Comportamento Adolescente e Educação

Ano escolar se encerra com uma geração de adolescentes formada pela pandemia


Por Carolina Delboni

O título deste texto não está errado: uma geração de adolescentes encerra o ciclo escolar formados, não só pela própria escola, mas por todo contexto pandêmico que os marcaram

Não é um ano usual, onde adolescentes se formam no Ensino Médio rumo a uma outra etapa da vida. Este ano, 2022, temos uma geração inteira de adolescentes que saem da escola formados não só por ela, mas também pela pandemia. Sim, eles não só passaram pela pandemia como foram afetados por ela.

Estamos falando de uma geração que deixa a escola, encerra o ciclo escolar e que leva consigo todas as marcas de um período longo e de muitas feridas. Para além do isolamento social, os adolescentes não puderam vivenciar tudo que é típico da idade.

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Se fecharam dentro de casa quando é justamente nesta fase que precisam explorar e expandir as relações para além da família - porque é assim que exercitam a subjetividade no mundo. Se percebem, se compreendem e se afirmam.

Não vivenciaram as baladas, a tão sonhada época das festas do Ensino Médio. Existe uma expectativa quando se vai do Fundamental ao último ciclo escolar. Os alunos sabem que a fase é marcada por uma série de possibilidades que se aproximam da tão desejada "vida adulta".

Quando se tem 16, 17 anos, tudo que eles mais querem é crescer. É se tornarem jovens adultos para poderem ter acesso aos símbolos desta vida. Sonham com a liberdade e a independência que o existir fora da escola pode proporcionar e o Ensino Médio é uma prévia de tudo isso.

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Adolescentes precisam do grupo para se reconhecer e reconhecer o lugar ao qual pertencem  Foto: Estadão

Mas como disse uma aluna, "o carnaval durou pouco". Um mês e meio foi tempo suficiente para os portões das escolas se fecharem e as expectativas todas se reduzirem ao confinamento dentro de casa.

Não bastasse, eles se confinaram dentro do quarto. O isolamento do isolamento. Restou viver a adolescência dentro da tela e o que começou com imagens dentro de um quadradinho se tornaram bolinhas, com o passar de pouco tempo. Nem mais a câmera eles queriam abrir.

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As vontades foram se esvaziando. Os desejos foram perdendo força e o sonho de viver a liberdade do Ensino Médio começou a dar lugar a tristeza, desilusão, falta de expectativa, depressão, medo, ansiedade e uma descrença no futuro arrebatadora.

Estamos diante de uma geração que se forma na escola, que encerra o ciclo escolar e que, antes de desbravar o mundo precisa recuperar os sonhos. Precisa recuperar a utopia tão típica da idade. Precisa perder o medo da morte.

Estamos diante de uma geração de adolescentes que precisa recuperar o sonho da vida adulta. O sonho da vida na faculdade. Precisam reencontra-se no mundo. Descobrir o que gostam, resgatar os desejos que ficaram perdidos entre tantas marcas, tantas feridas.

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Exagero? Não. Olhem os números das inesgotáveis pesquisas e estudos que foram feitos. Tem dados da UNICEF, do PenSe, do Departamento de Psiquiatria da USP e por aí vai. A internet está cheia deles.

Dos três anos destinados ao Ensino Médio, os adolescentes tiveram apenas um para vivenciar o que era esperado. Talvez nem um, talvez um semestre. Porque quando as aulas começaram em fevereiro eles precisaram, primeiro, reencontrar o espaço escolar e se reencontrar dentro dele.

Precisavam reconstruir e reconstituir o grupo. Adolescentes andam em grupo. Adolescentes se constituem em grupo. O exercício da convivência diária, os inúmeros testes que eles fazem da própria identidade, tudo, absolutamente tudo que envelopa a adolescência estava prestes a começar.

