Comportamento Adolescente e Educação

Pais neuróticos tendem a criar filhos emocionalmente imaturos


Por Carolina Delboni

Estudos recentes mostram que a superproteção pode ser tão prejudicial quanto a negligência parental, comprometendo a saúde mental e a autonomia das novas gerações

Vivemos a era dos excessos e parece que a superproteção, o superzelo, roubaram lugar do bom senso e equilíbrio. O excesso de controle parental está beirando a neurose e já é possível ver o reflexo em crianças e adolescentes. Cada vez mais, pais e mães optam pela chamada parentalidade excessiva, em que crianças e adolescentes têm pouca - ou quase nenhuma - possibilidade de exercitar a autonomia, seja física ou emocional.

Estamos falando de uma geração de crianças e adolescentes sendo supercontrolada por seus pais. São os adultos que resolvem os conflitos dos filhos. São os adultos que falam o que os filhos gostariam de falar, seja na escola para uma professora, por exemplo, ou para um colega. Eles também resolvem burocracias da faculdade dos filhos. Falam com secretaria e às vezes até com os próprios diretores.

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Os adultos também tendem a desejar pelos próprios filhos. Isso mesmo. Gerando expectativas atrás de expectativas e tendo que administrá-las, pais e mães compram objetos materiais que, muitas vezes, os filhos nem sabem que desejam. É o chamado overparenting, termo muito bem cunhado pelos americanos que também vivem esse cenário minado.

O resultado - quase que obviamente - é o impacto negativo no desenvolvimento infantil e adolescente. Estudos recentes, incluindo uma publicação na Scientific Reports, revelam que filhos de pais superprotetores tendem a ter uma expectativa de vida reduzida, com riscos aumentados de morte prematura, em até 22% para mulheres e 12% para homens, que vivenciaram esse tipo de parentalidade na infância.

Os resultados fazem parte de uma pesquisa conduzida com quase mil idosos britânicos, realizada no contexto do Estudo Longitudinal de Saúde da Inglaterra (ELSA, na sigla em inglês). O estudo revelou que filhos de pais superprotetores, ou autoritários têm uma maior propensão a uma expectativa de vida menor.

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O termo overparenting, ou obsessão de pais em guiar e proteger seus filhos, descreve um comportamento em que os genitores movidos por uma ansiedade constante e um medo profundo de falhar, interferem em todos os aspectos da vida de seus filhos.

Aparentemente, esse tipo de parentalidade não só impede que as crianças experimentem as frustrações naturais da vida, mas também as priva do desenvolvimento emocional e social essencial para a formação de adultos resilientes e autônomos.

Segundo estudo publicado no Journal of Child and Family Studies, o neuroticismo parental está diretamente ligado a um aumento nos problemas emocionais em adolescentes. Foto Nicoleta Ionescu/ Adobe Stock  
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Consequências psicológicas do neuroticismo parental Para contextualizar, o neuroticismo é um traço de personalidade caracterizado por uma tendência a experimentar emoções negativas com frequência e intensidade. Isto é, pessoas com altos níveis de neuroticismo tendem a ser mais propensas a sentir ansiedade, insegurança, irritabilidade, tristeza e preocupações excessivas.

No contexto da parentalidade, o neuroticismo pode afetar como os pais interagem com seus filhos, muitas vezes levando a comportamentos superprotetores ou controladores, impactando negativamente o desenvolvimento emocional e social das crianças.

Um estudo realizado pela Universidade de Coimbra (2021), em Portugal, investigou como as dificuldades na regulação emocional e a parentalidade consciente influenciam a relação entre o neuroticismo dos pais e a resposta emocional negativa das crianças em idade escolar.

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A pesquisa contou com a participação de 416 pais de crianças entre 8 e 12 anos, que responderam a questionários para avaliar o nível de neuroticismo, a reatividade emocional das crianças, a atenção plena na parentalidade e as dificuldades na regulação emocional. Os dados foram coletados em escolas públicas no centro de Portugal.

