Comportamento Adolescente e Educação

94% das meninas de baixa renda não sabem o que é pobreza menstrual


Por Carolina Delboni

Entenda a importância da Lei que garante a distribuição de absorventes em escolas públicas e saiba o porquê é tão importante acabar com a pobreza menstrual

Existe um nível de pobreza e vulnerabilidade tão abissal que as pessoas que vivem nessas condições não sabem que existe uma palavra ou um termo que denomine a situação. O contexto e a luta diária são tão maiores que o que importa dar nome a ela. O que importa?

Quando uma criança nasce, ela ganha um nome. Quando esta mesma criança começa a se alfabetizar a primeira coisa que ela aprende é escrever o próprio nome. Uma "coisa" só deixa de ser "coisa" quando ela passa a ter nome. Ganha status de objeto e passa a ser valorizada e observada de outra maneira. E o que acontece quando a gente dá nome a uma condição social?

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Ela passa a existir. E passa a existir para além do seu contexto e é só assim que nós, como sociedade, passamos a observá-la e enxergá-la com a devida atenção. Dar nome é um ato determinante e quando a gente o faz, a gente se apropria de determinado contexto, cultura, pessoa ou objeto.

Pobreza menstrual é um conceito que reúne em duas palavras um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação. É recorrente o total desconhecimento do assunto ou, quando existe algum conhecimento, há a percepção de que é um problema distante da realidade brasileira.

 Foto: Estadão
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Feita esta introdução, quando um estudo, encomendado pela Sempre Livre, marca de cuidados íntimos da Johnson & Johnson Consumer Health, revela que 94% das mulheres de baixa renda entrevistadas não sabem o que é pobreza menstrual, situação da qual elas são figuras protagonistas, revela a nós uma ausência de apropriação de espaço social. De pertencimento.

A pobreza menstrual vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequados. Ela se refere a inúmeros desafios de acesso a direitos e insumos de saúde. Estes desafios representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual a direitos e oportunidades, o que contribui para retroalimentar ciclos transgeracionais de inequidades de gênero, raça, classe social, além de impactar negativamente a trajetória educacional e profissional.

Segundo o Instituto que realizou a pesquisa, o Kyra, 28% das meninas e mulheres brasileiras é afetada pela pobreza menstrual, cerca de 11,3 milhões de brasileiras, e 30% conhecem alguém que também sofre do problema. 40% destas mulheres têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, meninas jovens.

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São meninas que deixam de ir à escola ou ao trabalho, ou ao médico, ou onde quer que seja, porque não têm um absorvente higiênico para colocar na calcinha. Tão básico e simples quanto este ato deveria ser no cotidiano das mulheres que são seres que menstruam.

"Parece algo óbvio, mas infelizmente ainda não é: quando pessoas que menstruam não conseguem comprar absorventes, acabam utilizando materiais como panos e jornais para segurar o sangue. Materiais não higiênicos são extremamente perigosos à saúde", alerta Amanda Sadalla, co-fundadora da Serenas, ONG dedicada aos direitos de meninas e mulheres.

"Tenho conversado diariamente com adolescentes em rodas de conversa sobre educação menstrual, e fica claro como a falta de absorventes é um desafio vivido por muitas. Quando comento sobre a possibilidade de receber absorventes gratuitamente, os olhos delas brilham", conta.

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Entre as consequências diretas da falta de acesso ao mesmo estão as doenças e problemas vaginais. Nos últimos 12 meses, 28% das 814 mulheres entrevistadas, tiveram infecção urinária ou cistite, 24% candidíase, 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria. E como faz para tratar?

Precisa de atendimento público nos hospitais e SUS, precisa de medicamento, muitas vezes se faz uso de pomadas internas. Precisa de água potável para limpar a vagina, precisa de sabonete. Será que essas mulheres e meninas têm esse dinheiro? Têm esse acesso?

 Foto: Estadão
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Um relatório produzido em maio pela UNICEF e UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, chama atenção para como no Brasil, crianças e adolescentes que menstruam têm seus direitos à escola de qualidade, moradia digna, saúde, incluindo sexual e reprodutiva violados, quando seus direitos à água, ao saneamento e à higiene não são garantidos nos espaços em que convivem e passam boa parte de sua vida.

Segundo informações do relatório, estima-se que no Brasil 1,24 milhões de meninas, 11,6% do total de alunas, não tenham a sua disposição papel higiênico nos banheiros das escolas em que estudam, dentre essas meninas, 66,1% são pretas/pardas.

A situação de meninas sem acesso a nenhum banheiro, com chuveiro e sanitário, em suas casas não é menos alarmante. São 713 mil meninas (4,61% do total) sem acesso a banheiros em seus domicílios e 88,7% delas, mais de 632 mil meninas vivem sem acesso a sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade.