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E como disse uma outra formanda, "é difícil dar tchau pra algo que acabou de começar". Pois é, eles mal começaram a vivenciar a adolescência no Ensino Médio e estava prestes a acabar.

Foram poucas festas, poucos beijos, poucas descobertas do próprio corpo. É preciso mais, muito mais. E com a qualidade de ambientes saudáveis e adolescentes saudáveis. Sim, ainda temos muitos adolescentes tentando recuperar a saúde mental que perderam.

Deixados à berlinda, eles foram negligenciados ao longo dos últimos dois anos. A sociedade, de maneira geral, resolveu olhar para eles há pouco. Quando casos de depressão e ansiedade começaram a pipocar dentro de casa e das escolas.

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Demorou - e muito - para entendermos que não era "drama" da idade, era sério. Adolescentes colapsaram - e continuam a colapsar - mas pouco, pouco se olhou para eles. Pouco foram cuidados.

Chegamos ao final do ano letivo e de um ciclo na vida desses jovens tendo que lidar com as violências que a pandemia provocou. Violências que deixaram marcas no corpo e na alma. Violências que têm ocupado os espaços das escolas e que precisam de muito mais atenção e cuidado.

Professores, educadores, orientadores e coordenadores ainda não têm formação para lidar com as questões que essa geração carrega consigo. É preciso entender que assim como professores de Educação Infantil estudam a Primeira Infância, professores do Médio precisam estudar a adolescência. É vital.

Mais do que exercitar o pensamento crítico desses jovens, é preciso cuidar do espírito desses jovens. É preciso entender que adolescentes tropeçam, caem, se machucam e precisam de cuidados.

Adolescentes estão pedindo cuidados. Carinho. Atenção. Escuta.

Adolescentes estão pedindo que nós, adultos, mostrem a eles que o mundo de "gente grande" é bacana. Que viver a vida fora da escola é maior que a estafa em que nos afundamos. Que as segundas-feiras não são penosas. Que dá para ser feliz trabalhando e pagando contas porque a vida adulta é mais que isso.

Precisamos devolver a esta geração a capacidade de sonhar. De ser utópica. Porque é disso que a adolescência se alimenta. É assim que a adolescência floresce e que dá ao adolescente a possibilidade de ser invencível e imortal. Por que se não for agora vai ser quando?

É aos 18, 19, 20 anos que a gente sente a vida pulsar dentro do corpo de forma avassaladora. Não tem nada capaz de parar a gente. Não tem nada capaz de ser tão mais excitante que o próprio prazer de viver. Adolescentes e jovens precisam da adrenalina no corpo. A adrenalina da vida viva.

O ano escolar se encerra com uma geração de adolescentes formados pela pandemia. Com o desejo agudo de viver a vida que tanto lhes foi prometida. Carregando muita saudade do tempo da escola, mas carregando a expectativa de um futuro prometido.

A poesia de Drummond ensina que "as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão". A gente, pais, escolas e sociedade, cabe ensinar que sonhar é bom. Sonhar é necessário. Sonhar mantém a gente vivo. De pé.

Como faz isso? Recuperando os próprios sonhos também. Recuperando o prazer da segunda-feira. Indo buscar tratamento e ajuda para o burnout, para a estafa, para o estresse.

Sentando ao lado do filho e recuperando a relação. Recuperando o diálogo. A convivência. É fácil? Não, óbvio que não, mas ninguém disse que ia ser. A gente quer que os filhos enfrentem os medos, enfrentes os obstáculos da vida, mas precisamos ser capazes de enfrentar os nossos também.

O mundo é um lugar encantador e aos 18 anos não existe mundo capaz de não fazer os olhos de um adolescente brilhar, mesmo diante de tantas crises. E sabe por quê? Porque eles vão para o mundo comovidos pelos sonhos de futuro.

E eu desejo que esta e as próximas gerações de adolescentes formados e impactados pela pandemia não percam a possibilidade de se emocionarem com o mundo. E que também sejam capazes de emocionar esse mesmo mundo. Porque é assim que funciona quando se tem 17, 18, 19 anos.

