Comportamento Adolescente e Educação

É preciso exercitar as emoções assim como se exercita o corpo físico


Por Carolina Delboni

Somos ensinados a cuidar do corpo, da saúde de cada órgão, cada membro. Mas por que será que ninguém nos ensina a cuidar das emoções? A exercitar cada músculo de cada dor e cada alegria?

A gente precisa começar a exercitar a musculatura das emoções, assim como a gente exercita o corpo físico. E a gente precisa deixar que nossas crianças e adolescentes façam o mesmo. Eles estão crescendo sem a possibilidade de se relacionar com a angústia, o medo, a dor, a saudade, a tristeza. E não saber lidar com as emoções gerar muita - mas muita - ansiedade, às vezes dá até depressão. Deu para entender o que estou querendo dizer?

Recentemente, o Estadão publicou uma matéria com dados divulgados pelo Ministério da Saúde com o seguinte título: Internação de jovens e adolescentes em caso de ansiedade e estresse crescem 136% em dez anos. Dez anos, estamos falando de mudanças que começaram há uma década. Ou seja, não é tudo fruto da pandemia. Ainda que ela tenha agravado e acelerado índices que já estavam crescendo. Basta ver o complicado do IBGE de 2020, analisando os últimos 10 anos do PenSe, Pesquisa Nacional de Saúde Escolar. Ali, já tínhamos pistas do que estava por vir.

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E a relação com as telas, as redes sociais? Também se intensificou na pandemia onde a única opção de relacionamento e socialização era através dos quadradinhos. Só que a gente não conseguiu - e não soube - sair desse buraco quando a vida voltou a acontecer fora de casa.

Adolescentes e jovens precisam exercitar as emoções, assim como se exercita o corpo físico. Foto: Prostock-studio/ Adobe Stock

Estava cheio de adolescentes e jovens com fobia social. Outros, voltaram às escolas agressivos. Perderam - ou não tiverem oportunidade de exercitar - a sociabilidade. Perderam também as inúmeras possibilidade de sentir as emoções fortes que só a adolescência é capaz de proporcionar. Os pais, as famílias também ficaram mais conservadoras para tudo. Parece que o medo tomou conta da vida e os pais resolveram poupar os filhos ainda mais. E deixar com que a vida continuasse a acontecer atrás das telas pareceu a solução mais segura.

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Deixa que eu faço por você, deixa que a mamãe vai na escola resolver por você. Deixa que eu vou na tua faculdade saber o que tá acontecendo. Deixa que eu sinto por você. Eu até desejo por você. Filho, eu resolvo.

Estamos diante de uma geração de pais superprotetores que beiram a neurose. Estamos diante de uma geração de crianças e adolescentes que pouco tem a possibilidade de desejar. Pouco exercita os desejos da vida. Porque quando eles esboçam um "querer", rapidamente a vontade é atendida.

A médica americana Tracy Dennis-Tiwary declarou, numa entrevista ao podcast Raising Good Human, que "quando a gente super interpreta um sentimento ou emoção natural da criança ou do adolescente como se ali houve um problema, começamos a agir de maneira inadequada frente aos eventos da vida. E a mensagem que isso passa aos filhos é extremamente perigosa".

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Bom, soma-se a este cenário nossa obsessão pelo sucesso, pelo melhor. Tem sempre que ser melhor, senão você não terá chances. Melhor no trabalho, melhor na saúde (física e emocional), na aparência, no status. Só que essa nossa mania de ser melhor está nos deixando doente. E está levando uma geração todinha de crianças e adolescentes junto. Ou não deu pra perceber ainda?

Crescer sem poder experimentar as emoções, sem poder lidar sozinho com as pedras no caminho (no melhor dos clichês), gera uma ansiedade danada. Às vezes, dá até tristeza. Alguns deprimem quando se deparam com a incapacidade de lidar com as próprias emoções, com a própria vida. E isso coloca crianças e adolescentes no que a gente chama de vulnerabilidade emocional.

Isso, eles estão todos vulneráveis emocionalmente. E a culpa, ou responsabilidade, não é só das telas. É nossa também. Que temos privado crianças e adolescentes da vida saudável, da vida de altos e baixos, da vida das emoções. E quando eles se deparam com ela, se angustiam. Sentem-se ansiosas, outros depressivos.

