Comportamento Adolescente e Educação

Adolescentes consideram justa toda forma de amor


Por Carolina Delboni
Atualização:

Sem barreiras ou preconceitos quando o assunto é sexualidade e gênero, jovens da Geração Z estão dando nó na cabeça dos pais. Entenda o que eles pensam sobre as relações físicas, a descoberta da sexualidade e a identidade de gênero

Talvez muitos dos adolescentes da Geração Z não conheçam a música do Lulu Santos que compõe o título desta matéria, mas certamente compartilham da ideia de amor livre - e identidade livre.

Recentemente, estava na fila do Starbucks com meu filho de 14 anos, quando a garota da nossa frente termina de fazer seu pedido e dá o nome de "Caio" ao caixa. Ela era uma menina, mas deu o nome de um menino.

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Eu comento com meu filho que acho interessante como adolescentes da geração dele se permitem ser quem quiserem ser. Que existe uma liberdade bonita de se observar. Ele concorda com o que eu digo e me conta que na sua sala da escola tem um menino trans.

Pergunto a ele "e aí, como é pra vocês?" e ele, com a maior naturalidade do mundo, me diz "normal, ué". "A gente não liga, ele pode ser quem ele quiser. Não faz diferença pra ninguém na escola, lá não tem preconceito".

No mundo da bolha dos adolescentes não tem preconceito. De maneira utópica, realmente não existe, mas ele está aí, basta olhar o entorno. Só que estamos diante de uma geração que lida de maneira muito mais simples e natural com a própria sexualidade e a dos outros, e estão abertos a vivenciar possibilidades irrestritas de gênero.

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Tudo em nome da construção da própria identidade. A sexualidade e as experiências sexuais, nesta fase, têm um papel importantíssimo na constituição de quem eles são e como se apresentam ao mundo. Além da própria experimentação, ela contribuiu para formar o sujeito.

 Foto: Estadão

E foi-se o tempo das experiências convencionais. Do beijo e do sexo, único e exclusivamente, entre meninos e meninas. Vale a experimentação do beijo. Vale a experimentação da relação sexual. Não importa se são duas meninas juntas ou dois meninos, ou outras configurações. Importa experimentar.

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Sentir o próprio corpo, entender quais são os prazeres, permitir-se viver a sexualidade de maneira mais livre, menos rotulada e menos padronizada. Pré-adolescentes e adolescentes estão rompendo com as expectativas construídas socialmente pelas gerações anteriores, ou seja, a dos seus pais.

E os pais estão perdidos. Muitos acham errado menino beijar menino ou meninas beijarem meninas. Muitos pais não conseguem compreender como um filho que nasceu menino não se vê num corpo masculino. Acham que é uma "pouca vergonha" esse "troca-troca" que eles fazem. Ficam indignados, não sabem lidar, querem proibir os filhos de saírem com fulano ou beltrano.

Tudo isto porque nasceram num tempo em que homem e mulher foram feitos para casar, terem filhos e dar continuidade a humanidade. Muitos, só foram ter a primeira relação sexual já casados e nem sempre existia amor. Mas o conceito "viver feliz para sempre" imperou até aqui. Estamos no começo de uma desconstrução social e cultural.

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E é justamente por terem esta percepção que alguns pais buscam compreender os filhos. Buscam dialogar, ler sobre o tema, participar de palestras nas escolas, além de conversar com o hebiatra ou a ginecologista, no caso das meninas, para entender a "cabeça" deles.

"O que tenho visto é que, enquanto os mais novinhos desbravam, derrubam paradigmas, muitas famílias resistem ao novo espírito dos tempos", fala a Dra. Tathiana Parmigiano, ginecologista do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e da Comissão Mulher no Esporte. "Mas há as que buscam compreender e se adaptar".

A especialista conta que muitas mães acompanham suas filhas nas consultas justamente para ficarem mais próximas, por dentro dos "dilemas" geracional e, como ela mesma diz, "não terem que passar pelas mentiras e omissões".

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Mas é claro que lidar com a questão está longe de ser fácil para os pais, mesmo para os mais compreensivos. Diante de pais assustados e com receio do que o excesso de opções possa causar - sofrimento, bullying e até depressão - a especialista acredita que os responsáveis que abrem o diálogo e o papo franco com especialistas contribuem para a saúde emocional tanto da família quanto dos adolescentes.

"Nem todos os pais estão negando. Às vezes só estão com medo de que o caminho da aceitação seja duro demais e querem poupar os filhos das dificuldades como qualquer um gostaria", conclui Dra. Tathiana. Para os jovens, que consideram justa toda forma de ser e amar, nada mais válido do que encontrar apoio e abertura para conversar em casa e nos consultórios, seja ginecológico ou psicológico.

"Minha preocupação como médica é a saúde, evitar gestação não planejada, higiene e transmissão de doença. Essa é a minha função e sempre me coloco aberta para que elas realmente falem", conta. "É uma fase de experimentação e não de decisões, principalmente quando se tem por volta de 14 anos de idade".

