Comportamento Adolescente e Educação

Redes sociais diminuem satisfação com a vida na adolescência


Por Carolina Delboni

Ainda que eles tenham nascido num contexto totalmente digital, onde não há distinção entre mundo físico e virtual, adolescentes têm sentido os efeitos colaterais das relações nas redes sociais

Chamados de Geração Z, adolescentes nascidos entre 2000 e 2010 também são conhecidos como "nativos digitais". O que significa estarmos diante de um grupo que nasceu num contexto totalmente digital e que não faz distinção entre mundo físico e virtual. Mas "não fazer distinção" não os exime de saber - e sentir - as diferenças entre ambos. E é exatamente este o ponto que tem afetado a saúde mental dos adolescentes.

A distinção entre as possibilidades das relações que acontecem em ambos ambientes tem colocado os jovens diante de conflitos, principalmente após dois anos de isolamento social onde ficou clara a necessidade - e importância - dos afetos físicos, aqueles em se sente o toque, o cheiro e o calor do outro.

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 Foto: Estadão

Não existe tecnologia 4D capaz de reproduzir as sensações por mais que ela avance e, não à toa, adolescentes ocuparam o topo dos índices de saúde mental com depressão, ansiedade e tristeza durante estes tempos. Os reflexos deixados pela pandemia ainda ocupam o dia a dia dos jovens que se deparam, a todo momento, com situações de violência e tristeza profunda.

Recentemente, uma pesquisa realizada pela Nova Escola divulgou que 70% dos professores percebem seus alunos mais violentos e agressivos aos retornarem às aulas pós-pandemia. Segundo a diretora de Educação da Nova Escola, Ana Scachetti, o período agiu sob as habilidades sociais de crianças e adolescentes que agora precisam reaprender a conviver, a socializar.

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O estudo ouviu 5305 educadores de todas regiões brasileiras que atuam na educação básica e entre os principais motivos apontados pelos professores para a agressividade dos estudantes estão o crescimento das doenças psicoemocionais, 50,6%, e o aumento da vulnerabilidade das famílias, 46%.

Entre as tantas consequências negativas da pandemia, crianças e adolescentes não perderam só conteúdo ao não frequentarem os espaços físicos das escolas. Eles perderam a possibilidade de convivência social dentro de um ambiente totalmente cuidado e propício para tal.

A consequência é uma atrofia no desenvolvimento psicoemocional de uma geração que agora enfrenta um cotidiano permeado por sensações e emoções que nunca foram tão características de um grupo. Mas ninguém quer ser reconhecido como parte de uma geração cheia de ansiedade, tristeza, síndrome do pânico e índices de suicídio.

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Para Albertina Lopes, mãe de um adolescente de 17 anos, o sofrimento dele é visível. "Meu filho passa horas na internet, em canais de streaming, jogando e nas redes sociais, mas vejo o quanto este tempo não é saudável para ele", conta. Ela diz que houve um aumento no tempo de uso de eletrônicos pós-pandemia e que o filho não conseguiu reduzir mesmo com a vida voltando ao normal. "Ele se esconde atrás da tela", diz.

A privação neste período, naturalmente, levou crianças e adolescentes a passar mais tempo nas redes sociais e intensificar as relações por lá. Era o único ambiente possível para exercitar a convivência social, ainda que não seja o mais indicado uma vez que sabemos da importância de construir relações onde filtros, app e recursos não estejam à disposição para maquiar a própria identidade.

Segundo um estudo das Universidades de Cambridge, Oxford e do Instituto Donders para Cérebro, Cognição e Comportamento, publicado na revista Nature Communications, jovens são mais vulneráveis aos efeitos negativos das redes sociais.

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Foram 84mil pessoas entrevistadas com idades entre 10 e 80 anos e os dados incluem análises longitudinais, ou seja, eles continuam monitorando as pessoas por um determinado tempo, o que aconteceu com cerca de 17.400 de jovens entre 10 e 21 anos.

