Como lidar com o luto em tragédias como a de Brumadinho?


Transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático, fobias e suicídio são os principais perigos

Por Camila Tuchlinski
Como lidar com o luto após uma tragédia como a de Brumadinho? Foto: Pixabay

Centenas de famílias perderam tudo após o rompimento da barragem em Brumadinho. Casas e fazendas foram completamente destruídas. Familiares e amigos morreram. Animais se foram. Como lidar com o luto em tragédias como a de Brumadinho?

A psicóloga Juliana Guimarães, integrante do Grupo de Intervenção Psicológica e Emergência Pós-Desastres, afirma que o processo de luto é individual mas, neste caso, tem algumas particularidades. “Esse é um luto que envolve fatores complicadores para o processo: uma morte repentina, extremamente violenta, com perdas múltiplas, de familiares, amigos, casa, as memórias, fotografias que se foram, os registros de uma vida inteira. A minha cidade, o parque onde eu levava minha filha. Tem um luto muito particular do que eu perdi. Esse luto coletivo, em níveis diferentes, atingiu o país. Todos nós somos vítimas dessa tragédia”, avalia. O psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos explica que o psiquismo é a parte cerebral responsável pela conexão do mundo interno do indivíduo com o externo. “Nós temos uma série de referências externas: ali está minha casa, esse é meu pai, esse é meu amigo. Tudo isso se conecta com as referências internas: quem eu sou, o que faço, onde trabalho. A tragédia destrói todas as referências externas, causando um vazio enorme no mundo interno. Esse tipo de perda é um convite para a sensação de depressão”, afirma o médico.

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Outras patologias mentais podem surgir, como Transtorno de Estresse Pós-Traumático, muito frequente em casos de desastres ou sequestros. Conhecido como TEPT, a doença é caracterizada quando a vítima revive a tragédia constantemente, causando sofrimento emocional. Além disso, o paciente tem alteração do sono, se assusta mais facilmente e o nível de ansiedade é elevado.

Rodrigo de Almeida Ramos lembra do rompimento da barragem em Mariana, também em Minas Gerais, há três anos. “Depois da tragédia, 30% das vítimas de Mariana desenvolveram depressão. Os quadros de ansiedade representaram outros 30% e 12% das pessoas registram Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Além disso, 26% das vítimas tiveram comportamento suicida, fora a dependência de álcool que também aumentou. Do ponto de vista de saúde mental isso é devastador”, enfatiza o psiquiatra.

Familiares e amigos aguardam localização das vítimas em Brumadinho, Minas Gerais. Foto: Wilson Júnior
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Principais sintomas do luto

De acordo com a psicóloga Juliana Guimarães, especialista no assunto, as vítimas de Brumadinho podem apresentar melancolia acentuada, humor deprimido, choro, raiva, isolamento social. A integrante do Grupo de Intervenção Psicológica e Emergência Pós-Desastre chama atenção para um sentimento muito específico em situações como esta, a chamada ‘culpa do sobrevivente’: “São pessoas que também estiveram na cena da tragédia, poderiam morrer, mas não morreram. E aquele sentimento vem em forma de culpa muito grande, chegando ao ponto de a pessoa se perguntar ‘Por que eu sobrevivi?’. É um sentimento muito ambivalente, mas comum nesse tipo de situação”.

Ausência dos corpos

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A ausência dos corpos de familiares e amigos das vítimas pode impossibilitar a elaboração do luto, uma vez que a esperança de reencontrar o ente querido nunca se esgota. “A presença do corpo concretiza o fato e auxilia na elaboração de luto. Com isso, vou fazendo a cicatrização dessa ferida até renascer. O processo de luto é o aprendizado de conviver sem a pessoa”, de acordo com a psicóloga Juliana Guimarães. O psiquiatra Rodrigo de Almeida acrescenta que o ser humano funciona de um jeito ‘ritualizado’. “Em situação como essa, é recomendada alguma cerimônia. O ser humano ritualiza tudo: nascimento, batizado, casamento e para a morte é fundamental. Toda vez que a gente muda de identidade, acontece algo diferente, a gente precisaria de um ritual. A pessoa que perde um pai precisa de um ritual para que o psiquismo se acostume com isso. Em Brumadinho, a gente fica de mãos atadas. O poder público terá que deixar a pessoa ciente daquela perda”, conclui.