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Fato é que estamos diante de uma geração que, não à toa, nasceu num mundo que lhes foi apresentado como "globalizado". O "mundo sem fronteiras", lembra disso? Lugar onde as propostas econômicas dos países não encontrariam fronteiras e o livre comércio iria acontecer.

Estamos falando de uma geração que percebe as relações entre países acontecendo de maneira mais fluida. Com barreiras mais amigáveis e menos espinhosas. O que leva a compreensão deles, inconscientemente, que as relações humanas também podem ser assim. Mais simples, menos rotuladas, mais acessíveis. E é exatamente este conceito que eles levam para suas relações pessoais.

Ou seja, quando eu derrubo as barreiras das relações mundiais, eu também derrubo as barreiras das relações pessoais e é isto que os jovens têm vivido, se permitido experimentar quando o assunto passa pela descoberta da sexualidade, a identidade de gênero e as experimentações sexuais. São marcas importantes que esta geração traz como contribuição ao pensamento do século 21.

Lulu Santos está certo quando canta [...] Vamos viver tudo que há pra viver Vamos nos permitir, Eu quero crer no amor numa boa, Que isso valha pra qualquer pessoa [...]

Num contraponto ao tal modelo de relacionamento "sólido", tão almejado pelos pais dos jovens da Geração Z, eles estão normalizando o conceito do "amor livre" e abrindo o percurso em águas por onde a geração nascida depois de 2010 - os Alpha - parecem navegar de forma fluida, descomplicada e natural. Sem colocar ninguém em caixinhas.

Manuela, de 17 anos, conta que são poucas as meninas da sua turma que nunca beijaram outra do mesmo sexo e diz que já ouviu muitas vezes dos pais e outros adultos que a sua geração banalizou o beijo. "O bonito do beijo é justamente demonstrar o afeto que se sente pela outro durante o ato em si. E isso pode acontecer com duas ou mais pessoas, essa não deveria ser a questão", explica.

"Minha geração é muito intensa e muito afobada para querer experimentar tudo o tempo inteiro. E isso, por consequência, acaba tornando a gente meio prematuro. Parece que o tédio é a pior coisa que pode acontecer, mas não é um tédio que vem da aula de matemática, é no sentido de viver uma vida monótona. Isso apavora a gente e daí o prazer e a felicidade momentânea que a gente sente nas relações mais superficiais, tipo dar um beijo numa festa, vira um ciclo viciante", explica.

Numa autocrítica e conjecturando que, no fundo deste espírito livre, da ânsia carpe diem, algumas vezes se esconde o medo de se machucar. "A gente acaba se privando, eu acho, da intimidade das relações mais profundas", deduz.

Para o Bruno, 19 anos, o complexo é como outras gerações interpretam a forma deles expressarem a sexualidade e a identidade. "Pode haver vários conflitos familiares e acredito que exista preconceitos".

Na opinião dele, a pressão parental é produto do mundo machista e homofóbico e pode, sim, de certa forma, deixá-los bloqueados, sobretudo os meninos. "Vejo que as meninas de hoje são mais desprendidas", comenta. "Os meninos da nossa geração têm mais dificuldade de se expressar, dizer o que sentem. A homofobia com os homens é mais forte. Por exemplo, um menino de regata e saia recebe mais encaradas do que uma menina de calção, camiseta e boné. Os machos são muito mais mal olhados", diz.

"Outro público muito atingido são os não-binários, que muitas vezes as pessoas nem entendem o que é", completa. Pois é, pode-se até nascer menino ou menina, mas em 2022 carregar os órgãos ou genitálias de um dos sexos não é mais determinante para falar sobre gênero e identidade.

Vou explicar. Além de masculino e feminino, existem outras 52 opções de identidade de gênero. Basicamente, as principais são: cisgênero (pessoas que se identificam com o "gênero de nascença"), transgênero (quem se identifica com um gênero diferente do nascimento) e não-binário (pessoas que não se limitam ao masculino e feminino).

E para além da identidade, existe a expressão de gênero que é a escolha de como a pessoa se manifesta em publico. A partir das escolhas, ainda tem a sexualidade (esta sim relacionada a genética de nascença), e a orientação sexual que tem a ver com a prática de se relacionar afetivamente ou sexualmente com o outro. Confuso?

No fundo, o que a Geração Z traz é a liberdade de escolha como princípio básico de qualquer relação, seja consigo mesma, seja com pares. A proposta é realmente quebrar os formatos que são impostos há séculos na humanidade e que nunca ninguém tinha questionado com a força - e persistência - que eles o fazem.

Talvez seja sim um leque de aberturas muito grande, mas adolescentes e jovens entendem que a cada vez que uma pessoa não se identifica com uma destas possibilidades, ela tem o direito de abrir mais uma aba do arco-íris.

Aos pais, resta buscar informação para poderem dialogar e apoiarem os filhos nas escolhas que fizerem. Negar nunca foi uma solução, pelo contrário. Ela costuma trazer sofrimento e, muitas vezes, implica na complicação da saúde mental do adolescente.

