O hipotireoidismo é uma condição que ocorre quando a glândula tireoide produz quantidade insuficiente de hormônios, os T3 e T4. Essas substâncias atuam no funcionamento de diversos órgãos e a deficiência delas pode provocar sintomas como fadiga, aumento de peso, ressecamento da pele, queda dos cabelos, além de infertilidade e diabete.
Embora o tratamento seja simples, 25% dos brasileiros diagnosticados não tratam a doença ou tratam de forma inadequada. Entre os que não realizam qualquer tratamento, 34% desconhecem as consequências do hipotireoidismo e são os que menos recebem informações sobre o problema. Ao mesmo tempo, compreender a doença é a principal queixa dos pacientes.
Os dados são da pesquisa Hipotireoidismo em Foco, realizada pelo Instituto Minds4Health a pedido da farmacêutica Sanofi com mais de dois mil pacientes. Quase 90% dos entrevistados são mulheres, mais afetadas pela doença do que os homens.
No Brasil, somente dois estudos populacionais investigaram a prevalência de disfunções tireoidianas em pessoas adultas. Um deles, que avaliou 1.110 indivíduos da comunidade de nipo-brasileiros não miscigenados de Bauru, com mais de 30 anos de idade, constatou incidência de 9,7% de hipotireoidismo. A outra investigação incluiu 14.590 pessoas, todas servidores públicos de seis cidades brasileiras (Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória). Aqui, a prevalência da doença foi de 7,4%.
Barreiras para tratar hipotireoidismo
Segundo José Sgarbi, diretor do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), inúmeras razões estão associadas à má aderência ao tratamento, como o uso crônico, diário e o método de administração do remédio.
"Toda vez que temos de tomar medicamentos diariamente e por toda vida, é quase inevitável que esqueçamos um ou outro dia", diz o médico. A levotiroxina, hormônio sintético usado no tratamento da doença, deve ser ingerido em jejum, apenas com água e entre 30 minutos a uma hora antes do café da manhã. "Os pacientes se queixam deste tempo necessário entre a ingestão e a primeira refeição, muitas vezes preferem dormir um pouco mais, estão atrasados ou acabam se esquecendo e tomando o café da manhã", aponta Sgarbi.
O especialista explica que o jejum é necessário porque a absorção do medicamento sofre interferência da acidez gástrica e estudos demonstram que uma xícara de café já interfere em até 25% no processo. A ingestão de pães ou outros alimentos pode prejudicar ainda mais. Segundo os entrevistados pela pesquisa, ficar sem comer por esse tempo é a principal barreira para seguir o tratamento corretamente. Mas isso é uma coisa que 59% dos pacientes não dizem para seus médicos.
A falta de informação sobre a doença também agrava a aderência ao tratamento. O dado da pesquisa é "preocupante", afirma Sgarbi. "O cenário é ainda pior se considerarmos que o nível de conhecimento sobre a doença é muito menor nas classes sociais mais baixas, podendo alcançar até 49% das classes D e E", pontua.
Consequências do hipotireoidismo não tratado
Segundo o médico da SBEM, o tratamento inadequado inclui não apenas o subtratamento, mas também o hiper-tratamento. No primeiro caso, os níveis de TSH permanecem elevados e o quadro associa-se a maior risco de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca.
Quando o paciente ingere dose maior que a necessária, ele pode viver um período prolongado com leve hipertireoidismo, chamado de hipertireoidismo subclínico. "Essa situação é particularmente prejudicial para pessoas com mais de 65 anos. Estudos demonstram risco quase três vezes maior de arritmia cardíaca, especialmente a fibrilação atrial", explica Sgarbi.
O tratamento para hipotireoidismo, usualmente, é feito por toda a vida e não há nenhuma indicação clínica para cirurgia. No entanto, há situações especiais em que o caso subclínico é transitório e, neste caso, nenhum tratamento é necessário.
VEJA TAMBÉM: Quais exames você deveria fazer em diferentes fases da vida?
Quais exames você deveria fazer em diferentes fases da vida?
Sintomas do hipotireoidismo
Segundo Sgarbi, os sinais da doença são inespecíficos e podem ser confundidos com outras enfermidades. O cansaço, inchaço pelo corpo e menor tolerância a exercícios podem se relacionar a doença cardíaca; dores articulares com doenças reumáticas; a anemia, muitas vezes encontrada, pode ser atribuída à deficiência de ferro ou a transtornos menstruais. Em idosos, sintomas como ressecamento e queda de cabelo, humor deprimido, constipação intestinal e prejuízo da memória são frequentemente associados à própria idade.
Já o hipertireoidismo, que ocorre quando a tireoide aumenta a produção dos seus hormônios T4 e o T3, os sintomas são mais típicos e exacerbados. Entre eles, os principais são taquicardia, palpitação, cansaço e falta de ar aos esforços, emagrecimento sem perda de apetite, calor exagerado, transpiração excessiva, insônia, nervosismo e irritabilidade
Diagnóstico do hipotireoidismo
A detectação da doença é simples, feita pelo exame de sangue que mede o nível do hormônio estimulante de tireoide (TSH na sigla em inglês). Porém, segundo a pesquisa, os pacientes levam cerca de oito meses para descobrir a doença e receber o tratamento adequado. Em 65% dos casos, eles foram diagnosticados após procurarem o médico para um check-up geral. Apenas 30% marcaram consultas por conta de algum sintoma.
O endocrinologista é o médico que cuida de questões relacionadas a tireoide, mas outras especialidades também sabem diagnosticar e tratar o hipotireoidismo. A pesquisa mostrou que 58% dos pacientes procuraram o clínico geral primeiro, seguido por cardiologistas e ginecologistas.
Para quem já foi diagnosticado com hipotireoidismo e está sob tratamento contínuo em dose estável, recomenda-se fazer o exame de TSH duas vezes ao ano. Para pacientes com dose estável por período estável, orienta-se a dosagem ao menos uma vez por ano. Outras condições especiais requerem avaliar os níveis do hormônio, como em pré-operatórios, quando surgem sintomas associados ao hipotireoidismo, no uso de medicamentos que podem interferir com a absorção do medicamento (como o omeprazol) e em condições que causem disabsorção intestinal, como a cirurgia bariátrica.