O objetivo dos pesquisadores era encontrar a conexão entre o uso das redes sociais e a satisfação com a vida e uma das principais percepções é de que existem períodos da adolescência em que o uso de mídia social está realmente associado a uma diminuição na satisfação com a vida.

Mas o fenômeno não é exclusivo da pandemia. Ele se alastrou nestes últimos dois anos, mas é uma característica da geração que nasceu dentro do ambiente virtual, mas que pouco aprendeu sobre os limites das redes - e muito porque os próprios pais e educadores não sabem como fazê-lo.

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A equação não é simples. De um lado temos os efeitos colaterais da pandemia e, do outro, as características de uma geração. Fato é que a combinação de ambos se tornou um explosivo aos adolescentes que têm sentido a saúde mental ser afetada violentamente.

A digitalização dos afetos e a banalização das emoções pelo uso exacerbado dos emojis - quem é que não manda coração como quem toma água? - desencadeou uma série de problemas nos adolescentes. Amadurecimento tardio, fobia social, disformia corporal, síndrome do pânico, transtorno de despersonalização e mais uma série de termos que podem ser bem assustadores.

Para o professor do Departamento de Política e pesquisador do Núcleo de Estudos e Arte Mídia e Política da PUC-SP, Rafael de Paula Aguiar Araújo, é preciso investir na construção e reconstrução das relações sociais. "É isto que nos faz humanos", diz.

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"A aceleração a que nos submetemos resulta em uma série de impactos e um deles é a forma como ela nos impele ao individualismo. Saímos de peito estufado enaltecendo o amor-próprio. Mas um projeto civilizatório não pode se sustentar com indivíduos. Ele nasce entre nós", completa.

A essência do ser humano edifica-se na relação com o outro e talvez essa compreensão a pandemia tenha deixado como legado. Pelo menos é algo que os adolescentes já tinham começado a perceber no primeiro ano da pandemia.

Um estudo realizado em setembro de 2020 pela HSR Research, identificou que 50% dos quase 2mil entrevistados havia percebido a importância das relações físicas enquanto viviam o isolamento social. Na época, disseram que queriam levar como aprendizado o hábito de interagir mais com as pessoas, se expor mais para o mundo, assim como conhecer novas pessoas.

E com a vida voltando ao normal - quase tudo como era antes - adolescentes da Geração Z começam a sair do que se pode chamar de "estado de inércia". Vem vindo um efeito de um novo começo e são eles, os jovens, quem impulsionarão as próprias mudanças afim de romper com a digitalização dos afetos e recuperar a saúde mental.

Ainda que eles tenham nascido num contexto totalmente digital, onde não há distinção entre mundo físico e virtual, adolescentes têm sentido os efeitos colaterais das relações nas redes sociais

Chamados de Geração Z, adolescentes nascidos entre 2000 e 2010 também são conhecidos como "nativos digitais". O que significa estarmos diante de um grupo que nasceu num contexto totalmente digital e que não faz distinção entre mundo físico e virtual. Mas "não fazer distinção" não os exime de saber - e sentir - as diferenças entre ambos. E é exatamente este o ponto que tem afetado a saúde mental dos adolescentes.

A distinção entre as possibilidades das relações que acontecem em ambos ambientes tem colocado os jovens diante de conflitos, principalmente após dois anos de isolamento social onde ficou clara a necessidade - e importância - dos afetos físicos, aqueles em se sente o toque, o cheiro e o calor do outro.

 Foto: Estadão

Não existe tecnologia 4D capaz de reproduzir as sensações por mais que ela avance e, não à toa, adolescentes ocuparam o topo dos índices de saúde mental com depressão, ansiedade e tristeza durante estes tempos. Os reflexos deixados pela pandemia ainda ocupam o dia a dia dos jovens que se deparam, a todo momento, com situações de violência e tristeza profunda.

Recentemente, uma pesquisa realizada pela Nova Escola divulgou que 70% dos professores percebem seus alunos mais violentos e agressivos aos retornarem às aulas pós-pandemia. Segundo a diretora de Educação da Nova Escola, Ana Scachetti, o período agiu sob as habilidades sociais de crianças e adolescentes que agora precisam reaprender a conviver, a socializar.