Ninguém disse que ia ser fácil. Nunca vai ser. Mas lembra que a gente aprendeu que "só o amor salva"? Pois bem, adolescentes consideram justa toda forma de amor.

Sem barreiras ou preconceitos quando o assunto é sexualidade e gênero, jovens da Geração Z estão dando nó na cabeça dos pais. Entenda o que eles pensam sobre as relações físicas, a descoberta da sexualidade e a identidade de gênero

Talvez muitos dos adolescentes da Geração Z não conheçam a música do Lulu Santos que compõe o título desta matéria, mas certamente compartilham da ideia de amor livre - e identidade livre.

Recentemente, estava na fila do Starbucks com meu filho de 14 anos, quando a garota da nossa frente termina de fazer seu pedido e dá o nome de "Caio" ao caixa. Ela era uma menina, mas deu o nome de um menino.

Eu comento com meu filho que acho interessante como adolescentes da geração dele se permitem ser quem quiserem ser. Que existe uma liberdade bonita de se observar. Ele concorda com o que eu digo e me conta que na sua sala da escola tem um menino trans.

Pergunto a ele "e aí, como é pra vocês?" e ele, com a maior naturalidade do mundo, me diz "normal, ué". "A gente não liga, ele pode ser quem ele quiser. Não faz diferença pra ninguém na escola, lá não tem preconceito".

No mundo da bolha dos adolescentes não tem preconceito. De maneira utópica, realmente não existe, mas ele está aí, basta olhar o entorno. Só que estamos diante de uma geração que lida de maneira muito mais simples e natural com a própria sexualidade e a dos outros, e estão abertos a vivenciar possibilidades irrestritas de gênero.

Tudo em nome da construção da própria identidade. A sexualidade e as experiências sexuais, nesta fase, têm um papel importantíssimo na constituição de quem eles são e como se apresentam ao mundo. Além da própria experimentação, ela contribuiu para formar o sujeito.

 Foto: Estadão

E foi-se o tempo das experiências convencionais. Do beijo e do sexo, único e exclusivamente, entre meninos e meninas. Vale a experimentação do beijo. Vale a experimentação da relação sexual. Não importa se são duas meninas juntas ou dois meninos, ou outras configurações. Importa experimentar.

Sentir o próprio corpo, entender quais são os prazeres, permitir-se viver a sexualidade de maneira mais livre, menos rotulada e menos padronizada. Pré-adolescentes e adolescentes estão rompendo com as expectativas construídas socialmente pelas gerações anteriores, ou seja, a dos seus pais.

E os pais estão perdidos. Muitos acham errado menino beijar menino ou meninas beijarem meninas. Muitos pais não conseguem compreender como um filho que nasceu menino não se vê num corpo masculino. Acham que é uma "pouca vergonha" esse "troca-troca" que eles fazem. Ficam indignados, não sabem lidar, querem proibir os filhos de saírem com fulano ou beltrano.

Tudo isto porque nasceram num tempo em que homem e mulher foram feitos para casar, terem filhos e dar continuidade a humanidade. Muitos, só foram ter a primeira relação sexual já casados e nem sempre existia amor. Mas o conceito "viver feliz para sempre" imperou até aqui. Estamos no começo de uma desconstrução social e cultural.

E é justamente por terem esta percepção que alguns pais buscam compreender os filhos. Buscam dialogar, ler sobre o tema, participar de palestras nas escolas, além de conversar com o hebiatra ou a ginecologista, no caso das meninas, para entender a "cabeça" deles.

"O que tenho visto é que, enquanto os mais novinhos desbravam, derrubam paradigmas, muitas famílias resistem ao novo espírito dos tempos", fala a Dra. Tathiana Parmigiano, ginecologista do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e da Comissão Mulher no Esporte. "Mas há as que buscam compreender e se adaptar".

A especialista conta que muitas mães acompanham suas filhas nas consultas justamente para ficarem mais próximas, por dentro dos "dilemas" geracional e, como ela mesma diz, "não terem que passar pelas mentiras e omissões".

Mas é claro que lidar com a questão está longe de ser fácil para os pais, mesmo para os mais compreensivos. Diante de pais assustados e com receio do que o excesso de opções possa causar - sofrimento, bullying e até depressão - a especialista acredita que os responsáveis que abrem o diálogo e o papo franco com especialistas contribuem para a saúde emocional tanto da família quanto dos adolescentes.

"Nem todos os pais estão negando. Às vezes só estão com medo de que o caminho da aceitação seja duro demais e querem poupar os filhos das dificuldades como qualquer um gostaria", conclui Dra. Tathiana. Para os jovens, que consideram justa toda forma de ser e amar, nada mais válido do que encontrar apoio e abertura para conversar em casa e nos consultórios, seja ginecológico ou psicológico.

"Minha preocupação como médica é a saúde, evitar gestação não planejada, higiene e transmissão de doença. Essa é a minha função e sempre me coloco aberta para que elas realmente falem", conta. "É uma fase de experimentação e não de decisões, principalmente quando se tem por volta de 14 anos de idade".

