Comportamento Adolescente e Educação

'Meu filho namora outro menino e não sei o que fazer'


Por Carolina Delboni

Ainda que a descoberta da homossexualidade do filho ou filha cause uma série de sentimentos ambíguos a muitas mães e pais, é preciso aprender a acolher e demonstrar amor a este ser que já terá um mundo para enfrentar fora de casa

"Tô sem saber o que fazer ou falar e peço conselhos de quem já passou ou está passando por isso", escreveu uma mãe num grupo de apoio materno do Facebook. "Meu filho tem 17 anos e esses dias veio me falar que é gay e tá até de namoro com outro menino, mas gente ele nunca deu sinais, pelo contrário, diz que já namorou com menina. Meu medo é dele estar se precipitando, dele assumir pra todo mundo ser gay, sofrer com o preconceito das pessoas e depois descobrir que não era isso mesmo. Tenho medo do que pode causar na cabeça dele. Eu já falei que vou estar do lado dele sempre, pra qualquer coisa, só quero que ele tenha certeza", termina.

O relato desta mãe é comum a muitas outras. Na sequência da sua fala, outras semelhantes surgiram entre respostas e conselhos. É compreensível o espanto de uma mãe ao descobrir a homossexualidade do filho e eu digo isto não para justificar qualquer tipo de homofobia, mas para que a gente aprenda a acolher a dor desta mulher. Dor, mas que dor?

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Para muitas mães que ainda acreditam no ideal de família Doriana (os mais velhos entenderão) é um choque. E é um choque porque essa mulher foi ensinada que uma família deve ser composta por um homem, na figura de pai, e a dela na figura de mãe. Quando esta mulher se depara com a fala do filho dizendo que é gay, ela se depara também com a urgência em desconstruir uma crença de séculos.

Foto FreePik  

Esta mãe vai precisar romper com o ideal de filho que sonhou e reconstruir dentro da sua cabeça, do seu racional inconsciente, todo o complexo contexto que sustenta o amor por aquele filho. É preciso que se compreenda esse processo psicológico para entender a fala desta mãe e de muitas outras. Do contrário, vamos julgá-las como homofóbicas e preconceituosas. E o que é ser preconceituosa?

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Preconceito é o ato de julgar algo ou alguém. É quando se faz um juízo sem procurar conhecer ou saber mais sobre determinado assunto ou pessoa. No Brasil, como no mundo, o preconceito tem muitas faces - racista, intolerante a diferentes religiões, machista - e a homofóbica é uma delas.

Sem saber, sem conhecer, apenas julgando, pessoas formulam opiniões sobre outras pessoas. Se julgam capazes de dizer o que é melhor ou não ao outro, ou o que é certo ou errado de acordo com suas crenças e opiniões. Mas qual o limite entre o que eu acho e o respeito ao outro?

Qual o limite entre a sua opinião, o seu julgamento, e o que o torna crime de racismo, homofobia, lesbofobia, feminicídio, entre outras violências? Qual linha é ultrapassada por uma pessoa quando ela ofende ou violenta outra pessoa que qualifica como crime? E por que - por que - mães, pais e responsáveis legais têm tanto medo de descobrir a homossexualidade de um filho? O que causa tanto medo ou estranhamento?

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Falta informação, falta conhecimento a muitas pessoas, inclusive para quem é mãe. Falta entender que quando um filho ou filha se diz gay ou lésbica aos 17 anos não é algo precipitado ou passageiro. Aquele ser sabe muito bem o que ele está falando e é desta certeza que a conversa precisa partir.

Outra mãe, no mesmo grupo, questiona como os jovens podem ter certeza da orientação sexual se "mal começaram a vida". "Minha filha tem 13 anos, mas desde os 12 me disse que é lésbica. Conversei com ela que o tempo vai dizer e ela me disse que na escola as meninas ficam se beijando. Será que de tanto ver também teve vontade? Nunca permiti que visse novelas ou Malhação, nada que tivesse beijos pra não querer namorar cedo e focar nos estudos. Mas ela me disse que sentiu algo diferente por uma menina. Alguém já passou por isso?".

Vamos lá, homossexualidade não é moda. Ninguém decide ser gay ou lésbica porque viu meninos se beijarem ou meninas se beijarem. O fato disto acontecer, ao contrário do que muitos pensam, pode ajudar este menino ou menina a compreender seu desejo ou sentimento. Ela passa a ter no outro uma referência do que é possível e não uma influência.

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Nenhum programa de televisão, novela, colega de escola ou professor tem a capacidade de mudar a orientação sexual de uma pessoa. A pessoa nasce homossexual e ela se descobre, se entende assim, ao longo da puberdade. Ficou claro?

Homossexualidade não é doença, portanto não tem cura, não tem "ah vai que passa ou ela muda de ideia". Para Freud, a homossexualidade é uma manifestação natural e consequente da bissexualidade humana - para quem não sabe, a psicanálise entende todo e qualquer ser humano como bissexual. Isso quer dizer que temos a habilidade inata a sentir atração sexual e obter prazer por todos os sexos, independente do sexo de quem sente o desejo ou por quem o desejo é direcionado.

