Comportamento Adolescente e Educação

Um assunto que incomoda


Por Carolina Delboni

A exploração sexual infantil ainda é um assunto pouco falado. Apesar de parecer distante do cotidiano, ele está enraizado em nossa cultura. Mas é crime e é preciso propagar informação para combatê-lo

Quando me dei conta, estava numa sala com 40 educadores, entre professores e diretores de escolas públicas, escutando relatos de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Era uma roda de conversa promovida pelo Instituto Liberta, que trabalha com o tema e tem gerado as rodas pelo Estado de São Paulo, na missão de despertar a consciência social para o assunto. Fui de ouvinte. Convidada pela Luciana, presidente do Instituto. Mas como se manter de ouvinte diante de uma realidade nua e crua? De uma realidade tão mais próxima do que a gente possa sonhar em imaginar. Dos 40 educadores que estavam ali, TODOS (em letras garrafais mesmo), sem exceção, tinham, pelo menos, uma história a contar. Alguns contaram dois, três casos. Recentes. Porque tem os que já aconteceram também. E como lidar com isso? A indiferença não é uma opção nesse caso. Não pode nem ser.

A exploração sexual infantil, assim como o abuso, acontece escondido. Ouve-se dizer, alguém contar, mas não se vê para crer. E é difícil crer numa realidade que coloca o Brasil no 4º. Lugar entre os países que mais casa meninas de 9 a 11 anos. Somos o 3º. no ranking de exploração sexual infantil. O Terminal de Cargas na Fernão Dias, em SP, é o maior ponto do Estado. Meninos e meninas menores de idade se prostituem para comprar comida. Ao lado, há menos de 100 metros, uma base da Policia Militar. É crime, todo mundo sabe, mas ninguém faz nada. No arquipélago de Marajó, na cidade de Melgaço, o bispo dom José Luis Azcona denunciou, em 2015, a exploração sexual de crianças e adolescentes conhecidas na região como "As Balseiras". Crianças e adolescentes usam canoas para se aproximar das balsas que aportam por lá. Supostamente, entram para vender artesanato, mas trocam o corpo por gasolina e alimentos para a família. Uma prática que se instalou de tal maneira a ser considerada costume cultural. Existe uma normatização da prática tão grande que dificulta a criminalização uma vez que a situação passa a ser vista como "natural". Enquanto isso, meninas de 7 a 14 anos são exploradas sexualmente de forma frequente na região.

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O Brasil, somou mais de 175mil casos entre 2012 e 2016 segundo balanço do Disque 100. Ao todo, 67,7% das crianças e jovens que sofrem abuso e exploração sexuais são meninas, contra 16,52% dos meninos. Os casos em que o sexo da criança não foi informado totalizaram 15,79%. A maioria dos casos (40%) ocorrem com crianças entre 0 a 11 anos, seguidas por 12 a 14 anos (30,3%) e de 15 a 17 (20,09%). A maioria dos agressores são homens (62,5%) e adultos de 18 a 40 anos (42%).

Sustentando um dos primeiros lugares no ranking internacional de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes, o Brasil precisa de políticas urgentes de prevenção para combater o problema. E é preciso desnaturalizar o problema. "A missão ainda está no chão. Não se fala deste assunto no Brasil", fala Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, idealizado pelo empresário e filantropo Elie Horn, fundador da construtora Cyrella, em 2016. "O movimento de indignação é necessário porque enquanto não se denuncia, se naturaliza o problema e não pode". Com a forte missão de comunicar e conscientizar as pessoas, o Instituto Liberta, quer mobilizar a sociedade civil. "Porque só quando for um problema social é que conseguiremos ter leis mais firmes e órgãos públicos agindo junto". E a população sabe que é crime, mas não denuncia. Em pesquisa encomendada pelo Instituto ao Datafolha, este ano, dos 2097 entrevistados, 100% sabem que é crime pagar por sexo com crianças e adolescentes, mas 70% dos que presenciaram algo, se calaram e 30% não sabem como encaminhar a denuncia.