O estudo ouviu 5305 educadores de todas regiões brasileiras que atuam na educação básica e entre os principais motivos apontados pelos professores para a agressividade dos estudantes estão o crescimento das doenças psicoemocionais, 50,6%, e o aumento da vulnerabilidade das famílias, 46%.

Entre as tantas consequências negativas da pandemia, crianças e adolescentes não perderam só conteúdo ao não frequentarem os espaços físicos das escolas. Eles perderam a possibilidade de convivência social dentro de um ambiente totalmente cuidado e propício para tal.

A consequência é uma atrofia no desenvolvimento psicoemocional de uma geração que agora enfrenta um cotidiano permeado por sensações e emoções que nunca foram tão características de um grupo. Mas ninguém quer ser reconhecido como parte de uma geração cheia de ansiedade, tristeza, síndrome do pânico e índices de suicídio.

Para Albertina Lopes, mãe de um adolescente de 17 anos, o sofrimento dele é visível. "Meu filho passa horas na internet, em canais de streaming, jogando e nas redes sociais, mas vejo o quanto este tempo não é saudável para ele", conta. Ela diz que houve um aumento no tempo de uso de eletrônicos pós-pandemia e que o filho não conseguiu reduzir mesmo com a vida voltando ao normal. "Ele se esconde atrás da tela", diz.

A privação neste período, naturalmente, levou crianças e adolescentes a passar mais tempo nas redes sociais e intensificar as relações por lá. Era o único ambiente possível para exercitar a convivência social, ainda que não seja o mais indicado uma vez que sabemos da importância de construir relações onde filtros, app e recursos não estejam à disposição para maquiar a própria identidade.

Segundo um estudo das Universidades de Cambridge, Oxford e do Instituto Donders para Cérebro, Cognição e Comportamento, publicado na revista Nature Communications, jovens são mais vulneráveis aos efeitos negativos das redes sociais.

Foram 84mil pessoas entrevistadas com idades entre 10 e 80 anos e os dados incluem análises longitudinais, ou seja, eles continuam monitorando as pessoas por um determinado tempo, o que aconteceu com cerca de 17.400 de jovens entre 10 e 21 anos.

O objetivo dos pesquisadores era encontrar a conexão entre o uso das redes sociais e a satisfação com a vida e uma das principais percepções é de que existem períodos da adolescência em que o uso de mídia social está realmente associado a uma diminuição na satisfação com a vida.

Mas o fenômeno não é exclusivo da pandemia. Ele se alastrou nestes últimos dois anos, mas é uma característica da geração que nasceu dentro do ambiente virtual, mas que pouco aprendeu sobre os limites das redes - e muito porque os próprios pais e educadores não sabem como fazê-lo.

A equação não é simples. De um lado temos os efeitos colaterais da pandemia e, do outro, as características de uma geração. Fato é que a combinação de ambos se tornou um explosivo aos adolescentes que têm sentido a saúde mental ser afetada violentamente.

A digitalização dos afetos e a banalização das emoções pelo uso exacerbado dos emojis - quem é que não manda coração como quem toma água? - desencadeou uma série de problemas nos adolescentes. Amadurecimento tardio, fobia social, disformia corporal, síndrome do pânico, transtorno de despersonalização e mais uma série de termos que podem ser bem assustadores.

Para o professor do Departamento de Política e pesquisador do Núcleo de Estudos e Arte Mídia e Política da PUC-SP, Rafael de Paula Aguiar Araújo, é preciso investir na construção e reconstrução das relações sociais. "É isto que nos faz humanos", diz.

"A aceleração a que nos submetemos resulta em uma série de impactos e um deles é a forma como ela nos impele ao individualismo. Saímos de peito estufado enaltecendo o amor-próprio. Mas um projeto civilizatório não pode se sustentar com indivíduos. Ele nasce entre nós", completa.