Complicado? Para alguns sim. Mas o importante é entender que a orientação sexual de qualquer pessoa nada mais é do que a manifestação do seu desejo. "É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito", escreveu Freud, em 1935.

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Agora acelera a linha do tempo e chega nos dias de hoje: 2023 e nos deparamos com uma sociedade extremamente cruel e injusta: homofobia, racismo, violência de gênero são algumas das atrocidades vividas por muitos adolescentes, jovens e adultos brasileiros.

Não à toa, se faz necessário um marco no calendário para combater a violência contra a população LGBTQIA+. Eu já falei aqui algumas vezes, mas vou repetir: enquanto houver racismo, desigualdade social, homofobia, violência contra meninas e mulheres e/ou preconceitos de qualquer natureza que violem a liberdade e os direitos humanos de outras pessoas, será necessário que tenhamos marcos no calendário para combater tais brutalidades.

Porque são nessas datas, são nesses momentos que as campanhas ganham holofotes, as vozes ganham amplitude e a sociedade é capaz de escutar de maneira mais sensível e empática. São momentos em que a gente marca no calendário da História Humana as mudanças sociais.

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Veja, só em 2022 que o IBGE incluiu no relatório o percentual de brasileiros adultos que se declaram gays, lésbicas, assexuais, bissexuais ou transgênero. E foi a partir deste movimento que, pela primeira vez eu reforço, pudemos ter dimensão social do número desta população que nos compõe.

São cerca de 19 milhões de pessoas que, até 2022, não existiam no Censo, 12% da população adulta brasileira e, claro, este número é maior. Sabemos. Mas são esses números, são essas dimensões, que nos dão a amplitude da sua importância. E são esses números que ajudam a dar sustento à elaboração e garantia de políticas públicas de proteção e direitos da comunidade.

O tema é tão importante que foi a escolha da 27º. Parada LGBTQIA+ que aconteceu no começo de junho, na Av. Paulista, e levou 3 milhões de pessoas às ruas sob o tema "Queremos políticas sociais para LGBTQIA+ por inteiro e não pela metade". Afinal, quem é que nasceu para existir pela metade?

Existimos todos por inteiro, portanto, os direitos precisam corresponder a integralidade de todo e qualquer ser humano. As diferenças existem, mesmo não devendo existir e é por isso que o mês de junho marca o Orgulho LGBTQIA+.

Em passagem pelo evento, o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, declarou que "é dever do Estado garantir a comunidade LGBTQIA+ o direito de existir". "O que se reivindica aqui não é um favor. É um direito. É dever do estado brasileiro zelar pela saúde, garantir educação, garantir que todas as pessoas tenham acesso a emprego e renda de forma digna. Essa é a luta que temos que fazer", ressaltou em entrevista ao UOL.

Direito também de viver. Só este ano, o Disque 100 registrou 767 denúncias de violências sofridas por pessoas LGBTQIA+ de janeiro a maio deste ano no estado de São Paulo. A informação é do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Em todo o país, o número foi de 2.536 denúncias, contra apenas 565 no mesmo período de 2022 - o que indica um aumento de 303%. Entre as violências sofridas, 78,8% são psicológicas, 31,3% físicas e 18,4% sexual. A chance de uma pessoa LGBTQIA+ sofrer violência é 3 vezes maior que de uma pessoa heterossexual, segundo estudo inédito de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais.

Impossível olhar esses dados e não se mobilizar, certo? Por isto este espaço aqui, por isto este texto, a bandeira que juntos a gente ajuda a levantar e sustentar. Na tentativa social de provocar mudanças e reforçar a necessidade de leis e políticas públicas.

É urgente a gente pensar - e repensar - nosso papel nesta causa e em todas as outras que envolvam a violação de direitos humanos de pessoas como a gente. Gente. Somos "gentes" que precisam ser cuidadas e respeitadas. E não existe ninguém melhor que ninguém. Parece óbvio, certo? Mas às vezes a gente precisa garantir o indiscutível para seguir adiante.

Mães, pais e responsáveis legais, acolham seus filhos e filhas. Este amor deveria ser inegociável e estar acima de qualquer crença ou ideal de família Doriana. É compreensível o choque, mas é inadmissível o preconceito, a rejeição, a violência cotidiana de tentar mudar a cabeça do seu filho.

Busque informação, busque entender a homossexualidade para poder lidar com ela do lugar do conhecimento e não da ignorância. Quando um adolescente consegue verbalizar, contar, sobre seu desejo é porque existe uma certeza dentro dele muito grande que precisa ser acolhida.

Quando um filho ou filha chega para um pai ou uma mãe e diz que é homossexual, o que ele procura é a sua aprovação, o seu abraço e a sua garantia de que nada, nunca, vai mudar o que você sente por ele. Porque é isto que vai dar forças para que ele enfrente o preconceito fora de casa: a certeza do amor. O teu amor.