Os resultados mostraram que há uma ligação clara entre o neuroticismo dos pais e a reação emocional negativa das crianças. Além disso, o estudo destacou que a dificuldade dos pais em controlar suas próprias emoções e em praticar uma parentalidade mais consciente contribuem para a insegurança de crianças e adolescentes.

Equilibrar é urgente A psicologia já estabeleceu que a qualidade da relação entre pais e filhos é um fator determinante para a saúde mental e o bem-estar geral das crianças. Segundo estudo publicado no Journal of Child and Family Studies, o neuroticismo parental está diretamente ligado a um aumento nos problemas emocionais em adolescentes.

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Isso ocorre porque pais neuróticos tendem a adotar práticas parentais disruptivas, como a disciplina inconstante e o controle psicológico, conhecidos por exacerbar comportamentos problemáticos e fragilizados em jovens.

O excesso de controle, limita o desenvolvimento de habilidades importantes, como a capacidade de resolver problemas de modo independente e a autorregulação emocional, ambas fundamentais para enfrentar os desafios da vida adulta.

A teoria da parentalidade "boa o suficiente", introduzida pelo pediatra e psicanalista Donald Woods Winnicott, propõe que os pais ofereçam um ambiente seguro, mas que também permitam que seus filhos experimentem e aprendam com as dificuldades da vida. O equilíbrio promove o desenvolvimento de resiliência, autoconfiança e autonomia, qualidades inestimáveis na vida adulta.

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O desafio da parentalidade no século XXI é encontrar esse equilíbrio delicado entre proteção e liberdade. Embora seja natural que os pais queiram proteger seus filhos de qualquer sofrimento, o controle excessivo pode ser mais danoso do que se imagina.

Os pais precisam entender que, em algum momento, terão que deixar o papel de protetores em tempo real e integral, pois o verdadeiro objetivo da parentalidade é preparar a criança para que ela possa se cuidar de maneira independente para o resto da vida.

O futuro saudável de crianças e adolescentes depende de uma criação que permita seu crescimento emocional e social, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para enfrentar o mundo com confiança e autonomia.

Estudos recentes mostram que a superproteção pode ser tão prejudicial quanto a negligência parental, comprometendo a saúde mental e a autonomia das novas gerações

Vivemos a era dos excessos e parece que a superproteção, o superzelo, roubaram lugar do bom senso e equilíbrio. O excesso de controle parental está beirando a neurose e já é possível ver o reflexo em crianças e adolescentes. Cada vez mais, pais e mães optam pela chamada parentalidade excessiva, em que crianças e adolescentes têm pouca - ou quase nenhuma - possibilidade de exercitar a autonomia, seja física ou emocional.

Estamos falando de uma geração de crianças e adolescentes sendo supercontrolada por seus pais. São os adultos que resolvem os conflitos dos filhos. São os adultos que falam o que os filhos gostariam de falar, seja na escola para uma professora, por exemplo, ou para um colega. Eles também resolvem burocracias da faculdade dos filhos. Falam com secretaria e às vezes até com os próprios diretores.

Os adultos também tendem a desejar pelos próprios filhos. Isso mesmo. Gerando expectativas atrás de expectativas e tendo que administrá-las, pais e mães compram objetos materiais que, muitas vezes, os filhos nem sabem que desejam. É o chamado overparenting, termo muito bem cunhado pelos americanos que também vivem esse cenário minado.

O resultado - quase que obviamente - é o impacto negativo no desenvolvimento infantil e adolescente. Estudos recentes, incluindo uma publicação na Scientific Reports, revelam que filhos de pais superprotetores tendem a ter uma expectativa de vida reduzida, com riscos aumentados de morte prematura, em até 22% para mulheres e 12% para homens, que vivenciaram esse tipo de parentalidade na infância.

Os resultados fazem parte de uma pesquisa conduzida com quase mil idosos britânicos, realizada no contexto do Estudo Longitudinal de Saúde da Inglaterra (ELSA, na sigla em inglês). O estudo revelou que filhos de pais superprotetores, ou autoritários têm uma maior propensão a uma expectativa de vida menor.