Como lidar com o luto após uma tragédia como a de Brumadinho? Foto: Pixabay

Centenas de famílias perderam tudo após o rompimento da barragem em Brumadinho. Casas e fazendas foram completamente destruídas. Familiares e amigos morreram. Animais se foram. Como lidar com o luto em tragédias como a de Brumadinho?

A psicóloga Juliana Guimarães, integrante do Grupo de Intervenção Psicológica e Emergência Pós-Desastres, afirma que o processo de luto é individual mas, neste caso, tem algumas particularidades. “Esse é um luto que envolve fatores complicadores para o processo: uma morte repentina, extremamente violenta, com perdas múltiplas, de familiares, amigos, casa, as memórias, fotografias que se foram, os registros de uma vida inteira. A minha cidade, o parque onde eu levava minha filha. Tem um luto muito particular do que eu perdi. Esse luto coletivo, em níveis diferentes, atingiu o país. Todos nós somos vítimas dessa tragédia”, avalia. O psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos explica que o psiquismo é a parte cerebral responsável pela conexão do mundo interno do indivíduo com o externo. “Nós temos uma série de referências externas: ali está minha casa, esse é meu pai, esse é meu amigo. Tudo isso se conecta com as referências internas: quem eu sou, o que faço, onde trabalho. A tragédia destrói todas as referências externas, causando um vazio enorme no mundo interno. Esse tipo de perda é um convite para a sensação de depressão”, afirma o médico.

Outras patologias mentais podem surgir, como Transtorno de Estresse Pós-Traumático, muito frequente em casos de desastres ou sequestros. Conhecido como TEPT, a doença é caracterizada quando a vítima revive a tragédia constantemente, causando sofrimento emocional. Além disso, o paciente tem alteração do sono, se assusta mais facilmente e o nível de ansiedade é elevado.

Rodrigo de Almeida Ramos lembra do rompimento da barragem em Mariana, também em Minas Gerais, há três anos. “Depois da tragédia, 30% das vítimas de Mariana desenvolveram depressão. Os quadros de ansiedade representaram outros 30% e 12% das pessoas registram Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Além disso, 26% das vítimas tiveram comportamento suicida, fora a dependência de álcool que também aumentou. Do ponto de vista de saúde mental isso é devastador”, enfatiza o psiquiatra.

Familiares e amigos aguardam localização das vítimas em Brumadinho, Minas Gerais. Foto: Wilson Júnior

Principais sintomas do luto

De acordo com a psicóloga Juliana Guimarães, especialista no assunto, as vítimas de Brumadinho podem apresentar melancolia acentuada, humor deprimido, choro, raiva, isolamento social. A integrante do Grupo de Intervenção Psicológica e Emergência Pós-Desastre chama atenção para um sentimento muito específico em situações como esta, a chamada ‘culpa do sobrevivente’: “São pessoas que também estiveram na cena da tragédia, poderiam morrer, mas não morreram. E aquele sentimento vem em forma de culpa muito grande, chegando ao ponto de a pessoa se perguntar ‘Por que eu sobrevivi?’. É um sentimento muito ambivalente, mas comum nesse tipo de situação”.

Ausência dos corpos

A ausência dos corpos de familiares e amigos das vítimas pode impossibilitar a elaboração do luto, uma vez que a esperança de reencontrar o ente querido nunca se esgota. “A presença do corpo concretiza o fato e auxilia na elaboração de luto. Com isso, vou fazendo a cicatrização dessa ferida até renascer. O processo de luto é o aprendizado de conviver sem a pessoa”, de acordo com a psicóloga Juliana Guimarães. O psiquiatra Rodrigo de Almeida acrescenta que o ser humano funciona de um jeito ‘ritualizado’. “Em situação como essa, é recomendada alguma cerimônia. O ser humano ritualiza tudo: nascimento, batizado, casamento e para a morte é fundamental. Toda vez que a gente muda de identidade, acontece algo diferente, a gente precisaria de um ritual. A pessoa que perde um pai precisa de um ritual para que o psiquismo se acostume com isso. Em Brumadinho, a gente fica de mãos atadas. O poder público terá que deixar a pessoa ciente daquela perda”, conclui.