Ainda que a descoberta da homossexualidade do filho ou filha cause uma série de sentimentos ambíguos a muitas mães e pais, é preciso aprender a acolher e demonstrar amor a este ser que já terá um mundo para enfrentar fora de casa

"Tô sem saber o que fazer ou falar e peço conselhos de quem já passou ou está passando por isso", escreveu uma mãe num grupo de apoio materno do Facebook. "Meu filho tem 17 anos e esses dias veio me falar que é gay e tá até de namoro com outro menino, mas gente ele nunca deu sinais, pelo contrário, diz que já namorou com menina. Meu medo é dele estar se precipitando, dele assumir pra todo mundo ser gay, sofrer com o preconceito das pessoas e depois descobrir que não era isso mesmo. Tenho medo do que pode causar na cabeça dele. Eu já falei que vou estar do lado dele sempre, pra qualquer coisa, só quero que ele tenha certeza", termina.

O relato desta mãe é comum a muitas outras. Na sequência da sua fala, outras semelhantes surgiram entre respostas e conselhos. É compreensível o espanto de uma mãe ao descobrir a homossexualidade do filho e eu digo isto não para justificar qualquer tipo de homofobia, mas para que a gente aprenda a acolher a dor desta mulher. Dor, mas que dor?

Para muitas mães que ainda acreditam no ideal de família Doriana (os mais velhos entenderão) é um choque. E é um choque porque essa mulher foi ensinada que uma família deve ser composta por um homem, na figura de pai, e a dela na figura de mãe. Quando esta mulher se depara com a fala do filho dizendo que é gay, ela se depara também com a urgência em desconstruir uma crença de séculos.

Foto FreePik  

Esta mãe vai precisar romper com o ideal de filho que sonhou e reconstruir dentro da sua cabeça, do seu racional inconsciente, todo o complexo contexto que sustenta o amor por aquele filho. É preciso que se compreenda esse processo psicológico para entender a fala desta mãe e de muitas outras. Do contrário, vamos julgá-las como homofóbicas e preconceituosas. E o que é ser preconceituosa?

Preconceito é o ato de julgar algo ou alguém. É quando se faz um juízo sem procurar conhecer ou saber mais sobre determinado assunto ou pessoa. No Brasil, como no mundo, o preconceito tem muitas faces - racista, intolerante a diferentes religiões, machista - e a homofóbica é uma delas.

Sem saber, sem conhecer, apenas julgando, pessoas formulam opiniões sobre outras pessoas. Se julgam capazes de dizer o que é melhor ou não ao outro, ou o que é certo ou errado de acordo com suas crenças e opiniões. Mas qual o limite entre o que eu acho e o respeito ao outro?

Qual o limite entre a sua opinião, o seu julgamento, e o que o torna crime de racismo, homofobia, lesbofobia, feminicídio, entre outras violências? Qual linha é ultrapassada por uma pessoa quando ela ofende ou violenta outra pessoa que qualifica como crime? E por que - por que - mães, pais e responsáveis legais têm tanto medo de descobrir a homossexualidade de um filho? O que causa tanto medo ou estranhamento?

Falta informação, falta conhecimento a muitas pessoas, inclusive para quem é mãe. Falta entender que quando um filho ou filha se diz gay ou lésbica aos 17 anos não é algo precipitado ou passageiro. Aquele ser sabe muito bem o que ele está falando e é desta certeza que a conversa precisa partir.

Outra mãe, no mesmo grupo, questiona como os jovens podem ter certeza da orientação sexual se "mal começaram a vida". "Minha filha tem 13 anos, mas desde os 12 me disse que é lésbica. Conversei com ela que o tempo vai dizer e ela me disse que na escola as meninas ficam se beijando. Será que de tanto ver também teve vontade? Nunca permiti que visse novelas ou Malhação, nada que tivesse beijos pra não querer namorar cedo e focar nos estudos. Mas ela me disse que sentiu algo diferente por uma menina. Alguém já passou por isso?".

Vamos lá, homossexualidade não é moda. Ninguém decide ser gay ou lésbica porque viu meninos se beijarem ou meninas se beijarem. O fato disto acontecer, ao contrário do que muitos pensam, pode ajudar este menino ou menina a compreender seu desejo ou sentimento. Ela passa a ter no outro uma referência do que é possível e não uma influência.

Nenhum programa de televisão, novela, colega de escola ou professor tem a capacidade de mudar a orientação sexual de uma pessoa. A pessoa nasce homossexual e ela se descobre, se entende assim, ao longo da puberdade. Ficou claro?

Homossexualidade não é doença, portanto não tem cura, não tem "ah vai que passa ou ela muda de ideia". Para Freud, a homossexualidade é uma manifestação natural e consequente da bissexualidade humana - para quem não sabe, a psicanálise entende todo e qualquer ser humano como bissexual. Isso quer dizer que temos a habilidade inata a sentir atração sexual e obter prazer por todos os sexos, independente do sexo de quem sente o desejo ou por quem o desejo é direcionado.

