Comportamento Adolescente e Educação

Mais de metade dos jovens da Geração Z querem casar à moda antiga


Por Carolina Delboni
Atualização:

Em tempos de discursos sobre valores da família, entender como esse conceito se manifesta nos jovens e por que eles desejam constituir suas próprias é vital para pensar no futuro

A discussão sobre "família" ganhou força e espaço nos últimos anos, tanto nas rodas de conversas sociais quanto na política brasileira. Há os que são a favor da "tradicional família", os que têm os valores da religião como sinônimo de amor e acreditam que família se constitui com um homem, uma mulher e filhos.

Mas há os que acreditam - e batalham - pela liberdade do amor. Os que são a favor de famílias que possam ser constituídas da maneira que for mais adequada a cada um. Não importa se é uma relação homoafetiva ou hetero, se é um relacionamento aberto ou fechado, se é monogâmico, se terão filhos. Aqui, prevalece a crença no amor.

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E o que pensam os jovens? Os "tais" que mães, pais, escolas, indústrias dos mais diversos segmentos, marcas, enfim, a sociedade como um todo está de olho neles: os jovens da Geração Z. O que pensam eles sobre família?

Segundo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. 57% dos jovens querem casar à moda antiga  

Uma geração que cresce muito mais livre de preconceitos e aberta a experimentações que seus pais. Nascidos entre 1997 e 2010, eles têm entre 12 e 25 anos, são os chamados nativos digitais. São também os que desejam e lutam por um mundo com menos barreiras e menos preconceitos. Acreditam na liberdade e na possibilidade do amor e também respeitam as diversidades de identidade de gênero. São plurais.

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Só que a mesma geração "cabeça aberta", que adora quebrar um paradigma, também acredita no casamento à moda antiga, com papel passado em cartório e morando sob o mesmo teto. Do jeitinho que seus pais e avós fizeram. Pelo menos esse foi um dos dados revelados pelo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. Mas o que significa casar à moda antiga para eles?

Segundo o levantamento realizado em 2022, praticamente 76% dos jovens desejam morar com seu par. Entre eles, 57% querem casar no papel com os dois morando na mesma casa e 19% desejam uma união sem papel passado. Apenas 8% sonham com uma relação estável em que cada pessoa mora em locais diferentes, 9% não querem ter um relacionamento firme e 8% projetam ter uma relação aberta ou poliamor.

Vale destacar que, para o estudo, foram entrevistadas duas mil pessoas de todas regiões do Brasil, sendo 19% representadas pela Geração Z, 54% de grupos femininos e 46%, de masculino.

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Entre outros mitos e verdades sobre esses jovens, observou-se que 60% veem valor na família e 63% destacam o amor como sentimento importante nas relações que estabelecem. Sim, ao contrário do que muitos pensam sobre a geração, ela está longe de ser desapegada e de torcer o nariz para relações monogâmicas duradouras.

É importante perceber que a liberdade de escolhas, a liberdade do próprio amor, sexualidade e identidade de gênero nada tem com o desejo de dar continuidade a algo que lhes faz bem. A vontade de reproduzir um modelo de casamento por muitos considerado antigo e engessado - ainda que não seja necessariamente dentro do padrão homem-e-mulher - reflete uma segurança e um alicerce que só família é capaz de prover aos filhos.

Para Karina Milare, uma das idealizadoras do estudo e sócias da HSR, é importante entender quais valores estão por trás desse desejo. "Embora o Brasil tenha um perfil mais conservador, na verdade, ele é pequeno. Apenas 11% dos jovens que responderam disseram que a decisão do casamento está relacionada a princípios religiosos", conta.

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Ela também destaca que vale se ater a outros pontos estimados por esses jovens, como a segurança e o amor. Segundo a especialista, isso mostra o quanto essa geração está em busca não de um rompimento, mas sim de uma integração com os valores de seus ascendentes.

Se você tem adolescentes em casa, talvez possa perceber reflexos dessa tendência. Um bom exemplo lembrado por Karina é o boom dos "doramas", estilo de série asiática que parece uma novela, normalmente com enredos recheados de dramas e romances.

Mas por que, então, há tantas pessoas dizendo que os adolescentes de hoje são superficiais, fogem de contato físico e só querem saber de games, aplicativos e do universo digital? "A leitura inversa que o senso comum faz dos jovens tem a ver com a falta de conhecimento e compreensão das outras gerações. Enxergam eventuais diferenças de comportamento e referências como conflito ou rompimento, quando, na verdade, as convergências parecem ser maiores que as divergências", esclarece Karina.

