Comportamento Adolescente e Educação

Adolescentes voltam a frequentar festas e baladas


Por Carolina Delboni

Após um ano e meio de isolamento social e numa tentativa de recuperar a normalidade da vida, adolescentes voltam a frequentar festas e baladas

Com a vacinação avançada e uma certa normalidade da vida recuperada, pais se sentem mais seguros para deixar que filhos adolescentes voltem a fazer festas e frequentar baladas. O cenário ainda não é de relaxamento total, mas como fazer para lidar com as vontades legítimas de quem passou tanto tempo dentro de casa, privado das experimentações próprias da idade? Neste momento da pandemia, até onde é saudável mantê-los isolados das relações sociais?

"Eu não sabia se deixava ela ir ou não, mas era a primeira festa da minha filha desde que começou a pandemia e a primeira desde que entrou na adolescência", conta Martha Nascimento, mãe de duas meninas. "As amigas iam e acabei deixando, mas fiquei intrigada porque você comprava o convite com antecedência e os organizadores só informavam o local no dia".

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A festa que a filha da Martha iria acabou não acontecendo. No dia, na noite, em que adolescentes formavam uma fila em frente à casa onde aconteceria a festa, "algum pai denunciou e a polícia apareceu por lá". Festas como esta ainda não estavam liberadas pela prefeitura de São Paulo. Ela não sabia, assim como os inúmeros adolescentes que pagaram em torno de R$150 pelo convite.

O que se sabe é que existe uma vontade legítima dos adolescentes de retomar a vida que ficou suspensa por tanto tempo e o grande desafio dos pais é lidar com o cenário que se apresenta. As medidas de relaxamento social avançam para todos conforme a vacinação avança, os números de média mortes caem e a pandemia ganha algum controle.

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Foto peça de teatro Fortes Baladas, direção Pedro Granato  Foto: Estadão

Mas existe uma decisão que, para além do coletivo, também implica um acordo entre as partes dentro de casa. E existe uma tentativa de restabelecer a boa e velha normalidade e é aqui que se encontram os adolescentes pulsando por vida fora de casa e da escola.

"Minha filha era uma menina há um ano e meio atrás e se transformou por completo nesse tempo. Sofreu muito, foi duro ficar longe da escola e dos amigos. Teve um período em que chegou a ficar depressiva. Eu não tenho coragem de dizer 'não' sendo que estamos todos vacinados", desabafa Martha.

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Ana Maria Soares relata o mesmo. "Tenho dois meninos e um deles pulou dos 11 aos 13 anos em casa. Agora que voltou à escola e a reencontrar os amigos, despertou totalmente para a adolescência. Chega sexta-feira ele quer sair e eu deixo fazer os programinhas deles. Esses dias veio me pedir pra ir numa balada pela primeira vez".

Não são poucos os que passaram da infância para a pré-adolescência ou para a própria adolescência dentro de casa, na pandemia, e isso deixa uma marca inegável na vida dessas crianças que agora são adolescentes. É claro que eles não são os únicos a carregar sequelas. Cabe a cada faixa etária lidar com o que lhe foi reprimido e é exatamente isto que eles nos dizem quando pedem para ir à uma festa ou uma balada.

Alguns pais deixam, outros não. Alguns dizem abertamente, sem medo de serem julgados, outros não. A pandemia não está totalmente controlada e com medo do veto e da crítica de colegas e amigos, muitos preferem não contar que estão deixando os filhos saírem, "mas estão", conta Elizabeth Passos, mãe de três.

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"Deixo meus filhos irem às festas tipo pequenas, máximo 20 pessoas. Também deixo dormir na casa do amigo e os amigos também dormem aqui vez ou outra. Minha filha mais velha foi num bar na última sexta-feira e no andar de cima tinha uma mega festa. Ela acabou indo e disse que estava lotada. Era a única de máscara. E minha caçula foi num aniversário num lugar de rafting e, por incrível que pareça, a turma dela estava inteira de máscara. Vida que segue, não é?".

Vida que segue tentando achar brechas para oxigenar, para viver o que não foi vivido. Não só adolescentes como os próprios pais estão buscando formas de reencontrar amigos, se distraírem e curtirem momentos livres das demandas burocráticas cotidianas. E uma vez que adultos tiram máscaras em ambientes como restaurantes e bares, adolescentes se sentem autorizados a fazer o mesmo em festas e baladas.

