Conheça o muralismo, técnica que transforma paredes em arte


Durante a pandemia, a vontade de renovar a casa foi exponencial. Assim como a valorização do manual e do exclusivo

Por Ana Lourenço
As linhas são traços característicos da dupla Lanó Foto: Arquivo Pessoal

O poder das cores é incomparável quando falamos em transformar um espaço. A coragem de sair do comum, porém, é para poucos e para um grupo menor ainda é o mergulho na criatividade e exclusividade que os produtos de larga escala não garantem. “As artes nas paredes têm o poder de conectar o morador, de influenciar no comportamento das pessoas. Isso está muito vinculado com essa parte emocional que a gente não consegue mensurar, mas que, com certeza, é algo que tem uma premissa por trás muito forte”, expõe a arquiteta Mona Singal, do escritório Rua 141.

O muralismo é o nome que a pintura executada sobre uma parede recebe justamente pela sua dimensão. “A gente entende os murais como superfícies maiores – na parede, no muro, na fachada. Ele exige outro tipo de material e uma outra composição, afinal você pensa ele muito maior do que pensaria um quadro, por exemplo e com um outro impacto também, porque o quadro você consegue mudar de um lugar para o outro, o mural está ali e vai ficar sempre ali”, explica a artista Carolina Barbosa que, ao lado da artista Juliana Nersessian, compõe a dupla Lanó, especializada em murais.

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Esse tipo de arte não surgiu hoje, pelo contrário. O muralismo foi cultivado nas civilizações gregas e romanas, com grandes exemplos no Renascimento. Mas, com o tempo, seu estilo foi mudando e hoje, o que é chamado de estilo contemporâneo dessa arte, implica em algo muito mais livre e pessoal. Por isso mesmo, é uma arte que exige confiança quando trazida para dentro de casa. “Eu tenho um estilo de arte e as pessoas vêm para mim buscando ele. É um trabalho muito mais autoral, mais autêntico, onde o artista tem a permissão pessoal de se expressar como ele se expressa”, diz a artista plástica Kalina Juzwiak, conhecida como Kaju. 

“Desde pequena, a arte foi a minha terapia”, conta a artista Kalina Juzwiak, que entra em um estado meditativo ao compor suas obras Foto: Kaju

A confiança é mútua uma vez que os clientes devem confiar nas artistas e as próprias artistas devem confiar muito na sua habilidade com a técnica. Isso porque todas as artistas entrevistadas pela reportagem, e a grande maioria que faz o muralismo por algum tempo, realiza a arte à mão livre. Eventuais esboços somente para aprovações de clientes ou para agilizar o processo no dia da pintura. “A inspiração está o tempo inteiro ao meu redor. Eu misturo dentro de mim e toda vez sai algo diferente”, ensina Kaju.

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Durante a pandemia, a vontade de renovar a casa foi exponencial. Assim como a valorização do manual e do exclusivo. Por isso mesmo, a arte em paredes ganhou ainda mais atenção. Para a artista Nina Cohen, o período ajudou as pessoas a terem maior sensibilidade com as aquisições, especialmente para o bem estar. “Eu nunca achei que eu ia trabalhar tanto quanto eu trabalhei esse ano. Recebi muito orçamento e vi que, com segurança, era super possível ir nas casas das pessoas. Hoje em dia, é mais seguro eu pintar do que ir ao mercado”, brinca ela, que teve o dobro da demanda mensal com o isolamento.

A escolha do mural vai além da decoração, afinal, em tempos de lives e videochamadas, as paredes passam a ser cenários. “São novas possibilidades que as pessoas estão começando a procurar e são muito criativas”, conta a arquiteta Bianca Bahlis.

Conexão. Para Mona, a qualificação dos profissionais está diretamente relacionada ao aumento da produção dos artistas, especialmente nas áreas internas. “Desde os produtos que eles utilizam quanto a identidade de cada um através da arte”, diz ela que, em parceria com a artista Bruna Paschoarelli, renovou a sala de convívio das crianças no abrigo Lar Batista no Campo Limpo, em São Paulo.