Fato é que estamos diante de uma geração que, não à toa, nasceu num mundo que lhes foi apresentado como "globalizado". O "mundo sem fronteiras", lembra disso? Lugar onde as propostas econômicas dos países não encontrariam fronteiras e o livre comércio iria acontecer.

Estamos falando de uma geração que percebe as relações entre países acontecendo de maneira mais fluida. Com barreiras mais amigáveis e menos espinhosas. O que leva a compreensão deles, inconscientemente, que as relações humanas também podem ser assim. Mais simples, menos rotuladas, mais acessíveis. E é exatamente este conceito que eles levam para suas relações pessoais.

Ou seja, quando eu derrubo as barreiras das relações mundiais, eu também derrubo as barreiras das relações pessoais e é isto que os jovens têm vivido, se permitido experimentar quando o assunto passa pela descoberta da sexualidade, a identidade de gênero e as experimentações sexuais. São marcas importantes que esta geração traz como contribuição ao pensamento do século 21.

Lulu Santos está certo quando canta [...] Vamos viver tudo que há pra viver Vamos nos permitir, Eu quero crer no amor numa boa, Que isso valha pra qualquer pessoa [...]

Num contraponto ao tal modelo de relacionamento "sólido", tão almejado pelos pais dos jovens da Geração Z, eles estão normalizando o conceito do "amor livre" e abrindo o percurso em águas por onde a geração nascida depois de 2010 - os Alpha - parecem navegar de forma fluida, descomplicada e natural. Sem colocar ninguém em caixinhas.

Manuela, de 17 anos, conta que são poucas as meninas da sua turma que nunca beijaram outra do mesmo sexo e diz que já ouviu muitas vezes dos pais e outros adultos que a sua geração banalizou o beijo. "O bonito do beijo é justamente demonstrar o afeto que se sente pela outro durante o ato em si. E isso pode acontecer com duas ou mais pessoas, essa não deveria ser a questão", explica.

"Minha geração é muito intensa e muito afobada para querer experimentar tudo o tempo inteiro. E isso, por consequência, acaba tornando a gente meio prematuro. Parece que o tédio é a pior coisa que pode acontecer, mas não é um tédio que vem da aula de matemática, é no sentido de viver uma vida monótona. Isso apavora a gente e daí o prazer e a felicidade momentânea que a gente sente nas relações mais superficiais, tipo dar um beijo numa festa, vira um ciclo viciante", explica.

Numa autocrítica e conjecturando que, no fundo deste espírito livre, da ânsia carpe diem, algumas vezes se esconde o medo de se machucar. "A gente acaba se privando, eu acho, da intimidade das relações mais profundas", deduz.

Para o Bruno, 19 anos, o complexo é como outras gerações interpretam a forma deles expressarem a sexualidade e a identidade. "Pode haver vários conflitos familiares e acredito que exista preconceitos".

Na opinião dele, a pressão parental é produto do mundo machista e homofóbico e pode, sim, de certa forma, deixá-los bloqueados, sobretudo os meninos. "Vejo que as meninas de hoje são mais desprendidas", comenta. "Os meninos da nossa geração têm mais dificuldade de se expressar, dizer o que sentem. A homofobia com os homens é mais forte. Por exemplo, um menino de regata e saia recebe mais encaradas do que uma menina de calção, camiseta e boné. Os machos são muito mais mal olhados", diz.

"Outro público muito atingido são os não-binários, que muitas vezes as pessoas nem entendem o que é", completa. Pois é, pode-se até nascer menino ou menina, mas em 2022 carregar os órgãos ou genitálias de um dos sexos não é mais determinante para falar sobre gênero e identidade.

Vou explicar. Além de masculino e feminino, existem outras 52 opções de identidade de gênero. Basicamente, as principais são: cisgênero (pessoas que se identificam com o "gênero de nascença"), transgênero (quem se identifica com um gênero diferente do nascimento) e não-binário (pessoas que não se limitam ao masculino e feminino).

E para além da identidade, existe a expressão de gênero que é a escolha de como a pessoa se manifesta em publico. A partir das escolhas, ainda tem a sexualidade (esta sim relacionada a genética de nascença), e a orientação sexual que tem a ver com a prática de se relacionar afetivamente ou sexualmente com o outro. Confuso?

No fundo, o que a Geração Z traz é a liberdade de escolha como princípio básico de qualquer relação, seja consigo mesma, seja com pares. A proposta é realmente quebrar os formatos que são impostos há séculos na humanidade e que nunca ninguém tinha questionado com a força - e persistência - que eles o fazem.

Talvez seja sim um leque de aberturas muito grande, mas adolescentes e jovens entendem que a cada vez que uma pessoa não se identifica com uma destas possibilidades, ela tem o direito de abrir mais uma aba do arco-íris.

Aos pais, resta buscar informação para poderem dialogar e apoiarem os filhos nas escolhas que fizerem. Negar nunca foi uma solução, pelo contrário. Ela costuma trazer sofrimento e, muitas vezes, implica na complicação da saúde mental do adolescente.

Ninguém disse que ia ser fácil. Nunca vai ser. Mas lembra que a gente aprendeu que "só o amor salva"? Pois bem, adolescentes consideram justa toda forma de amor.