O título deste texto não está errado: uma geração de adolescentes encerra o ciclo escolar formados, não só pela própria escola, mas por todo contexto pandêmico que os marcaram

Não é um ano usual, onde adolescentes se formam no Ensino Médio rumo a uma outra etapa da vida. Este ano, 2022, temos uma geração inteira de adolescentes que saem da escola formados não só por ela, mas também pela pandemia. Sim, eles não só passaram pela pandemia como foram afetados por ela.

Estamos falando de uma geração que deixa a escola, encerra o ciclo escolar e que leva consigo todas as marcas de um período longo e de muitas feridas. Para além do isolamento social, os adolescentes não puderam vivenciar tudo que é típico da idade.

Se fecharam dentro de casa quando é justamente nesta fase que precisam explorar e expandir as relações para além da família - porque é assim que exercitam a subjetividade no mundo. Se percebem, se compreendem e se afirmam.

Não vivenciaram as baladas, a tão sonhada época das festas do Ensino Médio. Existe uma expectativa quando se vai do Fundamental ao último ciclo escolar. Os alunos sabem que a fase é marcada por uma série de possibilidades que se aproximam da tão desejada "vida adulta".

Quando se tem 16, 17 anos, tudo que eles mais querem é crescer. É se tornarem jovens adultos para poderem ter acesso aos símbolos desta vida. Sonham com a liberdade e a independência que o existir fora da escola pode proporcionar e o Ensino Médio é uma prévia de tudo isso.

Adolescentes precisam do grupo para se reconhecer e reconhecer o lugar ao qual pertencem  Foto: Estadão

Mas como disse uma aluna, "o carnaval durou pouco". Um mês e meio foi tempo suficiente para os portões das escolas se fecharem e as expectativas todas se reduzirem ao confinamento dentro de casa.

Não bastasse, eles se confinaram dentro do quarto. O isolamento do isolamento. Restou viver a adolescência dentro da tela e o que começou com imagens dentro de um quadradinho se tornaram bolinhas, com o passar de pouco tempo. Nem mais a câmera eles queriam abrir.

As vontades foram se esvaziando. Os desejos foram perdendo força e o sonho de viver a liberdade do Ensino Médio começou a dar lugar a tristeza, desilusão, falta de expectativa, depressão, medo, ansiedade e uma descrença no futuro arrebatadora.

Estamos diante de uma geração que se forma na escola, que encerra o ciclo escolar e que, antes de desbravar o mundo precisa recuperar os sonhos. Precisa recuperar a utopia tão típica da idade. Precisa perder o medo da morte.

Estamos diante de uma geração de adolescentes que precisa recuperar o sonho da vida adulta. O sonho da vida na faculdade. Precisam reencontra-se no mundo. Descobrir o que gostam, resgatar os desejos que ficaram perdidos entre tantas marcas, tantas feridas.

Exagero? Não. Olhem os números das inesgotáveis pesquisas e estudos que foram feitos. Tem dados da UNICEF, do PenSe, do Departamento de Psiquiatria da USP e por aí vai. A internet está cheia deles.

Dos três anos destinados ao Ensino Médio, os adolescentes tiveram apenas um para vivenciar o que era esperado. Talvez nem um, talvez um semestre. Porque quando as aulas começaram em fevereiro eles precisaram, primeiro, reencontrar o espaço escolar e se reencontrar dentro dele.

Precisavam reconstruir e reconstituir o grupo. Adolescentes andam em grupo. Adolescentes se constituem em grupo. O exercício da convivência diária, os inúmeros testes que eles fazem da própria identidade, tudo, absolutamente tudo que envelopa a adolescência estava prestes a começar.

E como disse uma outra formanda, "é difícil dar tchau pra algo que acabou de começar". Pois é, eles mal começaram a vivenciar a adolescência no Ensino Médio e estava prestes a acabar.

