Comportamento Adolescente e Educação

Atrofia social desencadeia sofrimento em adolescentes


Por Carolina Delboni
Atualização:

O excesso de uso das telas, relações virtuais e a perda de contato ao longo da última década levam adolescentes a uma atrofia das relações sociais e, como consequência, viver o sofrimento de ter menos amigos por perto

Já é sabido a importância de ter amigos na vida do adolescente. Mas ao contrário do que muitos adultos pensam, amigos nesta fase não têm apenas a "função" social de entretenimento e lazer. Eles não existem apenas para serem boas companhias em baladas e festa.

Fazer amizades ao longo da puberdade contribui, essencialmente, para a formação humana deles próprios. Em sua grande maioria, são os amigos que dão contorno, impõe limites, ensinam sobre pertencimento social, grupo e têm papel fundamental na construção de identidade uns dos outros.

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Quando um adolescente é privado, por alguma razão, do ciclo de amigos e da ampliação de suas relações, ele sofre. Sofre de solidão, sofre por não se ver como parte de um grupo social que extrapola as paredes de casa. Sofre porque não tem ninguém para dividir suas angústias e o diálogo interminável consigo mesmo começa a corroer. Sofre porque ele passa a se questionar em excesso e não tem quem dê aquele chacoalhão de "ouh, se liga! Não tem nada disso".

Amizades e a ampliação social das relações são fundamentais para que o adolescente enfrente o período de desenvolvimento psico-emocional com boa saúde. Adolescentes precisam de ambientes saudáveis assim como as crianças. Mas, o estudo realizado pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), em parceria com Ministério da Saúde e o apoio do Ministério da Educação e divulgado pelo IBGE, revela números preocupantes.

O estudo é bem amplo e cruza os últimos dez anos de coleta de informações com os quatro em que os resultados foram divulgados (PeNSE 2009, 2012, 2015 e 2019), e é aqui que as atenções se voltam uma vez que os pontos levantados contribuem para que o adolescente se retraia e se afaste das relações sociais. Inúmeros aspectos têm provocado reclusão social nesta faixa etária e muito se deve a uma atrofia das relações sociais de maneira mais ampla. O ser humano está perdendo a capacidade de se relacionar e isso impacta os adolescentes diretamente.

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 Foto: Estadão

A insatisfação com a própria imagem é o primeiro alerta. Em 2009, 17,5% dos estudantes reclamava de ser gordo ou muito gordo, número que saltou para 23,2% em 2019. Já os que se consideravam magros ou muito magros eram 21,9% e passaram a 28,6%.

Entre os estudantes que se avaliaram como gordos e muito gordos, houve aumento disseminado entre escola pública e particulares e meninos e meninas, com mulheres (28,6%) e escola privada (25,5%) mantendo os maiores índices.

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Se achar gordo ou magro demais é algo que atormenta o ser humano independente da idade. Adultos se sentem incomodados e quando o incômodo atinge adolescentes a consequência é uma reclusão social. Eles se escondem já que não se sentem bem e acreditam não serem aceitos no grupo.

Outra consequência é o uso disparado de filtros e aplicativos em imagens postadas nas redes sociais o que provoca a distorção da própria imagem e, ilusoriamente, aumentam as chances de serem aceitas, além de ser uma tentativa de atender aos padrões de beleza.

E, claro, que aqui o problema é muito maior com as meninas porque a pressão social sobre o corpo feminino ainda é muito grande. A pesquisa Dove Pela Autoestima, realizada pela empresa em dezembro de 2020, revelou que 84% das jovens brasileiras com 13 anos já aplicaram filtro ou usaram aplicativo para mudar a imagem em fotos. Além disso, 78% tentam mudar ou ocultar pelo menos uma parte ou característica de seu corpo que não gostam antes de postar uma foto de si nas redes.

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A pesquisa informa que a baixa autoestima corporal é mais propensa em meninas que editam suas fotos (50%) em comparação com aquelas que não o fazem (9%). E 72% das garotas entrevistadas responderam sentir imensa pressão para serem bonitas. Agora eu pergunto, com tanta beleza diversa e com tanta pressão já existente no mundo, será que é preciso potencializá-las?