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Deu pra entender? Enquanto não entendermos que somos parte do problema, não vamos buscar soluções para ele. Vamos ficar entupindo as redes e as mídias de dedos apontados ao uso excessivo de telas. O que nos cabe? Como é que estamos educando nossas crianças e adolescentes? Por que tanto medo de deixar com que eles se frustrem, chorem, não tenham o que querem, não ganhem sempre?

A vida não é feita de medalha de participação a todo pequeno feito. A vida aperta e afrouxa e se não tirarmos essas crianças e adolescentes da bolha em que colocamos, as manchetes das mídias vão piorar. Os dados e os números serão cada vez mais drásticos e a gente vai colapsar com uma geração inteirinha. Inteirinha.

É urgente nos olharmos no espelho com mais cuidado e autocrítica. Não dá para ficar lendo matérias de adolescente e jovens adoecendo, muitos tirando a própria vida, e continuar só compartilhando em grupos de whatsapp. Vivemos a era das epidemias e ainda não nos demos conta que o melhor remédio é a gente mesmo quem produz.

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Eu lembrei aqui da frase do escritor Guimarães Rosa que ele diz: "todo abismo é navegável com barquinho de papel". O abismo a gente já encontrou. Precisamos agora fazer os barquinhos de papel. Simplificar o que complicamos. A gente tá precisando de mais gentileza e afeto.

Somos ensinados a cuidar do corpo, da saúde de cada órgão, cada membro. Mas por que será que ninguém nos ensina a cuidar das emoções? A exercitar cada músculo de cada dor e cada alegria?

A gente precisa começar a exercitar a musculatura das emoções, assim como a gente exercita o corpo físico. E a gente precisa deixar que nossas crianças e adolescentes façam o mesmo. Eles estão crescendo sem a possibilidade de se relacionar com a angústia, o medo, a dor, a saudade, a tristeza. E não saber lidar com as emoções gerar muita - mas muita - ansiedade, às vezes dá até depressão. Deu para entender o que estou querendo dizer?

Recentemente, o Estadão publicou uma matéria com dados divulgados pelo Ministério da Saúde com o seguinte título: Internação de jovens e adolescentes em caso de ansiedade e estresse crescem 136% em dez anos. Dez anos, estamos falando de mudanças que começaram há uma década. Ou seja, não é tudo fruto da pandemia. Ainda que ela tenha agravado e acelerado índices que já estavam crescendo. Basta ver o complicado do IBGE de 2020, analisando os últimos 10 anos do PenSe, Pesquisa Nacional de Saúde Escolar. Ali, já tínhamos pistas do que estava por vir.

E a relação com as telas, as redes sociais? Também se intensificou na pandemia onde a única opção de relacionamento e socialização era através dos quadradinhos. Só que a gente não conseguiu - e não soube - sair desse buraco quando a vida voltou a acontecer fora de casa.

Adolescentes e jovens precisam exercitar as emoções, assim como se exercita o corpo físico. Foto: Prostock-studio/ Adobe Stock

Estava cheio de adolescentes e jovens com fobia social. Outros, voltaram às escolas agressivos. Perderam - ou não tiverem oportunidade de exercitar - a sociabilidade. Perderam também as inúmeras possibilidade de sentir as emoções fortes que só a adolescência é capaz de proporcionar. Os pais, as famílias também ficaram mais conservadoras para tudo. Parece que o medo tomou conta da vida e os pais resolveram poupar os filhos ainda mais. E deixar com que a vida continuasse a acontecer atrás das telas pareceu a solução mais segura.

Deixa que eu faço por você, deixa que a mamãe vai na escola resolver por você. Deixa que eu vou na tua faculdade saber o que tá acontecendo. Deixa que eu sinto por você. Eu até desejo por você. Filho, eu resolvo.

Estamos diante de uma geração de pais superprotetores que beiram a neurose. Estamos diante de uma geração de crianças e adolescentes que pouco tem a possibilidade de desejar. Pouco exercita os desejos da vida. Porque quando eles esboçam um "querer", rapidamente a vontade é atendida.

A médica americana Tracy Dennis-Tiwary declarou, numa entrevista ao podcast Raising Good Human, que "quando a gente super interpreta um sentimento ou emoção natural da criança ou do adolescente como se ali houve um problema, começamos a agir de maneira inadequada frente aos eventos da vida. E a mensagem que isso passa aos filhos é extremamente perigosa".