Complicado? Para alguns sim. Mas o importante é entender que a orientação sexual de qualquer pessoa nada mais é do que a manifestação do seu desejo. "É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito", escreveu Freud, em 1935.

Agora acelera a linha do tempo e chega nos dias de hoje: 2023 e nos deparamos com uma sociedade extremamente cruel e injusta: homofobia, racismo, violência de gênero são algumas das atrocidades vividas por muitos adolescentes, jovens e adultos brasileiros.

Não à toa, se faz necessário um marco no calendário para combater a violência contra a população LGBTQIA+. Eu já falei aqui algumas vezes, mas vou repetir: enquanto houver racismo, desigualdade social, homofobia, violência contra meninas e mulheres e/ou preconceitos de qualquer natureza que violem a liberdade e os direitos humanos de outras pessoas, será necessário que tenhamos marcos no calendário para combater tais brutalidades.

Porque são nessas datas, são nesses momentos que as campanhas ganham holofotes, as vozes ganham amplitude e a sociedade é capaz de escutar de maneira mais sensível e empática. São momentos em que a gente marca no calendário da História Humana as mudanças sociais.

Veja, só em 2022 que o IBGE incluiu no relatório o percentual de brasileiros adultos que se declaram gays, lésbicas, assexuais, bissexuais ou transgênero. E foi a partir deste movimento que, pela primeira vez eu reforço, pudemos ter dimensão social do número desta população que nos compõe.

São cerca de 19 milhões de pessoas que, até 2022, não existiam no Censo, 12% da população adulta brasileira e, claro, este número é maior. Sabemos. Mas são esses números, são essas dimensões, que nos dão a amplitude da sua importância. E são esses números que ajudam a dar sustento à elaboração e garantia de políticas públicas de proteção e direitos da comunidade.

O tema é tão importante que foi a escolha da 27º. Parada LGBTQIA+ que aconteceu no começo de junho, na Av. Paulista, e levou 3 milhões de pessoas às ruas sob o tema "Queremos políticas sociais para LGBTQIA+ por inteiro e não pela metade". Afinal, quem é que nasceu para existir pela metade?

Existimos todos por inteiro, portanto, os direitos precisam corresponder a integralidade de todo e qualquer ser humano. As diferenças existem, mesmo não devendo existir e é por isso que o mês de junho marca o Orgulho LGBTQIA+.

Em passagem pelo evento, o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, declarou que "é dever do Estado garantir a comunidade LGBTQIA+ o direito de existir". "O que se reivindica aqui não é um favor. É um direito. É dever do estado brasileiro zelar pela saúde, garantir educação, garantir que todas as pessoas tenham acesso a emprego e renda de forma digna. Essa é a luta que temos que fazer", ressaltou em entrevista ao UOL.

Direito também de viver. Só este ano, o Disque 100 registrou 767 denúncias de violências sofridas por pessoas LGBTQIA+ de janeiro a maio deste ano no estado de São Paulo. A informação é do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Em todo o país, o número foi de 2.536 denúncias, contra apenas 565 no mesmo período de 2022 - o que indica um aumento de 303%. Entre as violências sofridas, 78,8% são psicológicas, 31,3% físicas e 18,4% sexual. A chance de uma pessoa LGBTQIA+ sofrer violência é 3 vezes maior que de uma pessoa heterossexual, segundo estudo inédito de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais.

Impossível olhar esses dados e não se mobilizar, certo? Por isto este espaço aqui, por isto este texto, a bandeira que juntos a gente ajuda a levantar e sustentar. Na tentativa social de provocar mudanças e reforçar a necessidade de leis e políticas públicas.

É urgente a gente pensar - e repensar - nosso papel nesta causa e em todas as outras que envolvam a violação de direitos humanos de pessoas como a gente. Gente. Somos "gentes" que precisam ser cuidadas e respeitadas. E não existe ninguém melhor que ninguém. Parece óbvio, certo? Mas às vezes a gente precisa garantir o indiscutível para seguir adiante.

Mães, pais e responsáveis legais, acolham seus filhos e filhas. Este amor deveria ser inegociável e estar acima de qualquer crença ou ideal de família Doriana. É compreensível o choque, mas é inadmissível o preconceito, a rejeição, a violência cotidiana de tentar mudar a cabeça do seu filho.

Busque informação, busque entender a homossexualidade para poder lidar com ela do lugar do conhecimento e não da ignorância. Quando um adolescente consegue verbalizar, contar, sobre seu desejo é porque existe uma certeza dentro dele muito grande que precisa ser acolhida.

Quando um filho ou filha chega para um pai ou uma mãe e diz que é homossexual, o que ele procura é a sua aprovação, o seu abraço e a sua garantia de que nada, nunca, vai mudar o que você sente por ele. Porque é isto que vai dar forças para que ele enfrente o preconceito fora de casa: a certeza do amor. O teu amor.