O termo overparenting, ou obsessão de pais em guiar e proteger seus filhos, descreve um comportamento em que os genitores movidos por uma ansiedade constante e um medo profundo de falhar, interferem em todos os aspectos da vida de seus filhos.

Aparentemente, esse tipo de parentalidade não só impede que as crianças experimentem as frustrações naturais da vida, mas também as priva do desenvolvimento emocional e social essencial para a formação de adultos resilientes e autônomos.

Segundo estudo publicado no Journal of Child and Family Studies, o neuroticismo parental está diretamente ligado a um aumento nos problemas emocionais em adolescentes. Foto Nicoleta Ionescu/ Adobe Stock  

Consequências psicológicas do neuroticismo parental Para contextualizar, o neuroticismo é um traço de personalidade caracterizado por uma tendência a experimentar emoções negativas com frequência e intensidade. Isto é, pessoas com altos níveis de neuroticismo tendem a ser mais propensas a sentir ansiedade, insegurança, irritabilidade, tristeza e preocupações excessivas.

No contexto da parentalidade, o neuroticismo pode afetar como os pais interagem com seus filhos, muitas vezes levando a comportamentos superprotetores ou controladores, impactando negativamente o desenvolvimento emocional e social das crianças.

Um estudo realizado pela Universidade de Coimbra (2021), em Portugal, investigou como as dificuldades na regulação emocional e a parentalidade consciente influenciam a relação entre o neuroticismo dos pais e a resposta emocional negativa das crianças em idade escolar.

A pesquisa contou com a participação de 416 pais de crianças entre 8 e 12 anos, que responderam a questionários para avaliar o nível de neuroticismo, a reatividade emocional das crianças, a atenção plena na parentalidade e as dificuldades na regulação emocional. Os dados foram coletados em escolas públicas no centro de Portugal.

Os resultados mostraram que há uma ligação clara entre o neuroticismo dos pais e a reação emocional negativa das crianças. Além disso, o estudo destacou que a dificuldade dos pais em controlar suas próprias emoções e em praticar uma parentalidade mais consciente contribuem para a insegurança de crianças e adolescentes.

Equilibrar é urgente A psicologia já estabeleceu que a qualidade da relação entre pais e filhos é um fator determinante para a saúde mental e o bem-estar geral das crianças. Segundo estudo publicado no Journal of Child and Family Studies, o neuroticismo parental está diretamente ligado a um aumento nos problemas emocionais em adolescentes.

Isso ocorre porque pais neuróticos tendem a adotar práticas parentais disruptivas, como a disciplina inconstante e o controle psicológico, conhecidos por exacerbar comportamentos problemáticos e fragilizados em jovens.

O excesso de controle, limita o desenvolvimento de habilidades importantes, como a capacidade de resolver problemas de modo independente e a autorregulação emocional, ambas fundamentais para enfrentar os desafios da vida adulta.

A teoria da parentalidade "boa o suficiente", introduzida pelo pediatra e psicanalista Donald Woods Winnicott, propõe que os pais ofereçam um ambiente seguro, mas que também permitam que seus filhos experimentem e aprendam com as dificuldades da vida. O equilíbrio promove o desenvolvimento de resiliência, autoconfiança e autonomia, qualidades inestimáveis na vida adulta.

O desafio da parentalidade no século XXI é encontrar esse equilíbrio delicado entre proteção e liberdade. Embora seja natural que os pais queiram proteger seus filhos de qualquer sofrimento, o controle excessivo pode ser mais danoso do que se imagina.

Os pais precisam entender que, em algum momento, terão que deixar o papel de protetores em tempo real e integral, pois o verdadeiro objetivo da parentalidade é preparar a criança para que ela possa se cuidar de maneira independente para o resto da vida.

O futuro saudável de crianças e adolescentes depende de uma criação que permita seu crescimento emocional e social, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para enfrentar o mundo com confiança e autonomia.

