Comportamento Adolescente e Educação

Bullying se torna a principal causa de sofrimento emocional entre adolescentes


Por Carolina Delboni

Alerta: o texto abaixo trata de temas como suicídios e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final dele onde buscar ajuda.

Cada vez mais frequente, as tensões sociais têm adentrado os portões das escolas e uma das violências que mais causa sofrimento emocional entre adolescentes é o bullying. Entenda o fenômeno dentro das instituições e saiba como dar suporte a seu filho.

As escolas sempre foram um ambiente onde tensões entre crianças e adolescentes surgem e as escolas também sempre foram esse mesmo ambiente onde as tensões são trabalhadas.

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Mas em tempos atuais, fatores externos têm adentrado ainda mais os portões das escolas. Os conflitos cresceram e existe uma violência que parece não dar trégua a ninguém: o "famoso" bullying que, inclusive, já foi gatilho para o suicídio de alguns adolescentes. A escola, enquanto espaço de socialização e aprendizagem, tem sido o ambiente onde muitas dessas tragédias surgem. Mas por quê?

Qual a relação entre tensões sociais, bullying e suicídio de jovens em fase escolar? Por que o bullying se tornou a principal causa de sofrimento emocional entre adolescentes? É importante ressaltar que culpar exclusivamente as instituições de ensino pelos casos de suicídio seria uma simplificação do problema. As tensões sociais, a violência escolar e a falta de suporte emocional são elementos intrínsecos que acabam colaborando para criação de um ambiente insustentável para muitos jovens e adolescentes.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2023, apontaram que o número de suicídios no Brasil aumentou 11,8% em 2022 em relação a 2021. No total, foram registrados 16.262 casos, representando uma média de 44 suicídios por dia.

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No entanto, no período de 2010 a 2019 as mortes por suicídio entre adolescentes de 15 a 19 anos passaram de 606 para 1.022 por 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde. Os mais vulneráveis são meninos negros e os números continuam a crescer. Entre 2011 e 2022, as notificações de suicídio cresceram 6%, conforme estudo publicado na The Lancet Regional Health Americas, desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz Bahia, em colaboração com pesquisadores de Harvard.

Embora diversos fatores estejam em jogo, a escola se torna um cenário crítico onde essas tensões encontram eco. Infelizmente, é neste ambiente que o bullying, tanto presencial quanto virtual, pode exercer uma pressão sobre os jovens, por vezes, devastadora. Além disso, o isolamento e a alienação social que muitos adolescentes experimentam nas escolas agravam ainda mais a situação.

Segundo estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, adolescentes e jovens que sofrem bullying têm 3,5 vezes mais chances de desenvolver depressão. Foto Alla/ Adobe Stock  
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A diretora pedagógica, Cláudia Viegas Tricate Malta, do Colégio Magno, descreve a escola como um espaço onde os conflitos precisam ser mediados com cuidado e sensibilidade. "Quando trabalhamos com pessoas, as medidas, estratégias e atitudes não seguem um padrão. As crianças são diferentes, as famílias são diferentes e as situações, da mesma forma. Todo e qualquer conflito deve ser mediado de acordo com o contexto", diz. Isso mostra que as escolas precisam adotar abordagens flexíveis para atender as necessidades individuais dos alunos.

O bullying, em suas diversas formas, é uma das principais causas de sofrimento emocional entre adolescentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, jovens que enfrentam bullying repetido têm quatro vezes mais chance de desenvolver pensamentos suicidas. Com o avanço das redes sociais, o cyberbullying intensifica esse sofrimento, ampliando o alcance das agressões para além dos muros da escola.

Cláudia ressalta que vivemos em um momento de confusão sobre o que caracteriza bullying e cyberbullying. "Nada pode ser banalizado e nem caracterizado de forma irresponsável. Enfrentamos uma crise causada pelo excesso de informação", alerta a diretora. Para ela, essa ambiguidade prejudica a ação eficaz por parte das instituições, muitas vezes dificultando a identificação de situações críticas.