Ainda que a descoberta da homossexualidade do filho ou filha cause uma série de sentimentos ambíguos a muitas mães e pais, é preciso aprender a acolher e demonstrar amor a este ser que já terá um mundo para enfrentar fora de casa

"Tô sem saber o que fazer ou falar e peço conselhos de quem já passou ou está passando por isso", escreveu uma mãe num grupo de apoio materno do Facebook. "Meu filho tem 17 anos e esses dias veio me falar que é gay e tá até de namoro com outro menino, mas gente ele nunca deu sinais, pelo contrário, diz que já namorou com menina. Meu medo é dele estar se precipitando, dele assumir pra todo mundo ser gay, sofrer com o preconceito das pessoas e depois descobrir que não era isso mesmo. Tenho medo do que pode causar na cabeça dele. Eu já falei que vou estar do lado dele sempre, pra qualquer coisa, só quero que ele tenha certeza", termina.

O relato desta mãe é comum a muitas outras. Na sequência da sua fala, outras semelhantes surgiram entre respostas e conselhos. É compreensível o espanto de uma mãe ao descobrir a homossexualidade do filho e eu digo isto não para justificar qualquer tipo de homofobia, mas para que a gente aprenda a acolher a dor desta mulher. Dor, mas que dor?

Para muitas mães que ainda acreditam no ideal de família Doriana (os mais velhos entenderão) é um choque. E é um choque porque essa mulher foi ensinada que uma família deve ser composta por um homem, na figura de pai, e a dela na figura de mãe. Quando esta mulher se depara com a fala do filho dizendo que é gay, ela se depara também com a urgência em desconstruir uma crença de séculos.

Foto FreePik  

Esta mãe vai precisar romper com o ideal de filho que sonhou e reconstruir dentro da sua cabeça, do seu racional inconsciente, todo o complexo contexto que sustenta o amor por aquele filho. É preciso que se compreenda esse processo psicológico para entender a fala desta mãe e de muitas outras. Do contrário, vamos julgá-las como homofóbicas e preconceituosas. E o que é ser preconceituosa?

Preconceito é o ato de julgar algo ou alguém. É quando se faz um juízo sem procurar conhecer ou saber mais sobre determinado assunto ou pessoa. No Brasil, como no mundo, o preconceito tem muitas faces - racista, intolerante a diferentes religiões, machista - e a homofóbica é uma delas.

Sem saber, sem conhecer, apenas julgando, pessoas formulam opiniões sobre outras pessoas. Se julgam capazes de dizer o que é melhor ou não ao outro, ou o que é certo ou errado de acordo com suas crenças e opiniões. Mas qual o limite entre o que eu acho e o respeito ao outro?

Qual o limite entre a sua opinião, o seu julgamento, e o que o torna crime de racismo, homofobia, lesbofobia, feminicídio, entre outras violências? Qual linha é ultrapassada por uma pessoa quando ela ofende ou violenta outra pessoa que qualifica como crime? E por que - por que - mães, pais e responsáveis legais têm tanto medo de descobrir a homossexualidade de um filho? O que causa tanto medo ou estranhamento?

Falta informação, falta conhecimento a muitas pessoas, inclusive para quem é mãe. Falta entender que quando um filho ou filha se diz gay ou lésbica aos 17 anos não é algo precipitado ou passageiro. Aquele ser sabe muito bem o que ele está falando e é desta certeza que a conversa precisa partir.

Outra mãe, no mesmo grupo, questiona como os jovens podem ter certeza da orientação sexual se "mal começaram a vida". "Minha filha tem 13 anos, mas desde os 12 me disse que é lésbica. Conversei com ela que o tempo vai dizer e ela me disse que na escola as meninas ficam se beijando. Será que de tanto ver também teve vontade? Nunca permiti que visse novelas ou Malhação, nada que tivesse beijos pra não querer namorar cedo e focar nos estudos. Mas ela me disse que sentiu algo diferente por uma menina. Alguém já passou por isso?".

Vamos lá, homossexualidade não é moda. Ninguém decide ser gay ou lésbica porque viu meninos se beijarem ou meninas se beijarem. O fato disto acontecer, ao contrário do que muitos pensam, pode ajudar este menino ou menina a compreender seu desejo ou sentimento. Ela passa a ter no outro uma referência do que é possível e não uma influência.

Nenhum programa de televisão, novela, colega de escola ou professor tem a capacidade de mudar a orientação sexual de uma pessoa. A pessoa nasce homossexual e ela se descobre, se entende assim, ao longo da puberdade. Ficou claro?

Homossexualidade não é doença, portanto não tem cura, não tem "ah vai que passa ou ela muda de ideia". Para Freud, a homossexualidade é uma manifestação natural e consequente da bissexualidade humana - para quem não sabe, a psicanálise entende todo e qualquer ser humano como bissexual. Isso quer dizer que temos a habilidade inata a sentir atração sexual e obter prazer por todos os sexos, independente do sexo de quem sente o desejo ou por quem o desejo é direcionado.