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Apesar de parecer óbvio, olha que maravilha - a gente acaba se esquecendo disso frente a tantas problematizações e desafios do dia a dia - mas, para estabelecer uma relação respeitosa e saudável com eles, o melhor a se fazer é furar a bolha e fugir de rótulos.

E isso pode acontecer de maneira muito natural. É só abrir o olho e perceber que, no fim das contas, os anseios dos mais jovens são os mesmos que os nossos. São aspirações humanas. E, na história da humanidade, a evolução e a sobrevivência só foi possível graças ao coletivo familiar e às comunidades que se formavam e se fortaleciam mundo afora.

Independente do que pregam os ultraconservadores preocupados em blindar a construção da tradicional família brasileira, ela pode até estar um pouco fora dos moldes antigos, mas constituir um clã para chamar de seu continua a ser importante porque é uma necessidade que parece nascer entre algumas espécies, inclusive a humana.

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"O ser humano não aguenta a solidão e precisa compartilhar a sua vida. A família hoje é o único grupo com que os adultos compartilham a vida até que a morte os separe", reflete a psicóloga Rosely Sayão, acrescentando em entrevista a essa coluna que, mesmo quando o casal se separa, a família continua unida.

Pensando agora no papel desse núcleo para a formação de filhos de sangue ou de coração, vale pontuar que é nele que o indivíduo estabelece seus primeiros vínculos e começa a entender como se comportar, se relacionar e por aí vai.

"É com a família que a criança aprende quem ela é. É com a história da família que ela encontra a sua identidade, aprende que há lugares diferentes, nos grupos. E é o grupo familiar que vai acompanhá-la pela vida toda, mesmo quando ela atingir autonomia", pontua.

Ainda diante de tudo isso que você leu até agora, vou frisar outra sábia orientação compartilhada por Rosely: fazer subdivisões e enquadrar seu filho em uma determinada geração não é muito salutar.

E eu acrescento mais um conselho: rotular ou estereotipar seu filho ou filha adolescente é olhar de maneira generalizada para um ser humano cheio de particularidades e singularidades.

O que estou querendo dizer é que podem até existir características comuns aos adolescentes, a fase da adolescência, mas isso está longe de coloca-los todos dentro de um mesmo pacote de bala que muda apenas o sabor.

O olhar para a individualidade é que vai garantir o olhar macro, no grupo, na família ou onde for e é a partir deste olhar que você vai ser capaz de entender os conteúdos que seu filho traz. As questões que para ele são importantes, as escolhas musicais e por ai vai.

Porque assim como constituir família continua a ser importante para as novas gerações, a troca verdadeira entre esses jovens e seus pais, escola e a sociedade como um todo segue sendo a base para uma relação de respeito e de desenvolvimento saudável - inclusive no que diz respeito ao emocional.

* colaborou Rebeca Hidalgo

Em tempos de discursos sobre valores da família, entender como esse conceito se manifesta nos jovens e por que eles desejam constituir suas próprias é vital para pensar no futuro

A discussão sobre "família" ganhou força e espaço nos últimos anos, tanto nas rodas de conversas sociais quanto na política brasileira. Há os que são a favor da "tradicional família", os que têm os valores da religião como sinônimo de amor e acreditam que família se constitui com um homem, uma mulher e filhos.

Mas há os que acreditam - e batalham - pela liberdade do amor. Os que são a favor de famílias que possam ser constituídas da maneira que for mais adequada a cada um. Não importa se é uma relação homoafetiva ou hetero, se é um relacionamento aberto ou fechado, se é monogâmico, se terão filhos. Aqui, prevalece a crença no amor.

E o que pensam os jovens? Os "tais" que mães, pais, escolas, indústrias dos mais diversos segmentos, marcas, enfim, a sociedade como um todo está de olho neles: os jovens da Geração Z. O que pensam eles sobre família?

Segundo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. 57% dos jovens querem casar à moda antiga  

Uma geração que cresce muito mais livre de preconceitos e aberta a experimentações que seus pais. Nascidos entre 1997 e 2010, eles têm entre 12 e 25 anos, são os chamados nativos digitais. São também os que desejam e lutam por um mundo com menos barreiras e menos preconceitos. Acreditam na liberdade e na possibilidade do amor e também respeitam as diversidades de identidade de gênero. São plurais.

Só que a mesma geração "cabeça aberta", que adora quebrar um paradigma, também acredita no casamento à moda antiga, com papel passado em cartório e morando sob o mesmo teto. Do jeitinho que seus pais e avós fizeram. Pelo menos esse foi um dos dados revelados pelo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. Mas o que significa casar à moda antiga para eles?