Estudos recentes mostram que a superproteção pode ser tão prejudicial quanto a negligência parental, comprometendo a saúde mental e a autonomia das novas gerações

Vivemos a era dos excessos e parece que a superproteção, o superzelo, roubaram lugar do bom senso e equilíbrio. O excesso de controle parental está beirando a neurose e já é possível ver o reflexo em crianças e adolescentes. Cada vez mais, pais e mães optam pela chamada parentalidade excessiva, em que crianças e adolescentes têm pouca - ou quase nenhuma - possibilidade de exercitar a autonomia, seja física ou emocional.

Estamos falando de uma geração de crianças e adolescentes sendo supercontrolada por seus pais. São os adultos que resolvem os conflitos dos filhos. São os adultos que falam o que os filhos gostariam de falar, seja na escola para uma professora, por exemplo, ou para um colega. Eles também resolvem burocracias da faculdade dos filhos. Falam com secretaria e às vezes até com os próprios diretores.

Os adultos também tendem a desejar pelos próprios filhos. Isso mesmo. Gerando expectativas atrás de expectativas e tendo que administrá-las, pais e mães compram objetos materiais que, muitas vezes, os filhos nem sabem que desejam. É o chamado overparenting, termo muito bem cunhado pelos americanos que também vivem esse cenário minado.

O resultado - quase que obviamente - é o impacto negativo no desenvolvimento infantil e adolescente. Estudos recentes, incluindo uma publicação na Scientific Reports, revelam que filhos de pais superprotetores tendem a ter uma expectativa de vida reduzida, com riscos aumentados de morte prematura, em até 22% para mulheres e 12% para homens, que vivenciaram esse tipo de parentalidade na infância.

Os resultados fazem parte de uma pesquisa conduzida com quase mil idosos britânicos, realizada no contexto do Estudo Longitudinal de Saúde da Inglaterra (ELSA, na sigla em inglês). O estudo revelou que filhos de pais superprotetores, ou autoritários têm uma maior propensão a uma expectativa de vida menor.

O termo overparenting, ou obsessão de pais em guiar e proteger seus filhos, descreve um comportamento em que os genitores movidos por uma ansiedade constante e um medo profundo de falhar, interferem em todos os aspectos da vida de seus filhos.

Aparentemente, esse tipo de parentalidade não só impede que as crianças experimentem as frustrações naturais da vida, mas também as priva do desenvolvimento emocional e social essencial para a formação de adultos resilientes e autônomos.

Segundo estudo publicado no Journal of Child and Family Studies, o neuroticismo parental está diretamente ligado a um aumento nos problemas emocionais em adolescentes. Foto Nicoleta Ionescu/ Adobe Stock  

Consequências psicológicas do neuroticismo parental Para contextualizar, o neuroticismo é um traço de personalidade caracterizado por uma tendência a experimentar emoções negativas com frequência e intensidade. Isto é, pessoas com altos níveis de neuroticismo tendem a ser mais propensas a sentir ansiedade, insegurança, irritabilidade, tristeza e preocupações excessivas.

No contexto da parentalidade, o neuroticismo pode afetar como os pais interagem com seus filhos, muitas vezes levando a comportamentos superprotetores ou controladores, impactando negativamente o desenvolvimento emocional e social das crianças.

Um estudo realizado pela Universidade de Coimbra (2021), em Portugal, investigou como as dificuldades na regulação emocional e a parentalidade consciente influenciam a relação entre o neuroticismo dos pais e a resposta emocional negativa das crianças em idade escolar.

A pesquisa contou com a participação de 416 pais de crianças entre 8 e 12 anos, que responderam a questionários para avaliar o nível de neuroticismo, a reatividade emocional das crianças, a atenção plena na parentalidade e as dificuldades na regulação emocional. Os dados foram coletados em escolas públicas no centro de Portugal.