"O dado que mostra que as pessoas sabem que é crime, mas não denunciam o que revela uma naturalização do problema que precisa ser combatida", diz Luciana. É preciso denunciar. E para isso é preciso conscientização. Dai a importância das rodas de conversa lideradas pelo Liberta com educadores e mediadores de escolas públicas. "Depois da casa, a escola é o segundo lugar em que a criança mais confia e estabelece relação", conta Luciana. É ali que ela vai ter liberdade e segurança para dizer o que está acontecendo. Uma professora que estava na roda, relatou que a partir de um trabalho de ciências sociais, meninas contaram em seus textos sobre abusos que sofriam. O que poderia ser apenas um trabalho de sala de aula deu vasão a algo que sufocava. Às vezes, é assim. O desabafo sai num texto, num trabalho de classe. Às vezes, não.

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Apesar dos professores não viverem a exploração sexual nas escolas de forma tão frequente quanto vivem os abusos, eles são os escolhidos para disseminar este projeto. Porque é através deles que chegam relatos de abuso sexual e, muitas vezes, um abuso pode se tornar uma exploração. A escola está inserida num cotidiano perverso de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Conscientizar, sensibilizar e dar ferramentas a esses professores de como agir é uma maneira extremamente importante de combater essa violência contra a infância. Porque é crime.

A exploração sexual infantil ainda é um assunto pouco falado. Apesar de parecer distante do cotidiano, ele está enraizado em nossa cultura. Mas é crime e é preciso propagar informação para combatê-lo

Quando me dei conta, estava numa sala com 40 educadores, entre professores e diretores de escolas públicas, escutando relatos de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Era uma roda de conversa promovida pelo Instituto Liberta, que trabalha com o tema e tem gerado as rodas pelo Estado de São Paulo, na missão de despertar a consciência social para o assunto. Fui de ouvinte. Convidada pela Luciana, presidente do Instituto. Mas como se manter de ouvinte diante de uma realidade nua e crua? De uma realidade tão mais próxima do que a gente possa sonhar em imaginar. Dos 40 educadores que estavam ali, TODOS (em letras garrafais mesmo), sem exceção, tinham, pelo menos, uma história a contar. Alguns contaram dois, três casos. Recentes. Porque tem os que já aconteceram também. E como lidar com isso? A indiferença não é uma opção nesse caso. Não pode nem ser.

A exploração sexual infantil, assim como o abuso, acontece escondido. Ouve-se dizer, alguém contar, mas não se vê para crer. E é difícil crer numa realidade que coloca o Brasil no 4º. Lugar entre os países que mais casa meninas de 9 a 11 anos. Somos o 3º. no ranking de exploração sexual infantil. O Terminal de Cargas na Fernão Dias, em SP, é o maior ponto do Estado. Meninos e meninas menores de idade se prostituem para comprar comida. Ao lado, há menos de 100 metros, uma base da Policia Militar. É crime, todo mundo sabe, mas ninguém faz nada. No arquipélago de Marajó, na cidade de Melgaço, o bispo dom José Luis Azcona denunciou, em 2015, a exploração sexual de crianças e adolescentes conhecidas na região como "As Balseiras". Crianças e adolescentes usam canoas para se aproximar das balsas que aportam por lá. Supostamente, entram para vender artesanato, mas trocam o corpo por gasolina e alimentos para a família. Uma prática que se instalou de tal maneira a ser considerada costume cultural. Existe uma normatização da prática tão grande que dificulta a criminalização uma vez que a situação passa a ser vista como "natural". Enquanto isso, meninas de 7 a 14 anos são exploradas sexualmente de forma frequente na região.

O Brasil, somou mais de 175mil casos entre 2012 e 2016 segundo balanço do Disque 100. Ao todo, 67,7% das crianças e jovens que sofrem abuso e exploração sexuais são meninas, contra 16,52% dos meninos. Os casos em que o sexo da criança não foi informado totalizaram 15,79%. A maioria dos casos (40%) ocorrem com crianças entre 0 a 11 anos, seguidas por 12 a 14 anos (30,3%) e de 15 a 17 (20,09%). A maioria dos agressores são homens (62,5%) e adultos de 18 a 40 anos (42%).

Sustentando um dos primeiros lugares no ranking internacional de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes, o Brasil precisa de políticas urgentes de prevenção para combater o problema. E é preciso desnaturalizar o problema. "A missão ainda está no chão. Não se fala deste assunto no Brasil", fala Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, idealizado pelo empresário e filantropo Elie Horn, fundador da construtora Cyrella, em 2016. "O movimento de indignação é necessário porque enquanto não se denuncia, se naturaliza o problema e não pode". Com a forte missão de comunicar e conscientizar as pessoas, o Instituto Liberta, quer mobilizar a sociedade civil. "Porque só quando for um problema social é que conseguiremos ter leis mais firmes e órgãos públicos agindo junto". E a população sabe que é crime, mas não denuncia. Em pesquisa encomendada pelo Instituto ao Datafolha, este ano, dos 2097 entrevistados, 100% sabem que é crime pagar por sexo com crianças e adolescentes, mas 70% dos que presenciaram algo, se calaram e 30% não sabem como encaminhar a denuncia.