Sem barreiras ou preconceitos quando o assunto é sexualidade e gênero, jovens da Geração Z estão dando nó na cabeça dos pais. Entenda o que eles pensam sobre as relações físicas, a descoberta da sexualidade e a identidade de gênero

Talvez muitos dos adolescentes da Geração Z não conheçam a música do Lulu Santos que compõe o título desta matéria, mas certamente compartilham da ideia de amor livre - e identidade livre.

Recentemente, estava na fila do Starbucks com meu filho de 14 anos, quando a garota da nossa frente termina de fazer seu pedido e dá o nome de "Caio" ao caixa. Ela era uma menina, mas deu o nome de um menino.

Eu comento com meu filho que acho interessante como adolescentes da geração dele se permitem ser quem quiserem ser. Que existe uma liberdade bonita de se observar. Ele concorda com o que eu digo e me conta que na sua sala da escola tem um menino trans.

Pergunto a ele "e aí, como é pra vocês?" e ele, com a maior naturalidade do mundo, me diz "normal, ué". "A gente não liga, ele pode ser quem ele quiser. Não faz diferença pra ninguém na escola, lá não tem preconceito".

No mundo da bolha dos adolescentes não tem preconceito. De maneira utópica, realmente não existe, mas ele está aí, basta olhar o entorno. Só que estamos diante de uma geração que lida de maneira muito mais simples e natural com a própria sexualidade e a dos outros, e estão abertos a vivenciar possibilidades irrestritas de gênero.

Tudo em nome da construção da própria identidade. A sexualidade e as experiências sexuais, nesta fase, têm um papel importantíssimo na constituição de quem eles são e como se apresentam ao mundo. Além da própria experimentação, ela contribuiu para formar o sujeito.

 Foto: Estadão

E foi-se o tempo das experiências convencionais. Do beijo e do sexo, único e exclusivamente, entre meninos e meninas. Vale a experimentação do beijo. Vale a experimentação da relação sexual. Não importa se são duas meninas juntas ou dois meninos, ou outras configurações. Importa experimentar.

Sentir o próprio corpo, entender quais são os prazeres, permitir-se viver a sexualidade de maneira mais livre, menos rotulada e menos padronizada. Pré-adolescentes e adolescentes estão rompendo com as expectativas construídas socialmente pelas gerações anteriores, ou seja, a dos seus pais.

E os pais estão perdidos. Muitos acham errado menino beijar menino ou meninas beijarem meninas. Muitos pais não conseguem compreender como um filho que nasceu menino não se vê num corpo masculino. Acham que é uma "pouca vergonha" esse "troca-troca" que eles fazem. Ficam indignados, não sabem lidar, querem proibir os filhos de saírem com fulano ou beltrano.

Tudo isto porque nasceram num tempo em que homem e mulher foram feitos para casar, terem filhos e dar continuidade a humanidade. Muitos, só foram ter a primeira relação sexual já casados e nem sempre existia amor. Mas o conceito "viver feliz para sempre" imperou até aqui. Estamos no começo de uma desconstrução social e cultural.

E é justamente por terem esta percepção que alguns pais buscam compreender os filhos. Buscam dialogar, ler sobre o tema, participar de palestras nas escolas, além de conversar com o hebiatra ou a ginecologista, no caso das meninas, para entender a "cabeça" deles.

"O que tenho visto é que, enquanto os mais novinhos desbravam, derrubam paradigmas, muitas famílias resistem ao novo espírito dos tempos", fala a Dra. Tathiana Parmigiano, ginecologista do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e da Comissão Mulher no Esporte. "Mas há as que buscam compreender e se adaptar".

A especialista conta que muitas mães acompanham suas filhas nas consultas justamente para ficarem mais próximas, por dentro dos "dilemas" geracional e, como ela mesma diz, "não terem que passar pelas mentiras e omissões".

Mas é claro que lidar com a questão está longe de ser fácil para os pais, mesmo para os mais compreensivos. Diante de pais assustados e com receio do que o excesso de opções possa causar - sofrimento, bullying e até depressão - a especialista acredita que os responsáveis que abrem o diálogo e o papo franco com especialistas contribuem para a saúde emocional tanto da família quanto dos adolescentes.

"Nem todos os pais estão negando. Às vezes só estão com medo de que o caminho da aceitação seja duro demais e querem poupar os filhos das dificuldades como qualquer um gostaria", conclui Dra. Tathiana. Para os jovens, que consideram justa toda forma de ser e amar, nada mais válido do que encontrar apoio e abertura para conversar em casa e nos consultórios, seja ginecológico ou psicológico.

"Minha preocupação como médica é a saúde, evitar gestação não planejada, higiene e transmissão de doença. Essa é a minha função e sempre me coloco aberta para que elas realmente falem", conta. "É uma fase de experimentação e não de decisões, principalmente quando se tem por volta de 14 anos de idade".

