Comportamento Adolescente e Educação

Ano letivo termina com 244 mil estudantes fora das escolas


Por Carolina Delboni

244mil estudantes estão fora da escola, aumentou o déficit educacional e uma a cada quatro crianças sofre de saúde mental, mas o ano letivo terminou

Terminou. Acabou e talvez a gente nem saiba bem como, mas parece que demos conta. Sábado de manhã, na escola estadual Victor Oliva, na zona oeste de São Paulo, alunos e famílias encerram o ano letivo com apresentações, entregas de diplomas e palmas. Teve muitas palmas. Quantas palmas não merecemos todos este ano, não é?

A comemoração finalizou por volta do meio dia, com uma música que ecoou pela escola inteira e por toda vizinhança. Coordenadores, diretora, alunos, famílias cantaram juntos Oração, da A Banda Mais Bonita da Cidade.

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Das músicas mais lindas de se escutar e cantar. Música que meu filho já cantou muitas vezes na escola também e não tem uma única vez que ela não mexe comigo. Que não fico de peito apertado pensando nesse amor que nos é oração. Quantas orações não fizemos ao longo desses 365 dias?

Meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

Terminou. Acabou o ano letivo e a gente deu conta do furacão. Uns com mais recursos, outros com menos e alguns com zero. Quantas palmas não merecemos todos até aqui? O brasileiro que é tão resiliente - e resistente - merece uma salva de palmas.

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Nailva dos Santos, mãe de seis filhos, faxinou casas de segunda a segunda para conseguir por comida no prato. Saiu muitas vezes sem o celular porque precisava deixar com uma das filhas para ter aula. Lívia Almeida chegava do trabalho quase 20h e, além de ter que cozinhar a comida do dia seguinte, se sentava com a filha de 8 anos para ajudar nas tarefas.

Duas mulheres que representam outras 7 milhões que tiveram histórias parecidas para contar com a pandemia. A sorte delas - veja que ironia - é que não precisaram abandonar o emprego para cuidar da casa e dos filhos. Outras milhões precisaram, e outras muitas perderam seus empregos.

 Foto: Estadão
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Segundo dados levantados pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 63% de mulheres que são mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia, 78% delas relataram sentimentos de desconforto com o coronavírus e 34% tiveram sentimentos negativos (medo, angústia, ansiedade e insegurança) durante o período.

Um outro estudo, Vivências Das Mães Com Seus Filhos Pré-Escolares Durante A Pandemia De Covid-19: Contribuições Da Intervenção Precoce Para A Promoção Do Desenvolvimento Infantil, realizado com o apoio da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, aponta que 41% das mães tiveram dificuldade em lidar com os filhos durante a pandemia, sendo que as mães com sintomas depressivos e as que recebiam Bolsa-Família relataram mais dificuldade que as demais. E faz como?

Cabe até o meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

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Maria da Cruz Souza Santos, gestora escolar da EMEB Demétrio Rodrigues Pontes, foi bater na porta da casa dos seus alunos. Ela mesma, em pessoa. "Num primeiro momento fomos entregar as atividades nas residências dos estudantes que não apareciam pra buscar e fazer uma conversa no sentido da importância da tentativa de realizar as mesmas. Ali começou a busca ativa sem que ainda tivéssemos consciência da importância do que estávamos fazendo", conta.

Dados da UNICEF apontam que 35% das famílias não tinham tempo de auxiliar os filhos, os mesmos 35% não tinham acesso a internet e só 31% tinha o equipamento adequado para as aulas. 71% dos alunos realizou as atividades pelo whatsapp e 69% foi até a escola buscar material para conseguir acompanhar.

"A ausência do contato olho a olho entre professores e alunos é um dos limites que mais sentimos com a pandemia", conta Maria da Cruz. "A interferência dessa ausência na aprendizagem é algo que estamos sentindo de forma expressiva. Especialmente no público de alunos que possuem maiores dificuldades de aprendizagem. Podemos perceber que no dia a dia os alunos com muitas dificuldades, especialmente em leitura, escrita e compreensão e em conhecimentos básicos matemáticos, se acentuaram e muito. As dificuldades de aprendizagem durante este período de afastamento da escola são enormes".

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Segundo Governo de São Paulo, o calendário do ano letivo de 2022 será pleno e focado na recuperação de aprendizagem dos alunos. São 5400 escolas que atendem cerca de 3,5 milhões de alunos nos 645 municípios do estado.