São poucos grupos que as mantêm nesses ambientes. Até porque eles querem ser vistos, querem beijar, querem viver um pouco daquelas emoções típicas da idade e com muitos indo para a segunda dose da vacina, a dose da coragem aumenta ainda mais. Lembrem: adolescentes sempre acham que "não vai acontecer nada".

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Alice Sanches, 14 anos, conta que nunca foi à festa e fala da expectativa da primeira. "Festa assim, tipo balada né. Tenho duas amigas que já foram, mas eu ainda não. Se der certo vou agora neste próximo sábado. Combinamos de encontrar na casa de uma delas pra gente se trocar juntas e um dos pais vai levar a gente".

A euforia é típica de quem vai poder viver algo junto das amigas, e do próprio grupo, pela primeira vez. Alice conversa comigo perto do primo, Bruno de 16 anos. Ele diz saber da festa, mas não irá. A mãe da Alice me diz que já comprou o convite da festa e os dois adolescentes aproveitam para me contar como ficam sabendo dos eventos.

"É tudo por grupos de whatsapp. Tem grupos de festas. Quando você vai numa dessas grandes que tem que comprar convite, eles perguntam se você quer entrar pro mailing e a partir daí a gente fica sabendo das próximas festas", conta Alice.

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Bruno diz que participa de vários grupos e os amigos também fazem parte e por lá surgem links de convites para outros grupos de festas. "São grupos de mais ou menos 200 pessoas que depois das festas se desfazem".

Eu quero saber como eles sabem se a festa é boa ou não e os dois me dizem que "um pouco por quem organiza, pelo Dj que vai tocar e os amigos que vão". Nos grupos menores, eles resolvem se vão mesmo e em qual. Pergunto se eles não têm medo da combinação "lugar fechado + Covid-19" e a resposta é "não", claro.

Compreensível, mas como tornar estes espaços mais seguros para eles próprios e para os que vivem junto? Será que organizadores de festas e baladas para adolescentes não deveriam pedir carteira de vacinação? Será que as festas só deveriam ocorrer em espaços parcialmente abertos e bem ventilados? Vale apresentar teste negativo? Quais regras estabelecer para que seja seguro? Assim como existem para espaços onde adultos voltam a frequentar.

São perguntas que ficam em aberto, mas que precisam ser pensadas uma vez que as festas e baladas voltam a acontecer. Vez ou outra pais conseguirão segurar adolescentes em casa. Mas fato é que eles já começaram a sair e ninguém vai torcer para que voltem para a toca.

Adolescentes precisam das experimentações e vivencias sociais de grupo para que se reconheçam como indivíduos singulares. É saudável e esta socialização é uma boa maneira para que se tornem adultos capazes de se olhar no espelho e se reconhecerem.

Quando eles se descolam da imagem dos pais, são capazes de se reconhecerem no mundo, como parte dele e é isto que a gente quer. É preciso pensar em formas seguras para que adolescentes voltem às festas e baladas. É preciso pensar em como garantir experiências seguras do ponto de vista da saúde coletiva.

Após um ano e meio de isolamento social e numa tentativa de recuperar a normalidade da vida, adolescentes voltam a frequentar festas e baladas

Com a vacinação avançada e uma certa normalidade da vida recuperada, pais se sentem mais seguros para deixar que filhos adolescentes voltem a fazer festas e frequentar baladas. O cenário ainda não é de relaxamento total, mas como fazer para lidar com as vontades legítimas de quem passou tanto tempo dentro de casa, privado das experimentações próprias da idade? Neste momento da pandemia, até onde é saudável mantê-los isolados das relações sociais?

"Eu não sabia se deixava ela ir ou não, mas era a primeira festa da minha filha desde que começou a pandemia e a primeira desde que entrou na adolescência", conta Martha Nascimento, mãe de duas meninas. "As amigas iam e acabei deixando, mas fiquei intrigada porque você comprava o convite com antecedência e os organizadores só informavam o local no dia".

A festa que a filha da Martha iria acabou não acontecendo. No dia, na noite, em que adolescentes formavam uma fila em frente à casa onde aconteceria a festa, "algum pai denunciou e a polícia apareceu por lá". Festas como esta ainda não estavam liberadas pela prefeitura de São Paulo. Ela não sabia, assim como os inúmeros adolescentes que pagaram em torno de R$150 pelo convite.