Fato é que estamos diante de uma geração que, não à toa, nasceu num mundo que lhes foi apresentado como "globalizado". O "mundo sem fronteiras", lembra disso? Lugar onde as propostas econômicas dos países não encontrariam fronteiras e o livre comércio iria acontecer.

Estamos falando de uma geração que percebe as relações entre países acontecendo de maneira mais fluida. Com barreiras mais amigáveis e menos espinhosas. O que leva a compreensão deles, inconscientemente, que as relações humanas também podem ser assim. Mais simples, menos rotuladas, mais acessíveis. E é exatamente este conceito que eles levam para suas relações pessoais.

Ou seja, quando eu derrubo as barreiras das relações mundiais, eu também derrubo as barreiras das relações pessoais e é isto que os jovens têm vivido, se permitido experimentar quando o assunto passa pela descoberta da sexualidade, a identidade de gênero e as experimentações sexuais. São marcas importantes que esta geração traz como contribuição ao pensamento do século 21.

Lulu Santos está certo quando canta [...] Vamos viver tudo que há pra viver Vamos nos permitir, Eu quero crer no amor numa boa, Que isso valha pra qualquer pessoa [...]

Num contraponto ao tal modelo de relacionamento "sólido", tão almejado pelos pais dos jovens da Geração Z, eles estão normalizando o conceito do "amor livre" e abrindo o percurso em águas por onde a geração nascida depois de 2010 - os Alpha - parecem navegar de forma fluida, descomplicada e natural. Sem colocar ninguém em caixinhas.

Manuela, de 17 anos, conta que são poucas as meninas da sua turma que nunca beijaram outra do mesmo sexo e diz que já ouviu muitas vezes dos pais e outros adultos que a sua geração banalizou o beijo. "O bonito do beijo é justamente demonstrar o afeto que se sente pela outro durante o ato em si. E isso pode acontecer com duas ou mais pessoas, essa não deveria ser a questão", explica.

"Minha geração é muito intensa e muito afobada para querer experimentar tudo o tempo inteiro. E isso, por consequência, acaba tornando a gente meio prematuro. Parece que o tédio é a pior coisa que pode acontecer, mas não é um tédio que vem da aula de matemática, é no sentido de viver uma vida monótona. Isso apavora a gente e daí o prazer e a felicidade momentânea que a gente sente nas relações mais superficiais, tipo dar um beijo numa festa, vira um ciclo viciante", explica.

Numa autocrítica e conjecturando que, no fundo deste espírito livre, da ânsia carpe diem, algumas vezes se esconde o medo de se machucar. "A gente acaba se privando, eu acho, da intimidade das relações mais profundas", deduz.

Para o Bruno, 19 anos, o complexo é como outras gerações interpretam a forma deles expressarem a sexualidade e a identidade. "Pode haver vários conflitos familiares e acredito que exista preconceitos".

Na opinião dele, a pressão parental é produto do mundo machista e homofóbico e pode, sim, de certa forma, deixá-los bloqueados, sobretudo os meninos. "Vejo que as meninas de hoje são mais desprendidas", comenta. "Os meninos da nossa geração têm mais dificuldade de se expressar, dizer o que sentem. A homofobia com os homens é mais forte. Por exemplo, um menino de regata e saia recebe mais encaradas do que uma menina de calção, camiseta e boné. Os machos são muito mais mal olhados", diz.

"Outro público muito atingido são os não-binários, que muitas vezes as pessoas nem entendem o que é", completa. Pois é, pode-se até nascer menino ou menina, mas em 2022 carregar os órgãos ou genitálias de um dos sexos não é mais determinante para falar sobre gênero e identidade.

Vou explicar. Além de masculino e feminino, existem outras 52 opções de identidade de gênero. Basicamente, as principais são: cisgênero (pessoas que se identificam com o "gênero de nascença"), transgênero (quem se identifica com um gênero diferente do nascimento) e não-binário (pessoas que não se limitam ao masculino e feminino).

E para além da identidade, existe a expressão de gênero que é a escolha de como a pessoa se manifesta em publico. A partir das escolhas, ainda tem a sexualidade (esta sim relacionada a genética de nascença), e a orientação sexual que tem a ver com a prática de se relacionar afetivamente ou sexualmente com o outro. Confuso?

No fundo, o que a Geração Z traz é a liberdade de escolha como princípio básico de qualquer relação, seja consigo mesma, seja com pares. A proposta é realmente quebrar os formatos que são impostos há séculos na humanidade e que nunca ninguém tinha questionado com a força - e persistência - que eles o fazem.

Talvez seja sim um leque de aberturas muito grande, mas adolescentes e jovens entendem que a cada vez que uma pessoa não se identifica com uma destas possibilidades, ela tem o direito de abrir mais uma aba do arco-íris.

Aos pais, resta buscar informação para poderem dialogar e apoiarem os filhos nas escolhas que fizerem. Negar nunca foi uma solução, pelo contrário. Ela costuma trazer sofrimento e, muitas vezes, implica na complicação da saúde mental do adolescente.

Ninguém disse que ia ser fácil. Nunca vai ser. Mas lembra que a gente aprendeu que "só o amor salva"? Pois bem, adolescentes consideram justa toda forma de amor.