Segundo o levantamento realizado em 2022, praticamente 76% dos jovens desejam morar com seu par. Entre eles, 57% querem casar no papel com os dois morando na mesma casa e 19% desejam uma união sem papel passado. Apenas 8% sonham com uma relação estável em que cada pessoa mora em locais diferentes, 9% não querem ter um relacionamento firme e 8% projetam ter uma relação aberta ou poliamor.

Vale destacar que, para o estudo, foram entrevistadas duas mil pessoas de todas regiões do Brasil, sendo 19% representadas pela Geração Z, 54% de grupos femininos e 46%, de masculino.

Entre outros mitos e verdades sobre esses jovens, observou-se que 60% veem valor na família e 63% destacam o amor como sentimento importante nas relações que estabelecem. Sim, ao contrário do que muitos pensam sobre a geração, ela está longe de ser desapegada e de torcer o nariz para relações monogâmicas duradouras.

É importante perceber que a liberdade de escolhas, a liberdade do próprio amor, sexualidade e identidade de gênero nada tem com o desejo de dar continuidade a algo que lhes faz bem. A vontade de reproduzir um modelo de casamento por muitos considerado antigo e engessado - ainda que não seja necessariamente dentro do padrão homem-e-mulher - reflete uma segurança e um alicerce que só família é capaz de prover aos filhos.

Para Karina Milare, uma das idealizadoras do estudo e sócias da HSR, é importante entender quais valores estão por trás desse desejo. "Embora o Brasil tenha um perfil mais conservador, na verdade, ele é pequeno. Apenas 11% dos jovens que responderam disseram que a decisão do casamento está relacionada a princípios religiosos", conta.

Ela também destaca que vale se ater a outros pontos estimados por esses jovens, como a segurança e o amor. Segundo a especialista, isso mostra o quanto essa geração está em busca não de um rompimento, mas sim de uma integração com os valores de seus ascendentes.

Se você tem adolescentes em casa, talvez possa perceber reflexos dessa tendência. Um bom exemplo lembrado por Karina é o boom dos "doramas", estilo de série asiática que parece uma novela, normalmente com enredos recheados de dramas e romances.

Mas por que, então, há tantas pessoas dizendo que os adolescentes de hoje são superficiais, fogem de contato físico e só querem saber de games, aplicativos e do universo digital? "A leitura inversa que o senso comum faz dos jovens tem a ver com a falta de conhecimento e compreensão das outras gerações. Enxergam eventuais diferenças de comportamento e referências como conflito ou rompimento, quando, na verdade, as convergências parecem ser maiores que as divergências", esclarece Karina.

Apesar de parecer óbvio, olha que maravilha - a gente acaba se esquecendo disso frente a tantas problematizações e desafios do dia a dia - mas, para estabelecer uma relação respeitosa e saudável com eles, o melhor a se fazer é furar a bolha e fugir de rótulos.

E isso pode acontecer de maneira muito natural. É só abrir o olho e perceber que, no fim das contas, os anseios dos mais jovens são os mesmos que os nossos. São aspirações humanas. E, na história da humanidade, a evolução e a sobrevivência só foi possível graças ao coletivo familiar e às comunidades que se formavam e se fortaleciam mundo afora.

Independente do que pregam os ultraconservadores preocupados em blindar a construção da tradicional família brasileira, ela pode até estar um pouco fora dos moldes antigos, mas constituir um clã para chamar de seu continua a ser importante porque é uma necessidade que parece nascer entre algumas espécies, inclusive a humana.

"O ser humano não aguenta a solidão e precisa compartilhar a sua vida. A família hoje é o único grupo com que os adultos compartilham a vida até que a morte os separe", reflete a psicóloga Rosely Sayão, acrescentando em entrevista a essa coluna que, mesmo quando o casal se separa, a família continua unida.

Pensando agora no papel desse núcleo para a formação de filhos de sangue ou de coração, vale pontuar que é nele que o indivíduo estabelece seus primeiros vínculos e começa a entender como se comportar, se relacionar e por aí vai.

"É com a família que a criança aprende quem ela é. É com a história da família que ela encontra a sua identidade, aprende que há lugares diferentes, nos grupos. E é o grupo familiar que vai acompanhá-la pela vida toda, mesmo quando ela atingir autonomia", pontua.

Ainda diante de tudo isso que você leu até agora, vou frisar outra sábia orientação compartilhada por Rosely: fazer subdivisões e enquadrar seu filho em uma determinada geração não é muito salutar.