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“Nesse projeto, tive três pontos iniciais: o desejo das crianças, o projeto do escritório Rua 141 e as cores disponibilizadas pela Coral como doação para o projeto. Com esse material em mente, criei o jardim que as crianças queriam, imaginando-o como um grande abraço florido”, conta Bruna, que fez uma proposta de arte pensada para não ser algo nem muito infantil, nem muito jovem, pois o ambiente será utilizado por crianças de várias idades.

Projeto do Lar Batista tinha como objetivo trazer a natureza para dentro Foto: Nathalie Artaxo

A ideia era trazer a natureza para dentro do ambiente e configurar isso em todas as paredes para garantir a sensação de imersão. Mas engana-se quem pensa que, em ambientes residenciais, não é possível fazer a mesma sensação sem deixar um ambiente pesado. “Se pensarmos em um lavabo, um hall de entrada, dá para fazer todas as paredes. Mas, se pensarmos em um quarto, onde a gente costuma querer algo mais introspectivo, de descanso, de relaxamento, talvez não. É preciso estudar caso a caso”, conta Mona, que salienta que não existe regra na arte, porém é preciso ser criterioso em relação ao público que irá receber. 

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Para isso, é preciso sentir o ambiente. Para um quarto infantil, por exemplo, não são indicadas geometrias duras, com cores muito fortes, pois isso influencia o comportamento da criança. “Existe essa sensibilidade do artista de entender o lugar, ler a pessoa, o gosto dela e ter essa flexibilização dentro do trabalho também”, diz Kaju.

Essa compreensão de si mesma é tão importante que muitas vezes resulta em um estado meditativo quando se inicia o trabalho. “Desde pequena, a arte foi minha terapia. Claro que hoje tem um lado comercial, mas, sempre antes de ir para um cliente, gosto de fazer um pequeno ritual de conexão comigo mesma”, conta Kaju que tem um estilo dual – com movimento e linhas retas e orgânicas.

Já Nina, que tem um estilo abstrato com botânica, traz também a característica única de levar a arte para além da parede “Acho legal quando não fica aquele quadro grande lá; gosto quando é algo mais orgânico e vai para além da parede. Para as quinas, para o teto”, conta.

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Artista traz formas que vão para além da parede Foto: Nina Cohen

Habilidade. É importante lembrar que o mural não é algo que precisa ser pensado junto com o projeto. Afinal, com diversos vídeos ‘faça você mesmo’ disponíveis na internet, é possível fazer algo mais caseiro e econômico. Porém, existem vantagens em programar a parede junto com o projeto e contar com a ajuda de um profissional.

“Você tem uma visão mais ampla do que vai combinar. O ambiente é composto por diversos elementos e a parede pode até ganhar um destaque, mas precisa estar casando com o resto”, pontua Bianca. “Na residência, como já tem o mobiliário, o mural tem que ornar muito bem com o resto da decoração”, conta ela que, em parceria com a artista Marcela Rodrigues, fez uma parede que brinca com a cristaleira em um projeto da zona norte.

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“Essa cliente queria dar destaque para a cristaleira, mas ao mesmo tempo queria algo que não pesasse no ambiente, por isso usamos uma única cor terrosa”, explica Marcela que, durante a execução do trabalho, teve de imaginar a posição exata da cristaleira, que foi removida para não sujar, e criar desenhos que saíssem dela, garantindo o destaque.

A arte emolduroue garantiu mais destaque à cristaleira Foto: Bianca Bahlis

“Convencer essa cliente foi um desafio, pois ela achava que ter um mural era algo muito ousado. Por isso mesmo a arte escolhida foi só um detalhe. E isso é muito legal da pintura: ela te dá a possibilidade de fazer apenas um detalhe também”, opina Bianca.

O divertido dos murais é que não exigem muita regra, porém isso não impossibilita erros. “As vantagens de se ter um profissional é ter alguém que possa conversar com você e que te toque de alguma forma; que tenha uma identidade e confiança com os materiais e métodos. A gente passa tranquilidade para os nossos clientes”, coloca Carolina.