A essência do ser humano edifica-se na relação com o outro e talvez essa compreensão a pandemia tenha deixado como legado. Pelo menos é algo que os adolescentes já tinham começado a perceber no primeiro ano da pandemia.

Um estudo realizado em setembro de 2020 pela HSR Research, identificou que 50% dos quase 2mil entrevistados havia percebido a importância das relações físicas enquanto viviam o isolamento social. Na época, disseram que queriam levar como aprendizado o hábito de interagir mais com as pessoas, se expor mais para o mundo, assim como conhecer novas pessoas.

E com a vida voltando ao normal - quase tudo como era antes - adolescentes da Geração Z começam a sair do que se pode chamar de "estado de inércia". Vem vindo um efeito de um novo começo e são eles, os jovens, quem impulsionarão as próprias mudanças afim de romper com a digitalização dos afetos e recuperar a saúde mental.

Ainda que eles tenham nascido num contexto totalmente digital, onde não há distinção entre mundo físico e virtual, adolescentes têm sentido os efeitos colaterais das relações nas redes sociais

Chamados de Geração Z, adolescentes nascidos entre 2000 e 2010 também são conhecidos como "nativos digitais". O que significa estarmos diante de um grupo que nasceu num contexto totalmente digital e que não faz distinção entre mundo físico e virtual. Mas "não fazer distinção" não os exime de saber - e sentir - as diferenças entre ambos. E é exatamente este o ponto que tem afetado a saúde mental dos adolescentes.

A distinção entre as possibilidades das relações que acontecem em ambos ambientes tem colocado os jovens diante de conflitos, principalmente após dois anos de isolamento social onde ficou clara a necessidade - e importância - dos afetos físicos, aqueles em se sente o toque, o cheiro e o calor do outro.

 Foto: Estadão

Não existe tecnologia 4D capaz de reproduzir as sensações por mais que ela avance e, não à toa, adolescentes ocuparam o topo dos índices de saúde mental com depressão, ansiedade e tristeza durante estes tempos. Os reflexos deixados pela pandemia ainda ocupam o dia a dia dos jovens que se deparam, a todo momento, com situações de violência e tristeza profunda.

Recentemente, uma pesquisa realizada pela Nova Escola divulgou que 70% dos professores percebem seus alunos mais violentos e agressivos aos retornarem às aulas pós-pandemia. Segundo a diretora de Educação da Nova Escola, Ana Scachetti, o período agiu sob as habilidades sociais de crianças e adolescentes que agora precisam reaprender a conviver, a socializar.

O estudo ouviu 5305 educadores de todas regiões brasileiras que atuam na educação básica e entre os principais motivos apontados pelos professores para a agressividade dos estudantes estão o crescimento das doenças psicoemocionais, 50,6%, e o aumento da vulnerabilidade das famílias, 46%.

Entre as tantas consequências negativas da pandemia, crianças e adolescentes não perderam só conteúdo ao não frequentarem os espaços físicos das escolas. Eles perderam a possibilidade de convivência social dentro de um ambiente totalmente cuidado e propício para tal.

A consequência é uma atrofia no desenvolvimento psicoemocional de uma geração que agora enfrenta um cotidiano permeado por sensações e emoções que nunca foram tão características de um grupo. Mas ninguém quer ser reconhecido como parte de uma geração cheia de ansiedade, tristeza, síndrome do pânico e índices de suicídio.

Para Albertina Lopes, mãe de um adolescente de 17 anos, o sofrimento dele é visível. "Meu filho passa horas na internet, em canais de streaming, jogando e nas redes sociais, mas vejo o quanto este tempo não é saudável para ele", conta. Ela diz que houve um aumento no tempo de uso de eletrônicos pós-pandemia e que o filho não conseguiu reduzir mesmo com a vida voltando ao normal. "Ele se esconde atrás da tela", diz.