Os resultados mostraram que há uma ligação clara entre o neuroticismo dos pais e a reação emocional negativa das crianças. Além disso, o estudo destacou que a dificuldade dos pais em controlar suas próprias emoções e em praticar uma parentalidade mais consciente contribuem para a insegurança de crianças e adolescentes.

Equilibrar é urgente A psicologia já estabeleceu que a qualidade da relação entre pais e filhos é um fator determinante para a saúde mental e o bem-estar geral das crianças. Segundo estudo publicado no Journal of Child and Family Studies, o neuroticismo parental está diretamente ligado a um aumento nos problemas emocionais em adolescentes.

Isso ocorre porque pais neuróticos tendem a adotar práticas parentais disruptivas, como a disciplina inconstante e o controle psicológico, conhecidos por exacerbar comportamentos problemáticos e fragilizados em jovens.

O excesso de controle, limita o desenvolvimento de habilidades importantes, como a capacidade de resolver problemas de modo independente e a autorregulação emocional, ambas fundamentais para enfrentar os desafios da vida adulta.

A teoria da parentalidade "boa o suficiente", introduzida pelo pediatra e psicanalista Donald Woods Winnicott, propõe que os pais ofereçam um ambiente seguro, mas que também permitam que seus filhos experimentem e aprendam com as dificuldades da vida. O equilíbrio promove o desenvolvimento de resiliência, autoconfiança e autonomia, qualidades inestimáveis na vida adulta.

O desafio da parentalidade no século XXI é encontrar esse equilíbrio delicado entre proteção e liberdade. Embora seja natural que os pais queiram proteger seus filhos de qualquer sofrimento, o controle excessivo pode ser mais danoso do que se imagina.

Os pais precisam entender que, em algum momento, terão que deixar o papel de protetores em tempo real e integral, pois o verdadeiro objetivo da parentalidade é preparar a criança para que ela possa se cuidar de maneira independente para o resto da vida.

O futuro saudável de crianças e adolescentes depende de uma criação que permita seu crescimento emocional e social, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para enfrentar o mundo com confiança e autonomia.

Estudos recentes mostram que a superproteção pode ser tão prejudicial quanto a negligência parental, comprometendo a saúde mental e a autonomia das novas gerações

Vivemos a era dos excessos e parece que a superproteção, o superzelo, roubaram lugar do bom senso e equilíbrio. O excesso de controle parental está beirando a neurose e já é possível ver o reflexo em crianças e adolescentes. Cada vez mais, pais e mães optam pela chamada parentalidade excessiva, em que crianças e adolescentes têm pouca - ou quase nenhuma - possibilidade de exercitar a autonomia, seja física ou emocional.

Estamos falando de uma geração de crianças e adolescentes sendo supercontrolada por seus pais. São os adultos que resolvem os conflitos dos filhos. São os adultos que falam o que os filhos gostariam de falar, seja na escola para uma professora, por exemplo, ou para um colega. Eles também resolvem burocracias da faculdade dos filhos. Falam com secretaria e às vezes até com os próprios diretores.

Os adultos também tendem a desejar pelos próprios filhos. Isso mesmo. Gerando expectativas atrás de expectativas e tendo que administrá-las, pais e mães compram objetos materiais que, muitas vezes, os filhos nem sabem que desejam. É o chamado overparenting, termo muito bem cunhado pelos americanos que também vivem esse cenário minado.

O resultado - quase que obviamente - é o impacto negativo no desenvolvimento infantil e adolescente. Estudos recentes, incluindo uma publicação na Scientific Reports, revelam que filhos de pais superprotetores tendem a ter uma expectativa de vida reduzida, com riscos aumentados de morte prematura, em até 22% para mulheres e 12% para homens, que vivenciaram esse tipo de parentalidade na infância.

Os resultados fazem parte de uma pesquisa conduzida com quase mil idosos britânicos, realizada no contexto do Estudo Longitudinal de Saúde da Inglaterra (ELSA, na sigla em inglês). O estudo revelou que filhos de pais superprotetores, ou autoritários têm uma maior propensão a uma expectativa de vida menor.