 Foto: Estadão

"O foco total será recuperar a aprendizagem perdida pelos nossos estudantes na pandemia. No primeiro dia útil de janeiro de 2022 já teremos aulas de recuperação, como também ocorreu em janeiro deste ano. Não podemos deixar nenhum aluno para trás", ressalta o secretário da Educação de SP, Rossieli Soares.

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Como parte do plano, a proposta é abrir mais de 1 milhão de vagas em tempo integral a partir de 2022. Assim, a rede estadual de SP tem por objetivo antecipar e superar em dois anos a meta 6 do Plano Nacional da Educação de ter 25% dos alunos em tempo integral até 2024.

As Semanas de Estudos Intensivos também continuarão em momentos-chave de cada bimestre. Para a Secretaria Municipal de Educação (SME), "a Pasta não mediu esforços para garantir as aprendizagens dos estudantes durante esta crise mundial", segundo secretário Fernando Padula.

"A retomada presencial das aulas e a vacinação dos profissionais e adolescentes foram marcos importantes e motivos de comemoração, juntamente com as ações para auxílio dos estudantes para que não ficassem fora da escola, como as ações de Busca Ativa da rede, a contratação das Mães Guardiãs, a Lei para fornecimento de absorventes nos espaços escolares e fornecimento de equipamentos tecnológicos aos estudantes e professores", fala.

Planos, planejamentos e metas foram muitas e outras tantas já estão traçadas para 2022. E elas são extremamente necessárias para tentar recuperar parte do que foi perdido e para tentar diminuir as diferenças que já são tão brutais entre escolas públicas e privadas na educação brasileira.

Segundo levantamento complementar aplicado no começo deste ano pelo Censo Escolar 2020, realizado pelo INEP, 99,3% das escolas brasileiras, públicas e privadas, interromperam as aulas presenciais ao longo da pandemia. Tivemos 279 dias de suspensão de olho no olho, de contato físico dentro das escolas.

Em julho foi autorizada a reabertura das escolas, em agosto foi anunciada uma ampliação no limite de atendimento. Dezembro de 2021 e temos ainda 244 mil estudantes de 6 a 14 anos fora das escolas brasileiras, segundo levantamento do Todos Pela Educação.

Um aumento de 171,1% se comparado a 2019. A Unicef, em parceria com o Cenpec Educação, Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, já havia revelado que dos mais de 5 milhões de alunos sem acesso à educação em 2020, 40% tinha entre 6 e 10 anos de idade. E como faz?

Com números menos expressivos - mas não menos importante - aparecem as escolas privadas e seus enfrentamentos. Olhar não apenas para o aprendizado das crianças e dos adolescentes, mas também para as questões emocionais que elas traziam fez com que muitas escolas tivessem que refazer seus planejamentos pedagógicos.

"O foco da Carandá foi seguir com o lema de 'nenhum a menos' com os professores atentos a cada aluno, respeitando sua singularidade", conta a diretora geral Ana Cristina Dunker. "Foi fundamental ouvir nossos alunos e acompanhar suas produções. Os professores foram peças fundamentais para isso, com sua inteireza e desejo de estar junto e de ensinar".

E no retorno ao presencial, "a alegria incontrolável do reencontro foi sendo substituída aos poucos pela constatação das 'delícias e das dores' de reaprendermos a viver no coletivo. Os corpos e as capacidades relacionais estavam enferrujados, a retomada dos rituais e rotinas escolares e a sede por uma vida 'normal' cobraram muitos esforços dos estudantes e da equipe escolar como um todo. E foi através dessa retomada gradativa que fomos nos restabelecendo em nosso espaço comum".

Algo parecido aconteceu na escola Oswald de Andrade. Ieda Abbud, coordenadora da Educação Infantil, fala dos desafios enfrentados tanto por escola quanto alunos. "Algumas crianças mostraram questões no desenvolvimento da fala, uma vez que o período exclusivo de convivência familiar tende a exigir menos clareza na comunicação, já que os pais compreendem a fala e demais recursos de comunicação (gestos, expressões, balbucios) com maior facilidade que alguém de fora do convívio", fala.

Mas apesar dos desafios, escola e famílias sempre estiveram muito juntas para garantir que o retorno presencial fosse uma certeza a partir daquele momento em que protocolos de segurança estavam mais claros e a população mais vacinada.

