Você tem uma sensação de 'vazio', uma tristeza sem motivo, não tem vontade de fazer as atividades que antes eram divertidas. Se sente cansado, sem energia. Fica sem dormir por dias, não consegue tomar banho ou adotar as mais básicas práticas de higiene, como tomar banho, escovar os dentes ou pentear o cabelo. É muito difícil para quem tem depressão explicar para os outros esses sintomas que não são aparentes. Essa é uma das situações que levam grande parte da população ainda a imaginar que o estado de humor é 'frescura'. Mas o estigma é algo que tem raízes mais profundas, como explica a neuropsicóloga Gisele Calia: "Na nossa cultura pela busca da felicidade, como será que são vistas as pessoas que não conseguem encontrá-la? Que não conseguem sozinhas, pela sua doença, encontrar o prazer de viver? Elas são vistas estigmatizadas, não são valorizadas. A cultura da busca pela felicidade faz com que essas pessoas sejam mal vistas”. Para o médico neurocirurgião do Hospital das Clínicas Fernando Gomes, dois termos ainda se misturam em saúde mental: tristeza é confundida com depressão e expectativa com ansiedade.
“A depressão nem sempre se manifesta em tristeza, pode aparecer em alteração na motivação, apetite alimentar, no sono, entre outros. A sociedade ainda vê uma pessoa que teoricamente ‘tem tudo’ e não entende o por quê de ficar triste ou com depressão. Depressão não é tristeza, é muito mais do que isso. Depressão não é ‘psicológica’, existem alterações fisiopatológicas que ocorrem na intimidade microscópica do órgão que são impossíveis de serem vistas em exames de neuroimagem, por exemplo. Mas de fato acontece. Prova disso é que quando entramos com medicação tudo melhora”, explica Gomes.
Existe uma questão química por trás da depressão
A depressão é uma doença que interfere no funcionamento neuroquímico adequado do cérebro de modo que alguns circuitos funcionem de forma alterada.
Há uma correlação com neurotransmissores como, por exemplo, a serotonina, a dopamina e a noradrenalina que repercute no equilíbrio do sistema límbico, onde fica a parte emocional do cérebro, e no córtex frontal, onde está a parte racional e crítica da consciência. “Não existe ‘auto diagnóstico’. Quem vai dizer é o médico, que vai utilizar os critérios para então chegar a tal resultado. O diagnóstico prova que há um funcionamento inadequado da parte neuroquímica do cérebro e o tratamento envolve remédio e terapia atrelada à mudança no estilo de vida”, ressalta o neurocirurgião Fernando Gomes. A neuropsicóloga Gisele Calia acrescenta que a depressão é uma doença psiquiátrica crônica. “Envolve a mente e o corpo. Não são só problemas mentais e ponto. São problemas mentais que trazem bastante prejuízos para o organismo, desde problemas de estômago, coração, etc. A doença é crônica porque, diferente de um resfriado que pode passar e não ter mais, ela permanece. E, quando se manifesta, não é só ‘vou tomar um antidepressivo e acabou’. Não passa como um resfriado, ela fica sob controle”, diz.
Como argumentar com as pessoas que depressão não é ‘frescura’?
Muitas pessoas têm dificuldade em entender o que está acontecendo com alguém que tem sintomas chamados ‘não aparentes’, ou seja, que não estão tão evidentes. O que é intrigante, pois doenças como diabete e pressão alta também não são visíveis mas, em tese, são mais consideradas socialmente. Para ajudar pacientes, amigos e familiares, preparamos algumas argumentações para provar que depressão ‘não é frescura':
- A depressão é um desequilíbrio químico no cérebro, em que neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina não estão em pleno funcionamento; - É uma doença que está associada a questões biológicas e ambienais; - O tratamento medicamentoso na depressão pretende regular o nível dos neurotransmissores para tornar efetiva a comunicação entre eles e o nosso corpo; - Sintomas como oscilação do sono, apetite, irritabilidade, estresse, desânimo e falta de esperança causam prejuízos no cotidiano do paciente;
- Casos graves, em que a pessoa com depressão não é devidamente assistida, podem levar ao suicídio.
Lembrando que, além do tratamento medicamentoso, o paciente deve passar em psicoterapia para entender como lidar com a doença crônica ao longo da vida, saber se relacionar melhor consigo e com os outros.