"O dado que mostra que as pessoas sabem que é crime, mas não denunciam o que revela uma naturalização do problema que precisa ser combatida", diz Luciana. É preciso denunciar. E para isso é preciso conscientização. Dai a importância das rodas de conversa lideradas pelo Liberta com educadores e mediadores de escolas públicas. "Depois da casa, a escola é o segundo lugar em que a criança mais confia e estabelece relação", conta Luciana. É ali que ela vai ter liberdade e segurança para dizer o que está acontecendo. Uma professora que estava na roda, relatou que a partir de um trabalho de ciências sociais, meninas contaram em seus textos sobre abusos que sofriam. O que poderia ser apenas um trabalho de sala de aula deu vasão a algo que sufocava. Às vezes, é assim. O desabafo sai num texto, num trabalho de classe. Às vezes, não.

Apesar dos professores não viverem a exploração sexual nas escolas de forma tão frequente quanto vivem os abusos, eles são os escolhidos para disseminar este projeto. Porque é através deles que chegam relatos de abuso sexual e, muitas vezes, um abuso pode se tornar uma exploração. A escola está inserida num cotidiano perverso de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Conscientizar, sensibilizar e dar ferramentas a esses professores de como agir é uma maneira extremamente importante de combater essa violência contra a infância. Porque é crime.

A exploração sexual infantil ainda é um assunto pouco falado. Apesar de parecer distante do cotidiano, ele está enraizado em nossa cultura. Mas é crime e é preciso propagar informação para combatê-lo

Quando me dei conta, estava numa sala com 40 educadores, entre professores e diretores de escolas públicas, escutando relatos de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Era uma roda de conversa promovida pelo Instituto Liberta, que trabalha com o tema e tem gerado as rodas pelo Estado de São Paulo, na missão de despertar a consciência social para o assunto. Fui de ouvinte. Convidada pela Luciana, presidente do Instituto. Mas como se manter de ouvinte diante de uma realidade nua e crua? De uma realidade tão mais próxima do que a gente possa sonhar em imaginar. Dos 40 educadores que estavam ali, TODOS (em letras garrafais mesmo), sem exceção, tinham, pelo menos, uma história a contar. Alguns contaram dois, três casos. Recentes. Porque tem os que já aconteceram também. E como lidar com isso? A indiferença não é uma opção nesse caso. Não pode nem ser.

A exploração sexual infantil, assim como o abuso, acontece escondido. Ouve-se dizer, alguém contar, mas não se vê para crer. E é difícil crer numa realidade que coloca o Brasil no 4º. Lugar entre os países que mais casa meninas de 9 a 11 anos. Somos o 3º. no ranking de exploração sexual infantil. O Terminal de Cargas na Fernão Dias, em SP, é o maior ponto do Estado. Meninos e meninas menores de idade se prostituem para comprar comida. Ao lado, há menos de 100 metros, uma base da Policia Militar. É crime, todo mundo sabe, mas ninguém faz nada. No arquipélago de Marajó, na cidade de Melgaço, o bispo dom José Luis Azcona denunciou, em 2015, a exploração sexual de crianças e adolescentes conhecidas na região como "As Balseiras". Crianças e adolescentes usam canoas para se aproximar das balsas que aportam por lá. Supostamente, entram para vender artesanato, mas trocam o corpo por gasolina e alimentos para a família. Uma prática que se instalou de tal maneira a ser considerada costume cultural. Existe uma normatização da prática tão grande que dificulta a criminalização uma vez que a situação passa a ser vista como "natural". Enquanto isso, meninas de 7 a 14 anos são exploradas sexualmente de forma frequente na região.