A análise que a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar faz disto é o aumento do sentimento de solidão entre as meninas. Entre elas, o índice variou de 1,8% para 5%, em 7 anos. Entre os meninos, a tendência é de queda no índice 'número solitário'.

Especialistas apontam que, além de estarmos viciados nas tecnologias e vivermos muitas das relações dentro do ambiente virtual, houve uma redução no número de responsáveis que acompanham as atividades e escutam os filhos, o que também contribui para o sentimento de solidão que adolescentes vêm carregando.

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A analista do IBGE, Michella Reis, chama atenção para a redução da convivência e relações entre filhos e pais. "Esse é um fator que contribui para o aumento de comportamentos de risco, porque a família é base. É a família que orienta esses adolescentes", diz a analista.

Mas veja, o percentual de estudantes que sofreram agressão física por um adulto da família aumentou: de 9,4%, em 2009, para 11,6% em 2012 e 16,0% em 2015, e a saúde mental é a primeira a dar sinal vermelho. Ao sofrer com a falta das relações sociais e a ausência do apoio da família, quatro hormônios importantes entram em queda no corpo: ocitocina, dopamina, endorfina e serotonina, considerados os hormônios da felicidade. Agora, você imagina um adolescente com "baixa felicidade"?

Eles podem ser quietos, reclusos, muitas vezes serem monossilábicos, até mal humorados, mas isso não quer dizer que não sintam felicidade em muitos momentos. Mas quando estudos revelam uma progressão, nos últimos dez anos, de solidão e escassez de relações em plena adolescência, é preciso se perguntar o que anda acontecendo com todos nós.

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Certamente vivemos uma doença social, ou uma epidemia social, chamadas por especialistas de "atrofia social" que, inevitavelmente, esbarra e atinge esta faixa etária. Não é historicamente comum em países tropicais como o Brasil índices de solidão e atrofia social como o que estamos vivendo e presenciando.

Quando um adolescente entre 13 e 15 anos diz não ter amigos é preocupante e exprime a necessidade de cuidados. O que a pesquisa nos traz, de maneira mais ampla, é um reflexo das experiências que esses jovens estão tendo e se não existe um ambiente saudável para que elas possam acontecer, teremos cada vez mais números crescentes de consumo de bebidas alcoólica, uso de drogas, cigarros e por aí em diante.

Precisamos começar a dialogar com os conteúdos que os adolescentes trazem ou os perderemos para as estatísticas. Adolescentes precisam de ambientes saudáveis como uma criança precisa de um espaço aberto para brincar. Adolescentes precisam de diálogos mesmo que não respondam suas perguntas, que não olhem no olho, que fiquem em silêncio. Eles escutam.

Sente ao pé da cama, do sofá, aonde for e fale. Conte uma experiência que você teve, fale sobre um sentimento, explique o que você acha que deve ser explicado. É preciso dialogar com as vivências e os conteúdos que os adolescentes trazem. Eu insisto.

O excesso de uso das telas, relações virtuais e a perda de contato ao longo da última década levam adolescentes a uma atrofia das relações sociais e, como consequência, viver o sofrimento de ter menos amigos por perto

Já é sabido a importância de ter amigos na vida do adolescente. Mas ao contrário do que muitos adultos pensam, amigos nesta fase não têm apenas a "função" social de entretenimento e lazer. Eles não existem apenas para serem boas companhias em baladas e festa.

Fazer amizades ao longo da puberdade contribui, essencialmente, para a formação humana deles próprios. Em sua grande maioria, são os amigos que dão contorno, impõe limites, ensinam sobre pertencimento social, grupo e têm papel fundamental na construção de identidade uns dos outros.

Quando um adolescente é privado, por alguma razão, do ciclo de amigos e da ampliação de suas relações, ele sofre. Sofre de solidão, sofre por não se ver como parte de um grupo social que extrapola as paredes de casa. Sofre porque não tem ninguém para dividir suas angústias e o diálogo interminável consigo mesmo começa a corroer. Sofre porque ele passa a se questionar em excesso e não tem quem dê aquele chacoalhão de "ouh, se liga! Não tem nada disso".