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Olha o tamanho deste número. São 632 mil meninas que não tem banheiro. Banheiro. E quem não tem banheiro, não tem água, não tem luz, não tem sabonete. O que fazer com um sabonete sem água? Sem banheiro.

E esta mesma menina que vive sem banheiro, tem - ou teria - um gasto médio de R$21 no período menstrual. De cada 10, duas têm dificuldade para comprar absorvente, segundo pesquisa encomendada pela Sempre Livre. 21% declaram ter dificuldade para comprar produtos para menstruação todos os meses, e 18% afirmam: "menstruar é uma das maiores dificuldades em minha vida; não tenho condições financeiras para me cuidar como se deve nesse período".

Segundo Cristina Santiago, diretora de Marketing da Johnson & Johnson Consumer Health, área responsável pelo estudo, a marca reconhece seu papel neste cenário e fala da importância de liderarem conversas sobre o tema e também garantir produtos de saúde para esse público.

No primeiro semestre de 2021, a marca doou cerca de 400 mil absorventes a UNICEF e ao longo desse ano, serão distribuídos kits de higiene menstrual para mais de 6 mil adolescentes. O projeto contempla, ainda, iniciativas para continuar levando educação, informação e acesso a produtos.

"Como estamos na maior empresa de saúde do mundo e falar sobre saúde íntima como um todo é essencial para que as pessoas que menstruam entendam o funcionamento do próprio corpo", ressalta a diretora.

A pesquisa encomendada pela multinacional veio em boa hora. Não só pela importância de termos dados e informações sobre dignidade menstrual e saúde íntima atualizados, mas é pela solidez de materiais como este e o relatório da UNICEF, por exemplo, que projetos de leis encaminhados à Câmara ganham ainda mais força e relevância.

Há pouco mais de dez dias, o Senado aprovou o Projeto de Lei 4968/19, da deputada Marília Arraes (PT-PE) e outros 34 parlamentares, que prevê a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e detidas.

E isto só foi possível porque pessoas, projetos, organizações e empresas batalharam para que a condição de mais de 11 milhões de mulheres brasileiras fosse transformada. Basicamente uma iniciativa popular de transformação social e isso tem uma força gigantesca.

A conquista é grande e significativa, mas precisamos lembrar que somente a distribuição de absorventes não é suficiente: precisamos educar meninas e meninos para questões que envolvem corpo e suas relações. Segundo Amanda, quando pergunto para um grupo de adolescentes por que menstruam, as expressões de dúvida a fazem pensar o quanto precisamos conversar sobre o tema.

"Pessoas têm o direito de aprender como seus corpos funcionam, por que a menstruação acontece, como se proteger de infecções, como realizar a higiene de maneira correta, o que são os hormônios e as oscilações de humor ao longo do ciclo", enfatiza Amanda, da ONG Serenas. "Os meninos também precisam aprender sobre o assunto. É através da educação que desconstruiremos preconceitos que reforçam ideias negativas sobre a menstruação, o corpo e a saúde física e mental da mulher".

Deu pra entender a importância da aprovação desta Lei? Deu para mensurar o tamanho do problema que 11 milhões de brasileiras enfrentam todo santo mês?

Entenda a importância da Lei que garante a distribuição de absorventes em escolas públicas e saiba o porquê é tão importante acabar com a pobreza menstrual

Existe um nível de pobreza e vulnerabilidade tão abissal que as pessoas que vivem nessas condições não sabem que existe uma palavra ou um termo que denomine a situação. O contexto e a luta diária são tão maiores que o que importa dar nome a ela. O que importa?

Quando uma criança nasce, ela ganha um nome. Quando esta mesma criança começa a se alfabetizar a primeira coisa que ela aprende é escrever o próprio nome. Uma "coisa" só deixa de ser "coisa" quando ela passa a ter nome. Ganha status de objeto e passa a ser valorizada e observada de outra maneira. E o que acontece quando a gente dá nome a uma condição social?

Ela passa a existir. E passa a existir para além do seu contexto e é só assim que nós, como sociedade, passamos a observá-la e enxergá-la com a devida atenção. Dar nome é um ato determinante e quando a gente o faz, a gente se apropria de determinado contexto, cultura, pessoa ou objeto.

Pobreza menstrual é um conceito que reúne em duas palavras um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação. É recorrente o total desconhecimento do assunto ou, quando existe algum conhecimento, há a percepção de que é um problema distante da realidade brasileira.

 Foto: Estadão

Feita esta introdução, quando um estudo, encomendado pela Sempre Livre, marca de cuidados íntimos da Johnson & Johnson Consumer Health, revela que 94% das mulheres de baixa renda entrevistadas não sabem o que é pobreza menstrual, situação da qual elas são figuras protagonistas, revela a nós uma ausência de apropriação de espaço social. De pertencimento.

A pobreza menstrual vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequados. Ela se refere a inúmeros desafios de acesso a direitos e insumos de saúde. Estes desafios representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual a direitos e oportunidades, o que contribui para retroalimentar ciclos transgeracionais de inequidades de gênero, raça, classe social, além de impactar negativamente a trajetória educacional e profissional.