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Medidas preventivas nas escolas

Para enfrentar o bullying e outros tipos de violência, escolas como o Colégio Magno adotam uma combinação de ações individuais e coletivas, focadas na reflexão e no diálogo. Cláudia afirma que medidas agudas devem ser entremeadas por muita reflexão e diálogo, caso contrário os mesmos fatos voltarão a acontecer. "O objetivo é tratar os sintomas, atacando as causas, isto é, criando um ambiente, onde os alunos possam desenvolver empatia e respeito pelos colegas".

Para que essas ações sejam realmente eficazes, é essencial criar espaços de escuta onde os alunos possam expressar seus sentimentos sem temor de represálias. Além disso, é fundamental envolver profissionais de saúde mental, capacitados para identificar e intervir precocemente em situações de risco.

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O efeito de contágio e a importância da posvenção ao suicídio Um dos aspectos mais preocupantes do suicídio em ambientes escolares é o chamado "efeito de contágio". Quando um jovem tira a própria vida, outros adolescentes da mesma comunidade escolar podem ser impactados a ponto de cogitar o mesmo ato. "Para evitar esse ciclo trágico, a importância da posvenção, ou seja, ações de suporte e assistência para os alunos afetados pelo suicídio de um colega. Se a escola falha em lidar adequadamente com esse impacto, novos casos podem ocorrer," destaca a orientadora.

Em síntese, o suicídio de adolescentes não pode ser atribuído exclusivamente ao ambiente escolar. A escola é um reflexo de tensões sociais e familiares mais amplas que, quando não tratadas adequadamente, se manifestam de maneira trágica. No entanto, o papel da instituição é fundamental na prevenção, oferecendo suporte emocional, criando políticas eficazes de combate ao bullying e estabelecendo espaços de diálogo para que os alunos possam se sentir acolhidos e ouvidos.

Cláudia reforça a importância de uma abordagem contextualizada para cada conflito. "Todo e qualquer conflito deve ser mediado de acordo com o contexto. O esforço coletivo, envolvendo a família, a comunidade e a escola, é essencial para transformar o ambiente escolar em um espaço de acolhimento e segurança emocional para todos os alunos," resume.

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o Essa reportagem fez contato com o SEDUC, Secretaria de Educação de São Paulo, para poder escutar gestores de escolas públicas, mas não obteve retorno até o dia do fechamento desta matéria.

Onde buscar ajuda Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

NOTA DA REDAÇÃO: Suicídios são um problema de saúde pública. Antes, o Estadão, assim como boa parte da mídia profissional, evitava publicar reportagens sobre o tema pelo receio de que isso servisse de incentivo. Mas, diante da alta de mortes e tentativas de suicídio nos últimos anos, inclusive de crianças e adolescentes, o Estadão passa a discutir mais o assunto. Segundo especialistas, é preciso colocar a pauta em debate, mas de modo cuidadoso, para auxiliar na prevenção. O trabalho jornalístico sobre suicídios pode oferecer esperança a pessoas em risco, assim como para suas famílias, além de reduzir estigmas e inspirar diálogos abertos e positivos. O Estadão segue as recomendações de manuais e especialistas ao relatar os casos e as explicações para o fenômeno.

Alerta: o texto abaixo trata de temas como suicídios e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final dele onde buscar ajuda.

Cada vez mais frequente, as tensões sociais têm adentrado os portões das escolas e uma das violências que mais causa sofrimento emocional entre adolescentes é o bullying. Entenda o fenômeno dentro das instituições e saiba como dar suporte a seu filho.

As escolas sempre foram um ambiente onde tensões entre crianças e adolescentes surgem e as escolas também sempre foram esse mesmo ambiente onde as tensões são trabalhadas.

Mas em tempos atuais, fatores externos têm adentrado ainda mais os portões das escolas. Os conflitos cresceram e existe uma violência que parece não dar trégua a ninguém: o "famoso" bullying que, inclusive, já foi gatilho para o suicídio de alguns adolescentes. A escola, enquanto espaço de socialização e aprendizagem, tem sido o ambiente onde muitas dessas tragédias surgem. Mas por quê?

Qual a relação entre tensões sociais, bullying e suicídio de jovens em fase escolar? Por que o bullying se tornou a principal causa de sofrimento emocional entre adolescentes? É importante ressaltar que culpar exclusivamente as instituições de ensino pelos casos de suicídio seria uma simplificação do problema. As tensões sociais, a violência escolar e a falta de suporte emocional são elementos intrínsecos que acabam colaborando para criação de um ambiente insustentável para muitos jovens e adolescentes.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2023, apontaram que o número de suicídios no Brasil aumentou 11,8% em 2022 em relação a 2021. No total, foram registrados 16.262 casos, representando uma média de 44 suicídios por dia.