A privação neste período, naturalmente, levou crianças e adolescentes a passar mais tempo nas redes sociais e intensificar as relações por lá. Era o único ambiente possível para exercitar a convivência social, ainda que não seja o mais indicado uma vez que sabemos da importância de construir relações onde filtros, app e recursos não estejam à disposição para maquiar a própria identidade.

Segundo um estudo das Universidades de Cambridge, Oxford e do Instituto Donders para Cérebro, Cognição e Comportamento, publicado na revista Nature Communications, jovens são mais vulneráveis aos efeitos negativos das redes sociais.

Foram 84mil pessoas entrevistadas com idades entre 10 e 80 anos e os dados incluem análises longitudinais, ou seja, eles continuam monitorando as pessoas por um determinado tempo, o que aconteceu com cerca de 17.400 de jovens entre 10 e 21 anos.

O objetivo dos pesquisadores era encontrar a conexão entre o uso das redes sociais e a satisfação com a vida e uma das principais percepções é de que existem períodos da adolescência em que o uso de mídia social está realmente associado a uma diminuição na satisfação com a vida.

Mas o fenômeno não é exclusivo da pandemia. Ele se alastrou nestes últimos dois anos, mas é uma característica da geração que nasceu dentro do ambiente virtual, mas que pouco aprendeu sobre os limites das redes - e muito porque os próprios pais e educadores não sabem como fazê-lo.

A equação não é simples. De um lado temos os efeitos colaterais da pandemia e, do outro, as características de uma geração. Fato é que a combinação de ambos se tornou um explosivo aos adolescentes que têm sentido a saúde mental ser afetada violentamente.

A digitalização dos afetos e a banalização das emoções pelo uso exacerbado dos emojis - quem é que não manda coração como quem toma água? - desencadeou uma série de problemas nos adolescentes. Amadurecimento tardio, fobia social, disformia corporal, síndrome do pânico, transtorno de despersonalização e mais uma série de termos que podem ser bem assustadores.

Para o professor do Departamento de Política e pesquisador do Núcleo de Estudos e Arte Mídia e Política da PUC-SP, Rafael de Paula Aguiar Araújo, é preciso investir na construção e reconstrução das relações sociais. "É isto que nos faz humanos", diz.

"A aceleração a que nos submetemos resulta em uma série de impactos e um deles é a forma como ela nos impele ao individualismo. Saímos de peito estufado enaltecendo o amor-próprio. Mas um projeto civilizatório não pode se sustentar com indivíduos. Ele nasce entre nós", completa.

A essência do ser humano edifica-se na relação com o outro e talvez essa compreensão a pandemia tenha deixado como legado. Pelo menos é algo que os adolescentes já tinham começado a perceber no primeiro ano da pandemia.

Um estudo realizado em setembro de 2020 pela HSR Research, identificou que 50% dos quase 2mil entrevistados havia percebido a importância das relações físicas enquanto viviam o isolamento social. Na época, disseram que queriam levar como aprendizado o hábito de interagir mais com as pessoas, se expor mais para o mundo, assim como conhecer novas pessoas.

E com a vida voltando ao normal - quase tudo como era antes - adolescentes da Geração Z começam a sair do que se pode chamar de "estado de inércia". Vem vindo um efeito de um novo começo e são eles, os jovens, quem impulsionarão as próprias mudanças afim de romper com a digitalização dos afetos e recuperar a saúde mental.

Ainda que eles tenham nascido num contexto totalmente digital, onde não há distinção entre mundo físico e virtual, adolescentes têm sentido os efeitos colaterais das relações nas redes sociais

Chamados de Geração Z, adolescentes nascidos entre 2000 e 2010 também são conhecidos como "nativos digitais". O que significa estarmos diante de um grupo que nasceu num contexto totalmente digital e que não faz distinção entre mundo físico e virtual. Mas "não fazer distinção" não os exime de saber - e sentir - as diferenças entre ambos. E é exatamente este o ponto que tem afetado a saúde mental dos adolescentes.

A distinção entre as possibilidades das relações que acontecem em ambos ambientes tem colocado os jovens diante de conflitos, principalmente após dois anos de isolamento social onde ficou clara a necessidade - e importância - dos afetos físicos, aqueles em se sente o toque, o cheiro e o calor do outro.

