Existem diversas causas para um acidente vascular cerebral (AVC), que ocorre pelo rompimento de um vaso sanguíneo no cérebro. Uma das causas, porém, é pouco conhecida pelos brasileiros, embora seja um dos principais fatores de risco para o derrame e um dos problemas cardíacos mais comuns: a fibrilação atrial (FA).
Segundo o cardiologista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, José Francisco Kerr Saraiva, a FA é um tipo de arritmia que altera o ritmo cardíaco, o que faz o coração bater de forma descompassada e irregular.
"Essa arritmia leva ao fluxo anormal e turbulento do sangue no coração que, associado a outras alterações, propicia a formação de coágulos (ou trombos) no coração. Esses trombos podem se desprender do coração e, na maioria das vezes, ir para o cérebro, levando ao AVC", explica.
O cardiologista alerta que o AVC ocasionado pela fibrilação atrial é um dos mais graves, porque pode deixar sequelas, como paralisa e perda de consciência, ou ser fatal. "O derrame cerebral ocasionado pela FA leva à morte em mais de 50% das vezes em dois anos e 75% em cinco anos", informa o médico. Ele ainda aponta que pacientes com fibrilação têm cinco vezes mais chances de sofrer um derrame do que aqueles que não possuem a doença.
Esse descompasso no batimento do coração pode ocorrer por fatores como hipertensão, diabete, insuficiência cardíaca e enfarte do miocárdio. O risco de desenvolver FA também aumenta conforme a idade, passando de 1,5% aos 55 anos até quase 7% aos 75.
Estima-se que de 1,5 milhão a 2 milhões de pessoas tenham fibrilação atrial no Brasil, mas poucos conhecem. Segundo uma pesquisa feita pelo Ibope Conecta em parceria com a Boehringer Inhelheim, 63% dos brasileiros nunca ouviram falar sobre a doença. A pesquisa online entrevistou 2001 pessoas, entre 18 e 65 anos, de todas as regiões do País, entre julho e agosto deste ano.
Embora uma pessoa com fibrilação atrial possa sentir palpitações, dores no peito e falta de ar, a doença pode ser assintomática e passar despercebida se o paciente estiver tomando algum medicamento que mascara os sintomas, como os betabloqueadores que, entre outras coisas, reduzem a frequência cardíaca. De acordo com a pesquisa, das 214 pessoas diagnosticadas com FA, 33% descobriram a doença por emergência médica e 35% por check-up de rotina.
O cardiologista Saraiva atribui a falta de conhecimento da população sobre fibrilação atrial ao desconhecimento sobre saúde como um todo. Além disso, a prevalência de 2,8% da doença em homens contra 1,8% em mulheres é associada, segundo o médico, ao menor cuidado que eles têm com a saúde. "São mais rebeldes com o tratamento", justifica. Para todos os gêneros, diz o médico, a chance de ter um AVC é de 10% ao ano e, se não forem tratados, o risco pode aumentar.
Tratamento. Como a fibrilação atrial propicia a formação de coágulos, o tratamento é feito com anticoagulantes, medicamentos que 'afinam' o sangue - impedindo a formação de trombos - e reduzem em até 70% a chance de ter um AVC, segundo o cardiologista. Mas existe uma preocupação, pois, de acordo com a pesquisa do Ibope Conecta, 47% das pessoas diagnosticadas com a doença não usam anticoagulantes.
Os pacientes deixam de fazer o tratamento por medo de reações adversas provocadas pela medicação, principalmente náusea (34%) e sangramento (25%), segundo a pesquisa. Em casos de acidentes, o sangramento pode ser ainda maior devido à ação anticoagulante excessiva do medicamento.
A boa notícia é que, em abril deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o primeiro medicamento capaz de interromper esses efeitos anticoagulantes, mas ele age especificamente com outro remédio utilizado para 'afinar' o sangue. Em casos de quedas ou acidentes, por exemplo, em que a coagulação é necessária, o medicamento reverte o 'afinamento' do sangue, evitando sangramento não controlado.
Com o objetivo de conscientizar a população sobre as causas e complicações da fibrilação atrial, a Boehringer Ingelheim criou a campanha O Som do Coração com apoio do Instituto Lado a Lado pela Vida, da Associação Mineira do AVC (AMAVC) e da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP). O trabalho conta com a participação do cantor Jorge Vercillo, que toca uma de suas músicas de forma descompassada para fazer alusão ao que ocorre na FA.
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