As linhas são traços característicos da dupla Lanó Foto: Arquivo Pessoal

O poder das cores é incomparável quando falamos em transformar um espaço. A coragem de sair do comum, porém, é para poucos e para um grupo menor ainda é o mergulho na criatividade e exclusividade que os produtos de larga escala não garantem. “As artes nas paredes têm o poder de conectar o morador, de influenciar no comportamento das pessoas. Isso está muito vinculado com essa parte emocional que a gente não consegue mensurar, mas que, com certeza, é algo que tem uma premissa por trás muito forte”, expõe a arquiteta Mona Singal, do escritório Rua 141.

O muralismo é o nome que a pintura executada sobre uma parede recebe justamente pela sua dimensão. “A gente entende os murais como superfícies maiores – na parede, no muro, na fachada. Ele exige outro tipo de material e uma outra composição, afinal você pensa ele muito maior do que pensaria um quadro, por exemplo e com um outro impacto também, porque o quadro você consegue mudar de um lugar para o outro, o mural está ali e vai ficar sempre ali”, explica a artista Carolina Barbosa que, ao lado da artista Juliana Nersessian, compõe a dupla Lanó, especializada em murais.

Esse tipo de arte não surgiu hoje, pelo contrário. O muralismo foi cultivado nas civilizações gregas e romanas, com grandes exemplos no Renascimento. Mas, com o tempo, seu estilo foi mudando e hoje, o que é chamado de estilo contemporâneo dessa arte, implica em algo muito mais livre e pessoal. Por isso mesmo, é uma arte que exige confiança quando trazida para dentro de casa. “Eu tenho um estilo de arte e as pessoas vêm para mim buscando ele. É um trabalho muito mais autoral, mais autêntico, onde o artista tem a permissão pessoal de se expressar como ele se expressa”, diz a artista plástica Kalina Juzwiak, conhecida como Kaju. 

“Desde pequena, a arte foi a minha terapia”, conta a artista Kalina Juzwiak, que entra em um estado meditativo ao compor suas obras Foto: Kaju

A confiança é mútua uma vez que os clientes devem confiar nas artistas e as próprias artistas devem confiar muito na sua habilidade com a técnica. Isso porque todas as artistas entrevistadas pela reportagem, e a grande maioria que faz o muralismo por algum tempo, realiza a arte à mão livre. Eventuais esboços somente para aprovações de clientes ou para agilizar o processo no dia da pintura. “A inspiração está o tempo inteiro ao meu redor. Eu misturo dentro de mim e toda vez sai algo diferente”, ensina Kaju.

Durante a pandemia, a vontade de renovar a casa foi exponencial. Assim como a valorização do manual e do exclusivo. Por isso mesmo, a arte em paredes ganhou ainda mais atenção. Para a artista Nina Cohen, o período ajudou as pessoas a terem maior sensibilidade com as aquisições, especialmente para o bem estar. “Eu nunca achei que eu ia trabalhar tanto quanto eu trabalhei esse ano. Recebi muito orçamento e vi que, com segurança, era super possível ir nas casas das pessoas. Hoje em dia, é mais seguro eu pintar do que ir ao mercado”, brinca ela, que teve o dobro da demanda mensal com o isolamento.

A escolha do mural vai além da decoração, afinal, em tempos de lives e videochamadas, as paredes passam a ser cenários. “São novas possibilidades que as pessoas estão começando a procurar e são muito criativas”, conta a arquiteta Bianca Bahlis.

Conexão. Para Mona, a qualificação dos profissionais está diretamente relacionada ao aumento da produção dos artistas, especialmente nas áreas internas. “Desde os produtos que eles utilizam quanto a identidade de cada um através da arte”, diz ela que, em parceria com a artista Bruna Paschoarelli, renovou a sala de convívio das crianças no abrigo Lar Batista no Campo Limpo, em São Paulo.

