Nesses últimos dias, passei minhas manhãs fazendo reuniões de pais com famílias de alunos que atendi este ano. Entre apresentar uma atividade de escrita e/ou de leitura, entre uma fala sobre a criança e um elogio, foram muitos os pais que lacrimejaram sentadinhos na cadeira pequena, a mesma que seus filhos se sentam, na minha frente.
Ouvir falar do próprio filho, perceber e constatar o crescimento dele, não só físico, mas emocional e pedagógico, é sempre uma emoção para qualquer pai e mãe. A gente se orgulha daquele serzinho que cresce. E a gente também se despede um pouco desse mesmo serzinho que vai deixando a infância para trás. É um clichê, mas não tem como não dizer que esse é um daqueles momentos da vida materna e paterna em que se vive um misto de sentimentos e emoções. É a ambiguidade da vida.
E parece que as inúmeras apresentações, ritos de passagem e formaturas de crianças e adolescentes acontecem, justamente, para ajudar pais e mães a irem concretizando o processo de ver filho crescer. Nas escolas, aulas de dança, natação, circo, música e ginastica artística, entre tantas modalidades, as redes sociais ficaram cheias de fotos de filhos se apresentando e pais orgulhosos assistindo. Final de ano é assim: uma sequência interminável de eventos e comemorações de filhos que crescem e pais que se orgulham dos filhos que crescem.
Final de ano letivo também. Marcado por despedidas, sejam elas na Educação Infantil, Fundamental ou Ensino Médio. A passagem de um ano a outro ou de um segmento a outro é ritualizada pelas escolas e seus professores. As crianças costumam fazer vivências nas salas de aulas dos anos que frequentarão e os adolescentes costumam conversar com os mais velhos para saber o que lhes espera.
O grau de dificuldade vai aumentando, o tempo de recreio vai diminuindo, o espaço físico na escola também. Todo aluno começa num pátio de areia, com árvores e céu aberto e termina num prédio de concreto com uma mesa de ping-pong no corredor. É mais ou menos assim. Mas fato é que os anos vão passando dentro da escola, os laços vão se tornando cada vez mais estreitos e fortes e quando chega lá na frente, no 3º. do Médio, fica ainda mais difícil se despedir. Até porque não é só uma despedida daquele ano em si, mas uma despedida da escola. O "até logo" dá lugar ao "tchau".
O que, por anos, foi rotina agora vira saudades. Eles saem cheios de memórias, carregados desse universo que preenche os espaços da sala de aula e do pátio. E toda vez que eu vejo uma despedida dessas, me emociono. Enquanto eles choram no palco se apresentando, recebendo homenagens e fazendo homenagens, a gente chora na plateia. Olhando e lembrando daquele ser humano pequerrucho, de bochechas fartas, pele rosada, cheio de energia para descobrir o mundo. Descobrir as palavras, o que significa aquele monte de letras amontoadas. Como escrevem seu próprio nome. É na escola que começam a ganhar independência e autonomia. E é bonito demais ver uma criança ganhando o mundo que agora é dela também - não só, ou mais, de seus pais.
Muito do meu dia a dia este ano foi dentro de escola. Foram 202 dias letivos e 1350 horas de aulas dadas e 31 alunos que terminam o 2º. ano lendo e escrevendo. Alfabéticos. Eu sempre falo que ensinar - e ver - uma criança a ler pela primeira vez é tão bonito quanto ver um bebê aprender a andar. Nisso tive sorte, foram 31 vezes.
Mas uma frase de um aluno me chamou atenção na nossa despedida. "Acho chato crescer". No meio de uma lousa repleta de mensagens deixadas por crianças de 7 e 8 anos, a dele parecia estar em bold. Como é difícil crescer. Como, mesmo crianças, eles sabem o quanto é difícil crescer. Se despedir de um lugar que se tornou seguro, que se tornou acolhedor e aconchegante para, de novo, se desafiar nos novos vínculos, nas novas relações humanas, nos tantos "não saberes" que virão.
Crescer é lindo. Mas crescer também é chato e dolorido. Tá aí mais uma ambiguidade da vida que todo final de ano letivo a gente precisa se deparar com o almejo do "tal" futuro. Ah, o futuro.