Segundo o Instituto que realizou a pesquisa, o Kyra, 28% das meninas e mulheres brasileiras é afetada pela pobreza menstrual, cerca de 11,3 milhões de brasileiras, e 30% conhecem alguém que também sofre do problema. 40% destas mulheres têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, meninas jovens.

São meninas que deixam de ir à escola ou ao trabalho, ou ao médico, ou onde quer que seja, porque não têm um absorvente higiênico para colocar na calcinha. Tão básico e simples quanto este ato deveria ser no cotidiano das mulheres que são seres que menstruam.

"Parece algo óbvio, mas infelizmente ainda não é: quando pessoas que menstruam não conseguem comprar absorventes, acabam utilizando materiais como panos e jornais para segurar o sangue. Materiais não higiênicos são extremamente perigosos à saúde", alerta Amanda Sadalla, co-fundadora da Serenas, ONG dedicada aos direitos de meninas e mulheres.

"Tenho conversado diariamente com adolescentes em rodas de conversa sobre educação menstrual, e fica claro como a falta de absorventes é um desafio vivido por muitas. Quando comento sobre a possibilidade de receber absorventes gratuitamente, os olhos delas brilham", conta.

Entre as consequências diretas da falta de acesso ao mesmo estão as doenças e problemas vaginais. Nos últimos 12 meses, 28% das 814 mulheres entrevistadas, tiveram infecção urinária ou cistite, 24% candidíase, 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria. E como faz para tratar?

Precisa de atendimento público nos hospitais e SUS, precisa de medicamento, muitas vezes se faz uso de pomadas internas. Precisa de água potável para limpar a vagina, precisa de sabonete. Será que essas mulheres e meninas têm esse dinheiro? Têm esse acesso?

 Foto: Estadão

Um relatório produzido em maio pela UNICEF e UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, chama atenção para como no Brasil, crianças e adolescentes que menstruam têm seus direitos à escola de qualidade, moradia digna, saúde, incluindo sexual e reprodutiva violados, quando seus direitos à água, ao saneamento e à higiene não são garantidos nos espaços em que convivem e passam boa parte de sua vida.

Segundo informações do relatório, estima-se que no Brasil 1,24 milhões de meninas, 11,6% do total de alunas, não tenham a sua disposição papel higiênico nos banheiros das escolas em que estudam, dentre essas meninas, 66,1% são pretas/pardas.

A situação de meninas sem acesso a nenhum banheiro, com chuveiro e sanitário, em suas casas não é menos alarmante. São 713 mil meninas (4,61% do total) sem acesso a banheiros em seus domicílios e 88,7% delas, mais de 632 mil meninas vivem sem acesso a sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade.

Olha o tamanho deste número. São 632 mil meninas que não tem banheiro. Banheiro. E quem não tem banheiro, não tem água, não tem luz, não tem sabonete. O que fazer com um sabonete sem água? Sem banheiro.

E esta mesma menina que vive sem banheiro, tem - ou teria - um gasto médio de R$21 no período menstrual. De cada 10, duas têm dificuldade para comprar absorvente, segundo pesquisa encomendada pela Sempre Livre. 21% declaram ter dificuldade para comprar produtos para menstruação todos os meses, e 18% afirmam: "menstruar é uma das maiores dificuldades em minha vida; não tenho condições financeiras para me cuidar como se deve nesse período".

Segundo Cristina Santiago, diretora de Marketing da Johnson & Johnson Consumer Health, área responsável pelo estudo, a marca reconhece seu papel neste cenário e fala da importância de liderarem conversas sobre o tema e também garantir produtos de saúde para esse público.

No primeiro semestre de 2021, a marca doou cerca de 400 mil absorventes a UNICEF e ao longo desse ano, serão distribuídos kits de higiene menstrual para mais de 6 mil adolescentes. O projeto contempla, ainda, iniciativas para continuar levando educação, informação e acesso a produtos.

"Como estamos na maior empresa de saúde do mundo e falar sobre saúde íntima como um todo é essencial para que as pessoas que menstruam entendam o funcionamento do próprio corpo", ressalta a diretora.

A pesquisa encomendada pela multinacional veio em boa hora. Não só pela importância de termos dados e informações sobre dignidade menstrual e saúde íntima atualizados, mas é pela solidez de materiais como este e o relatório da UNICEF, por exemplo, que projetos de leis encaminhados à Câmara ganham ainda mais força e relevância.

Há pouco mais de dez dias, o Senado aprovou o Projeto de Lei 4968/19, da deputada Marília Arraes (PT-PE) e outros 34 parlamentares, que prevê a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e detidas.

E isto só foi possível porque pessoas, projetos, organizações e empresas batalharam para que a condição de mais de 11 milhões de mulheres brasileiras fosse transformada. Basicamente uma iniciativa popular de transformação social e isso tem uma força gigantesca.