Complicado? Para alguns sim. Mas o importante é entender que a orientação sexual de qualquer pessoa nada mais é do que a manifestação do seu desejo. "É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito", escreveu Freud, em 1935.

Agora acelera a linha do tempo e chega nos dias de hoje: 2023 e nos deparamos com uma sociedade extremamente cruel e injusta: homofobia, racismo, violência de gênero são algumas das atrocidades vividas por muitos adolescentes, jovens e adultos brasileiros.

Não à toa, se faz necessário um marco no calendário para combater a violência contra a população LGBTQIA+. Eu já falei aqui algumas vezes, mas vou repetir: enquanto houver racismo, desigualdade social, homofobia, violência contra meninas e mulheres e/ou preconceitos de qualquer natureza que violem a liberdade e os direitos humanos de outras pessoas, será necessário que tenhamos marcos no calendário para combater tais brutalidades.

Porque são nessas datas, são nesses momentos que as campanhas ganham holofotes, as vozes ganham amplitude e a sociedade é capaz de escutar de maneira mais sensível e empática. São momentos em que a gente marca no calendário da História Humana as mudanças sociais.

Veja, só em 2022 que o IBGE incluiu no relatório o percentual de brasileiros adultos que se declaram gays, lésbicas, assexuais, bissexuais ou transgênero. E foi a partir deste movimento que, pela primeira vez eu reforço, pudemos ter dimensão social do número desta população que nos compõe.

São cerca de 19 milhões de pessoas que, até 2022, não existiam no Censo, 12% da população adulta brasileira e, claro, este número é maior. Sabemos. Mas são esses números, são essas dimensões, que nos dão a amplitude da sua importância. E são esses números que ajudam a dar sustento à elaboração e garantia de políticas públicas de proteção e direitos da comunidade.

O tema é tão importante que foi a escolha da 27º. Parada LGBTQIA+ que aconteceu no começo de junho, na Av. Paulista, e levou 3 milhões de pessoas às ruas sob o tema "Queremos políticas sociais para LGBTQIA+ por inteiro e não pela metade". Afinal, quem é que nasceu para existir pela metade?

Existimos todos por inteiro, portanto, os direitos precisam corresponder a integralidade de todo e qualquer ser humano. As diferenças existem, mesmo não devendo existir e é por isso que o mês de junho marca o Orgulho LGBTQIA+.

Em passagem pelo evento, o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, declarou que "é dever do Estado garantir a comunidade LGBTQIA+ o direito de existir". "O que se reivindica aqui não é um favor. É um direito. É dever do estado brasileiro zelar pela saúde, garantir educação, garantir que todas as pessoas tenham acesso a emprego e renda de forma digna. Essa é a luta que temos que fazer", ressaltou em entrevista ao UOL.

Direito também de viver. Só este ano, o Disque 100 registrou 767 denúncias de violências sofridas por pessoas LGBTQIA+ de janeiro a maio deste ano no estado de São Paulo. A informação é do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Em todo o país, o número foi de 2.536 denúncias, contra apenas 565 no mesmo período de 2022 - o que indica um aumento de 303%. Entre as violências sofridas, 78,8% são psicológicas, 31,3% físicas e 18,4% sexual. A chance de uma pessoa LGBTQIA+ sofrer violência é 3 vezes maior que de uma pessoa heterossexual, segundo estudo inédito de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais.

Impossível olhar esses dados e não se mobilizar, certo? Por isto este espaço aqui, por isto este texto, a bandeira que juntos a gente ajuda a levantar e sustentar. Na tentativa social de provocar mudanças e reforçar a necessidade de leis e políticas públicas.

É urgente a gente pensar - e repensar - nosso papel nesta causa e em todas as outras que envolvam a violação de direitos humanos de pessoas como a gente. Gente. Somos "gentes" que precisam ser cuidadas e respeitadas. E não existe ninguém melhor que ninguém. Parece óbvio, certo? Mas às vezes a gente precisa garantir o indiscutível para seguir adiante.

Mães, pais e responsáveis legais, acolham seus filhos e filhas. Este amor deveria ser inegociável e estar acima de qualquer crença ou ideal de família Doriana. É compreensível o choque, mas é inadmissível o preconceito, a rejeição, a violência cotidiana de tentar mudar a cabeça do seu filho.

Busque informação, busque entender a homossexualidade para poder lidar com ela do lugar do conhecimento e não da ignorância. Quando um adolescente consegue verbalizar, contar, sobre seu desejo é porque existe uma certeza dentro dele muito grande que precisa ser acolhida.

Quando um filho ou filha chega para um pai ou uma mãe e diz que é homossexual, o que ele procura é a sua aprovação, o seu abraço e a sua garantia de que nada, nunca, vai mudar o que você sente por ele. Porque é isto que vai dar forças para que ele enfrente o preconceito fora de casa: a certeza do amor. O teu amor.