 Foto: Estadão

Não existe tecnologia 4D capaz de reproduzir as sensações por mais que ela avance e, não à toa, adolescentes ocuparam o topo dos índices de saúde mental com depressão, ansiedade e tristeza durante estes tempos. Os reflexos deixados pela pandemia ainda ocupam o dia a dia dos jovens que se deparam, a todo momento, com situações de violência e tristeza profunda.

Recentemente, uma pesquisa realizada pela Nova Escola divulgou que 70% dos professores percebem seus alunos mais violentos e agressivos aos retornarem às aulas pós-pandemia. Segundo a diretora de Educação da Nova Escola, Ana Scachetti, o período agiu sob as habilidades sociais de crianças e adolescentes que agora precisam reaprender a conviver, a socializar.

O estudo ouviu 5305 educadores de todas regiões brasileiras que atuam na educação básica e entre os principais motivos apontados pelos professores para a agressividade dos estudantes estão o crescimento das doenças psicoemocionais, 50,6%, e o aumento da vulnerabilidade das famílias, 46%.

Entre as tantas consequências negativas da pandemia, crianças e adolescentes não perderam só conteúdo ao não frequentarem os espaços físicos das escolas. Eles perderam a possibilidade de convivência social dentro de um ambiente totalmente cuidado e propício para tal.

A consequência é uma atrofia no desenvolvimento psicoemocional de uma geração que agora enfrenta um cotidiano permeado por sensações e emoções que nunca foram tão características de um grupo. Mas ninguém quer ser reconhecido como parte de uma geração cheia de ansiedade, tristeza, síndrome do pânico e índices de suicídio.

Para Albertina Lopes, mãe de um adolescente de 17 anos, o sofrimento dele é visível. "Meu filho passa horas na internet, em canais de streaming, jogando e nas redes sociais, mas vejo o quanto este tempo não é saudável para ele", conta. Ela diz que houve um aumento no tempo de uso de eletrônicos pós-pandemia e que o filho não conseguiu reduzir mesmo com a vida voltando ao normal. "Ele se esconde atrás da tela", diz.

A privação neste período, naturalmente, levou crianças e adolescentes a passar mais tempo nas redes sociais e intensificar as relações por lá. Era o único ambiente possível para exercitar a convivência social, ainda que não seja o mais indicado uma vez que sabemos da importância de construir relações onde filtros, app e recursos não estejam à disposição para maquiar a própria identidade.

Segundo um estudo das Universidades de Cambridge, Oxford e do Instituto Donders para Cérebro, Cognição e Comportamento, publicado na revista Nature Communications, jovens são mais vulneráveis aos efeitos negativos das redes sociais.

Foram 84mil pessoas entrevistadas com idades entre 10 e 80 anos e os dados incluem análises longitudinais, ou seja, eles continuam monitorando as pessoas por um determinado tempo, o que aconteceu com cerca de 17.400 de jovens entre 10 e 21 anos.

O objetivo dos pesquisadores era encontrar a conexão entre o uso das redes sociais e a satisfação com a vida e uma das principais percepções é de que existem períodos da adolescência em que o uso de mídia social está realmente associado a uma diminuição na satisfação com a vida.

Mas o fenômeno não é exclusivo da pandemia. Ele se alastrou nestes últimos dois anos, mas é uma característica da geração que nasceu dentro do ambiente virtual, mas que pouco aprendeu sobre os limites das redes - e muito porque os próprios pais e educadores não sabem como fazê-lo.

A equação não é simples. De um lado temos os efeitos colaterais da pandemia e, do outro, as características de uma geração. Fato é que a combinação de ambos se tornou um explosivo aos adolescentes que têm sentido a saúde mental ser afetada violentamente.