A conquista é grande e significativa, mas precisamos lembrar que somente a distribuição de absorventes não é suficiente: precisamos educar meninas e meninos para questões que envolvem corpo e suas relações. Segundo Amanda, quando pergunto para um grupo de adolescentes por que menstruam, as expressões de dúvida a fazem pensar o quanto precisamos conversar sobre o tema.

"Pessoas têm o direito de aprender como seus corpos funcionam, por que a menstruação acontece, como se proteger de infecções, como realizar a higiene de maneira correta, o que são os hormônios e as oscilações de humor ao longo do ciclo", enfatiza Amanda, da ONG Serenas. "Os meninos também precisam aprender sobre o assunto. É através da educação que desconstruiremos preconceitos que reforçam ideias negativas sobre a menstruação, o corpo e a saúde física e mental da mulher".

Deu pra entender a importância da aprovação desta Lei? Deu para mensurar o tamanho do problema que 11 milhões de brasileiras enfrentam todo santo mês?

Entenda a importância da Lei que garante a distribuição de absorventes em escolas públicas e saiba o porquê é tão importante acabar com a pobreza menstrual

Existe um nível de pobreza e vulnerabilidade tão abissal que as pessoas que vivem nessas condições não sabem que existe uma palavra ou um termo que denomine a situação. O contexto e a luta diária são tão maiores que o que importa dar nome a ela. O que importa?

Quando uma criança nasce, ela ganha um nome. Quando esta mesma criança começa a se alfabetizar a primeira coisa que ela aprende é escrever o próprio nome. Uma "coisa" só deixa de ser "coisa" quando ela passa a ter nome. Ganha status de objeto e passa a ser valorizada e observada de outra maneira. E o que acontece quando a gente dá nome a uma condição social?

Ela passa a existir. E passa a existir para além do seu contexto e é só assim que nós, como sociedade, passamos a observá-la e enxergá-la com a devida atenção. Dar nome é um ato determinante e quando a gente o faz, a gente se apropria de determinado contexto, cultura, pessoa ou objeto.

Pobreza menstrual é um conceito que reúne em duas palavras um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação. É recorrente o total desconhecimento do assunto ou, quando existe algum conhecimento, há a percepção de que é um problema distante da realidade brasileira.

 Foto: Estadão

Feita esta introdução, quando um estudo, encomendado pela Sempre Livre, marca de cuidados íntimos da Johnson & Johnson Consumer Health, revela que 94% das mulheres de baixa renda entrevistadas não sabem o que é pobreza menstrual, situação da qual elas são figuras protagonistas, revela a nós uma ausência de apropriação de espaço social. De pertencimento.

A pobreza menstrual vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequados. Ela se refere a inúmeros desafios de acesso a direitos e insumos de saúde. Estes desafios representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual a direitos e oportunidades, o que contribui para retroalimentar ciclos transgeracionais de inequidades de gênero, raça, classe social, além de impactar negativamente a trajetória educacional e profissional.

Segundo o Instituto que realizou a pesquisa, o Kyra, 28% das meninas e mulheres brasileiras é afetada pela pobreza menstrual, cerca de 11,3 milhões de brasileiras, e 30% conhecem alguém que também sofre do problema. 40% destas mulheres têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, meninas jovens.

São meninas que deixam de ir à escola ou ao trabalho, ou ao médico, ou onde quer que seja, porque não têm um absorvente higiênico para colocar na calcinha. Tão básico e simples quanto este ato deveria ser no cotidiano das mulheres que são seres que menstruam.

"Parece algo óbvio, mas infelizmente ainda não é: quando pessoas que menstruam não conseguem comprar absorventes, acabam utilizando materiais como panos e jornais para segurar o sangue. Materiais não higiênicos são extremamente perigosos à saúde", alerta Amanda Sadalla, co-fundadora da Serenas, ONG dedicada aos direitos de meninas e mulheres.

"Tenho conversado diariamente com adolescentes em rodas de conversa sobre educação menstrual, e fica claro como a falta de absorventes é um desafio vivido por muitas. Quando comento sobre a possibilidade de receber absorventes gratuitamente, os olhos delas brilham", conta.

Entre as consequências diretas da falta de acesso ao mesmo estão as doenças e problemas vaginais. Nos últimos 12 meses, 28% das 814 mulheres entrevistadas, tiveram infecção urinária ou cistite, 24% candidíase, 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria. E como faz para tratar?

Precisa de atendimento público nos hospitais e SUS, precisa de medicamento, muitas vezes se faz uso de pomadas internas. Precisa de água potável para limpar a vagina, precisa de sabonete. Será que essas mulheres e meninas têm esse dinheiro? Têm esse acesso?