Como lidar com o luto após uma tragédia como a de Brumadinho? Foto: Pixabay

Centenas de famílias perderam tudo após o rompimento da barragem em Brumadinho. Casas e fazendas foram completamente destruídas. Familiares e amigos morreram. Animais se foram. Como lidar com o luto em tragédias como a de Brumadinho?

A psicóloga Juliana Guimarães, integrante do Grupo de Intervenção Psicológica e Emergência Pós-Desastres, afirma que o processo de luto é individual mas, neste caso, tem algumas particularidades. “Esse é um luto que envolve fatores complicadores para o processo: uma morte repentina, extremamente violenta, com perdas múltiplas, de familiares, amigos, casa, as memórias, fotografias que se foram, os registros de uma vida inteira. A minha cidade, o parque onde eu levava minha filha. Tem um luto muito particular do que eu perdi. Esse luto coletivo, em níveis diferentes, atingiu o país. Todos nós somos vítimas dessa tragédia”, avalia. O psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos explica que o psiquismo é a parte cerebral responsável pela conexão do mundo interno do indivíduo com o externo. “Nós temos uma série de referências externas: ali está minha casa, esse é meu pai, esse é meu amigo. Tudo isso se conecta com as referências internas: quem eu sou, o que faço, onde trabalho. A tragédia destrói todas as referências externas, causando um vazio enorme no mundo interno. Esse tipo de perda é um convite para a sensação de depressão”, afirma o médico.

Outras patologias mentais podem surgir, como Transtorno de Estresse Pós-Traumático, muito frequente em casos de desastres ou sequestros. Conhecido como TEPT, a doença é caracterizada quando a vítima revive a tragédia constantemente, causando sofrimento emocional. Além disso, o paciente tem alteração do sono, se assusta mais facilmente e o nível de ansiedade é elevado.

Rodrigo de Almeida Ramos lembra do rompimento da barragem em Mariana, também em Minas Gerais, há três anos. “Depois da tragédia, 30% das vítimas de Mariana desenvolveram depressão. Os quadros de ansiedade representaram outros 30% e 12% das pessoas registram Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Além disso, 26% das vítimas tiveram comportamento suicida, fora a dependência de álcool que também aumentou. Do ponto de vista de saúde mental isso é devastador”, enfatiza o psiquiatra.

Familiares e amigos aguardam localização das vítimas em Brumadinho, Minas Gerais. Foto: Wilson Júnior

Principais sintomas do luto

De acordo com a psicóloga Juliana Guimarães, especialista no assunto, as vítimas de Brumadinho podem apresentar melancolia acentuada, humor deprimido, choro, raiva, isolamento social. A integrante do Grupo de Intervenção Psicológica e Emergência Pós-Desastre chama atenção para um sentimento muito específico em situações como esta, a chamada ‘culpa do sobrevivente’: “São pessoas que também estiveram na cena da tragédia, poderiam morrer, mas não morreram. E aquele sentimento vem em forma de culpa muito grande, chegando ao ponto de a pessoa se perguntar ‘Por que eu sobrevivi?’. É um sentimento muito ambivalente, mas comum nesse tipo de situação”.

Ausência dos corpos

A ausência dos corpos de familiares e amigos das vítimas pode impossibilitar a elaboração do luto, uma vez que a esperança de reencontrar o ente querido nunca se esgota. “A presença do corpo concretiza o fato e auxilia na elaboração de luto. Com isso, vou fazendo a cicatrização dessa ferida até renascer. O processo de luto é o aprendizado de conviver sem a pessoa”, de acordo com a psicóloga Juliana Guimarães. O psiquiatra Rodrigo de Almeida acrescenta que o ser humano funciona de um jeito ‘ritualizado’. “Em situação como essa, é recomendada alguma cerimônia. O ser humano ritualiza tudo: nascimento, batizado, casamento e para a morte é fundamental. Toda vez que a gente muda de identidade, acontece algo diferente, a gente precisaria de um ritual. A pessoa que perde um pai precisa de um ritual para que o psiquismo se acostume com isso. Em Brumadinho, a gente fica de mãos atadas. O poder público terá que deixar a pessoa ciente daquela perda”, conclui.

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