Ainda que a descoberta da homossexualidade do filho ou filha cause uma série de sentimentos ambíguos a muitas mães e pais, é preciso aprender a acolher e demonstrar amor a este ser que já terá um mundo para enfrentar fora de casa

"Tô sem saber o que fazer ou falar e peço conselhos de quem já passou ou está passando por isso", escreveu uma mãe num grupo de apoio materno do Facebook. "Meu filho tem 17 anos e esses dias veio me falar que é gay e tá até de namoro com outro menino, mas gente ele nunca deu sinais, pelo contrário, diz que já namorou com menina. Meu medo é dele estar se precipitando, dele assumir pra todo mundo ser gay, sofrer com o preconceito das pessoas e depois descobrir que não era isso mesmo. Tenho medo do que pode causar na cabeça dele. Eu já falei que vou estar do lado dele sempre, pra qualquer coisa, só quero que ele tenha certeza", termina.

O relato desta mãe é comum a muitas outras. Na sequência da sua fala, outras semelhantes surgiram entre respostas e conselhos. É compreensível o espanto de uma mãe ao descobrir a homossexualidade do filho e eu digo isto não para justificar qualquer tipo de homofobia, mas para que a gente aprenda a acolher a dor desta mulher. Dor, mas que dor?

Para muitas mães que ainda acreditam no ideal de família Doriana (os mais velhos entenderão) é um choque. E é um choque porque essa mulher foi ensinada que uma família deve ser composta por um homem, na figura de pai, e a dela na figura de mãe. Quando esta mulher se depara com a fala do filho dizendo que é gay, ela se depara também com a urgência em desconstruir uma crença de séculos.

Foto FreePik  

Esta mãe vai precisar romper com o ideal de filho que sonhou e reconstruir dentro da sua cabeça, do seu racional inconsciente, todo o complexo contexto que sustenta o amor por aquele filho. É preciso que se compreenda esse processo psicológico para entender a fala desta mãe e de muitas outras. Do contrário, vamos julgá-las como homofóbicas e preconceituosas. E o que é ser preconceituosa?

Preconceito é o ato de julgar algo ou alguém. É quando se faz um juízo sem procurar conhecer ou saber mais sobre determinado assunto ou pessoa. No Brasil, como no mundo, o preconceito tem muitas faces - racista, intolerante a diferentes religiões, machista - e a homofóbica é uma delas.

Sem saber, sem conhecer, apenas julgando, pessoas formulam opiniões sobre outras pessoas. Se julgam capazes de dizer o que é melhor ou não ao outro, ou o que é certo ou errado de acordo com suas crenças e opiniões. Mas qual o limite entre o que eu acho e o respeito ao outro?

Qual o limite entre a sua opinião, o seu julgamento, e o que o torna crime de racismo, homofobia, lesbofobia, feminicídio, entre outras violências? Qual linha é ultrapassada por uma pessoa quando ela ofende ou violenta outra pessoa que qualifica como crime? E por que - por que - mães, pais e responsáveis legais têm tanto medo de descobrir a homossexualidade de um filho? O que causa tanto medo ou estranhamento?

Falta informação, falta conhecimento a muitas pessoas, inclusive para quem é mãe. Falta entender que quando um filho ou filha se diz gay ou lésbica aos 17 anos não é algo precipitado ou passageiro. Aquele ser sabe muito bem o que ele está falando e é desta certeza que a conversa precisa partir.

Outra mãe, no mesmo grupo, questiona como os jovens podem ter certeza da orientação sexual se "mal começaram a vida". "Minha filha tem 13 anos, mas desde os 12 me disse que é lésbica. Conversei com ela que o tempo vai dizer e ela me disse que na escola as meninas ficam se beijando. Será que de tanto ver também teve vontade? Nunca permiti que visse novelas ou Malhação, nada que tivesse beijos pra não querer namorar cedo e focar nos estudos. Mas ela me disse que sentiu algo diferente por uma menina. Alguém já passou por isso?".

Vamos lá, homossexualidade não é moda. Ninguém decide ser gay ou lésbica porque viu meninos se beijarem ou meninas se beijarem. O fato disto acontecer, ao contrário do que muitos pensam, pode ajudar este menino ou menina a compreender seu desejo ou sentimento. Ela passa a ter no outro uma referência do que é possível e não uma influência.

Nenhum programa de televisão, novela, colega de escola ou professor tem a capacidade de mudar a orientação sexual de uma pessoa. A pessoa nasce homossexual e ela se descobre, se entende assim, ao longo da puberdade. Ficou claro?

Homossexualidade não é doença, portanto não tem cura, não tem "ah vai que passa ou ela muda de ideia". Para Freud, a homossexualidade é uma manifestação natural e consequente da bissexualidade humana - para quem não sabe, a psicanálise entende todo e qualquer ser humano como bissexual. Isso quer dizer que temos a habilidade inata a sentir atração sexual e obter prazer por todos os sexos, independente do sexo de quem sente o desejo ou por quem o desejo é direcionado.