 Foto: Estadão

Um relatório produzido em maio pela UNICEF e UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, chama atenção para como no Brasil, crianças e adolescentes que menstruam têm seus direitos à escola de qualidade, moradia digna, saúde, incluindo sexual e reprodutiva violados, quando seus direitos à água, ao saneamento e à higiene não são garantidos nos espaços em que convivem e passam boa parte de sua vida.

Segundo informações do relatório, estima-se que no Brasil 1,24 milhões de meninas, 11,6% do total de alunas, não tenham a sua disposição papel higiênico nos banheiros das escolas em que estudam, dentre essas meninas, 66,1% são pretas/pardas.

A situação de meninas sem acesso a nenhum banheiro, com chuveiro e sanitário, em suas casas não é menos alarmante. São 713 mil meninas (4,61% do total) sem acesso a banheiros em seus domicílios e 88,7% delas, mais de 632 mil meninas vivem sem acesso a sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade.

Olha o tamanho deste número. São 632 mil meninas que não tem banheiro. Banheiro. E quem não tem banheiro, não tem água, não tem luz, não tem sabonete. O que fazer com um sabonete sem água? Sem banheiro.

E esta mesma menina que vive sem banheiro, tem - ou teria - um gasto médio de R$21 no período menstrual. De cada 10, duas têm dificuldade para comprar absorvente, segundo pesquisa encomendada pela Sempre Livre. 21% declaram ter dificuldade para comprar produtos para menstruação todos os meses, e 18% afirmam: "menstruar é uma das maiores dificuldades em minha vida; não tenho condições financeiras para me cuidar como se deve nesse período".

Segundo Cristina Santiago, diretora de Marketing da Johnson & Johnson Consumer Health, área responsável pelo estudo, a marca reconhece seu papel neste cenário e fala da importância de liderarem conversas sobre o tema e também garantir produtos de saúde para esse público.

No primeiro semestre de 2021, a marca doou cerca de 400 mil absorventes a UNICEF e ao longo desse ano, serão distribuídos kits de higiene menstrual para mais de 6 mil adolescentes. O projeto contempla, ainda, iniciativas para continuar levando educação, informação e acesso a produtos.

"Como estamos na maior empresa de saúde do mundo e falar sobre saúde íntima como um todo é essencial para que as pessoas que menstruam entendam o funcionamento do próprio corpo", ressalta a diretora.

A pesquisa encomendada pela multinacional veio em boa hora. Não só pela importância de termos dados e informações sobre dignidade menstrual e saúde íntima atualizados, mas é pela solidez de materiais como este e o relatório da UNICEF, por exemplo, que projetos de leis encaminhados à Câmara ganham ainda mais força e relevância.

Há pouco mais de dez dias, o Senado aprovou o Projeto de Lei 4968/19, da deputada Marília Arraes (PT-PE) e outros 34 parlamentares, que prevê a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e detidas.

E isto só foi possível porque pessoas, projetos, organizações e empresas batalharam para que a condição de mais de 11 milhões de mulheres brasileiras fosse transformada. Basicamente uma iniciativa popular de transformação social e isso tem uma força gigantesca.

A conquista é grande e significativa, mas precisamos lembrar que somente a distribuição de absorventes não é suficiente: precisamos educar meninas e meninos para questões que envolvem corpo e suas relações. Segundo Amanda, quando pergunto para um grupo de adolescentes por que menstruam, as expressões de dúvida a fazem pensar o quanto precisamos conversar sobre o tema.

"Pessoas têm o direito de aprender como seus corpos funcionam, por que a menstruação acontece, como se proteger de infecções, como realizar a higiene de maneira correta, o que são os hormônios e as oscilações de humor ao longo do ciclo", enfatiza Amanda, da ONG Serenas. "Os meninos também precisam aprender sobre o assunto. É através da educação que desconstruiremos preconceitos que reforçam ideias negativas sobre a menstruação, o corpo e a saúde física e mental da mulher".

Deu pra entender a importância da aprovação desta Lei? Deu para mensurar o tamanho do problema que 11 milhões de brasileiras enfrentam todo santo mês?

Entenda a importância da Lei que garante a distribuição de absorventes em escolas públicas e saiba o porquê é tão importante acabar com a pobreza menstrual

Existe um nível de pobreza e vulnerabilidade tão abissal que as pessoas que vivem nessas condições não sabem que existe uma palavra ou um termo que denomine a situação. O contexto e a luta diária são tão maiores que o que importa dar nome a ela. O que importa?

Quando uma criança nasce, ela ganha um nome. Quando esta mesma criança começa a se alfabetizar a primeira coisa que ela aprende é escrever o próprio nome. Uma "coisa" só deixa de ser "coisa" quando ela passa a ter nome. Ganha status de objeto e passa a ser valorizada e observada de outra maneira. E o que acontece quando a gente dá nome a uma condição social?