No entanto, no período de 2010 a 2019 as mortes por suicídio entre adolescentes de 15 a 19 anos passaram de 606 para 1.022 por 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde. Os mais vulneráveis são meninos negros e os números continuam a crescer. Entre 2011 e 2022, as notificações de suicídio cresceram 6%, conforme estudo publicado na The Lancet Regional Health Americas, desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz Bahia, em colaboração com pesquisadores de Harvard.

Embora diversos fatores estejam em jogo, a escola se torna um cenário crítico onde essas tensões encontram eco. Infelizmente, é neste ambiente que o bullying, tanto presencial quanto virtual, pode exercer uma pressão sobre os jovens, por vezes, devastadora. Além disso, o isolamento e a alienação social que muitos adolescentes experimentam nas escolas agravam ainda mais a situação.

Segundo estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, adolescentes e jovens que sofrem bullying têm 3,5 vezes mais chances de desenvolver depressão. Foto Alla/ Adobe Stock  

A diretora pedagógica, Cláudia Viegas Tricate Malta, do Colégio Magno, descreve a escola como um espaço onde os conflitos precisam ser mediados com cuidado e sensibilidade. "Quando trabalhamos com pessoas, as medidas, estratégias e atitudes não seguem um padrão. As crianças são diferentes, as famílias são diferentes e as situações, da mesma forma. Todo e qualquer conflito deve ser mediado de acordo com o contexto", diz. Isso mostra que as escolas precisam adotar abordagens flexíveis para atender as necessidades individuais dos alunos.

O bullying, em suas diversas formas, é uma das principais causas de sofrimento emocional entre adolescentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, jovens que enfrentam bullying repetido têm quatro vezes mais chance de desenvolver pensamentos suicidas. Com o avanço das redes sociais, o cyberbullying intensifica esse sofrimento, ampliando o alcance das agressões para além dos muros da escola.

Cláudia ressalta que vivemos em um momento de confusão sobre o que caracteriza bullying e cyberbullying. "Nada pode ser banalizado e nem caracterizado de forma irresponsável. Enfrentamos uma crise causada pelo excesso de informação", alerta a diretora. Para ela, essa ambiguidade prejudica a ação eficaz por parte das instituições, muitas vezes dificultando a identificação de situações críticas.

Medidas preventivas nas escolas

Para enfrentar o bullying e outros tipos de violência, escolas como o Colégio Magno adotam uma combinação de ações individuais e coletivas, focadas na reflexão e no diálogo. Cláudia afirma que medidas agudas devem ser entremeadas por muita reflexão e diálogo, caso contrário os mesmos fatos voltarão a acontecer. "O objetivo é tratar os sintomas, atacando as causas, isto é, criando um ambiente, onde os alunos possam desenvolver empatia e respeito pelos colegas".

Para que essas ações sejam realmente eficazes, é essencial criar espaços de escuta onde os alunos possam expressar seus sentimentos sem temor de represálias. Além disso, é fundamental envolver profissionais de saúde mental, capacitados para identificar e intervir precocemente em situações de risco.

O efeito de contágio e a importância da posvenção ao suicídio Um dos aspectos mais preocupantes do suicídio em ambientes escolares é o chamado "efeito de contágio". Quando um jovem tira a própria vida, outros adolescentes da mesma comunidade escolar podem ser impactados a ponto de cogitar o mesmo ato. "Para evitar esse ciclo trágico, a importância da posvenção, ou seja, ações de suporte e assistência para os alunos afetados pelo suicídio de um colega. Se a escola falha em lidar adequadamente com esse impacto, novos casos podem ocorrer," destaca a orientadora.

Em síntese, o suicídio de adolescentes não pode ser atribuído exclusivamente ao ambiente escolar. A escola é um reflexo de tensões sociais e familiares mais amplas que, quando não tratadas adequadamente, se manifestam de maneira trágica. No entanto, o papel da instituição é fundamental na prevenção, oferecendo suporte emocional, criando políticas eficazes de combate ao bullying e estabelecendo espaços de diálogo para que os alunos possam se sentir acolhidos e ouvidos.