Bom, soma-se a este cenário nossa obsessão pelo sucesso, pelo melhor. Tem sempre que ser melhor, senão você não terá chances. Melhor no trabalho, melhor na saúde (física e emocional), na aparência, no status. Só que essa nossa mania de ser melhor está nos deixando doente. E está levando uma geração todinha de crianças e adolescentes junto. Ou não deu pra perceber ainda?

Crescer sem poder experimentar as emoções, sem poder lidar sozinho com as pedras no caminho (no melhor dos clichês), gera uma ansiedade danada. Às vezes, dá até tristeza. Alguns deprimem quando se deparam com a incapacidade de lidar com as próprias emoções, com a própria vida. E isso coloca crianças e adolescentes no que a gente chama de vulnerabilidade emocional.

Isso, eles estão todos vulneráveis emocionalmente. E a culpa, ou responsabilidade, não é só das telas. É nossa também. Que temos privado crianças e adolescentes da vida saudável, da vida de altos e baixos, da vida das emoções. E quando eles se deparam com ela, se angustiam. Sentem-se ansiosas, outros depressivos.

Deu pra entender? Enquanto não entendermos que somos parte do problema, não vamos buscar soluções para ele. Vamos ficar entupindo as redes e as mídias de dedos apontados ao uso excessivo de telas. O que nos cabe? Como é que estamos educando nossas crianças e adolescentes? Por que tanto medo de deixar com que eles se frustrem, chorem, não tenham o que querem, não ganhem sempre?

A vida não é feita de medalha de participação a todo pequeno feito. A vida aperta e afrouxa e se não tirarmos essas crianças e adolescentes da bolha em que colocamos, as manchetes das mídias vão piorar. Os dados e os números serão cada vez mais drásticos e a gente vai colapsar com uma geração inteirinha. Inteirinha.

É urgente nos olharmos no espelho com mais cuidado e autocrítica. Não dá para ficar lendo matérias de adolescente e jovens adoecendo, muitos tirando a própria vida, e continuar só compartilhando em grupos de whatsapp. Vivemos a era das epidemias e ainda não nos demos conta que o melhor remédio é a gente mesmo quem produz.

Eu lembrei aqui da frase do escritor Guimarães Rosa que ele diz: "todo abismo é navegável com barquinho de papel". O abismo a gente já encontrou. Precisamos agora fazer os barquinhos de papel. Simplificar o que complicamos. A gente tá precisando de mais gentileza e afeto.

Somos ensinados a cuidar do corpo, da saúde de cada órgão, cada membro. Mas por que será que ninguém nos ensina a cuidar das emoções? A exercitar cada músculo de cada dor e cada alegria?

A gente precisa começar a exercitar a musculatura das emoções, assim como a gente exercita o corpo físico. E a gente precisa deixar que nossas crianças e adolescentes façam o mesmo. Eles estão crescendo sem a possibilidade de se relacionar com a angústia, o medo, a dor, a saudade, a tristeza. E não saber lidar com as emoções gerar muita - mas muita - ansiedade, às vezes dá até depressão. Deu para entender o que estou querendo dizer?

Recentemente, o Estadão publicou uma matéria com dados divulgados pelo Ministério da Saúde com o seguinte título: Internação de jovens e adolescentes em caso de ansiedade e estresse crescem 136% em dez anos. Dez anos, estamos falando de mudanças que começaram há uma década. Ou seja, não é tudo fruto da pandemia. Ainda que ela tenha agravado e acelerado índices que já estavam crescendo. Basta ver o complicado do IBGE de 2020, analisando os últimos 10 anos do PenSe, Pesquisa Nacional de Saúde Escolar. Ali, já tínhamos pistas do que estava por vir.

E a relação com as telas, as redes sociais? Também se intensificou na pandemia onde a única opção de relacionamento e socialização era através dos quadradinhos. Só que a gente não conseguiu - e não soube - sair desse buraco quando a vida voltou a acontecer fora de casa.

Adolescentes e jovens precisam exercitar as emoções, assim como se exercita o corpo físico. Foto: Prostock-studio/ Adobe Stock

Estava cheio de adolescentes e jovens com fobia social. Outros, voltaram às escolas agressivos. Perderam - ou não tiverem oportunidade de exercitar - a sociabilidade. Perderam também as inúmeras possibilidade de sentir as emoções fortes que só a adolescência é capaz de proporcionar. Os pais, as famílias também ficaram mais conservadoras para tudo. Parece que o medo tomou conta da vida e os pais resolveram poupar os filhos ainda mais. E deixar com que a vida continuasse a acontecer atrás das telas pareceu a solução mais segura.