A digitalização dos afetos e a banalização das emoções pelo uso exacerbado dos emojis - quem é que não manda coração como quem toma água? - desencadeou uma série de problemas nos adolescentes. Amadurecimento tardio, fobia social, disformia corporal, síndrome do pânico, transtorno de despersonalização e mais uma série de termos que podem ser bem assustadores.

Para o professor do Departamento de Política e pesquisador do Núcleo de Estudos e Arte Mídia e Política da PUC-SP, Rafael de Paula Aguiar Araújo, é preciso investir na construção e reconstrução das relações sociais. "É isto que nos faz humanos", diz.

"A aceleração a que nos submetemos resulta em uma série de impactos e um deles é a forma como ela nos impele ao individualismo. Saímos de peito estufado enaltecendo o amor-próprio. Mas um projeto civilizatório não pode se sustentar com indivíduos. Ele nasce entre nós", completa.

A essência do ser humano edifica-se na relação com o outro e talvez essa compreensão a pandemia tenha deixado como legado. Pelo menos é algo que os adolescentes já tinham começado a perceber no primeiro ano da pandemia.

Um estudo realizado em setembro de 2020 pela HSR Research, identificou que 50% dos quase 2mil entrevistados havia percebido a importância das relações físicas enquanto viviam o isolamento social. Na época, disseram que queriam levar como aprendizado o hábito de interagir mais com as pessoas, se expor mais para o mundo, assim como conhecer novas pessoas.

E com a vida voltando ao normal - quase tudo como era antes - adolescentes da Geração Z começam a sair do que se pode chamar de "estado de inércia". Vem vindo um efeito de um novo começo e são eles, os jovens, quem impulsionarão as próprias mudanças afim de romper com a digitalização dos afetos e recuperar a saúde mental.

Ainda que eles tenham nascido num contexto totalmente digital, onde não há distinção entre mundo físico e virtual, adolescentes têm sentido os efeitos colaterais das relações nas redes sociais

Chamados de Geração Z, adolescentes nascidos entre 2000 e 2010 também são conhecidos como "nativos digitais". O que significa estarmos diante de um grupo que nasceu num contexto totalmente digital e que não faz distinção entre mundo físico e virtual. Mas "não fazer distinção" não os exime de saber - e sentir - as diferenças entre ambos. E é exatamente este o ponto que tem afetado a saúde mental dos adolescentes.

A distinção entre as possibilidades das relações que acontecem em ambos ambientes tem colocado os jovens diante de conflitos, principalmente após dois anos de isolamento social onde ficou clara a necessidade - e importância - dos afetos físicos, aqueles em se sente o toque, o cheiro e o calor do outro.

 Foto: Estadão

Não existe tecnologia 4D capaz de reproduzir as sensações por mais que ela avance e, não à toa, adolescentes ocuparam o topo dos índices de saúde mental com depressão, ansiedade e tristeza durante estes tempos. Os reflexos deixados pela pandemia ainda ocupam o dia a dia dos jovens que se deparam, a todo momento, com situações de violência e tristeza profunda.

Recentemente, uma pesquisa realizada pela Nova Escola divulgou que 70% dos professores percebem seus alunos mais violentos e agressivos aos retornarem às aulas pós-pandemia. Segundo a diretora de Educação da Nova Escola, Ana Scachetti, o período agiu sob as habilidades sociais de crianças e adolescentes que agora precisam reaprender a conviver, a socializar.

O estudo ouviu 5305 educadores de todas regiões brasileiras que atuam na educação básica e entre os principais motivos apontados pelos professores para a agressividade dos estudantes estão o crescimento das doenças psicoemocionais, 50,6%, e o aumento da vulnerabilidade das famílias, 46%.

Entre as tantas consequências negativas da pandemia, crianças e adolescentes não perderam só conteúdo ao não frequentarem os espaços físicos das escolas. Eles perderam a possibilidade de convivência social dentro de um ambiente totalmente cuidado e propício para tal.

A consequência é uma atrofia no desenvolvimento psicoemocional de uma geração que agora enfrenta um cotidiano permeado por sensações e emoções que nunca foram tão características de um grupo. Mas ninguém quer ser reconhecido como parte de uma geração cheia de ansiedade, tristeza, síndrome do pânico e índices de suicídio.

