Hospital do Câncer e percebeu a dificuldade das famílias em vir para São Paulo e não ter onde morar. "Ela uniu alguns amigos, alugou uma casa grande na Vila Mariana, adaptou e começamos uma unidade", conta Izilda Moribe, diretora técnica da ONG, 'braço direito' de Claudia e que está com ela desde a primeira criança acolhida.

Naquela época, em 1996, a organização tinha um total de 34 leitos para pacientes e acompanhante. Desde então, a equipe fica em contato direto com o serviço social de hospitais para viabilizar uma vaga. A pedido do Hospital das Clínicas, começaram a atender transplantados de medula óssea, fígado e rim, o que deu origem a uma nova unidade, também na Vila Mariana.

Claudia Bonfiglioli, presidente da Casa Hope, deu início às atividades da ONG em 1996. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Hoje, todo o atendimento da Casa está concentrado na unidade atual, cujo custo mensal é de quase R$ 560 mil. Desde o início até agora, a ONG conta com a colaboração de parceiros para todas as atividades realizadas no local, bem como de patrocínios que mantêm, por exemplo, o funcionamento da escola. Esta, porém, teve de fechar dois ciclos escolares.

Escola da Casa Hope

Izilda relata que a educação infantil está funcionando com recursos próprios da instituição, o fundamental I por meio de um processo de apoio. Já o fundamental II e o ensino médio estão fechados. "Há três anos fechamos porque, com a crise, o patrocinador teve de cortar esse recurso".

"A escola é um dos projetos de maior importância aqui. É muito difícil aceitar que os adolescentes fiquem sem ela. Agora, estamos com dificuldade de manter a educação infantil, que vai desde a brinquedoteca para bebês até alfabetização", diz a diretora técnica.

Casa Hope oferece educação infantil, fundamental I e II e ensino médio; setor está comprometido por falta de recursos. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Os alunos também lamentam a falta de estudo. "A escola é muito importante, aprender algo para ter futuro. Creio que vai ter e vou continuar estudando aqui", diz André. Fabiana, mãe dele, explica que quando o garoto foi para o sexto ano do ensino fundamental não havia ciclo na Casa Hope e ele teve de estudar no hospital.

Atualmente, ele estuda em Manaus e mãe e filho viajam para São Paulo a cada dois meses porque depois do tumor no fêmur, André apresentou metástase no pulmão. A preocupação de Fabiana é que ele fique atrasado na escola.

Jessica Laura, hoje com oito anos, ainda está sendo beneficiada com a educação infantil na casa. A mãe dela, Alcione Maria dos Santos, veio com a menina e o marido de Pernambuco quando a pequena precisou de um transplante de fígado. O pai foi o doador. "Fiquei desesperada porque nunca tinha vindo para São Paulo. Quando chegamos na Casa Hope, em agosto de 2011, fomos muito bem acolhidos. Assim que pisei na casa, todo o medo passou", conta Alcione. "Aqui encontrei forças para cuidar da minha filha bem tranquila."

Jessica Laura, de oito anos, fica mais animada quando volta do hospital para a Casa Hope. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Cinco anos depois do transplante, Jessica foi diagnosticada com um tumor no abdome. "Foi outra fase difícil, porque foi no ano em que ela começou a estudar e teve de parar por conta do tratamento. Vim com essa preocupação, mas chegando aqui ela teve todo o acompanhamento pedagógico", diz Alcione.

Após passar por todos os tratamentos, a menina só faz exames de rotina e vai ficar em São Paulo até o fim de fevereiro. A mãe conta que ela vai para a escola todos os dias e, assim que volta do hospital, corre para a brinquedoteca. "Quando chega na casa, ela fica mais animada."

"No nosso entendimento, não é só dar suporte para o momento da doença, mas pensar no futuro, que elas têm que seguir a vida e isso é muito importante no processo de cura delas. Trabalhamos todos os setores, emocional, social, e isso elas levam para a vida", afirma a diretora Izilda. Prova do benefício desse acolhimento para o tratamento é André, que tinha três tumores no pulmão por causa da metástase e agora tem apenas um que não está aumentando. "Como dizem no hospital, pessoa desanimada faz o câncer piorar, tem que ter autoestima como eu tenho hoje", diz o menino.

ACasa Hope oferece alimentação, transporte, remédios, dentre outros serviços, gratuitamente aos acolhidos. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Apoio aos familiares

O suporte não é apenas subjetivo, é concreto. Dentro da Casa Hope, as pessoas que acompanham os pacientes têm à disposição cursos profissionalizantes. A mãe de André tem dois certificados de um curso de bijuteria e começou o de design de sobrancelhas. Há ainda cursos de informática básica, moda, gastronomia, manicure. Segundo Izilda, os serviços permitem que as pessoas voltem para seus locais de origem e tenham condições de trabalhar.

"Elas [as pessoas] chegam muito vulnerabilizadas, tanto paciente como o familiar. Com todo o trabalho feito, elas vão ganhando confiança, se sentem mais amparadas e fortalecidas para continuar com o tratamento", diz a diretora técnica.

Doações

A Casa Hope atende pessoas com câncer de zero a 18 anos de idade. Há aqueles que chegam, saem após o tratamento e precisam voltar. No caso dos transplantados, são acolhidos pacientes de todas as idades. Com disposição de veículos 24 horas por dia, ambulâncias, escola, brinquedoteca e demais espaços, a instituição aceita doações financeiras e de materiais comumente usados numa casa.

Brinquedos, roupas, móveis são bem-vindos e a ONG pode enviar uma caminhão para buscar os materiais. Para doar, basta entrar em contato com a organização por meio do site (hope.org.br), do e-mail (faleconosco@hope.org.br) ou do telefone (11) 5056-9700, ramal 778.

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