O Brasil, somou mais de 175mil casos entre 2012 e 2016 segundo balanço do Disque 100. Ao todo, 67,7% das crianças e jovens que sofrem abuso e exploração sexuais são meninas, contra 16,52% dos meninos. Os casos em que o sexo da criança não foi informado totalizaram 15,79%. A maioria dos casos (40%) ocorrem com crianças entre 0 a 11 anos, seguidas por 12 a 14 anos (30,3%) e de 15 a 17 (20,09%). A maioria dos agressores são homens (62,5%) e adultos de 18 a 40 anos (42%).

Sustentando um dos primeiros lugares no ranking internacional de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes, o Brasil precisa de políticas urgentes de prevenção para combater o problema. E é preciso desnaturalizar o problema. "A missão ainda está no chão. Não se fala deste assunto no Brasil", fala Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, idealizado pelo empresário e filantropo Elie Horn, fundador da construtora Cyrella, em 2016. "O movimento de indignação é necessário porque enquanto não se denuncia, se naturaliza o problema e não pode". Com a forte missão de comunicar e conscientizar as pessoas, o Instituto Liberta, quer mobilizar a sociedade civil. "Porque só quando for um problema social é que conseguiremos ter leis mais firmes e órgãos públicos agindo junto". E a população sabe que é crime, mas não denuncia. Em pesquisa encomendada pelo Instituto ao Datafolha, este ano, dos 2097 entrevistados, 100% sabem que é crime pagar por sexo com crianças e adolescentes, mas 70% dos que presenciaram algo, se calaram e 30% não sabem como encaminhar a denuncia.

"O dado que mostra que as pessoas sabem que é crime, mas não denunciam o que revela uma naturalização do problema que precisa ser combatida", diz Luciana. É preciso denunciar. E para isso é preciso conscientização. Dai a importância das rodas de conversa lideradas pelo Liberta com educadores e mediadores de escolas públicas. "Depois da casa, a escola é o segundo lugar em que a criança mais confia e estabelece relação", conta Luciana. É ali que ela vai ter liberdade e segurança para dizer o que está acontecendo. Uma professora que estava na roda, relatou que a partir de um trabalho de ciências sociais, meninas contaram em seus textos sobre abusos que sofriam. O que poderia ser apenas um trabalho de sala de aula deu vasão a algo que sufocava. Às vezes, é assim. O desabafo sai num texto, num trabalho de classe. Às vezes, não.

Apesar dos professores não viverem a exploração sexual nas escolas de forma tão frequente quanto vivem os abusos, eles são os escolhidos para disseminar este projeto. Porque é através deles que chegam relatos de abuso sexual e, muitas vezes, um abuso pode se tornar uma exploração. A escola está inserida num cotidiano perverso de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Conscientizar, sensibilizar e dar ferramentas a esses professores de como agir é uma maneira extremamente importante de combater essa violência contra a infância. Porque é crime.

A exploração sexual infantil ainda é um assunto pouco falado. Apesar de parecer distante do cotidiano, ele está enraizado em nossa cultura. Mas é crime e é preciso propagar informação para combatê-lo

Quando me dei conta, estava numa sala com 40 educadores, entre professores e diretores de escolas públicas, escutando relatos de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Era uma roda de conversa promovida pelo Instituto Liberta, que trabalha com o tema e tem gerado as rodas pelo Estado de São Paulo, na missão de despertar a consciência social para o assunto. Fui de ouvinte. Convidada pela Luciana, presidente do Instituto. Mas como se manter de ouvinte diante de uma realidade nua e crua? De uma realidade tão mais próxima do que a gente possa sonhar em imaginar. Dos 40 educadores que estavam ali, TODOS (em letras garrafais mesmo), sem exceção, tinham, pelo menos, uma história a contar. Alguns contaram dois, três casos. Recentes. Porque tem os que já aconteceram também. E como lidar com isso? A indiferença não é uma opção nesse caso. Não pode nem ser.

A exploração sexual infantil, assim como o abuso, acontece escondido. Ouve-se dizer, alguém contar, mas não se vê para crer. E é difícil crer numa realidade que coloca o Brasil no 4º. Lugar entre os países que mais casa meninas de 9 a 11 anos. Somos o 3º. no ranking de exploração sexual infantil. O Terminal de Cargas na Fernão Dias, em SP, é o maior ponto do Estado. Meninos e meninas menores de idade se prostituem para comprar comida. Ao lado, há menos de 100 metros, uma base da Policia Militar. É crime, todo mundo sabe, mas ninguém faz nada. No arquipélago de Marajó, na cidade de Melgaço, o bispo dom José Luis Azcona denunciou, em 2015, a exploração sexual de crianças e adolescentes conhecidas na região como "As Balseiras". Crianças e adolescentes usam canoas para se aproximar das balsas que aportam por lá. Supostamente, entram para vender artesanato, mas trocam o corpo por gasolina e alimentos para a família. Uma prática que se instalou de tal maneira a ser considerada costume cultural. Existe uma normatização da prática tão grande que dificulta a criminalização uma vez que a situação passa a ser vista como "natural". Enquanto isso, meninas de 7 a 14 anos são exploradas sexualmente de forma frequente na região.