O que se sabe é que existe uma vontade legítima dos adolescentes de retomar a vida que ficou suspensa por tanto tempo e o grande desafio dos pais é lidar com o cenário que se apresenta. As medidas de relaxamento social avançam para todos conforme a vacinação avança, os números de média mortes caem e a pandemia ganha algum controle.

Foto peça de teatro Fortes Baladas, direção Pedro Granato  Foto: Estadão

Mas existe uma decisão que, para além do coletivo, também implica um acordo entre as partes dentro de casa. E existe uma tentativa de restabelecer a boa e velha normalidade e é aqui que se encontram os adolescentes pulsando por vida fora de casa e da escola.

"Minha filha era uma menina há um ano e meio atrás e se transformou por completo nesse tempo. Sofreu muito, foi duro ficar longe da escola e dos amigos. Teve um período em que chegou a ficar depressiva. Eu não tenho coragem de dizer 'não' sendo que estamos todos vacinados", desabafa Martha.

Ana Maria Soares relata o mesmo. "Tenho dois meninos e um deles pulou dos 11 aos 13 anos em casa. Agora que voltou à escola e a reencontrar os amigos, despertou totalmente para a adolescência. Chega sexta-feira ele quer sair e eu deixo fazer os programinhas deles. Esses dias veio me pedir pra ir numa balada pela primeira vez".

Não são poucos os que passaram da infância para a pré-adolescência ou para a própria adolescência dentro de casa, na pandemia, e isso deixa uma marca inegável na vida dessas crianças que agora são adolescentes. É claro que eles não são os únicos a carregar sequelas. Cabe a cada faixa etária lidar com o que lhe foi reprimido e é exatamente isto que eles nos dizem quando pedem para ir à uma festa ou uma balada.

Alguns pais deixam, outros não. Alguns dizem abertamente, sem medo de serem julgados, outros não. A pandemia não está totalmente controlada e com medo do veto e da crítica de colegas e amigos, muitos preferem não contar que estão deixando os filhos saírem, "mas estão", conta Elizabeth Passos, mãe de três.

"Deixo meus filhos irem às festas tipo pequenas, máximo 20 pessoas. Também deixo dormir na casa do amigo e os amigos também dormem aqui vez ou outra. Minha filha mais velha foi num bar na última sexta-feira e no andar de cima tinha uma mega festa. Ela acabou indo e disse que estava lotada. Era a única de máscara. E minha caçula foi num aniversário num lugar de rafting e, por incrível que pareça, a turma dela estava inteira de máscara. Vida que segue, não é?".

Vida que segue tentando achar brechas para oxigenar, para viver o que não foi vivido. Não só adolescentes como os próprios pais estão buscando formas de reencontrar amigos, se distraírem e curtirem momentos livres das demandas burocráticas cotidianas. E uma vez que adultos tiram máscaras em ambientes como restaurantes e bares, adolescentes se sentem autorizados a fazer o mesmo em festas e baladas.

São poucos grupos que as mantêm nesses ambientes. Até porque eles querem ser vistos, querem beijar, querem viver um pouco daquelas emoções típicas da idade e com muitos indo para a segunda dose da vacina, a dose da coragem aumenta ainda mais. Lembrem: adolescentes sempre acham que "não vai acontecer nada".

Alice Sanches, 14 anos, conta que nunca foi à festa e fala da expectativa da primeira. "Festa assim, tipo balada né. Tenho duas amigas que já foram, mas eu ainda não. Se der certo vou agora neste próximo sábado. Combinamos de encontrar na casa de uma delas pra gente se trocar juntas e um dos pais vai levar a gente".

A euforia é típica de quem vai poder viver algo junto das amigas, e do próprio grupo, pela primeira vez. Alice conversa comigo perto do primo, Bruno de 16 anos. Ele diz saber da festa, mas não irá. A mãe da Alice me diz que já comprou o convite da festa e os dois adolescentes aproveitam para me contar como ficam sabendo dos eventos.

"É tudo por grupos de whatsapp. Tem grupos de festas. Quando você vai numa dessas grandes que tem que comprar convite, eles perguntam se você quer entrar pro mailing e a partir daí a gente fica sabendo das próximas festas", conta Alice.

Bruno diz que participa de vários grupos e os amigos também fazem parte e por lá surgem links de convites para outros grupos de festas. "São grupos de mais ou menos 200 pessoas que depois das festas se desfazem".