Complicado? Para alguns sim. Mas o importante é entender que a orientação sexual de qualquer pessoa nada mais é do que a manifestação do seu desejo. "É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito", escreveu Freud, em 1935.

Agora acelera a linha do tempo e chega nos dias de hoje: 2023 e nos deparamos com uma sociedade extremamente cruel e injusta: homofobia, racismo, violência de gênero são algumas das atrocidades vividas por muitos adolescentes, jovens e adultos brasileiros.

Não à toa, se faz necessário um marco no calendário para combater a violência contra a população LGBTQIA+. Eu já falei aqui algumas vezes, mas vou repetir: enquanto houver racismo, desigualdade social, homofobia, violência contra meninas e mulheres e/ou preconceitos de qualquer natureza que violem a liberdade e os direitos humanos de outras pessoas, será necessário que tenhamos marcos no calendário para combater tais brutalidades.

Porque são nessas datas, são nesses momentos que as campanhas ganham holofotes, as vozes ganham amplitude e a sociedade é capaz de escutar de maneira mais sensível e empática. São momentos em que a gente marca no calendário da História Humana as mudanças sociais.

Veja, só em 2022 que o IBGE incluiu no relatório o percentual de brasileiros adultos que se declaram gays, lésbicas, assexuais, bissexuais ou transgênero. E foi a partir deste movimento que, pela primeira vez eu reforço, pudemos ter dimensão social do número desta população que nos compõe.

São cerca de 19 milhões de pessoas que, até 2022, não existiam no Censo, 12% da população adulta brasileira e, claro, este número é maior. Sabemos. Mas são esses números, são essas dimensões, que nos dão a amplitude da sua importância. E são esses números que ajudam a dar sustento à elaboração e garantia de políticas públicas de proteção e direitos da comunidade.

O tema é tão importante que foi a escolha da 27º. Parada LGBTQIA+ que aconteceu no começo de junho, na Av. Paulista, e levou 3 milhões de pessoas às ruas sob o tema "Queremos políticas sociais para LGBTQIA+ por inteiro e não pela metade". Afinal, quem é que nasceu para existir pela metade?

Existimos todos por inteiro, portanto, os direitos precisam corresponder a integralidade de todo e qualquer ser humano. As diferenças existem, mesmo não devendo existir e é por isso que o mês de junho marca o Orgulho LGBTQIA+.

Em passagem pelo evento, o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, declarou que "é dever do Estado garantir a comunidade LGBTQIA+ o direito de existir". "O que se reivindica aqui não é um favor. É um direito. É dever do estado brasileiro zelar pela saúde, garantir educação, garantir que todas as pessoas tenham acesso a emprego e renda de forma digna. Essa é a luta que temos que fazer", ressaltou em entrevista ao UOL.

Direito também de viver. Só este ano, o Disque 100 registrou 767 denúncias de violências sofridas por pessoas LGBTQIA+ de janeiro a maio deste ano no estado de São Paulo. A informação é do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Em todo o país, o número foi de 2.536 denúncias, contra apenas 565 no mesmo período de 2022 - o que indica um aumento de 303%. Entre as violências sofridas, 78,8% são psicológicas, 31,3% físicas e 18,4% sexual. A chance de uma pessoa LGBTQIA+ sofrer violência é 3 vezes maior que de uma pessoa heterossexual, segundo estudo inédito de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais.

Impossível olhar esses dados e não se mobilizar, certo? Por isto este espaço aqui, por isto este texto, a bandeira que juntos a gente ajuda a levantar e sustentar. Na tentativa social de provocar mudanças e reforçar a necessidade de leis e políticas públicas.

É urgente a gente pensar - e repensar - nosso papel nesta causa e em todas as outras que envolvam a violação de direitos humanos de pessoas como a gente. Gente. Somos "gentes" que precisam ser cuidadas e respeitadas. E não existe ninguém melhor que ninguém. Parece óbvio, certo? Mas às vezes a gente precisa garantir o indiscutível para seguir adiante.

Mães, pais e responsáveis legais, acolham seus filhos e filhas. Este amor deveria ser inegociável e estar acima de qualquer crença ou ideal de família Doriana. É compreensível o choque, mas é inadmissível o preconceito, a rejeição, a violência cotidiana de tentar mudar a cabeça do seu filho.

Busque informação, busque entender a homossexualidade para poder lidar com ela do lugar do conhecimento e não da ignorância. Quando um adolescente consegue verbalizar, contar, sobre seu desejo é porque existe uma certeza dentro dele muito grande que precisa ser acolhida.

Quando um filho ou filha chega para um pai ou uma mãe e diz que é homossexual, o que ele procura é a sua aprovação, o seu abraço e a sua garantia de que nada, nunca, vai mudar o que você sente por ele. Porque é isto que vai dar forças para que ele enfrente o preconceito fora de casa: a certeza do amor. O teu amor.

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