Amizades e a ampliação social das relações são fundamentais para que o adolescente enfrente o período de desenvolvimento psico-emocional com boa saúde. Adolescentes precisam de ambientes saudáveis assim como as crianças. Mas, o estudo realizado pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), em parceria com Ministério da Saúde e o apoio do Ministério da Educação e divulgado pelo IBGE, revela números preocupantes.

O estudo é bem amplo e cruza os últimos dez anos de coleta de informações com os quatro em que os resultados foram divulgados (PeNSE 2009, 2012, 2015 e 2019), e é aqui que as atenções se voltam uma vez que os pontos levantados contribuem para que o adolescente se retraia e se afaste das relações sociais. Inúmeros aspectos têm provocado reclusão social nesta faixa etária e muito se deve a uma atrofia das relações sociais de maneira mais ampla. O ser humano está perdendo a capacidade de se relacionar e isso impacta os adolescentes diretamente.

 Foto: Estadão

A insatisfação com a própria imagem é o primeiro alerta. Em 2009, 17,5% dos estudantes reclamava de ser gordo ou muito gordo, número que saltou para 23,2% em 2019. Já os que se consideravam magros ou muito magros eram 21,9% e passaram a 28,6%.

Entre os estudantes que se avaliaram como gordos e muito gordos, houve aumento disseminado entre escola pública e particulares e meninos e meninas, com mulheres (28,6%) e escola privada (25,5%) mantendo os maiores índices.

Se achar gordo ou magro demais é algo que atormenta o ser humano independente da idade. Adultos se sentem incomodados e quando o incômodo atinge adolescentes a consequência é uma reclusão social. Eles se escondem já que não se sentem bem e acreditam não serem aceitos no grupo.

Outra consequência é o uso disparado de filtros e aplicativos em imagens postadas nas redes sociais o que provoca a distorção da própria imagem e, ilusoriamente, aumentam as chances de serem aceitas, além de ser uma tentativa de atender aos padrões de beleza.

E, claro, que aqui o problema é muito maior com as meninas porque a pressão social sobre o corpo feminino ainda é muito grande. A pesquisa Dove Pela Autoestima, realizada pela empresa em dezembro de 2020, revelou que 84% das jovens brasileiras com 13 anos já aplicaram filtro ou usaram aplicativo para mudar a imagem em fotos. Além disso, 78% tentam mudar ou ocultar pelo menos uma parte ou característica de seu corpo que não gostam antes de postar uma foto de si nas redes.

A pesquisa informa que a baixa autoestima corporal é mais propensa em meninas que editam suas fotos (50%) em comparação com aquelas que não o fazem (9%). E 72% das garotas entrevistadas responderam sentir imensa pressão para serem bonitas. Agora eu pergunto, com tanta beleza diversa e com tanta pressão já existente no mundo, será que é preciso potencializá-las?

A análise que a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar faz disto é o aumento do sentimento de solidão entre as meninas. Entre elas, o índice variou de 1,8% para 5%, em 7 anos. Entre os meninos, a tendência é de queda no índice 'número solitário'.

Especialistas apontam que, além de estarmos viciados nas tecnologias e vivermos muitas das relações dentro do ambiente virtual, houve uma redução no número de responsáveis que acompanham as atividades e escutam os filhos, o que também contribui para o sentimento de solidão que adolescentes vêm carregando.

A analista do IBGE, Michella Reis, chama atenção para a redução da convivência e relações entre filhos e pais. "Esse é um fator que contribui para o aumento de comportamentos de risco, porque a família é base. É a família que orienta esses adolescentes", diz a analista.

Mas veja, o percentual de estudantes que sofreram agressão física por um adulto da família aumentou: de 9,4%, em 2009, para 11,6% em 2012 e 16,0% em 2015, e a saúde mental é a primeira a dar sinal vermelho. Ao sofrer com a falta das relações sociais e a ausência do apoio da família, quatro hormônios importantes entram em queda no corpo: ocitocina, dopamina, endorfina e serotonina, considerados os hormônios da felicidade. Agora, você imagina um adolescente com "baixa felicidade"?

Eles podem ser quietos, reclusos, muitas vezes serem monossilábicos, até mal humorados, mas isso não quer dizer que não sintam felicidade em muitos momentos. Mas quando estudos revelam uma progressão, nos últimos dez anos, de solidão e escassez de relações em plena adolescência, é preciso se perguntar o que anda acontecendo com todos nós.