Deixa que eu faço por você, deixa que a mamãe vai na escola resolver por você. Deixa que eu vou na tua faculdade saber o que tá acontecendo. Deixa que eu sinto por você. Eu até desejo por você. Filho, eu resolvo.

Estamos diante de uma geração de pais superprotetores que beiram a neurose. Estamos diante de uma geração de crianças e adolescentes que pouco tem a possibilidade de desejar. Pouco exercita os desejos da vida. Porque quando eles esboçam um "querer", rapidamente a vontade é atendida.

A médica americana Tracy Dennis-Tiwary declarou, numa entrevista ao podcast Raising Good Human, que "quando a gente super interpreta um sentimento ou emoção natural da criança ou do adolescente como se ali houve um problema, começamos a agir de maneira inadequada frente aos eventos da vida. E a mensagem que isso passa aos filhos é extremamente perigosa".

Bom, soma-se a este cenário nossa obsessão pelo sucesso, pelo melhor. Tem sempre que ser melhor, senão você não terá chances. Melhor no trabalho, melhor na saúde (física e emocional), na aparência, no status. Só que essa nossa mania de ser melhor está nos deixando doente. E está levando uma geração todinha de crianças e adolescentes junto. Ou não deu pra perceber ainda?

Crescer sem poder experimentar as emoções, sem poder lidar sozinho com as pedras no caminho (no melhor dos clichês), gera uma ansiedade danada. Às vezes, dá até tristeza. Alguns deprimem quando se deparam com a incapacidade de lidar com as próprias emoções, com a própria vida. E isso coloca crianças e adolescentes no que a gente chama de vulnerabilidade emocional.

Isso, eles estão todos vulneráveis emocionalmente. E a culpa, ou responsabilidade, não é só das telas. É nossa também. Que temos privado crianças e adolescentes da vida saudável, da vida de altos e baixos, da vida das emoções. E quando eles se deparam com ela, se angustiam. Sentem-se ansiosas, outros depressivos.

Deu pra entender? Enquanto não entendermos que somos parte do problema, não vamos buscar soluções para ele. Vamos ficar entupindo as redes e as mídias de dedos apontados ao uso excessivo de telas. O que nos cabe? Como é que estamos educando nossas crianças e adolescentes? Por que tanto medo de deixar com que eles se frustrem, chorem, não tenham o que querem, não ganhem sempre?

A vida não é feita de medalha de participação a todo pequeno feito. A vida aperta e afrouxa e se não tirarmos essas crianças e adolescentes da bolha em que colocamos, as manchetes das mídias vão piorar. Os dados e os números serão cada vez mais drásticos e a gente vai colapsar com uma geração inteirinha. Inteirinha.

É urgente nos olharmos no espelho com mais cuidado e autocrítica. Não dá para ficar lendo matérias de adolescente e jovens adoecendo, muitos tirando a própria vida, e continuar só compartilhando em grupos de whatsapp. Vivemos a era das epidemias e ainda não nos demos conta que o melhor remédio é a gente mesmo quem produz.

Eu lembrei aqui da frase do escritor Guimarães Rosa que ele diz: "todo abismo é navegável com barquinho de papel". O abismo a gente já encontrou. Precisamos agora fazer os barquinhos de papel. Simplificar o que complicamos. A gente tá precisando de mais gentileza e afeto.

Somos ensinados a cuidar do corpo, da saúde de cada órgão, cada membro. Mas por que será que ninguém nos ensina a cuidar das emoções? A exercitar cada músculo de cada dor e cada alegria?

A gente precisa começar a exercitar a musculatura das emoções, assim como a gente exercita o corpo físico. E a gente precisa deixar que nossas crianças e adolescentes façam o mesmo. Eles estão crescendo sem a possibilidade de se relacionar com a angústia, o medo, a dor, a saudade, a tristeza. E não saber lidar com as emoções gerar muita - mas muita - ansiedade, às vezes dá até depressão. Deu para entender o que estou querendo dizer?

Recentemente, o Estadão publicou uma matéria com dados divulgados pelo Ministério da Saúde com o seguinte título: Internação de jovens e adolescentes em caso de ansiedade e estresse crescem 136% em dez anos. Dez anos, estamos falando de mudanças que começaram há uma década. Ou seja, não é tudo fruto da pandemia. Ainda que ela tenha agravado e acelerado índices que já estavam crescendo. Basta ver o complicado do IBGE de 2020, analisando os últimos 10 anos do PenSe, Pesquisa Nacional de Saúde Escolar. Ali, já tínhamos pistas do que estava por vir.