O Brasil, somou mais de 175mil casos entre 2012 e 2016 segundo balanço do Disque 100. Ao todo, 67,7% das crianças e jovens que sofrem abuso e exploração sexuais são meninas, contra 16,52% dos meninos. Os casos em que o sexo da criança não foi informado totalizaram 15,79%. A maioria dos casos (40%) ocorrem com crianças entre 0 a 11 anos, seguidas por 12 a 14 anos (30,3%) e de 15 a 17 (20,09%). A maioria dos agressores são homens (62,5%) e adultos de 18 a 40 anos (42%).

Sustentando um dos primeiros lugares no ranking internacional de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes, o Brasil precisa de políticas urgentes de prevenção para combater o problema. E é preciso desnaturalizar o problema. "A missão ainda está no chão. Não se fala deste assunto no Brasil", fala Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, idealizado pelo empresário e filantropo Elie Horn, fundador da construtora Cyrella, em 2016. "O movimento de indignação é necessário porque enquanto não se denuncia, se naturaliza o problema e não pode". Com a forte missão de comunicar e conscientizar as pessoas, o Instituto Liberta, quer mobilizar a sociedade civil. "Porque só quando for um problema social é que conseguiremos ter leis mais firmes e órgãos públicos agindo junto". E a população sabe que é crime, mas não denuncia. Em pesquisa encomendada pelo Instituto ao Datafolha, este ano, dos 2097 entrevistados, 100% sabem que é crime pagar por sexo com crianças e adolescentes, mas 70% dos que presenciaram algo, se calaram e 30% não sabem como encaminhar a denuncia.

"O dado que mostra que as pessoas sabem que é crime, mas não denunciam o que revela uma naturalização do problema que precisa ser combatida", diz Luciana. É preciso denunciar. E para isso é preciso conscientização. Dai a importância das rodas de conversa lideradas pelo Liberta com educadores e mediadores de escolas públicas. "Depois da casa, a escola é o segundo lugar em que a criança mais confia e estabelece relação", conta Luciana. É ali que ela vai ter liberdade e segurança para dizer o que está acontecendo. Uma professora que estava na roda, relatou que a partir de um trabalho de ciências sociais, meninas contaram em seus textos sobre abusos que sofriam. O que poderia ser apenas um trabalho de sala de aula deu vasão a algo que sufocava. Às vezes, é assim. O desabafo sai num texto, num trabalho de classe. Às vezes, não.

Apesar dos professores não viverem a exploração sexual nas escolas de forma tão frequente quanto vivem os abusos, eles são os escolhidos para disseminar este projeto. Porque é através deles que chegam relatos de abuso sexual e, muitas vezes, um abuso pode se tornar uma exploração. A escola está inserida num cotidiano perverso de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Conscientizar, sensibilizar e dar ferramentas a esses professores de como agir é uma maneira extremamente importante de combater essa violência contra a infância. Porque é crime.

A exploração sexual infantil ainda é um assunto pouco falado. Apesar de parecer distante do cotidiano, ele está enraizado em nossa cultura. Mas é crime e é preciso propagar informação para combatê-lo

Quando me dei conta, estava numa sala com 40 educadores, entre professores e diretores de escolas públicas, escutando relatos de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Era uma roda de conversa promovida pelo Instituto Liberta, que trabalha com o tema e tem gerado as rodas pelo Estado de São Paulo, na missão de despertar a consciência social para o assunto. Fui de ouvinte. Convidada pela Luciana, presidente do Instituto. Mas como se manter de ouvinte diante de uma realidade nua e crua? De uma realidade tão mais próxima do que a gente possa sonhar em imaginar. Dos 40 educadores que estavam ali, TODOS (em letras garrafais mesmo), sem exceção, tinham, pelo menos, uma história a contar. Alguns contaram dois, três casos. Recentes. Porque tem os que já aconteceram também. E como lidar com isso? A indiferença não é uma opção nesse caso. Não pode nem ser.