Certamente vivemos uma doença social, ou uma epidemia social, chamadas por especialistas de "atrofia social" que, inevitavelmente, esbarra e atinge esta faixa etária. Não é historicamente comum em países tropicais como o Brasil índices de solidão e atrofia social como o que estamos vivendo e presenciando.

Quando um adolescente entre 13 e 15 anos diz não ter amigos é preocupante e exprime a necessidade de cuidados. O que a pesquisa nos traz, de maneira mais ampla, é um reflexo das experiências que esses jovens estão tendo e se não existe um ambiente saudável para que elas possam acontecer, teremos cada vez mais números crescentes de consumo de bebidas alcoólica, uso de drogas, cigarros e por aí em diante.

Precisamos começar a dialogar com os conteúdos que os adolescentes trazem ou os perderemos para as estatísticas. Adolescentes precisam de ambientes saudáveis como uma criança precisa de um espaço aberto para brincar. Adolescentes precisam de diálogos mesmo que não respondam suas perguntas, que não olhem no olho, que fiquem em silêncio. Eles escutam.

Sente ao pé da cama, do sofá, aonde for e fale. Conte uma experiência que você teve, fale sobre um sentimento, explique o que você acha que deve ser explicado. É preciso dialogar com as vivências e os conteúdos que os adolescentes trazem. Eu insisto.

O excesso de uso das telas, relações virtuais e a perda de contato ao longo da última década levam adolescentes a uma atrofia das relações sociais e, como consequência, viver o sofrimento de ter menos amigos por perto

Já é sabido a importância de ter amigos na vida do adolescente. Mas ao contrário do que muitos adultos pensam, amigos nesta fase não têm apenas a "função" social de entretenimento e lazer. Eles não existem apenas para serem boas companhias em baladas e festa.

Fazer amizades ao longo da puberdade contribui, essencialmente, para a formação humana deles próprios. Em sua grande maioria, são os amigos que dão contorno, impõe limites, ensinam sobre pertencimento social, grupo e têm papel fundamental na construção de identidade uns dos outros.

Quando um adolescente é privado, por alguma razão, do ciclo de amigos e da ampliação de suas relações, ele sofre. Sofre de solidão, sofre por não se ver como parte de um grupo social que extrapola as paredes de casa. Sofre porque não tem ninguém para dividir suas angústias e o diálogo interminável consigo mesmo começa a corroer. Sofre porque ele passa a se questionar em excesso e não tem quem dê aquele chacoalhão de "ouh, se liga! Não tem nada disso".

Amizades e a ampliação social das relações são fundamentais para que o adolescente enfrente o período de desenvolvimento psico-emocional com boa saúde. Adolescentes precisam de ambientes saudáveis assim como as crianças. Mas, o estudo realizado pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), em parceria com Ministério da Saúde e o apoio do Ministério da Educação e divulgado pelo IBGE, revela números preocupantes.

O estudo é bem amplo e cruza os últimos dez anos de coleta de informações com os quatro em que os resultados foram divulgados (PeNSE 2009, 2012, 2015 e 2019), e é aqui que as atenções se voltam uma vez que os pontos levantados contribuem para que o adolescente se retraia e se afaste das relações sociais. Inúmeros aspectos têm provocado reclusão social nesta faixa etária e muito se deve a uma atrofia das relações sociais de maneira mais ampla. O ser humano está perdendo a capacidade de se relacionar e isso impacta os adolescentes diretamente.

 Foto: Estadão

A insatisfação com a própria imagem é o primeiro alerta. Em 2009, 17,5% dos estudantes reclamava de ser gordo ou muito gordo, número que saltou para 23,2% em 2019. Já os que se consideravam magros ou muito magros eram 21,9% e passaram a 28,6%.

Entre os estudantes que se avaliaram como gordos e muito gordos, houve aumento disseminado entre escola pública e particulares e meninos e meninas, com mulheres (28,6%) e escola privada (25,5%) mantendo os maiores índices.