Foram poucas festas, poucos beijos, poucas descobertas do próprio corpo. É preciso mais, muito mais. E com a qualidade de ambientes saudáveis e adolescentes saudáveis. Sim, ainda temos muitos adolescentes tentando recuperar a saúde mental que perderam.

Deixados à berlinda, eles foram negligenciados ao longo dos últimos dois anos. A sociedade, de maneira geral, resolveu olhar para eles há pouco. Quando casos de depressão e ansiedade começaram a pipocar dentro de casa e das escolas.

Demorou - e muito - para entendermos que não era "drama" da idade, era sério. Adolescentes colapsaram - e continuam a colapsar - mas pouco, pouco se olhou para eles. Pouco foram cuidados.

Chegamos ao final do ano letivo e de um ciclo na vida desses jovens tendo que lidar com as violências que a pandemia provocou. Violências que deixaram marcas no corpo e na alma. Violências que têm ocupado os espaços das escolas e que precisam de muito mais atenção e cuidado.

Professores, educadores, orientadores e coordenadores ainda não têm formação para lidar com as questões que essa geração carrega consigo. É preciso entender que assim como professores de Educação Infantil estudam a Primeira Infância, professores do Médio precisam estudar a adolescência. É vital.

Mais do que exercitar o pensamento crítico desses jovens, é preciso cuidar do espírito desses jovens. É preciso entender que adolescentes tropeçam, caem, se machucam e precisam de cuidados.

Adolescentes estão pedindo cuidados. Carinho. Atenção. Escuta.

Adolescentes estão pedindo que nós, adultos, mostrem a eles que o mundo de "gente grande" é bacana. Que viver a vida fora da escola é maior que a estafa em que nos afundamos. Que as segundas-feiras não são penosas. Que dá para ser feliz trabalhando e pagando contas porque a vida adulta é mais que isso.

Precisamos devolver a esta geração a capacidade de sonhar. De ser utópica. Porque é disso que a adolescência se alimenta. É assim que a adolescência floresce e que dá ao adolescente a possibilidade de ser invencível e imortal. Por que se não for agora vai ser quando?

É aos 18, 19, 20 anos que a gente sente a vida pulsar dentro do corpo de forma avassaladora. Não tem nada capaz de parar a gente. Não tem nada capaz de ser tão mais excitante que o próprio prazer de viver. Adolescentes e jovens precisam da adrenalina no corpo. A adrenalina da vida viva.

O ano escolar se encerra com uma geração de adolescentes formados pela pandemia. Com o desejo agudo de viver a vida que tanto lhes foi prometida. Carregando muita saudade do tempo da escola, mas carregando a expectativa de um futuro prometido.

A poesia de Drummond ensina que "as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão". A gente, pais, escolas e sociedade, cabe ensinar que sonhar é bom. Sonhar é necessário. Sonhar mantém a gente vivo. De pé.

Como faz isso? Recuperando os próprios sonhos também. Recuperando o prazer da segunda-feira. Indo buscar tratamento e ajuda para o burnout, para a estafa, para o estresse.

Sentando ao lado do filho e recuperando a relação. Recuperando o diálogo. A convivência. É fácil? Não, óbvio que não, mas ninguém disse que ia ser. A gente quer que os filhos enfrentem os medos, enfrentes os obstáculos da vida, mas precisamos ser capazes de enfrentar os nossos também.

O mundo é um lugar encantador e aos 18 anos não existe mundo capaz de não fazer os olhos de um adolescente brilhar, mesmo diante de tantas crises. E sabe por quê? Porque eles vão para o mundo comovidos pelos sonhos de futuro.

E eu desejo que esta e as próximas gerações de adolescentes formados e impactados pela pandemia não percam a possibilidade de se emocionarem com o mundo. E que também sejam capazes de emocionar esse mesmo mundo. Porque é assim que funciona quando se tem 17, 18, 19 anos.