Sem barreiras ou preconceitos quando o assunto é sexualidade e gênero, jovens da Geração Z estão dando nó na cabeça dos pais. Entenda o que eles pensam sobre as relações físicas, a descoberta da sexualidade e a identidade de gênero

Talvez muitos dos adolescentes da Geração Z não conheçam a música do Lulu Santos que compõe o título desta matéria, mas certamente compartilham da ideia de amor livre - e identidade livre.

Recentemente, estava na fila do Starbucks com meu filho de 14 anos, quando a garota da nossa frente termina de fazer seu pedido e dá o nome de "Caio" ao caixa. Ela era uma menina, mas deu o nome de um menino.

Eu comento com meu filho que acho interessante como adolescentes da geração dele se permitem ser quem quiserem ser. Que existe uma liberdade bonita de se observar. Ele concorda com o que eu digo e me conta que na sua sala da escola tem um menino trans.

Pergunto a ele "e aí, como é pra vocês?" e ele, com a maior naturalidade do mundo, me diz "normal, ué". "A gente não liga, ele pode ser quem ele quiser. Não faz diferença pra ninguém na escola, lá não tem preconceito".

No mundo da bolha dos adolescentes não tem preconceito. De maneira utópica, realmente não existe, mas ele está aí, basta olhar o entorno. Só que estamos diante de uma geração que lida de maneira muito mais simples e natural com a própria sexualidade e a dos outros, e estão abertos a vivenciar possibilidades irrestritas de gênero.

Tudo em nome da construção da própria identidade. A sexualidade e as experiências sexuais, nesta fase, têm um papel importantíssimo na constituição de quem eles são e como se apresentam ao mundo. Além da própria experimentação, ela contribuiu para formar o sujeito.

 Foto: Estadão

E foi-se o tempo das experiências convencionais. Do beijo e do sexo, único e exclusivamente, entre meninos e meninas. Vale a experimentação do beijo. Vale a experimentação da relação sexual. Não importa se são duas meninas juntas ou dois meninos, ou outras configurações. Importa experimentar.

Sentir o próprio corpo, entender quais são os prazeres, permitir-se viver a sexualidade de maneira mais livre, menos rotulada e menos padronizada. Pré-adolescentes e adolescentes estão rompendo com as expectativas construídas socialmente pelas gerações anteriores, ou seja, a dos seus pais.

E os pais estão perdidos. Muitos acham errado menino beijar menino ou meninas beijarem meninas. Muitos pais não conseguem compreender como um filho que nasceu menino não se vê num corpo masculino. Acham que é uma "pouca vergonha" esse "troca-troca" que eles fazem. Ficam indignados, não sabem lidar, querem proibir os filhos de saírem com fulano ou beltrano.

Tudo isto porque nasceram num tempo em que homem e mulher foram feitos para casar, terem filhos e dar continuidade a humanidade. Muitos, só foram ter a primeira relação sexual já casados e nem sempre existia amor. Mas o conceito "viver feliz para sempre" imperou até aqui. Estamos no começo de uma desconstrução social e cultural.

E é justamente por terem esta percepção que alguns pais buscam compreender os filhos. Buscam dialogar, ler sobre o tema, participar de palestras nas escolas, além de conversar com o hebiatra ou a ginecologista, no caso das meninas, para entender a "cabeça" deles.

"O que tenho visto é que, enquanto os mais novinhos desbravam, derrubam paradigmas, muitas famílias resistem ao novo espírito dos tempos", fala a Dra. Tathiana Parmigiano, ginecologista do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e da Comissão Mulher no Esporte. "Mas há as que buscam compreender e se adaptar".

A especialista conta que muitas mães acompanham suas filhas nas consultas justamente para ficarem mais próximas, por dentro dos "dilemas" geracional e, como ela mesma diz, "não terem que passar pelas mentiras e omissões".

Mas é claro que lidar com a questão está longe de ser fácil para os pais, mesmo para os mais compreensivos. Diante de pais assustados e com receio do que o excesso de opções possa causar - sofrimento, bullying e até depressão - a especialista acredita que os responsáveis que abrem o diálogo e o papo franco com especialistas contribuem para a saúde emocional tanto da família quanto dos adolescentes.

"Nem todos os pais estão negando. Às vezes só estão com medo de que o caminho da aceitação seja duro demais e querem poupar os filhos das dificuldades como qualquer um gostaria", conclui Dra. Tathiana. Para os jovens, que consideram justa toda forma de ser e amar, nada mais válido do que encontrar apoio e abertura para conversar em casa e nos consultórios, seja ginecológico ou psicológico.

"Minha preocupação como médica é a saúde, evitar gestação não planejada, higiene e transmissão de doença. Essa é a minha função e sempre me coloco aberta para que elas realmente falem", conta. "É uma fase de experimentação e não de decisões, principalmente quando se tem por volta de 14 anos de idade".

Fato é que estamos diante de uma geração que, não à toa, nasceu num mundo que lhes foi apresentado como "globalizado". O "mundo sem fronteiras", lembra disso? Lugar onde as propostas econômicas dos países não encontrariam fronteiras e o livre comércio iria acontecer.