Para Albertina Lopes, mãe de um adolescente de 17 anos, o sofrimento dele é visível. "Meu filho passa horas na internet, em canais de streaming, jogando e nas redes sociais, mas vejo o quanto este tempo não é saudável para ele", conta. Ela diz que houve um aumento no tempo de uso de eletrônicos pós-pandemia e que o filho não conseguiu reduzir mesmo com a vida voltando ao normal. "Ele se esconde atrás da tela", diz.

A privação neste período, naturalmente, levou crianças e adolescentes a passar mais tempo nas redes sociais e intensificar as relações por lá. Era o único ambiente possível para exercitar a convivência social, ainda que não seja o mais indicado uma vez que sabemos da importância de construir relações onde filtros, app e recursos não estejam à disposição para maquiar a própria identidade.

Segundo um estudo das Universidades de Cambridge, Oxford e do Instituto Donders para Cérebro, Cognição e Comportamento, publicado na revista Nature Communications, jovens são mais vulneráveis aos efeitos negativos das redes sociais.

Foram 84mil pessoas entrevistadas com idades entre 10 e 80 anos e os dados incluem análises longitudinais, ou seja, eles continuam monitorando as pessoas por um determinado tempo, o que aconteceu com cerca de 17.400 de jovens entre 10 e 21 anos.

O objetivo dos pesquisadores era encontrar a conexão entre o uso das redes sociais e a satisfação com a vida e uma das principais percepções é de que existem períodos da adolescência em que o uso de mídia social está realmente associado a uma diminuição na satisfação com a vida.

Mas o fenômeno não é exclusivo da pandemia. Ele se alastrou nestes últimos dois anos, mas é uma característica da geração que nasceu dentro do ambiente virtual, mas que pouco aprendeu sobre os limites das redes - e muito porque os próprios pais e educadores não sabem como fazê-lo.

A equação não é simples. De um lado temos os efeitos colaterais da pandemia e, do outro, as características de uma geração. Fato é que a combinação de ambos se tornou um explosivo aos adolescentes que têm sentido a saúde mental ser afetada violentamente.

A digitalização dos afetos e a banalização das emoções pelo uso exacerbado dos emojis - quem é que não manda coração como quem toma água? - desencadeou uma série de problemas nos adolescentes. Amadurecimento tardio, fobia social, disformia corporal, síndrome do pânico, transtorno de despersonalização e mais uma série de termos que podem ser bem assustadores.

Para o professor do Departamento de Política e pesquisador do Núcleo de Estudos e Arte Mídia e Política da PUC-SP, Rafael de Paula Aguiar Araújo, é preciso investir na construção e reconstrução das relações sociais. "É isto que nos faz humanos", diz.

"A aceleração a que nos submetemos resulta em uma série de impactos e um deles é a forma como ela nos impele ao individualismo. Saímos de peito estufado enaltecendo o amor-próprio. Mas um projeto civilizatório não pode se sustentar com indivíduos. Ele nasce entre nós", completa.

A essência do ser humano edifica-se na relação com o outro e talvez essa compreensão a pandemia tenha deixado como legado. Pelo menos é algo que os adolescentes já tinham começado a perceber no primeiro ano da pandemia.

Um estudo realizado em setembro de 2020 pela HSR Research, identificou que 50% dos quase 2mil entrevistados havia percebido a importância das relações físicas enquanto viviam o isolamento social. Na época, disseram que queriam levar como aprendizado o hábito de interagir mais com as pessoas, se expor mais para o mundo, assim como conhecer novas pessoas.

E com a vida voltando ao normal - quase tudo como era antes - adolescentes da Geração Z começam a sair do que se pode chamar de "estado de inércia". Vem vindo um efeito de um novo começo e são eles, os jovens, quem impulsionarão as próprias mudanças afim de romper com a digitalização dos afetos e recuperar a saúde mental.

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