O título deste texto não está errado: uma geração de adolescentes encerra o ciclo escolar formados, não só pela própria escola, mas por todo contexto pandêmico que os marcaram

Não é um ano usual, onde adolescentes se formam no Ensino Médio rumo a uma outra etapa da vida. Este ano, 2022, temos uma geração inteira de adolescentes que saem da escola formados não só por ela, mas também pela pandemia. Sim, eles não só passaram pela pandemia como foram afetados por ela.

Estamos falando de uma geração que deixa a escola, encerra o ciclo escolar e que leva consigo todas as marcas de um período longo e de muitas feridas. Para além do isolamento social, os adolescentes não puderam vivenciar tudo que é típico da idade.

Se fecharam dentro de casa quando é justamente nesta fase que precisam explorar e expandir as relações para além da família - porque é assim que exercitam a subjetividade no mundo. Se percebem, se compreendem e se afirmam.

Não vivenciaram as baladas, a tão sonhada época das festas do Ensino Médio. Existe uma expectativa quando se vai do Fundamental ao último ciclo escolar. Os alunos sabem que a fase é marcada por uma série de possibilidades que se aproximam da tão desejada "vida adulta".

Quando se tem 16, 17 anos, tudo que eles mais querem é crescer. É se tornarem jovens adultos para poderem ter acesso aos símbolos desta vida. Sonham com a liberdade e a independência que o existir fora da escola pode proporcionar e o Ensino Médio é uma prévia de tudo isso.

Adolescentes precisam do grupo para se reconhecer e reconhecer o lugar ao qual pertencem  Foto: Estadão

Mas como disse uma aluna, "o carnaval durou pouco". Um mês e meio foi tempo suficiente para os portões das escolas se fecharem e as expectativas todas se reduzirem ao confinamento dentro de casa.

Não bastasse, eles se confinaram dentro do quarto. O isolamento do isolamento. Restou viver a adolescência dentro da tela e o que começou com imagens dentro de um quadradinho se tornaram bolinhas, com o passar de pouco tempo. Nem mais a câmera eles queriam abrir.

As vontades foram se esvaziando. Os desejos foram perdendo força e o sonho de viver a liberdade do Ensino Médio começou a dar lugar a tristeza, desilusão, falta de expectativa, depressão, medo, ansiedade e uma descrença no futuro arrebatadora.

Estamos diante de uma geração que se forma na escola, que encerra o ciclo escolar e que, antes de desbravar o mundo precisa recuperar os sonhos. Precisa recuperar a utopia tão típica da idade. Precisa perder o medo da morte.

Estamos diante de uma geração de adolescentes que precisa recuperar o sonho da vida adulta. O sonho da vida na faculdade. Precisam reencontra-se no mundo. Descobrir o que gostam, resgatar os desejos que ficaram perdidos entre tantas marcas, tantas feridas.

Exagero? Não. Olhem os números das inesgotáveis pesquisas e estudos que foram feitos. Tem dados da UNICEF, do PenSe, do Departamento de Psiquiatria da USP e por aí vai. A internet está cheia deles.

Dos três anos destinados ao Ensino Médio, os adolescentes tiveram apenas um para vivenciar o que era esperado. Talvez nem um, talvez um semestre. Porque quando as aulas começaram em fevereiro eles precisaram, primeiro, reencontrar o espaço escolar e se reencontrar dentro dele.

Precisavam reconstruir e reconstituir o grupo. Adolescentes andam em grupo. Adolescentes se constituem em grupo. O exercício da convivência diária, os inúmeros testes que eles fazem da própria identidade, tudo, absolutamente tudo que envelopa a adolescência estava prestes a começar.

E como disse uma outra formanda, "é difícil dar tchau pra algo que acabou de começar". Pois é, eles mal começaram a vivenciar a adolescência no Ensino Médio e estava prestes a acabar.