Camila Carrascoza, mãe de uma menina de 6 anos, fala da alegria da filha com a volta física da escola. "Ela voltou a ser a criança que sempre foi. Em casa era uma criança nitidamente estressada. Tem tanto medo de voltar para o on-line que não quer férias, prefere continuar na escola", conta. E quantos de nós não voltamos a ser quem éramos com a volta do contato?

Ou o quanto mudamos ao longo do isolamento social? "Meu filho estava com 3 anos e meio e não falava", conta Isa Martin, mãe de um menino. "Sou do interior e minha família estava prestes a colocar um pintinho na boca dele. Antigamente faziam isso quando a criança não falava. Quando meu filho retornou à escola em agosto, ele não conseguia participar direito das atividades, principalmente capoeira e educação física. Ele não sabia como abordar uma criança para brincar. Só convivia com adultos. A pandemia restringiu muita coisa na nossa vida, mas a escola está ajudando meu filho a resgatar o tempo 'perdido' em casa, sozinho. Sou fã da escola".

Isa, também somos fãs da escola. Terminamos 2021 com essa certeza: somos fã das escolas e de cada um que compõe o quadro escolar. Cada um.

"Dezembro de 2021 com a sensação e cara de dezembro de 2019, planejando e sonhando com 2022. Torcendo para que esse vírus enfraqueça e de uma vez desapareça". Torcendo junto, Danyelle Marchini, diretora da escola Tarsila do Amaral.

Terminou. E quantas palmas não merecemos todos até aqui? A gente é a banda mais bonita desse país.

Cabe até o meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

244mil estudantes estão fora da escola, aumentou o déficit educacional e uma a cada quatro crianças sofre de saúde mental, mas o ano letivo terminou

Terminou. Acabou e talvez a gente nem saiba bem como, mas parece que demos conta. Sábado de manhã, na escola estadual Victor Oliva, na zona oeste de São Paulo, alunos e famílias encerram o ano letivo com apresentações, entregas de diplomas e palmas. Teve muitas palmas. Quantas palmas não merecemos todos este ano, não é?

A comemoração finalizou por volta do meio dia, com uma música que ecoou pela escola inteira e por toda vizinhança. Coordenadores, diretora, alunos, famílias cantaram juntos Oração, da A Banda Mais Bonita da Cidade.

Das músicas mais lindas de se escutar e cantar. Música que meu filho já cantou muitas vezes na escola também e não tem uma única vez que ela não mexe comigo. Que não fico de peito apertado pensando nesse amor que nos é oração. Quantas orações não fizemos ao longo desses 365 dias?

Meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

Terminou. Acabou o ano letivo e a gente deu conta do furacão. Uns com mais recursos, outros com menos e alguns com zero. Quantas palmas não merecemos todos até aqui? O brasileiro que é tão resiliente - e resistente - merece uma salva de palmas.

Nailva dos Santos, mãe de seis filhos, faxinou casas de segunda a segunda para conseguir por comida no prato. Saiu muitas vezes sem o celular porque precisava deixar com uma das filhas para ter aula. Lívia Almeida chegava do trabalho quase 20h e, além de ter que cozinhar a comida do dia seguinte, se sentava com a filha de 8 anos para ajudar nas tarefas.

Duas mulheres que representam outras 7 milhões que tiveram histórias parecidas para contar com a pandemia. A sorte delas - veja que ironia - é que não precisaram abandonar o emprego para cuidar da casa e dos filhos. Outras milhões precisaram, e outras muitas perderam seus empregos.

 Foto: Estadão

Segundo dados levantados pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 63% de mulheres que são mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia, 78% delas relataram sentimentos de desconforto com o coronavírus e 34% tiveram sentimentos negativos (medo, angústia, ansiedade e insegurança) durante o período.

Um outro estudo, Vivências Das Mães Com Seus Filhos Pré-Escolares Durante A Pandemia De Covid-19: Contribuições Da Intervenção Precoce Para A Promoção Do Desenvolvimento Infantil, realizado com o apoio da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, aponta que 41% das mães tiveram dificuldade em lidar com os filhos durante a pandemia, sendo que as mães com sintomas depressivos e as que recebiam Bolsa-Família relataram mais dificuldade que as demais. E faz como?