O termo overparenting, ou obsessão de pais em guiar e proteger seus filhos, descreve um comportamento em que os genitores movidos por uma ansiedade constante e um medo profundo de falhar, interferem em todos os aspectos da vida de seus filhos.

Aparentemente, esse tipo de parentalidade não só impede que as crianças experimentem as frustrações naturais da vida, mas também as priva do desenvolvimento emocional e social essencial para a formação de adultos resilientes e autônomos.

Segundo estudo publicado no Journal of Child and Family Studies, o neuroticismo parental está diretamente ligado a um aumento nos problemas emocionais em adolescentes. Foto Nicoleta Ionescu/ Adobe Stock  

Consequências psicológicas do neuroticismo parental Para contextualizar, o neuroticismo é um traço de personalidade caracterizado por uma tendência a experimentar emoções negativas com frequência e intensidade. Isto é, pessoas com altos níveis de neuroticismo tendem a ser mais propensas a sentir ansiedade, insegurança, irritabilidade, tristeza e preocupações excessivas.

No contexto da parentalidade, o neuroticismo pode afetar como os pais interagem com seus filhos, muitas vezes levando a comportamentos superprotetores ou controladores, impactando negativamente o desenvolvimento emocional e social das crianças.

Um estudo realizado pela Universidade de Coimbra (2021), em Portugal, investigou como as dificuldades na regulação emocional e a parentalidade consciente influenciam a relação entre o neuroticismo dos pais e a resposta emocional negativa das crianças em idade escolar.

A pesquisa contou com a participação de 416 pais de crianças entre 8 e 12 anos, que responderam a questionários para avaliar o nível de neuroticismo, a reatividade emocional das crianças, a atenção plena na parentalidade e as dificuldades na regulação emocional. Os dados foram coletados em escolas públicas no centro de Portugal.

Os resultados mostraram que há uma ligação clara entre o neuroticismo dos pais e a reação emocional negativa das crianças. Além disso, o estudo destacou que a dificuldade dos pais em controlar suas próprias emoções e em praticar uma parentalidade mais consciente contribuem para a insegurança de crianças e adolescentes.

Equilibrar é urgente A psicologia já estabeleceu que a qualidade da relação entre pais e filhos é um fator determinante para a saúde mental e o bem-estar geral das crianças. Segundo estudo publicado no Journal of Child and Family Studies, o neuroticismo parental está diretamente ligado a um aumento nos problemas emocionais em adolescentes.

Isso ocorre porque pais neuróticos tendem a adotar práticas parentais disruptivas, como a disciplina inconstante e o controle psicológico, conhecidos por exacerbar comportamentos problemáticos e fragilizados em jovens.

O excesso de controle, limita o desenvolvimento de habilidades importantes, como a capacidade de resolver problemas de modo independente e a autorregulação emocional, ambas fundamentais para enfrentar os desafios da vida adulta.

A teoria da parentalidade "boa o suficiente", introduzida pelo pediatra e psicanalista Donald Woods Winnicott, propõe que os pais ofereçam um ambiente seguro, mas que também permitam que seus filhos experimentem e aprendam com as dificuldades da vida. O equilíbrio promove o desenvolvimento de resiliência, autoconfiança e autonomia, qualidades inestimáveis na vida adulta.

O desafio da parentalidade no século XXI é encontrar esse equilíbrio delicado entre proteção e liberdade. Embora seja natural que os pais queiram proteger seus filhos de qualquer sofrimento, o controle excessivo pode ser mais danoso do que se imagina.

Os pais precisam entender que, em algum momento, terão que deixar o papel de protetores em tempo real e integral, pois o verdadeiro objetivo da parentalidade é preparar a criança para que ela possa se cuidar de maneira independente para o resto da vida.

O futuro saudável de crianças e adolescentes depende de uma criação que permita seu crescimento emocional e social, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para enfrentar o mundo com confiança e autonomia.

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