A exploração sexual infantil, assim como o abuso, acontece escondido. Ouve-se dizer, alguém contar, mas não se vê para crer. E é difícil crer numa realidade que coloca o Brasil no 4º. Lugar entre os países que mais casa meninas de 9 a 11 anos. Somos o 3º. no ranking de exploração sexual infantil. O Terminal de Cargas na Fernão Dias, em SP, é o maior ponto do Estado. Meninos e meninas menores de idade se prostituem para comprar comida. Ao lado, há menos de 100 metros, uma base da Policia Militar. É crime, todo mundo sabe, mas ninguém faz nada. No arquipélago de Marajó, na cidade de Melgaço, o bispo dom José Luis Azcona denunciou, em 2015, a exploração sexual de crianças e adolescentes conhecidas na região como "As Balseiras". Crianças e adolescentes usam canoas para se aproximar das balsas que aportam por lá. Supostamente, entram para vender artesanato, mas trocam o corpo por gasolina e alimentos para a família. Uma prática que se instalou de tal maneira a ser considerada costume cultural. Existe uma normatização da prática tão grande que dificulta a criminalização uma vez que a situação passa a ser vista como "natural". Enquanto isso, meninas de 7 a 14 anos são exploradas sexualmente de forma frequente na região.

O Brasil, somou mais de 175mil casos entre 2012 e 2016 segundo balanço do Disque 100. Ao todo, 67,7% das crianças e jovens que sofrem abuso e exploração sexuais são meninas, contra 16,52% dos meninos. Os casos em que o sexo da criança não foi informado totalizaram 15,79%. A maioria dos casos (40%) ocorrem com crianças entre 0 a 11 anos, seguidas por 12 a 14 anos (30,3%) e de 15 a 17 (20,09%). A maioria dos agressores são homens (62,5%) e adultos de 18 a 40 anos (42%).

Sustentando um dos primeiros lugares no ranking internacional de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes, o Brasil precisa de políticas urgentes de prevenção para combater o problema. E é preciso desnaturalizar o problema. "A missão ainda está no chão. Não se fala deste assunto no Brasil", fala Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, idealizado pelo empresário e filantropo Elie Horn, fundador da construtora Cyrella, em 2016. "O movimento de indignação é necessário porque enquanto não se denuncia, se naturaliza o problema e não pode". Com a forte missão de comunicar e conscientizar as pessoas, o Instituto Liberta, quer mobilizar a sociedade civil. "Porque só quando for um problema social é que conseguiremos ter leis mais firmes e órgãos públicos agindo junto". E a população sabe que é crime, mas não denuncia. Em pesquisa encomendada pelo Instituto ao Datafolha, este ano, dos 2097 entrevistados, 100% sabem que é crime pagar por sexo com crianças e adolescentes, mas 70% dos que presenciaram algo, se calaram e 30% não sabem como encaminhar a denuncia.

"O dado que mostra que as pessoas sabem que é crime, mas não denunciam o que revela uma naturalização do problema que precisa ser combatida", diz Luciana. É preciso denunciar. E para isso é preciso conscientização. Dai a importância das rodas de conversa lideradas pelo Liberta com educadores e mediadores de escolas públicas. "Depois da casa, a escola é o segundo lugar em que a criança mais confia e estabelece relação", conta Luciana. É ali que ela vai ter liberdade e segurança para dizer o que está acontecendo. Uma professora que estava na roda, relatou que a partir de um trabalho de ciências sociais, meninas contaram em seus textos sobre abusos que sofriam. O que poderia ser apenas um trabalho de sala de aula deu vasão a algo que sufocava. Às vezes, é assim. O desabafo sai num texto, num trabalho de classe. Às vezes, não.

Apesar dos professores não viverem a exploração sexual nas escolas de forma tão frequente quanto vivem os abusos, eles são os escolhidos para disseminar este projeto. Porque é através deles que chegam relatos de abuso sexual e, muitas vezes, um abuso pode se tornar uma exploração. A escola está inserida num cotidiano perverso de abuso e exploração sexual infantil e adolescente. Conscientizar, sensibilizar e dar ferramentas a esses professores de como agir é uma maneira extremamente importante de combater essa violência contra a infância. Porque é crime.

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