Cabe até o meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

Maria da Cruz Souza Santos, gestora escolar da EMEB Demétrio Rodrigues Pontes, foi bater na porta da casa dos seus alunos. Ela mesma, em pessoa. "Num primeiro momento fomos entregar as atividades nas residências dos estudantes que não apareciam pra buscar e fazer uma conversa no sentido da importância da tentativa de realizar as mesmas. Ali começou a busca ativa sem que ainda tivéssemos consciência da importância do que estávamos fazendo", conta.

Dados da UNICEF apontam que 35% das famílias não tinham tempo de auxiliar os filhos, os mesmos 35% não tinham acesso a internet e só 31% tinha o equipamento adequado para as aulas. 71% dos alunos realizou as atividades pelo whatsapp e 69% foi até a escola buscar material para conseguir acompanhar.

"A ausência do contato olho a olho entre professores e alunos é um dos limites que mais sentimos com a pandemia", conta Maria da Cruz. "A interferência dessa ausência na aprendizagem é algo que estamos sentindo de forma expressiva. Especialmente no público de alunos que possuem maiores dificuldades de aprendizagem. Podemos perceber que no dia a dia os alunos com muitas dificuldades, especialmente em leitura, escrita e compreensão e em conhecimentos básicos matemáticos, se acentuaram e muito. As dificuldades de aprendizagem durante este período de afastamento da escola são enormes".

Segundo Governo de São Paulo, o calendário do ano letivo de 2022 será pleno e focado na recuperação de aprendizagem dos alunos. São 5400 escolas que atendem cerca de 3,5 milhões de alunos nos 645 municípios do estado.

 Foto: Estadão

"O foco total será recuperar a aprendizagem perdida pelos nossos estudantes na pandemia. No primeiro dia útil de janeiro de 2022 já teremos aulas de recuperação, como também ocorreu em janeiro deste ano. Não podemos deixar nenhum aluno para trás", ressalta o secretário da Educação de SP, Rossieli Soares.

Como parte do plano, a proposta é abrir mais de 1 milhão de vagas em tempo integral a partir de 2022. Assim, a rede estadual de SP tem por objetivo antecipar e superar em dois anos a meta 6 do Plano Nacional da Educação de ter 25% dos alunos em tempo integral até 2024.

As Semanas de Estudos Intensivos também continuarão em momentos-chave de cada bimestre. Para a Secretaria Municipal de Educação (SME), "a Pasta não mediu esforços para garantir as aprendizagens dos estudantes durante esta crise mundial", segundo secretário Fernando Padula.

"A retomada presencial das aulas e a vacinação dos profissionais e adolescentes foram marcos importantes e motivos de comemoração, juntamente com as ações para auxílio dos estudantes para que não ficassem fora da escola, como as ações de Busca Ativa da rede, a contratação das Mães Guardiãs, a Lei para fornecimento de absorventes nos espaços escolares e fornecimento de equipamentos tecnológicos aos estudantes e professores", fala.

Planos, planejamentos e metas foram muitas e outras tantas já estão traçadas para 2022. E elas são extremamente necessárias para tentar recuperar parte do que foi perdido e para tentar diminuir as diferenças que já são tão brutais entre escolas públicas e privadas na educação brasileira.

Segundo levantamento complementar aplicado no começo deste ano pelo Censo Escolar 2020, realizado pelo INEP, 99,3% das escolas brasileiras, públicas e privadas, interromperam as aulas presenciais ao longo da pandemia. Tivemos 279 dias de suspensão de olho no olho, de contato físico dentro das escolas.

Em julho foi autorizada a reabertura das escolas, em agosto foi anunciada uma ampliação no limite de atendimento. Dezembro de 2021 e temos ainda 244 mil estudantes de 6 a 14 anos fora das escolas brasileiras, segundo levantamento do Todos Pela Educação.

Um aumento de 171,1% se comparado a 2019. A Unicef, em parceria com o Cenpec Educação, Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, já havia revelado que dos mais de 5 milhões de alunos sem acesso à educação em 2020, 40% tinha entre 6 e 10 anos de idade. E como faz?

Com números menos expressivos - mas não menos importante - aparecem as escolas privadas e seus enfrentamentos. Olhar não apenas para o aprendizado das crianças e dos adolescentes, mas também para as questões emocionais que elas traziam fez com que muitas escolas tivessem que refazer seus planejamentos pedagógicos.