E eu acrescento mais um conselho: rotular ou estereotipar seu filho ou filha adolescente é olhar de maneira generalizada para um ser humano cheio de particularidades e singularidades.

O que estou querendo dizer é que podem até existir características comuns aos adolescentes, a fase da adolescência, mas isso está longe de coloca-los todos dentro de um mesmo pacote de bala que muda apenas o sabor.

O olhar para a individualidade é que vai garantir o olhar macro, no grupo, na família ou onde for e é a partir deste olhar que você vai ser capaz de entender os conteúdos que seu filho traz. As questões que para ele são importantes, as escolhas musicais e por ai vai.

Porque assim como constituir família continua a ser importante para as novas gerações, a troca verdadeira entre esses jovens e seus pais, escola e a sociedade como um todo segue sendo a base para uma relação de respeito e de desenvolvimento saudável - inclusive no que diz respeito ao emocional.

* colaborou Rebeca Hidalgo

Em tempos de discursos sobre valores da família, entender como esse conceito se manifesta nos jovens e por que eles desejam constituir suas próprias é vital para pensar no futuro

A discussão sobre "família" ganhou força e espaço nos últimos anos, tanto nas rodas de conversas sociais quanto na política brasileira. Há os que são a favor da "tradicional família", os que têm os valores da religião como sinônimo de amor e acreditam que família se constitui com um homem, uma mulher e filhos.

Mas há os que acreditam - e batalham - pela liberdade do amor. Os que são a favor de famílias que possam ser constituídas da maneira que for mais adequada a cada um. Não importa se é uma relação homoafetiva ou hetero, se é um relacionamento aberto ou fechado, se é monogâmico, se terão filhos. Aqui, prevalece a crença no amor.

E o que pensam os jovens? Os "tais" que mães, pais, escolas, indústrias dos mais diversos segmentos, marcas, enfim, a sociedade como um todo está de olho neles: os jovens da Geração Z. O que pensam eles sobre família?

Segundo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. 57% dos jovens querem casar à moda antiga  

Uma geração que cresce muito mais livre de preconceitos e aberta a experimentações que seus pais. Nascidos entre 1997 e 2010, eles têm entre 12 e 25 anos, são os chamados nativos digitais. São também os que desejam e lutam por um mundo com menos barreiras e menos preconceitos. Acreditam na liberdade e na possibilidade do amor e também respeitam as diversidades de identidade de gênero. São plurais.

Só que a mesma geração "cabeça aberta", que adora quebrar um paradigma, também acredita no casamento à moda antiga, com papel passado em cartório e morando sob o mesmo teto. Do jeitinho que seus pais e avós fizeram. Pelo menos esse foi um dos dados revelados pelo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. Mas o que significa casar à moda antiga para eles?

Segundo o levantamento realizado em 2022, praticamente 76% dos jovens desejam morar com seu par. Entre eles, 57% querem casar no papel com os dois morando na mesma casa e 19% desejam uma união sem papel passado. Apenas 8% sonham com uma relação estável em que cada pessoa mora em locais diferentes, 9% não querem ter um relacionamento firme e 8% projetam ter uma relação aberta ou poliamor.

Vale destacar que, para o estudo, foram entrevistadas duas mil pessoas de todas regiões do Brasil, sendo 19% representadas pela Geração Z, 54% de grupos femininos e 46%, de masculino.

Entre outros mitos e verdades sobre esses jovens, observou-se que 60% veem valor na família e 63% destacam o amor como sentimento importante nas relações que estabelecem. Sim, ao contrário do que muitos pensam sobre a geração, ela está longe de ser desapegada e de torcer o nariz para relações monogâmicas duradouras.

É importante perceber que a liberdade de escolhas, a liberdade do próprio amor, sexualidade e identidade de gênero nada tem com o desejo de dar continuidade a algo que lhes faz bem. A vontade de reproduzir um modelo de casamento por muitos considerado antigo e engessado - ainda que não seja necessariamente dentro do padrão homem-e-mulher - reflete uma segurança e um alicerce que só família é capaz de prover aos filhos.

Para Karina Milare, uma das idealizadoras do estudo e sócias da HSR, é importante entender quais valores estão por trás desse desejo. "Embora o Brasil tenha um perfil mais conservador, na verdade, ele é pequeno. Apenas 11% dos jovens que responderam disseram que a decisão do casamento está relacionada a princípios religiosos", conta.