Eu quero saber como eles sabem se a festa é boa ou não e os dois me dizem que "um pouco por quem organiza, pelo Dj que vai tocar e os amigos que vão". Nos grupos menores, eles resolvem se vão mesmo e em qual. Pergunto se eles não têm medo da combinação "lugar fechado + Covid-19" e a resposta é "não", claro.

Compreensível, mas como tornar estes espaços mais seguros para eles próprios e para os que vivem junto? Será que organizadores de festas e baladas para adolescentes não deveriam pedir carteira de vacinação? Será que as festas só deveriam ocorrer em espaços parcialmente abertos e bem ventilados? Vale apresentar teste negativo? Quais regras estabelecer para que seja seguro? Assim como existem para espaços onde adultos voltam a frequentar.

São perguntas que ficam em aberto, mas que precisam ser pensadas uma vez que as festas e baladas voltam a acontecer. Vez ou outra pais conseguirão segurar adolescentes em casa. Mas fato é que eles já começaram a sair e ninguém vai torcer para que voltem para a toca.

Adolescentes precisam das experimentações e vivencias sociais de grupo para que se reconheçam como indivíduos singulares. É saudável e esta socialização é uma boa maneira para que se tornem adultos capazes de se olhar no espelho e se reconhecerem.

Quando eles se descolam da imagem dos pais, são capazes de se reconhecerem no mundo, como parte dele e é isto que a gente quer. É preciso pensar em formas seguras para que adolescentes voltem às festas e baladas. É preciso pensar em como garantir experiências seguras do ponto de vista da saúde coletiva.

Após um ano e meio de isolamento social e numa tentativa de recuperar a normalidade da vida, adolescentes voltam a frequentar festas e baladas

Com a vacinação avançada e uma certa normalidade da vida recuperada, pais se sentem mais seguros para deixar que filhos adolescentes voltem a fazer festas e frequentar baladas. O cenário ainda não é de relaxamento total, mas como fazer para lidar com as vontades legítimas de quem passou tanto tempo dentro de casa, privado das experimentações próprias da idade? Neste momento da pandemia, até onde é saudável mantê-los isolados das relações sociais?

"Eu não sabia se deixava ela ir ou não, mas era a primeira festa da minha filha desde que começou a pandemia e a primeira desde que entrou na adolescência", conta Martha Nascimento, mãe de duas meninas. "As amigas iam e acabei deixando, mas fiquei intrigada porque você comprava o convite com antecedência e os organizadores só informavam o local no dia".

A festa que a filha da Martha iria acabou não acontecendo. No dia, na noite, em que adolescentes formavam uma fila em frente à casa onde aconteceria a festa, "algum pai denunciou e a polícia apareceu por lá". Festas como esta ainda não estavam liberadas pela prefeitura de São Paulo. Ela não sabia, assim como os inúmeros adolescentes que pagaram em torno de R$150 pelo convite.

O que se sabe é que existe uma vontade legítima dos adolescentes de retomar a vida que ficou suspensa por tanto tempo e o grande desafio dos pais é lidar com o cenário que se apresenta. As medidas de relaxamento social avançam para todos conforme a vacinação avança, os números de média mortes caem e a pandemia ganha algum controle.

Foto peça de teatro Fortes Baladas, direção Pedro Granato  Foto: Estadão

Mas existe uma decisão que, para além do coletivo, também implica um acordo entre as partes dentro de casa. E existe uma tentativa de restabelecer a boa e velha normalidade e é aqui que se encontram os adolescentes pulsando por vida fora de casa e da escola.

"Minha filha era uma menina há um ano e meio atrás e se transformou por completo nesse tempo. Sofreu muito, foi duro ficar longe da escola e dos amigos. Teve um período em que chegou a ficar depressiva. Eu não tenho coragem de dizer 'não' sendo que estamos todos vacinados", desabafa Martha.

Ana Maria Soares relata o mesmo. "Tenho dois meninos e um deles pulou dos 11 aos 13 anos em casa. Agora que voltou à escola e a reencontrar os amigos, despertou totalmente para a adolescência. Chega sexta-feira ele quer sair e eu deixo fazer os programinhas deles. Esses dias veio me pedir pra ir numa balada pela primeira vez".

Não são poucos os que passaram da infância para a pré-adolescência ou para a própria adolescência dentro de casa, na pandemia, e isso deixa uma marca inegável na vida dessas crianças que agora são adolescentes. É claro que eles não são os únicos a carregar sequelas. Cabe a cada faixa etária lidar com o que lhe foi reprimido e é exatamente isto que eles nos dizem quando pedem para ir à uma festa ou uma balada.