"O foco da Carandá foi seguir com o lema de 'nenhum a menos' com os professores atentos a cada aluno, respeitando sua singularidade", conta a diretora geral Ana Cristina Dunker. "Foi fundamental ouvir nossos alunos e acompanhar suas produções. Os professores foram peças fundamentais para isso, com sua inteireza e desejo de estar junto e de ensinar".

E no retorno ao presencial, "a alegria incontrolável do reencontro foi sendo substituída aos poucos pela constatação das 'delícias e das dores' de reaprendermos a viver no coletivo. Os corpos e as capacidades relacionais estavam enferrujados, a retomada dos rituais e rotinas escolares e a sede por uma vida 'normal' cobraram muitos esforços dos estudantes e da equipe escolar como um todo. E foi através dessa retomada gradativa que fomos nos restabelecendo em nosso espaço comum".

Algo parecido aconteceu na escola Oswald de Andrade. Ieda Abbud, coordenadora da Educação Infantil, fala dos desafios enfrentados tanto por escola quanto alunos. "Algumas crianças mostraram questões no desenvolvimento da fala, uma vez que o período exclusivo de convivência familiar tende a exigir menos clareza na comunicação, já que os pais compreendem a fala e demais recursos de comunicação (gestos, expressões, balbucios) com maior facilidade que alguém de fora do convívio", fala.

Mas apesar dos desafios, escola e famílias sempre estiveram muito juntas para garantir que o retorno presencial fosse uma certeza a partir daquele momento em que protocolos de segurança estavam mais claros e a população mais vacinada.

Camila Carrascoza, mãe de uma menina de 6 anos, fala da alegria da filha com a volta física da escola. "Ela voltou a ser a criança que sempre foi. Em casa era uma criança nitidamente estressada. Tem tanto medo de voltar para o on-line que não quer férias, prefere continuar na escola", conta. E quantos de nós não voltamos a ser quem éramos com a volta do contato?

Ou o quanto mudamos ao longo do isolamento social? "Meu filho estava com 3 anos e meio e não falava", conta Isa Martin, mãe de um menino. "Sou do interior e minha família estava prestes a colocar um pintinho na boca dele. Antigamente faziam isso quando a criança não falava. Quando meu filho retornou à escola em agosto, ele não conseguia participar direito das atividades, principalmente capoeira e educação física. Ele não sabia como abordar uma criança para brincar. Só convivia com adultos. A pandemia restringiu muita coisa na nossa vida, mas a escola está ajudando meu filho a resgatar o tempo 'perdido' em casa, sozinho. Sou fã da escola".

Isa, também somos fãs da escola. Terminamos 2021 com essa certeza: somos fã das escolas e de cada um que compõe o quadro escolar. Cada um.

"Dezembro de 2021 com a sensação e cara de dezembro de 2019, planejando e sonhando com 2022. Torcendo para que esse vírus enfraqueça e de uma vez desapareça". Torcendo junto, Danyelle Marchini, diretora da escola Tarsila do Amaral.

Terminou. E quantas palmas não merecemos todos até aqui? A gente é a banda mais bonita desse país.

Cabe até o meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

244mil estudantes estão fora da escola, aumentou o déficit educacional e uma a cada quatro crianças sofre de saúde mental, mas o ano letivo terminou

Terminou. Acabou e talvez a gente nem saiba bem como, mas parece que demos conta. Sábado de manhã, na escola estadual Victor Oliva, na zona oeste de São Paulo, alunos e famílias encerram o ano letivo com apresentações, entregas de diplomas e palmas. Teve muitas palmas. Quantas palmas não merecemos todos este ano, não é?

A comemoração finalizou por volta do meio dia, com uma música que ecoou pela escola inteira e por toda vizinhança. Coordenadores, diretora, alunos, famílias cantaram juntos Oração, da A Banda Mais Bonita da Cidade.

Das músicas mais lindas de se escutar e cantar. Música que meu filho já cantou muitas vezes na escola também e não tem uma única vez que ela não mexe comigo. Que não fico de peito apertado pensando nesse amor que nos é oração. Quantas orações não fizemos ao longo desses 365 dias?

Meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

Terminou. Acabou o ano letivo e a gente deu conta do furacão. Uns com mais recursos, outros com menos e alguns com zero. Quantas palmas não merecemos todos até aqui? O brasileiro que é tão resiliente - e resistente - merece uma salva de palmas.