Ela também destaca que vale se ater a outros pontos estimados por esses jovens, como a segurança e o amor. Segundo a especialista, isso mostra o quanto essa geração está em busca não de um rompimento, mas sim de uma integração com os valores de seus ascendentes.

Se você tem adolescentes em casa, talvez possa perceber reflexos dessa tendência. Um bom exemplo lembrado por Karina é o boom dos "doramas", estilo de série asiática que parece uma novela, normalmente com enredos recheados de dramas e romances.

Mas por que, então, há tantas pessoas dizendo que os adolescentes de hoje são superficiais, fogem de contato físico e só querem saber de games, aplicativos e do universo digital? "A leitura inversa que o senso comum faz dos jovens tem a ver com a falta de conhecimento e compreensão das outras gerações. Enxergam eventuais diferenças de comportamento e referências como conflito ou rompimento, quando, na verdade, as convergências parecem ser maiores que as divergências", esclarece Karina.

Apesar de parecer óbvio, olha que maravilha - a gente acaba se esquecendo disso frente a tantas problematizações e desafios do dia a dia - mas, para estabelecer uma relação respeitosa e saudável com eles, o melhor a se fazer é furar a bolha e fugir de rótulos.

E isso pode acontecer de maneira muito natural. É só abrir o olho e perceber que, no fim das contas, os anseios dos mais jovens são os mesmos que os nossos. São aspirações humanas. E, na história da humanidade, a evolução e a sobrevivência só foi possível graças ao coletivo familiar e às comunidades que se formavam e se fortaleciam mundo afora.

Independente do que pregam os ultraconservadores preocupados em blindar a construção da tradicional família brasileira, ela pode até estar um pouco fora dos moldes antigos, mas constituir um clã para chamar de seu continua a ser importante porque é uma necessidade que parece nascer entre algumas espécies, inclusive a humana.

"O ser humano não aguenta a solidão e precisa compartilhar a sua vida. A família hoje é o único grupo com que os adultos compartilham a vida até que a morte os separe", reflete a psicóloga Rosely Sayão, acrescentando em entrevista a essa coluna que, mesmo quando o casal se separa, a família continua unida.

Pensando agora no papel desse núcleo para a formação de filhos de sangue ou de coração, vale pontuar que é nele que o indivíduo estabelece seus primeiros vínculos e começa a entender como se comportar, se relacionar e por aí vai.

"É com a família que a criança aprende quem ela é. É com a história da família que ela encontra a sua identidade, aprende que há lugares diferentes, nos grupos. E é o grupo familiar que vai acompanhá-la pela vida toda, mesmo quando ela atingir autonomia", pontua.

Ainda diante de tudo isso que você leu até agora, vou frisar outra sábia orientação compartilhada por Rosely: fazer subdivisões e enquadrar seu filho em uma determinada geração não é muito salutar.

E eu acrescento mais um conselho: rotular ou estereotipar seu filho ou filha adolescente é olhar de maneira generalizada para um ser humano cheio de particularidades e singularidades.

O que estou querendo dizer é que podem até existir características comuns aos adolescentes, a fase da adolescência, mas isso está longe de coloca-los todos dentro de um mesmo pacote de bala que muda apenas o sabor.

O olhar para a individualidade é que vai garantir o olhar macro, no grupo, na família ou onde for e é a partir deste olhar que você vai ser capaz de entender os conteúdos que seu filho traz. As questões que para ele são importantes, as escolhas musicais e por ai vai.

Porque assim como constituir família continua a ser importante para as novas gerações, a troca verdadeira entre esses jovens e seus pais, escola e a sociedade como um todo segue sendo a base para uma relação de respeito e de desenvolvimento saudável - inclusive no que diz respeito ao emocional.

* colaborou Rebeca Hidalgo

Em tempos de discursos sobre valores da família, entender como esse conceito se manifesta nos jovens e por que eles desejam constituir suas próprias é vital para pensar no futuro

A discussão sobre "família" ganhou força e espaço nos últimos anos, tanto nas rodas de conversas sociais quanto na política brasileira. Há os que são a favor da "tradicional família", os que têm os valores da religião como sinônimo de amor e acreditam que família se constitui com um homem, uma mulher e filhos.

Mas há os que acreditam - e batalham - pela liberdade do amor. Os que são a favor de famílias que possam ser constituídas da maneira que for mais adequada a cada um. Não importa se é uma relação homoafetiva ou hetero, se é um relacionamento aberto ou fechado, se é monogâmico, se terão filhos. Aqui, prevalece a crença no amor.