Se achar gordo ou magro demais é algo que atormenta o ser humano independente da idade. Adultos se sentem incomodados e quando o incômodo atinge adolescentes a consequência é uma reclusão social. Eles se escondem já que não se sentem bem e acreditam não serem aceitos no grupo.

Outra consequência é o uso disparado de filtros e aplicativos em imagens postadas nas redes sociais o que provoca a distorção da própria imagem e, ilusoriamente, aumentam as chances de serem aceitas, além de ser uma tentativa de atender aos padrões de beleza.

E, claro, que aqui o problema é muito maior com as meninas porque a pressão social sobre o corpo feminino ainda é muito grande. A pesquisa Dove Pela Autoestima, realizada pela empresa em dezembro de 2020, revelou que 84% das jovens brasileiras com 13 anos já aplicaram filtro ou usaram aplicativo para mudar a imagem em fotos. Além disso, 78% tentam mudar ou ocultar pelo menos uma parte ou característica de seu corpo que não gostam antes de postar uma foto de si nas redes.

A pesquisa informa que a baixa autoestima corporal é mais propensa em meninas que editam suas fotos (50%) em comparação com aquelas que não o fazem (9%). E 72% das garotas entrevistadas responderam sentir imensa pressão para serem bonitas. Agora eu pergunto, com tanta beleza diversa e com tanta pressão já existente no mundo, será que é preciso potencializá-las?

A análise que a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar faz disto é o aumento do sentimento de solidão entre as meninas. Entre elas, o índice variou de 1,8% para 5%, em 7 anos. Entre os meninos, a tendência é de queda no índice 'número solitário'.

Especialistas apontam que, além de estarmos viciados nas tecnologias e vivermos muitas das relações dentro do ambiente virtual, houve uma redução no número de responsáveis que acompanham as atividades e escutam os filhos, o que também contribui para o sentimento de solidão que adolescentes vêm carregando.

A analista do IBGE, Michella Reis, chama atenção para a redução da convivência e relações entre filhos e pais. "Esse é um fator que contribui para o aumento de comportamentos de risco, porque a família é base. É a família que orienta esses adolescentes", diz a analista.

Mas veja, o percentual de estudantes que sofreram agressão física por um adulto da família aumentou: de 9,4%, em 2009, para 11,6% em 2012 e 16,0% em 2015, e a saúde mental é a primeira a dar sinal vermelho. Ao sofrer com a falta das relações sociais e a ausência do apoio da família, quatro hormônios importantes entram em queda no corpo: ocitocina, dopamina, endorfina e serotonina, considerados os hormônios da felicidade. Agora, você imagina um adolescente com "baixa felicidade"?

Eles podem ser quietos, reclusos, muitas vezes serem monossilábicos, até mal humorados, mas isso não quer dizer que não sintam felicidade em muitos momentos. Mas quando estudos revelam uma progressão, nos últimos dez anos, de solidão e escassez de relações em plena adolescência, é preciso se perguntar o que anda acontecendo com todos nós.

Certamente vivemos uma doença social, ou uma epidemia social, chamadas por especialistas de "atrofia social" que, inevitavelmente, esbarra e atinge esta faixa etária. Não é historicamente comum em países tropicais como o Brasil índices de solidão e atrofia social como o que estamos vivendo e presenciando.

Quando um adolescente entre 13 e 15 anos diz não ter amigos é preocupante e exprime a necessidade de cuidados. O que a pesquisa nos traz, de maneira mais ampla, é um reflexo das experiências que esses jovens estão tendo e se não existe um ambiente saudável para que elas possam acontecer, teremos cada vez mais números crescentes de consumo de bebidas alcoólica, uso de drogas, cigarros e por aí em diante.

Precisamos começar a dialogar com os conteúdos que os adolescentes trazem ou os perderemos para as estatísticas. Adolescentes precisam de ambientes saudáveis como uma criança precisa de um espaço aberto para brincar. Adolescentes precisam de diálogos mesmo que não respondam suas perguntas, que não olhem no olho, que fiquem em silêncio. Eles escutam.

Sente ao pé da cama, do sofá, aonde for e fale. Conte uma experiência que você teve, fale sobre um sentimento, explique o que você acha que deve ser explicado. É preciso dialogar com as vivências e os conteúdos que os adolescentes trazem. Eu insisto.

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