Ela passa a existir. E passa a existir para além do seu contexto e é só assim que nós, como sociedade, passamos a observá-la e enxergá-la com a devida atenção. Dar nome é um ato determinante e quando a gente o faz, a gente se apropria de determinado contexto, cultura, pessoa ou objeto.

Pobreza menstrual é um conceito que reúne em duas palavras um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação. É recorrente o total desconhecimento do assunto ou, quando existe algum conhecimento, há a percepção de que é um problema distante da realidade brasileira.

 Foto: Estadão

Feita esta introdução, quando um estudo, encomendado pela Sempre Livre, marca de cuidados íntimos da Johnson & Johnson Consumer Health, revela que 94% das mulheres de baixa renda entrevistadas não sabem o que é pobreza menstrual, situação da qual elas são figuras protagonistas, revela a nós uma ausência de apropriação de espaço social. De pertencimento.

A pobreza menstrual vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequados. Ela se refere a inúmeros desafios de acesso a direitos e insumos de saúde. Estes desafios representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual a direitos e oportunidades, o que contribui para retroalimentar ciclos transgeracionais de inequidades de gênero, raça, classe social, além de impactar negativamente a trajetória educacional e profissional.

Segundo o Instituto que realizou a pesquisa, o Kyra, 28% das meninas e mulheres brasileiras é afetada pela pobreza menstrual, cerca de 11,3 milhões de brasileiras, e 30% conhecem alguém que também sofre do problema. 40% destas mulheres têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, meninas jovens.

São meninas que deixam de ir à escola ou ao trabalho, ou ao médico, ou onde quer que seja, porque não têm um absorvente higiênico para colocar na calcinha. Tão básico e simples quanto este ato deveria ser no cotidiano das mulheres que são seres que menstruam.

"Parece algo óbvio, mas infelizmente ainda não é: quando pessoas que menstruam não conseguem comprar absorventes, acabam utilizando materiais como panos e jornais para segurar o sangue. Materiais não higiênicos são extremamente perigosos à saúde", alerta Amanda Sadalla, co-fundadora da Serenas, ONG dedicada aos direitos de meninas e mulheres.

"Tenho conversado diariamente com adolescentes em rodas de conversa sobre educação menstrual, e fica claro como a falta de absorventes é um desafio vivido por muitas. Quando comento sobre a possibilidade de receber absorventes gratuitamente, os olhos delas brilham", conta.

Entre as consequências diretas da falta de acesso ao mesmo estão as doenças e problemas vaginais. Nos últimos 12 meses, 28% das 814 mulheres entrevistadas, tiveram infecção urinária ou cistite, 24% candidíase, 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria. E como faz para tratar?

Precisa de atendimento público nos hospitais e SUS, precisa de medicamento, muitas vezes se faz uso de pomadas internas. Precisa de água potável para limpar a vagina, precisa de sabonete. Será que essas mulheres e meninas têm esse dinheiro? Têm esse acesso?

 Foto: Estadão

Um relatório produzido em maio pela UNICEF e UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, chama atenção para como no Brasil, crianças e adolescentes que menstruam têm seus direitos à escola de qualidade, moradia digna, saúde, incluindo sexual e reprodutiva violados, quando seus direitos à água, ao saneamento e à higiene não são garantidos nos espaços em que convivem e passam boa parte de sua vida.

Segundo informações do relatório, estima-se que no Brasil 1,24 milhões de meninas, 11,6% do total de alunas, não tenham a sua disposição papel higiênico nos banheiros das escolas em que estudam, dentre essas meninas, 66,1% são pretas/pardas.

A situação de meninas sem acesso a nenhum banheiro, com chuveiro e sanitário, em suas casas não é menos alarmante. São 713 mil meninas (4,61% do total) sem acesso a banheiros em seus domicílios e 88,7% delas, mais de 632 mil meninas vivem sem acesso a sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade.

Olha o tamanho deste número. São 632 mil meninas que não tem banheiro. Banheiro. E quem não tem banheiro, não tem água, não tem luz, não tem sabonete. O que fazer com um sabonete sem água? Sem banheiro.

E esta mesma menina que vive sem banheiro, tem - ou teria - um gasto médio de R$21 no período menstrual. De cada 10, duas têm dificuldade para comprar absorvente, segundo pesquisa encomendada pela Sempre Livre. 21% declaram ter dificuldade para comprar produtos para menstruação todos os meses, e 18% afirmam: "menstruar é uma das maiores dificuldades em minha vida; não tenho condições financeiras para me cuidar como se deve nesse período".

Segundo Cristina Santiago, diretora de Marketing da Johnson & Johnson Consumer Health, área responsável pelo estudo, a marca reconhece seu papel neste cenário e fala da importância de liderarem conversas sobre o tema e também garantir produtos de saúde para esse público.

No primeiro semestre de 2021, a marca doou cerca de 400 mil absorventes a UNICEF e ao longo desse ano, serão distribuídos kits de higiene menstrual para mais de 6 mil adolescentes. O projeto contempla, ainda, iniciativas para continuar levando educação, informação e acesso a produtos.