E o que pensam os jovens? Os "tais" que mães, pais, escolas, indústrias dos mais diversos segmentos, marcas, enfim, a sociedade como um todo está de olho neles: os jovens da Geração Z. O que pensam eles sobre família?

Segundo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. 57% dos jovens querem casar à moda antiga  

Uma geração que cresce muito mais livre de preconceitos e aberta a experimentações que seus pais. Nascidos entre 1997 e 2010, eles têm entre 12 e 25 anos, são os chamados nativos digitais. São também os que desejam e lutam por um mundo com menos barreiras e menos preconceitos. Acreditam na liberdade e na possibilidade do amor e também respeitam as diversidades de identidade de gênero. São plurais.

Só que a mesma geração "cabeça aberta", que adora quebrar um paradigma, também acredita no casamento à moda antiga, com papel passado em cartório e morando sob o mesmo teto. Do jeitinho que seus pais e avós fizeram. Pelo menos esse foi um dos dados revelados pelo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. Mas o que significa casar à moda antiga para eles?

Segundo o levantamento realizado em 2022, praticamente 76% dos jovens desejam morar com seu par. Entre eles, 57% querem casar no papel com os dois morando na mesma casa e 19% desejam uma união sem papel passado. Apenas 8% sonham com uma relação estável em que cada pessoa mora em locais diferentes, 9% não querem ter um relacionamento firme e 8% projetam ter uma relação aberta ou poliamor.

Vale destacar que, para o estudo, foram entrevistadas duas mil pessoas de todas regiões do Brasil, sendo 19% representadas pela Geração Z, 54% de grupos femininos e 46%, de masculino.

Entre outros mitos e verdades sobre esses jovens, observou-se que 60% veem valor na família e 63% destacam o amor como sentimento importante nas relações que estabelecem. Sim, ao contrário do que muitos pensam sobre a geração, ela está longe de ser desapegada e de torcer o nariz para relações monogâmicas duradouras.

É importante perceber que a liberdade de escolhas, a liberdade do próprio amor, sexualidade e identidade de gênero nada tem com o desejo de dar continuidade a algo que lhes faz bem. A vontade de reproduzir um modelo de casamento por muitos considerado antigo e engessado - ainda que não seja necessariamente dentro do padrão homem-e-mulher - reflete uma segurança e um alicerce que só família é capaz de prover aos filhos.

Para Karina Milare, uma das idealizadoras do estudo e sócias da HSR, é importante entender quais valores estão por trás desse desejo. "Embora o Brasil tenha um perfil mais conservador, na verdade, ele é pequeno. Apenas 11% dos jovens que responderam disseram que a decisão do casamento está relacionada a princípios religiosos", conta.

Ela também destaca que vale se ater a outros pontos estimados por esses jovens, como a segurança e o amor. Segundo a especialista, isso mostra o quanto essa geração está em busca não de um rompimento, mas sim de uma integração com os valores de seus ascendentes.

Se você tem adolescentes em casa, talvez possa perceber reflexos dessa tendência. Um bom exemplo lembrado por Karina é o boom dos "doramas", estilo de série asiática que parece uma novela, normalmente com enredos recheados de dramas e romances.

Mas por que, então, há tantas pessoas dizendo que os adolescentes de hoje são superficiais, fogem de contato físico e só querem saber de games, aplicativos e do universo digital? "A leitura inversa que o senso comum faz dos jovens tem a ver com a falta de conhecimento e compreensão das outras gerações. Enxergam eventuais diferenças de comportamento e referências como conflito ou rompimento, quando, na verdade, as convergências parecem ser maiores que as divergências", esclarece Karina.

Apesar de parecer óbvio, olha que maravilha - a gente acaba se esquecendo disso frente a tantas problematizações e desafios do dia a dia - mas, para estabelecer uma relação respeitosa e saudável com eles, o melhor a se fazer é furar a bolha e fugir de rótulos.

E isso pode acontecer de maneira muito natural. É só abrir o olho e perceber que, no fim das contas, os anseios dos mais jovens são os mesmos que os nossos. São aspirações humanas. E, na história da humanidade, a evolução e a sobrevivência só foi possível graças ao coletivo familiar e às comunidades que se formavam e se fortaleciam mundo afora.

Independente do que pregam os ultraconservadores preocupados em blindar a construção da tradicional família brasileira, ela pode até estar um pouco fora dos moldes antigos, mas constituir um clã para chamar de seu continua a ser importante porque é uma necessidade que parece nascer entre algumas espécies, inclusive a humana.