Foram poucas festas, poucos beijos, poucas descobertas do próprio corpo. É preciso mais, muito mais. E com a qualidade de ambientes saudáveis e adolescentes saudáveis. Sim, ainda temos muitos adolescentes tentando recuperar a saúde mental que perderam.

Deixados à berlinda, eles foram negligenciados ao longo dos últimos dois anos. A sociedade, de maneira geral, resolveu olhar para eles há pouco. Quando casos de depressão e ansiedade começaram a pipocar dentro de casa e das escolas.

Demorou - e muito - para entendermos que não era "drama" da idade, era sério. Adolescentes colapsaram - e continuam a colapsar - mas pouco, pouco se olhou para eles. Pouco foram cuidados.

Chegamos ao final do ano letivo e de um ciclo na vida desses jovens tendo que lidar com as violências que a pandemia provocou. Violências que deixaram marcas no corpo e na alma. Violências que têm ocupado os espaços das escolas e que precisam de muito mais atenção e cuidado.

Professores, educadores, orientadores e coordenadores ainda não têm formação para lidar com as questões que essa geração carrega consigo. É preciso entender que assim como professores de Educação Infantil estudam a Primeira Infância, professores do Médio precisam estudar a adolescência. É vital.

Mais do que exercitar o pensamento crítico desses jovens, é preciso cuidar do espírito desses jovens. É preciso entender que adolescentes tropeçam, caem, se machucam e precisam de cuidados.

Adolescentes estão pedindo cuidados. Carinho. Atenção. Escuta.

Adolescentes estão pedindo que nós, adultos, mostrem a eles que o mundo de "gente grande" é bacana. Que viver a vida fora da escola é maior que a estafa em que nos afundamos. Que as segundas-feiras não são penosas. Que dá para ser feliz trabalhando e pagando contas porque a vida adulta é mais que isso.

Precisamos devolver a esta geração a capacidade de sonhar. De ser utópica. Porque é disso que a adolescência se alimenta. É assim que a adolescência floresce e que dá ao adolescente a possibilidade de ser invencível e imortal. Por que se não for agora vai ser quando?

É aos 18, 19, 20 anos que a gente sente a vida pulsar dentro do corpo de forma avassaladora. Não tem nada capaz de parar a gente. Não tem nada capaz de ser tão mais excitante que o próprio prazer de viver. Adolescentes e jovens precisam da adrenalina no corpo. A adrenalina da vida viva.

O ano escolar se encerra com uma geração de adolescentes formados pela pandemia. Com o desejo agudo de viver a vida que tanto lhes foi prometida. Carregando muita saudade do tempo da escola, mas carregando a expectativa de um futuro prometido.

A poesia de Drummond ensina que "as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão". A gente, pais, escolas e sociedade, cabe ensinar que sonhar é bom. Sonhar é necessário. Sonhar mantém a gente vivo. De pé.

Como faz isso? Recuperando os próprios sonhos também. Recuperando o prazer da segunda-feira. Indo buscar tratamento e ajuda para o burnout, para a estafa, para o estresse.

Sentando ao lado do filho e recuperando a relação. Recuperando o diálogo. A convivência. É fácil? Não, óbvio que não, mas ninguém disse que ia ser. A gente quer que os filhos enfrentem os medos, enfrentes os obstáculos da vida, mas precisamos ser capazes de enfrentar os nossos também.

O mundo é um lugar encantador e aos 18 anos não existe mundo capaz de não fazer os olhos de um adolescente brilhar, mesmo diante de tantas crises. E sabe por quê? Porque eles vão para o mundo comovidos pelos sonhos de futuro.

E eu desejo que esta e as próximas gerações de adolescentes formados e impactados pela pandemia não percam a possibilidade de se emocionarem com o mundo. E que também sejam capazes de emocionar esse mesmo mundo. Porque é assim que funciona quando se tem 17, 18, 19 anos.

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