Nailva dos Santos, mãe de seis filhos, faxinou casas de segunda a segunda para conseguir por comida no prato. Saiu muitas vezes sem o celular porque precisava deixar com uma das filhas para ter aula. Lívia Almeida chegava do trabalho quase 20h e, além de ter que cozinhar a comida do dia seguinte, se sentava com a filha de 8 anos para ajudar nas tarefas.

Duas mulheres que representam outras 7 milhões que tiveram histórias parecidas para contar com a pandemia. A sorte delas - veja que ironia - é que não precisaram abandonar o emprego para cuidar da casa e dos filhos. Outras milhões precisaram, e outras muitas perderam seus empregos.

 Foto: Estadão

Segundo dados levantados pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 63% de mulheres que são mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia, 78% delas relataram sentimentos de desconforto com o coronavírus e 34% tiveram sentimentos negativos (medo, angústia, ansiedade e insegurança) durante o período.

Um outro estudo, Vivências Das Mães Com Seus Filhos Pré-Escolares Durante A Pandemia De Covid-19: Contribuições Da Intervenção Precoce Para A Promoção Do Desenvolvimento Infantil, realizado com o apoio da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, aponta que 41% das mães tiveram dificuldade em lidar com os filhos durante a pandemia, sendo que as mães com sintomas depressivos e as que recebiam Bolsa-Família relataram mais dificuldade que as demais. E faz como?

Cabe até o meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

Maria da Cruz Souza Santos, gestora escolar da EMEB Demétrio Rodrigues Pontes, foi bater na porta da casa dos seus alunos. Ela mesma, em pessoa. "Num primeiro momento fomos entregar as atividades nas residências dos estudantes que não apareciam pra buscar e fazer uma conversa no sentido da importância da tentativa de realizar as mesmas. Ali começou a busca ativa sem que ainda tivéssemos consciência da importância do que estávamos fazendo", conta.

Dados da UNICEF apontam que 35% das famílias não tinham tempo de auxiliar os filhos, os mesmos 35% não tinham acesso a internet e só 31% tinha o equipamento adequado para as aulas. 71% dos alunos realizou as atividades pelo whatsapp e 69% foi até a escola buscar material para conseguir acompanhar.

"A ausência do contato olho a olho entre professores e alunos é um dos limites que mais sentimos com a pandemia", conta Maria da Cruz. "A interferência dessa ausência na aprendizagem é algo que estamos sentindo de forma expressiva. Especialmente no público de alunos que possuem maiores dificuldades de aprendizagem. Podemos perceber que no dia a dia os alunos com muitas dificuldades, especialmente em leitura, escrita e compreensão e em conhecimentos básicos matemáticos, se acentuaram e muito. As dificuldades de aprendizagem durante este período de afastamento da escola são enormes".

Segundo Governo de São Paulo, o calendário do ano letivo de 2022 será pleno e focado na recuperação de aprendizagem dos alunos. São 5400 escolas que atendem cerca de 3,5 milhões de alunos nos 645 municípios do estado.

 Foto: Estadão

"O foco total será recuperar a aprendizagem perdida pelos nossos estudantes na pandemia. No primeiro dia útil de janeiro de 2022 já teremos aulas de recuperação, como também ocorreu em janeiro deste ano. Não podemos deixar nenhum aluno para trás", ressalta o secretário da Educação de SP, Rossieli Soares.

Como parte do plano, a proposta é abrir mais de 1 milhão de vagas em tempo integral a partir de 2022. Assim, a rede estadual de SP tem por objetivo antecipar e superar em dois anos a meta 6 do Plano Nacional da Educação de ter 25% dos alunos em tempo integral até 2024.

As Semanas de Estudos Intensivos também continuarão em momentos-chave de cada bimestre. Para a Secretaria Municipal de Educação (SME), "a Pasta não mediu esforços para garantir as aprendizagens dos estudantes durante esta crise mundial", segundo secretário Fernando Padula.

"A retomada presencial das aulas e a vacinação dos profissionais e adolescentes foram marcos importantes e motivos de comemoração, juntamente com as ações para auxílio dos estudantes para que não ficassem fora da escola, como as ações de Busca Ativa da rede, a contratação das Mães Guardiãs, a Lei para fornecimento de absorventes nos espaços escolares e fornecimento de equipamentos tecnológicos aos estudantes e professores", fala.

Planos, planejamentos e metas foram muitas e outras tantas já estão traçadas para 2022. E elas são extremamente necessárias para tentar recuperar parte do que foi perdido e para tentar diminuir as diferenças que já são tão brutais entre escolas públicas e privadas na educação brasileira.

