Em 2015, as cores de um vestido viraram o principal assunto das redes sociais por semanas, já que as pessoas não conseguiam concordar se a peça de roupa era azul e preta ou branca e dourada. As diferentes percepções sobre o vestido chamaram a atenção de cientistas, que se dedicaram a explicar por que isso ocorria, e um estudo divulgado recentemente relaciona essas percepções a identificação de possíveis doenças.
Claudia Feitosa Santana, uma neurocientista pesquisadora do Instituto Israelita de Ensino Albert Einstein (IIEP), publicou seu trabalho na publicação científica iPerception. Ela fez uma pesquisa com 52 universitários voluntários com média de 22 anos de idade, das áreas de artes e biológicas, sendo a maioria aluno da School of The Art Institute of Chicago, nos Estados Unidos.
Os participantes tiveram de dizer quais eram as cores do vestido: 40% disseram que o vestido era branco e dourado; 29% enxergaram as cores azul e preto e 31% enxergaram outras combinações de cores.
Eles também tiveram de misturar cores em um computador para alcançar o que consideravam ser o branco mais branco possível. O resultado? As pessoas que viram o vestido branco e dourado fizeram tons de brancos mais azulados do que aqueles que viram o vestido preto e azul.
Em entrevista à Agência Brasil, a neurocientista explicou que a diversidade da percepção entre os grupos estava parcialmente relacionada ao cone S, receptor da retina responsável pelo processamente de ondas curtas de luz – justamente a faixa do azul. Por conta disso, a retina do olho envia informações para o cérebro pra interpretar as imagens e suas cores, então as alterações no cone S estão relacionadas com as diferentes experiências de exposição ao sol. "Em lugares mais frios, a luz é mais azulada", explicou Claudia. Já quem nasceu em lugares mais quentes, com luz mais amarelada, tende a enxergar o vestido nas cores azul e preta.
"Estudos de percepção de cor ajudam que a gente entenda melhor as influências genéticas e ambientais, e dentro das ambientais, as culturais e as individuais, porque também vão ajudar a estudar olfato, audição. Muitas doenças afetam a percepção de cores, como o diabetes, intoxicação por metais pesados, esclerose múltipla, mal de Parkinson, entre outras", diz.