"Como estamos na maior empresa de saúde do mundo e falar sobre saúde íntima como um todo é essencial para que as pessoas que menstruam entendam o funcionamento do próprio corpo", ressalta a diretora.

A pesquisa encomendada pela multinacional veio em boa hora. Não só pela importância de termos dados e informações sobre dignidade menstrual e saúde íntima atualizados, mas é pela solidez de materiais como este e o relatório da UNICEF, por exemplo, que projetos de leis encaminhados à Câmara ganham ainda mais força e relevância.

Há pouco mais de dez dias, o Senado aprovou o Projeto de Lei 4968/19, da deputada Marília Arraes (PT-PE) e outros 34 parlamentares, que prevê a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e detidas.

E isto só foi possível porque pessoas, projetos, organizações e empresas batalharam para que a condição de mais de 11 milhões de mulheres brasileiras fosse transformada. Basicamente uma iniciativa popular de transformação social e isso tem uma força gigantesca.

A conquista é grande e significativa, mas precisamos lembrar que somente a distribuição de absorventes não é suficiente: precisamos educar meninas e meninos para questões que envolvem corpo e suas relações. Segundo Amanda, quando pergunto para um grupo de adolescentes por que menstruam, as expressões de dúvida a fazem pensar o quanto precisamos conversar sobre o tema.

"Pessoas têm o direito de aprender como seus corpos funcionam, por que a menstruação acontece, como se proteger de infecções, como realizar a higiene de maneira correta, o que são os hormônios e as oscilações de humor ao longo do ciclo", enfatiza Amanda, da ONG Serenas. "Os meninos também precisam aprender sobre o assunto. É através da educação que desconstruiremos preconceitos que reforçam ideias negativas sobre a menstruação, o corpo e a saúde física e mental da mulher".

Deu pra entender a importância da aprovação desta Lei? Deu para mensurar o tamanho do problema que 11 milhões de brasileiras enfrentam todo santo mês?

Entenda a importância da Lei que garante a distribuição de absorventes em escolas públicas e saiba o porquê é tão importante acabar com a pobreza menstrual

Existe um nível de pobreza e vulnerabilidade tão abissal que as pessoas que vivem nessas condições não sabem que existe uma palavra ou um termo que denomine a situação. O contexto e a luta diária são tão maiores que o que importa dar nome a ela. O que importa?

Quando uma criança nasce, ela ganha um nome. Quando esta mesma criança começa a se alfabetizar a primeira coisa que ela aprende é escrever o próprio nome. Uma "coisa" só deixa de ser "coisa" quando ela passa a ter nome. Ganha status de objeto e passa a ser valorizada e observada de outra maneira. E o que acontece quando a gente dá nome a uma condição social?

Ela passa a existir. E passa a existir para além do seu contexto e é só assim que nós, como sociedade, passamos a observá-la e enxergá-la com a devida atenção. Dar nome é um ato determinante e quando a gente o faz, a gente se apropria de determinado contexto, cultura, pessoa ou objeto.

Pobreza menstrual é um conceito que reúne em duas palavras um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação. É recorrente o total desconhecimento do assunto ou, quando existe algum conhecimento, há a percepção de que é um problema distante da realidade brasileira.

 Foto: Estadão

Feita esta introdução, quando um estudo, encomendado pela Sempre Livre, marca de cuidados íntimos da Johnson & Johnson Consumer Health, revela que 94% das mulheres de baixa renda entrevistadas não sabem o que é pobreza menstrual, situação da qual elas são figuras protagonistas, revela a nós uma ausência de apropriação de espaço social. De pertencimento.

A pobreza menstrual vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequados. Ela se refere a inúmeros desafios de acesso a direitos e insumos de saúde. Estes desafios representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual a direitos e oportunidades, o que contribui para retroalimentar ciclos transgeracionais de inequidades de gênero, raça, classe social, além de impactar negativamente a trajetória educacional e profissional.

Segundo o Instituto que realizou a pesquisa, o Kyra, 28% das meninas e mulheres brasileiras é afetada pela pobreza menstrual, cerca de 11,3 milhões de brasileiras, e 30% conhecem alguém que também sofre do problema. 40% destas mulheres têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, meninas jovens.

São meninas que deixam de ir à escola ou ao trabalho, ou ao médico, ou onde quer que seja, porque não têm um absorvente higiênico para colocar na calcinha. Tão básico e simples quanto este ato deveria ser no cotidiano das mulheres que são seres que menstruam.

"Parece algo óbvio, mas infelizmente ainda não é: quando pessoas que menstruam não conseguem comprar absorventes, acabam utilizando materiais como panos e jornais para segurar o sangue. Materiais não higiênicos são extremamente perigosos à saúde", alerta Amanda Sadalla, co-fundadora da Serenas, ONG dedicada aos direitos de meninas e mulheres.