Segundo levantamento complementar aplicado no começo deste ano pelo Censo Escolar 2020, realizado pelo INEP, 99,3% das escolas brasileiras, públicas e privadas, interromperam as aulas presenciais ao longo da pandemia. Tivemos 279 dias de suspensão de olho no olho, de contato físico dentro das escolas.

Em julho foi autorizada a reabertura das escolas, em agosto foi anunciada uma ampliação no limite de atendimento. Dezembro de 2021 e temos ainda 244 mil estudantes de 6 a 14 anos fora das escolas brasileiras, segundo levantamento do Todos Pela Educação.

Um aumento de 171,1% se comparado a 2019. A Unicef, em parceria com o Cenpec Educação, Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, já havia revelado que dos mais de 5 milhões de alunos sem acesso à educação em 2020, 40% tinha entre 6 e 10 anos de idade. E como faz?

Com números menos expressivos - mas não menos importante - aparecem as escolas privadas e seus enfrentamentos. Olhar não apenas para o aprendizado das crianças e dos adolescentes, mas também para as questões emocionais que elas traziam fez com que muitas escolas tivessem que refazer seus planejamentos pedagógicos.

"O foco da Carandá foi seguir com o lema de 'nenhum a menos' com os professores atentos a cada aluno, respeitando sua singularidade", conta a diretora geral Ana Cristina Dunker. "Foi fundamental ouvir nossos alunos e acompanhar suas produções. Os professores foram peças fundamentais para isso, com sua inteireza e desejo de estar junto e de ensinar".

E no retorno ao presencial, "a alegria incontrolável do reencontro foi sendo substituída aos poucos pela constatação das 'delícias e das dores' de reaprendermos a viver no coletivo. Os corpos e as capacidades relacionais estavam enferrujados, a retomada dos rituais e rotinas escolares e a sede por uma vida 'normal' cobraram muitos esforços dos estudantes e da equipe escolar como um todo. E foi através dessa retomada gradativa que fomos nos restabelecendo em nosso espaço comum".

Algo parecido aconteceu na escola Oswald de Andrade. Ieda Abbud, coordenadora da Educação Infantil, fala dos desafios enfrentados tanto por escola quanto alunos. "Algumas crianças mostraram questões no desenvolvimento da fala, uma vez que o período exclusivo de convivência familiar tende a exigir menos clareza na comunicação, já que os pais compreendem a fala e demais recursos de comunicação (gestos, expressões, balbucios) com maior facilidade que alguém de fora do convívio", fala.

Mas apesar dos desafios, escola e famílias sempre estiveram muito juntas para garantir que o retorno presencial fosse uma certeza a partir daquele momento em que protocolos de segurança estavam mais claros e a população mais vacinada.

Camila Carrascoza, mãe de uma menina de 6 anos, fala da alegria da filha com a volta física da escola. "Ela voltou a ser a criança que sempre foi. Em casa era uma criança nitidamente estressada. Tem tanto medo de voltar para o on-line que não quer férias, prefere continuar na escola", conta. E quantos de nós não voltamos a ser quem éramos com a volta do contato?

Ou o quanto mudamos ao longo do isolamento social? "Meu filho estava com 3 anos e meio e não falava", conta Isa Martin, mãe de um menino. "Sou do interior e minha família estava prestes a colocar um pintinho na boca dele. Antigamente faziam isso quando a criança não falava. Quando meu filho retornou à escola em agosto, ele não conseguia participar direito das atividades, principalmente capoeira e educação física. Ele não sabia como abordar uma criança para brincar. Só convivia com adultos. A pandemia restringiu muita coisa na nossa vida, mas a escola está ajudando meu filho a resgatar o tempo 'perdido' em casa, sozinho. Sou fã da escola".

Isa, também somos fãs da escola. Terminamos 2021 com essa certeza: somos fã das escolas e de cada um que compõe o quadro escolar. Cada um.

"Dezembro de 2021 com a sensação e cara de dezembro de 2019, planejando e sonhando com 2022. Torcendo para que esse vírus enfraqueça e de uma vez desapareça". Torcendo junto, Danyelle Marchini, diretora da escola Tarsila do Amaral.

Terminou. E quantas palmas não merecemos todos até aqui? A gente é a banda mais bonita desse país.

Cabe até o meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa

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