Estamos falando de uma geração que percebe as relações entre países acontecendo de maneira mais fluida. Com barreiras mais amigáveis e menos espinhosas. O que leva a compreensão deles, inconscientemente, que as relações humanas também podem ser assim. Mais simples, menos rotuladas, mais acessíveis. E é exatamente este conceito que eles levam para suas relações pessoais.

Ou seja, quando eu derrubo as barreiras das relações mundiais, eu também derrubo as barreiras das relações pessoais e é isto que os jovens têm vivido, se permitido experimentar quando o assunto passa pela descoberta da sexualidade, a identidade de gênero e as experimentações sexuais. São marcas importantes que esta geração traz como contribuição ao pensamento do século 21.

Lulu Santos está certo quando canta [...] Vamos viver tudo que há pra viver Vamos nos permitir, Eu quero crer no amor numa boa, Que isso valha pra qualquer pessoa [...]

Num contraponto ao tal modelo de relacionamento "sólido", tão almejado pelos pais dos jovens da Geração Z, eles estão normalizando o conceito do "amor livre" e abrindo o percurso em águas por onde a geração nascida depois de 2010 - os Alpha - parecem navegar de forma fluida, descomplicada e natural. Sem colocar ninguém em caixinhas.

Manuela, de 17 anos, conta que são poucas as meninas da sua turma que nunca beijaram outra do mesmo sexo e diz que já ouviu muitas vezes dos pais e outros adultos que a sua geração banalizou o beijo. "O bonito do beijo é justamente demonstrar o afeto que se sente pela outro durante o ato em si. E isso pode acontecer com duas ou mais pessoas, essa não deveria ser a questão", explica.

"Minha geração é muito intensa e muito afobada para querer experimentar tudo o tempo inteiro. E isso, por consequência, acaba tornando a gente meio prematuro. Parece que o tédio é a pior coisa que pode acontecer, mas não é um tédio que vem da aula de matemática, é no sentido de viver uma vida monótona. Isso apavora a gente e daí o prazer e a felicidade momentânea que a gente sente nas relações mais superficiais, tipo dar um beijo numa festa, vira um ciclo viciante", explica.

Numa autocrítica e conjecturando que, no fundo deste espírito livre, da ânsia carpe diem, algumas vezes se esconde o medo de se machucar. "A gente acaba se privando, eu acho, da intimidade das relações mais profundas", deduz.

Para o Bruno, 19 anos, o complexo é como outras gerações interpretam a forma deles expressarem a sexualidade e a identidade. "Pode haver vários conflitos familiares e acredito que exista preconceitos".

Na opinião dele, a pressão parental é produto do mundo machista e homofóbico e pode, sim, de certa forma, deixá-los bloqueados, sobretudo os meninos. "Vejo que as meninas de hoje são mais desprendidas", comenta. "Os meninos da nossa geração têm mais dificuldade de se expressar, dizer o que sentem. A homofobia com os homens é mais forte. Por exemplo, um menino de regata e saia recebe mais encaradas do que uma menina de calção, camiseta e boné. Os machos são muito mais mal olhados", diz.

"Outro público muito atingido são os não-binários, que muitas vezes as pessoas nem entendem o que é", completa. Pois é, pode-se até nascer menino ou menina, mas em 2022 carregar os órgãos ou genitálias de um dos sexos não é mais determinante para falar sobre gênero e identidade.

Vou explicar. Além de masculino e feminino, existem outras 52 opções de identidade de gênero. Basicamente, as principais são: cisgênero (pessoas que se identificam com o "gênero de nascença"), transgênero (quem se identifica com um gênero diferente do nascimento) e não-binário (pessoas que não se limitam ao masculino e feminino).

E para além da identidade, existe a expressão de gênero que é a escolha de como a pessoa se manifesta em publico. A partir das escolhas, ainda tem a sexualidade (esta sim relacionada a genética de nascença), e a orientação sexual que tem a ver com a prática de se relacionar afetivamente ou sexualmente com o outro. Confuso?

No fundo, o que a Geração Z traz é a liberdade de escolha como princípio básico de qualquer relação, seja consigo mesma, seja com pares. A proposta é realmente quebrar os formatos que são impostos há séculos na humanidade e que nunca ninguém tinha questionado com a força - e persistência - que eles o fazem.

Talvez seja sim um leque de aberturas muito grande, mas adolescentes e jovens entendem que a cada vez que uma pessoa não se identifica com uma destas possibilidades, ela tem o direito de abrir mais uma aba do arco-íris.

Aos pais, resta buscar informação para poderem dialogar e apoiarem os filhos nas escolhas que fizerem. Negar nunca foi uma solução, pelo contrário. Ela costuma trazer sofrimento e, muitas vezes, implica na complicação da saúde mental do adolescente.

Ninguém disse que ia ser fácil. Nunca vai ser. Mas lembra que a gente aprendeu que "só o amor salva"? Pois bem, adolescentes consideram justa toda forma de amor.

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