Cláudia reforça a importância de uma abordagem contextualizada para cada conflito. "Todo e qualquer conflito deve ser mediado de acordo com o contexto. O esforço coletivo, envolvendo a família, a comunidade e a escola, é essencial para transformar o ambiente escolar em um espaço de acolhimento e segurança emocional para todos os alunos," resume.

o Essa reportagem fez contato com o SEDUC, Secretaria de Educação de São Paulo, para poder escutar gestores de escolas públicas, mas não obteve retorno até o dia do fechamento desta matéria.

Onde buscar ajuda Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

NOTA DA REDAÇÃO: Suicídios são um problema de saúde pública. Antes, o Estadão, assim como boa parte da mídia profissional, evitava publicar reportagens sobre o tema pelo receio de que isso servisse de incentivo. Mas, diante da alta de mortes e tentativas de suicídio nos últimos anos, inclusive de crianças e adolescentes, o Estadão passa a discutir mais o assunto. Segundo especialistas, é preciso colocar a pauta em debate, mas de modo cuidadoso, para auxiliar na prevenção. O trabalho jornalístico sobre suicídios pode oferecer esperança a pessoas em risco, assim como para suas famílias, além de reduzir estigmas e inspirar diálogos abertos e positivos. O Estadão segue as recomendações de manuais e especialistas ao relatar os casos e as explicações para o fenômeno.

Alerta: o texto abaixo trata de temas como suicídios e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final dele onde buscar ajuda.

Cada vez mais frequente, as tensões sociais têm adentrado os portões das escolas e uma das violências que mais causa sofrimento emocional entre adolescentes é o bullying. Entenda o fenômeno dentro das instituições e saiba como dar suporte a seu filho.

As escolas sempre foram um ambiente onde tensões entre crianças e adolescentes surgem e as escolas também sempre foram esse mesmo ambiente onde as tensões são trabalhadas.

Mas em tempos atuais, fatores externos têm adentrado ainda mais os portões das escolas. Os conflitos cresceram e existe uma violência que parece não dar trégua a ninguém: o "famoso" bullying que, inclusive, já foi gatilho para o suicídio de alguns adolescentes. A escola, enquanto espaço de socialização e aprendizagem, tem sido o ambiente onde muitas dessas tragédias surgem. Mas por quê?

Qual a relação entre tensões sociais, bullying e suicídio de jovens em fase escolar? Por que o bullying se tornou a principal causa de sofrimento emocional entre adolescentes? É importante ressaltar que culpar exclusivamente as instituições de ensino pelos casos de suicídio seria uma simplificação do problema. As tensões sociais, a violência escolar e a falta de suporte emocional são elementos intrínsecos que acabam colaborando para criação de um ambiente insustentável para muitos jovens e adolescentes.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2023, apontaram que o número de suicídios no Brasil aumentou 11,8% em 2022 em relação a 2021. No total, foram registrados 16.262 casos, representando uma média de 44 suicídios por dia.

No entanto, no período de 2010 a 2019 as mortes por suicídio entre adolescentes de 15 a 19 anos passaram de 606 para 1.022 por 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde. Os mais vulneráveis são meninos negros e os números continuam a crescer. Entre 2011 e 2022, as notificações de suicídio cresceram 6%, conforme estudo publicado na The Lancet Regional Health Americas, desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz Bahia, em colaboração com pesquisadores de Harvard.

Embora diversos fatores estejam em jogo, a escola se torna um cenário crítico onde essas tensões encontram eco. Infelizmente, é neste ambiente que o bullying, tanto presencial quanto virtual, pode exercer uma pressão sobre os jovens, por vezes, devastadora. Além disso, o isolamento e a alienação social que muitos adolescentes experimentam nas escolas agravam ainda mais a situação.

Segundo estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, adolescentes e jovens que sofrem bullying têm 3,5 vezes mais chances de desenvolver depressão. Foto Alla/ Adobe Stock  

A diretora pedagógica, Cláudia Viegas Tricate Malta, do Colégio Magno, descreve a escola como um espaço onde os conflitos precisam ser mediados com cuidado e sensibilidade. "Quando trabalhamos com pessoas, as medidas, estratégias e atitudes não seguem um padrão. As crianças são diferentes, as famílias são diferentes e as situações, da mesma forma. Todo e qualquer conflito deve ser mediado de acordo com o contexto", diz. Isso mostra que as escolas precisam adotar abordagens flexíveis para atender as necessidades individuais dos alunos.