Alguns pais deixam, outros não. Alguns dizem abertamente, sem medo de serem julgados, outros não. A pandemia não está totalmente controlada e com medo do veto e da crítica de colegas e amigos, muitos preferem não contar que estão deixando os filhos saírem, "mas estão", conta Elizabeth Passos, mãe de três.

"Deixo meus filhos irem às festas tipo pequenas, máximo 20 pessoas. Também deixo dormir na casa do amigo e os amigos também dormem aqui vez ou outra. Minha filha mais velha foi num bar na última sexta-feira e no andar de cima tinha uma mega festa. Ela acabou indo e disse que estava lotada. Era a única de máscara. E minha caçula foi num aniversário num lugar de rafting e, por incrível que pareça, a turma dela estava inteira de máscara. Vida que segue, não é?".

Vida que segue tentando achar brechas para oxigenar, para viver o que não foi vivido. Não só adolescentes como os próprios pais estão buscando formas de reencontrar amigos, se distraírem e curtirem momentos livres das demandas burocráticas cotidianas. E uma vez que adultos tiram máscaras em ambientes como restaurantes e bares, adolescentes se sentem autorizados a fazer o mesmo em festas e baladas.

São poucos grupos que as mantêm nesses ambientes. Até porque eles querem ser vistos, querem beijar, querem viver um pouco daquelas emoções típicas da idade e com muitos indo para a segunda dose da vacina, a dose da coragem aumenta ainda mais. Lembrem: adolescentes sempre acham que "não vai acontecer nada".

Alice Sanches, 14 anos, conta que nunca foi à festa e fala da expectativa da primeira. "Festa assim, tipo balada né. Tenho duas amigas que já foram, mas eu ainda não. Se der certo vou agora neste próximo sábado. Combinamos de encontrar na casa de uma delas pra gente se trocar juntas e um dos pais vai levar a gente".

A euforia é típica de quem vai poder viver algo junto das amigas, e do próprio grupo, pela primeira vez. Alice conversa comigo perto do primo, Bruno de 16 anos. Ele diz saber da festa, mas não irá. A mãe da Alice me diz que já comprou o convite da festa e os dois adolescentes aproveitam para me contar como ficam sabendo dos eventos.

"É tudo por grupos de whatsapp. Tem grupos de festas. Quando você vai numa dessas grandes que tem que comprar convite, eles perguntam se você quer entrar pro mailing e a partir daí a gente fica sabendo das próximas festas", conta Alice.

Bruno diz que participa de vários grupos e os amigos também fazem parte e por lá surgem links de convites para outros grupos de festas. "São grupos de mais ou menos 200 pessoas que depois das festas se desfazem".

Eu quero saber como eles sabem se a festa é boa ou não e os dois me dizem que "um pouco por quem organiza, pelo Dj que vai tocar e os amigos que vão". Nos grupos menores, eles resolvem se vão mesmo e em qual. Pergunto se eles não têm medo da combinação "lugar fechado + Covid-19" e a resposta é "não", claro.

Compreensível, mas como tornar estes espaços mais seguros para eles próprios e para os que vivem junto? Será que organizadores de festas e baladas para adolescentes não deveriam pedir carteira de vacinação? Será que as festas só deveriam ocorrer em espaços parcialmente abertos e bem ventilados? Vale apresentar teste negativo? Quais regras estabelecer para que seja seguro? Assim como existem para espaços onde adultos voltam a frequentar.

São perguntas que ficam em aberto, mas que precisam ser pensadas uma vez que as festas e baladas voltam a acontecer. Vez ou outra pais conseguirão segurar adolescentes em casa. Mas fato é que eles já começaram a sair e ninguém vai torcer para que voltem para a toca.

Adolescentes precisam das experimentações e vivencias sociais de grupo para que se reconheçam como indivíduos singulares. É saudável e esta socialização é uma boa maneira para que se tornem adultos capazes de se olhar no espelho e se reconhecerem.

Quando eles se descolam da imagem dos pais, são capazes de se reconhecerem no mundo, como parte dele e é isto que a gente quer. É preciso pensar em formas seguras para que adolescentes voltem às festas e baladas. É preciso pensar em como garantir experiências seguras do ponto de vista da saúde coletiva.

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