"O ser humano não aguenta a solidão e precisa compartilhar a sua vida. A família hoje é o único grupo com que os adultos compartilham a vida até que a morte os separe", reflete a psicóloga Rosely Sayão, acrescentando em entrevista a essa coluna que, mesmo quando o casal se separa, a família continua unida.

Pensando agora no papel desse núcleo para a formação de filhos de sangue ou de coração, vale pontuar que é nele que o indivíduo estabelece seus primeiros vínculos e começa a entender como se comportar, se relacionar e por aí vai.

"É com a família que a criança aprende quem ela é. É com a história da família que ela encontra a sua identidade, aprende que há lugares diferentes, nos grupos. E é o grupo familiar que vai acompanhá-la pela vida toda, mesmo quando ela atingir autonomia", pontua.

Ainda diante de tudo isso que você leu até agora, vou frisar outra sábia orientação compartilhada por Rosely: fazer subdivisões e enquadrar seu filho em uma determinada geração não é muito salutar.

E eu acrescento mais um conselho: rotular ou estereotipar seu filho ou filha adolescente é olhar de maneira generalizada para um ser humano cheio de particularidades e singularidades.

O que estou querendo dizer é que podem até existir características comuns aos adolescentes, a fase da adolescência, mas isso está longe de coloca-los todos dentro de um mesmo pacote de bala que muda apenas o sabor.

O olhar para a individualidade é que vai garantir o olhar macro, no grupo, na família ou onde for e é a partir deste olhar que você vai ser capaz de entender os conteúdos que seu filho traz. As questões que para ele são importantes, as escolhas musicais e por ai vai.

Porque assim como constituir família continua a ser importante para as novas gerações, a troca verdadeira entre esses jovens e seus pais, escola e a sociedade como um todo segue sendo a base para uma relação de respeito e de desenvolvimento saudável - inclusive no que diz respeito ao emocional.

* colaborou Rebeca Hidalgo

Em tempos de discursos sobre valores da família, entender como esse conceito se manifesta nos jovens e por que eles desejam constituir suas próprias é vital para pensar no futuro

A discussão sobre "família" ganhou força e espaço nos últimos anos, tanto nas rodas de conversas sociais quanto na política brasileira. Há os que são a favor da "tradicional família", os que têm os valores da religião como sinônimo de amor e acreditam que família se constitui com um homem, uma mulher e filhos.

Mas há os que acreditam - e batalham - pela liberdade do amor. Os que são a favor de famílias que possam ser constituídas da maneira que for mais adequada a cada um. Não importa se é uma relação homoafetiva ou hetero, se é um relacionamento aberto ou fechado, se é monogâmico, se terão filhos. Aqui, prevalece a crença no amor.

E o que pensam os jovens? Os "tais" que mães, pais, escolas, indústrias dos mais diversos segmentos, marcas, enfim, a sociedade como um todo está de olho neles: os jovens da Geração Z. O que pensam eles sobre família?

Segundo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. 57% dos jovens querem casar à moda antiga  

Uma geração que cresce muito mais livre de preconceitos e aberta a experimentações que seus pais. Nascidos entre 1997 e 2010, eles têm entre 12 e 25 anos, são os chamados nativos digitais. São também os que desejam e lutam por um mundo com menos barreiras e menos preconceitos. Acreditam na liberdade e na possibilidade do amor e também respeitam as diversidades de identidade de gênero. São plurais.

Só que a mesma geração "cabeça aberta", que adora quebrar um paradigma, também acredita no casamento à moda antiga, com papel passado em cartório e morando sob o mesmo teto. Do jeitinho que seus pais e avós fizeram. Pelo menos esse foi um dos dados revelados pelo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. Mas o que significa casar à moda antiga para eles?

Segundo o levantamento realizado em 2022, praticamente 76% dos jovens desejam morar com seu par. Entre eles, 57% querem casar no papel com os dois morando na mesma casa e 19% desejam uma união sem papel passado. Apenas 8% sonham com uma relação estável em que cada pessoa mora em locais diferentes, 9% não querem ter um relacionamento firme e 8% projetam ter uma relação aberta ou poliamor.

Vale destacar que, para o estudo, foram entrevistadas duas mil pessoas de todas regiões do Brasil, sendo 19% representadas pela Geração Z, 54% de grupos femininos e 46%, de masculino.

Entre outros mitos e verdades sobre esses jovens, observou-se que 60% veem valor na família e 63% destacam o amor como sentimento importante nas relações que estabelecem. Sim, ao contrário do que muitos pensam sobre a geração, ela está longe de ser desapegada e de torcer o nariz para relações monogâmicas duradouras.