E a relação com as telas, as redes sociais? Também se intensificou na pandemia onde a única opção de relacionamento e socialização era através dos quadradinhos. Só que a gente não conseguiu - e não soube - sair desse buraco quando a vida voltou a acontecer fora de casa.

Adolescentes e jovens precisam exercitar as emoções, assim como se exercita o corpo físico. Foto: Prostock-studio/ Adobe Stock

Estava cheio de adolescentes e jovens com fobia social. Outros, voltaram às escolas agressivos. Perderam - ou não tiverem oportunidade de exercitar - a sociabilidade. Perderam também as inúmeras possibilidade de sentir as emoções fortes que só a adolescência é capaz de proporcionar. Os pais, as famílias também ficaram mais conservadoras para tudo. Parece que o medo tomou conta da vida e os pais resolveram poupar os filhos ainda mais. E deixar com que a vida continuasse a acontecer atrás das telas pareceu a solução mais segura.

Deixa que eu faço por você, deixa que a mamãe vai na escola resolver por você. Deixa que eu vou na tua faculdade saber o que tá acontecendo. Deixa que eu sinto por você. Eu até desejo por você. Filho, eu resolvo.

Estamos diante de uma geração de pais superprotetores que beiram a neurose. Estamos diante de uma geração de crianças e adolescentes que pouco tem a possibilidade de desejar. Pouco exercita os desejos da vida. Porque quando eles esboçam um "querer", rapidamente a vontade é atendida.

A médica americana Tracy Dennis-Tiwary declarou, numa entrevista ao podcast Raising Good Human, que "quando a gente super interpreta um sentimento ou emoção natural da criança ou do adolescente como se ali houve um problema, começamos a agir de maneira inadequada frente aos eventos da vida. E a mensagem que isso passa aos filhos é extremamente perigosa".

Bom, soma-se a este cenário nossa obsessão pelo sucesso, pelo melhor. Tem sempre que ser melhor, senão você não terá chances. Melhor no trabalho, melhor na saúde (física e emocional), na aparência, no status. Só que essa nossa mania de ser melhor está nos deixando doente. E está levando uma geração todinha de crianças e adolescentes junto. Ou não deu pra perceber ainda?

Crescer sem poder experimentar as emoções, sem poder lidar sozinho com as pedras no caminho (no melhor dos clichês), gera uma ansiedade danada. Às vezes, dá até tristeza. Alguns deprimem quando se deparam com a incapacidade de lidar com as próprias emoções, com a própria vida. E isso coloca crianças e adolescentes no que a gente chama de vulnerabilidade emocional.

Isso, eles estão todos vulneráveis emocionalmente. E a culpa, ou responsabilidade, não é só das telas. É nossa também. Que temos privado crianças e adolescentes da vida saudável, da vida de altos e baixos, da vida das emoções. E quando eles se deparam com ela, se angustiam. Sentem-se ansiosas, outros depressivos.

Deu pra entender? Enquanto não entendermos que somos parte do problema, não vamos buscar soluções para ele. Vamos ficar entupindo as redes e as mídias de dedos apontados ao uso excessivo de telas. O que nos cabe? Como é que estamos educando nossas crianças e adolescentes? Por que tanto medo de deixar com que eles se frustrem, chorem, não tenham o que querem, não ganhem sempre?

A vida não é feita de medalha de participação a todo pequeno feito. A vida aperta e afrouxa e se não tirarmos essas crianças e adolescentes da bolha em que colocamos, as manchetes das mídias vão piorar. Os dados e os números serão cada vez mais drásticos e a gente vai colapsar com uma geração inteirinha. Inteirinha.

É urgente nos olharmos no espelho com mais cuidado e autocrítica. Não dá para ficar lendo matérias de adolescente e jovens adoecendo, muitos tirando a própria vida, e continuar só compartilhando em grupos de whatsapp. Vivemos a era das epidemias e ainda não nos demos conta que o melhor remédio é a gente mesmo quem produz.

Eu lembrei aqui da frase do escritor Guimarães Rosa que ele diz: "todo abismo é navegável com barquinho de papel". O abismo a gente já encontrou. Precisamos agora fazer os barquinhos de papel. Simplificar o que complicamos. A gente tá precisando de mais gentileza e afeto.

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