O bullying, em suas diversas formas, é uma das principais causas de sofrimento emocional entre adolescentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, jovens que enfrentam bullying repetido têm quatro vezes mais chance de desenvolver pensamentos suicidas. Com o avanço das redes sociais, o cyberbullying intensifica esse sofrimento, ampliando o alcance das agressões para além dos muros da escola.

Cláudia ressalta que vivemos em um momento de confusão sobre o que caracteriza bullying e cyberbullying. "Nada pode ser banalizado e nem caracterizado de forma irresponsável. Enfrentamos uma crise causada pelo excesso de informação", alerta a diretora. Para ela, essa ambiguidade prejudica a ação eficaz por parte das instituições, muitas vezes dificultando a identificação de situações críticas.

Medidas preventivas nas escolas

Para enfrentar o bullying e outros tipos de violência, escolas como o Colégio Magno adotam uma combinação de ações individuais e coletivas, focadas na reflexão e no diálogo. Cláudia afirma que medidas agudas devem ser entremeadas por muita reflexão e diálogo, caso contrário os mesmos fatos voltarão a acontecer. "O objetivo é tratar os sintomas, atacando as causas, isto é, criando um ambiente, onde os alunos possam desenvolver empatia e respeito pelos colegas".

Para que essas ações sejam realmente eficazes, é essencial criar espaços de escuta onde os alunos possam expressar seus sentimentos sem temor de represálias. Além disso, é fundamental envolver profissionais de saúde mental, capacitados para identificar e intervir precocemente em situações de risco.

O efeito de contágio e a importância da posvenção ao suicídio Um dos aspectos mais preocupantes do suicídio em ambientes escolares é o chamado "efeito de contágio". Quando um jovem tira a própria vida, outros adolescentes da mesma comunidade escolar podem ser impactados a ponto de cogitar o mesmo ato. "Para evitar esse ciclo trágico, a importância da posvenção, ou seja, ações de suporte e assistência para os alunos afetados pelo suicídio de um colega. Se a escola falha em lidar adequadamente com esse impacto, novos casos podem ocorrer," destaca a orientadora.

Em síntese, o suicídio de adolescentes não pode ser atribuído exclusivamente ao ambiente escolar. A escola é um reflexo de tensões sociais e familiares mais amplas que, quando não tratadas adequadamente, se manifestam de maneira trágica. No entanto, o papel da instituição é fundamental na prevenção, oferecendo suporte emocional, criando políticas eficazes de combate ao bullying e estabelecendo espaços de diálogo para que os alunos possam se sentir acolhidos e ouvidos.

Cláudia reforça a importância de uma abordagem contextualizada para cada conflito. "Todo e qualquer conflito deve ser mediado de acordo com o contexto. O esforço coletivo, envolvendo a família, a comunidade e a escola, é essencial para transformar o ambiente escolar em um espaço de acolhimento e segurança emocional para todos os alunos," resume.

o Essa reportagem fez contato com o SEDUC, Secretaria de Educação de São Paulo, para poder escutar gestores de escolas públicas, mas não obteve retorno até o dia do fechamento desta matéria.

Onde buscar ajuda Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

NOTA DA REDAÇÃO: Suicídios são um problema de saúde pública. Antes, o Estadão, assim como boa parte da mídia profissional, evitava publicar reportagens sobre o tema pelo receio de que isso servisse de incentivo. Mas, diante da alta de mortes e tentativas de suicídio nos últimos anos, inclusive de crianças e adolescentes, o Estadão passa a discutir mais o assunto. Segundo especialistas, é preciso colocar a pauta em debate, mas de modo cuidadoso, para auxiliar na prevenção. O trabalho jornalístico sobre suicídios pode oferecer esperança a pessoas em risco, assim como para suas famílias, além de reduzir estigmas e inspirar diálogos abertos e positivos. O Estadão segue as recomendações de manuais e especialistas ao relatar os casos e as explicações para o fenômeno.

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