"Tenho conversado diariamente com adolescentes em rodas de conversa sobre educação menstrual, e fica claro como a falta de absorventes é um desafio vivido por muitas. Quando comento sobre a possibilidade de receber absorventes gratuitamente, os olhos delas brilham", conta.

Entre as consequências diretas da falta de acesso ao mesmo estão as doenças e problemas vaginais. Nos últimos 12 meses, 28% das 814 mulheres entrevistadas, tiveram infecção urinária ou cistite, 24% candidíase, 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria. E como faz para tratar?

Precisa de atendimento público nos hospitais e SUS, precisa de medicamento, muitas vezes se faz uso de pomadas internas. Precisa de água potável para limpar a vagina, precisa de sabonete. Será que essas mulheres e meninas têm esse dinheiro? Têm esse acesso?

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Um relatório produzido em maio pela UNICEF e UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, chama atenção para como no Brasil, crianças e adolescentes que menstruam têm seus direitos à escola de qualidade, moradia digna, saúde, incluindo sexual e reprodutiva violados, quando seus direitos à água, ao saneamento e à higiene não são garantidos nos espaços em que convivem e passam boa parte de sua vida.

Segundo informações do relatório, estima-se que no Brasil 1,24 milhões de meninas, 11,6% do total de alunas, não tenham a sua disposição papel higiênico nos banheiros das escolas em que estudam, dentre essas meninas, 66,1% são pretas/pardas.

A situação de meninas sem acesso a nenhum banheiro, com chuveiro e sanitário, em suas casas não é menos alarmante. São 713 mil meninas (4,61% do total) sem acesso a banheiros em seus domicílios e 88,7% delas, mais de 632 mil meninas vivem sem acesso a sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade.

Olha o tamanho deste número. São 632 mil meninas que não tem banheiro. Banheiro. E quem não tem banheiro, não tem água, não tem luz, não tem sabonete. O que fazer com um sabonete sem água? Sem banheiro.

E esta mesma menina que vive sem banheiro, tem - ou teria - um gasto médio de R$21 no período menstrual. De cada 10, duas têm dificuldade para comprar absorvente, segundo pesquisa encomendada pela Sempre Livre. 21% declaram ter dificuldade para comprar produtos para menstruação todos os meses, e 18% afirmam: "menstruar é uma das maiores dificuldades em minha vida; não tenho condições financeiras para me cuidar como se deve nesse período".

Segundo Cristina Santiago, diretora de Marketing da Johnson & Johnson Consumer Health, área responsável pelo estudo, a marca reconhece seu papel neste cenário e fala da importância de liderarem conversas sobre o tema e também garantir produtos de saúde para esse público.

No primeiro semestre de 2021, a marca doou cerca de 400 mil absorventes a UNICEF e ao longo desse ano, serão distribuídos kits de higiene menstrual para mais de 6 mil adolescentes. O projeto contempla, ainda, iniciativas para continuar levando educação, informação e acesso a produtos.

"Como estamos na maior empresa de saúde do mundo e falar sobre saúde íntima como um todo é essencial para que as pessoas que menstruam entendam o funcionamento do próprio corpo", ressalta a diretora.

A pesquisa encomendada pela multinacional veio em boa hora. Não só pela importância de termos dados e informações sobre dignidade menstrual e saúde íntima atualizados, mas é pela solidez de materiais como este e o relatório da UNICEF, por exemplo, que projetos de leis encaminhados à Câmara ganham ainda mais força e relevância.

Há pouco mais de dez dias, o Senado aprovou o Projeto de Lei 4968/19, da deputada Marília Arraes (PT-PE) e outros 34 parlamentares, que prevê a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e detidas.

E isto só foi possível porque pessoas, projetos, organizações e empresas batalharam para que a condição de mais de 11 milhões de mulheres brasileiras fosse transformada. Basicamente uma iniciativa popular de transformação social e isso tem uma força gigantesca.

A conquista é grande e significativa, mas precisamos lembrar que somente a distribuição de absorventes não é suficiente: precisamos educar meninas e meninos para questões que envolvem corpo e suas relações. Segundo Amanda, quando pergunto para um grupo de adolescentes por que menstruam, as expressões de dúvida a fazem pensar o quanto precisamos conversar sobre o tema.

"Pessoas têm o direito de aprender como seus corpos funcionam, por que a menstruação acontece, como se proteger de infecções, como realizar a higiene de maneira correta, o que são os hormônios e as oscilações de humor ao longo do ciclo", enfatiza Amanda, da ONG Serenas. "Os meninos também precisam aprender sobre o assunto. É através da educação que desconstruiremos preconceitos que reforçam ideias negativas sobre a menstruação, o corpo e a saúde física e mental da mulher".

Deu pra entender a importância da aprovação desta Lei? Deu para mensurar o tamanho do problema que 11 milhões de brasileiras enfrentam todo santo mês?

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