É importante perceber que a liberdade de escolhas, a liberdade do próprio amor, sexualidade e identidade de gênero nada tem com o desejo de dar continuidade a algo que lhes faz bem. A vontade de reproduzir um modelo de casamento por muitos considerado antigo e engessado - ainda que não seja necessariamente dentro do padrão homem-e-mulher - reflete uma segurança e um alicerce que só família é capaz de prover aos filhos.

Para Karina Milare, uma das idealizadoras do estudo e sócias da HSR, é importante entender quais valores estão por trás desse desejo. "Embora o Brasil tenha um perfil mais conservador, na verdade, ele é pequeno. Apenas 11% dos jovens que responderam disseram que a decisão do casamento está relacionada a princípios religiosos", conta.

Ela também destaca que vale se ater a outros pontos estimados por esses jovens, como a segurança e o amor. Segundo a especialista, isso mostra o quanto essa geração está em busca não de um rompimento, mas sim de uma integração com os valores de seus ascendentes.

Se você tem adolescentes em casa, talvez possa perceber reflexos dessa tendência. Um bom exemplo lembrado por Karina é o boom dos "doramas", estilo de série asiática que parece uma novela, normalmente com enredos recheados de dramas e romances.

Mas por que, então, há tantas pessoas dizendo que os adolescentes de hoje são superficiais, fogem de contato físico e só querem saber de games, aplicativos e do universo digital? "A leitura inversa que o senso comum faz dos jovens tem a ver com a falta de conhecimento e compreensão das outras gerações. Enxergam eventuais diferenças de comportamento e referências como conflito ou rompimento, quando, na verdade, as convergências parecem ser maiores que as divergências", esclarece Karina.

Apesar de parecer óbvio, olha que maravilha - a gente acaba se esquecendo disso frente a tantas problematizações e desafios do dia a dia - mas, para estabelecer uma relação respeitosa e saudável com eles, o melhor a se fazer é furar a bolha e fugir de rótulos.

E isso pode acontecer de maneira muito natural. É só abrir o olho e perceber que, no fim das contas, os anseios dos mais jovens são os mesmos que os nossos. São aspirações humanas. E, na história da humanidade, a evolução e a sobrevivência só foi possível graças ao coletivo familiar e às comunidades que se formavam e se fortaleciam mundo afora.

Independente do que pregam os ultraconservadores preocupados em blindar a construção da tradicional família brasileira, ela pode até estar um pouco fora dos moldes antigos, mas constituir um clã para chamar de seu continua a ser importante porque é uma necessidade que parece nascer entre algumas espécies, inclusive a humana.

"O ser humano não aguenta a solidão e precisa compartilhar a sua vida. A família hoje é o único grupo com que os adultos compartilham a vida até que a morte os separe", reflete a psicóloga Rosely Sayão, acrescentando em entrevista a essa coluna que, mesmo quando o casal se separa, a família continua unida.

Pensando agora no papel desse núcleo para a formação de filhos de sangue ou de coração, vale pontuar que é nele que o indivíduo estabelece seus primeiros vínculos e começa a entender como se comportar, se relacionar e por aí vai.

"É com a família que a criança aprende quem ela é. É com a história da família que ela encontra a sua identidade, aprende que há lugares diferentes, nos grupos. E é o grupo familiar que vai acompanhá-la pela vida toda, mesmo quando ela atingir autonomia", pontua.

Ainda diante de tudo isso que você leu até agora, vou frisar outra sábia orientação compartilhada por Rosely: fazer subdivisões e enquadrar seu filho em uma determinada geração não é muito salutar.

E eu acrescento mais um conselho: rotular ou estereotipar seu filho ou filha adolescente é olhar de maneira generalizada para um ser humano cheio de particularidades e singularidades.

O que estou querendo dizer é que podem até existir características comuns aos adolescentes, a fase da adolescência, mas isso está longe de coloca-los todos dentro de um mesmo pacote de bala que muda apenas o sabor.

O olhar para a individualidade é que vai garantir o olhar macro, no grupo, na família ou onde for e é a partir deste olhar que você vai ser capaz de entender os conteúdos que seu filho traz. As questões que para ele são importantes, as escolhas musicais e por ai vai.

Porque assim como constituir família continua a ser importante para as novas gerações, a troca verdadeira entre esses jovens e seus pais, escola e a sociedade como um todo segue sendo a base para uma relação de respeito e de desenvolvimento saudável - inclusive no que diz respeito ao emocional.

* colaborou Rebeca Hidalgo

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