“Nesse projeto, tive três pontos iniciais: o desejo das crianças, o projeto do escritório Rua 141 e as cores disponibilizadas pela Coral como doação para o projeto. Com esse material em mente, criei o jardim que as crianças queriam, imaginando-o como um grande abraço florido”, conta Bruna, que fez uma proposta de arte pensada para não ser algo nem muito infantil, nem muito jovem, pois o ambiente será utilizado por crianças de várias idades.

Projeto do Lar Batista tinha como objetivo trazer a natureza para dentro Foto: Nathalie Artaxo

A ideia era trazer a natureza para dentro do ambiente e configurar isso em todas as paredes para garantir a sensação de imersão. Mas engana-se quem pensa que, em ambientes residenciais, não é possível fazer a mesma sensação sem deixar um ambiente pesado. “Se pensarmos em um lavabo, um hall de entrada, dá para fazer todas as paredes. Mas, se pensarmos em um quarto, onde a gente costuma querer algo mais introspectivo, de descanso, de relaxamento, talvez não. É preciso estudar caso a caso”, conta Mona, que salienta que não existe regra na arte, porém é preciso ser criterioso em relação ao público que irá receber. 

Para isso, é preciso sentir o ambiente. Para um quarto infantil, por exemplo, não são indicadas geometrias duras, com cores muito fortes, pois isso influencia o comportamento da criança. “Existe essa sensibilidade do artista de entender o lugar, ler a pessoa, o gosto dela e ter essa flexibilização dentro do trabalho também”, diz Kaju.

Essa compreensão de si mesma é tão importante que muitas vezes resulta em um estado meditativo quando se inicia o trabalho. “Desde pequena, a arte foi minha terapia. Claro que hoje tem um lado comercial, mas, sempre antes de ir para um cliente, gosto de fazer um pequeno ritual de conexão comigo mesma”, conta Kaju que tem um estilo dual – com movimento e linhas retas e orgânicas.

Já Nina, que tem um estilo abstrato com botânica, traz também a característica única de levar a arte para além da parede “Acho legal quando não fica aquele quadro grande lá; gosto quando é algo mais orgânico e vai para além da parede. Para as quinas, para o teto”, conta.

Artista traz formas que vão para além da parede Foto: Nina Cohen

Habilidade. É importante lembrar que o mural não é algo que precisa ser pensado junto com o projeto. Afinal, com diversos vídeos ‘faça você mesmo’ disponíveis na internet, é possível fazer algo mais caseiro e econômico. Porém, existem vantagens em programar a parede junto com o projeto e contar com a ajuda de um profissional.

“Você tem uma visão mais ampla do que vai combinar. O ambiente é composto por diversos elementos e a parede pode até ganhar um destaque, mas precisa estar casando com o resto”, pontua Bianca. “Na residência, como já tem o mobiliário, o mural tem que ornar muito bem com o resto da decoração”, conta ela que, em parceria com a artista Marcela Rodrigues, fez uma parede que brinca com a cristaleira em um projeto da zona norte.

“Essa cliente queria dar destaque para a cristaleira, mas ao mesmo tempo queria algo que não pesasse no ambiente, por isso usamos uma única cor terrosa”, explica Marcela que, durante a execução do trabalho, teve de imaginar a posição exata da cristaleira, que foi removida para não sujar, e criar desenhos que saíssem dela, garantindo o destaque.

A arte emolduroue garantiu mais destaque à cristaleira Foto: Bianca Bahlis

“Convencer essa cliente foi um desafio, pois ela achava que ter um mural era algo muito ousado. Por isso mesmo a arte escolhida foi só um detalhe. E isso é muito legal da pintura: ela te dá a possibilidade de fazer apenas um detalhe também”, opina Bianca.

O divertido dos murais é que não exigem muita regra, porém isso não impossibilita erros. “As vantagens de se ter um profissional é ter alguém que possa conversar com você e que te toque de alguma forma; que tenha uma identidade e confiança com os materiais e métodos. A gente passa tranquilidade para os nossos clientes”, coloca Carolina.

As linhas são traços característicos da dupla Lanó Foto: Arquivo Pessoal

O poder das cores é incomparável quando falamos em transformar um espaço. A coragem de sair do comum, porém, é para poucos e para um grupo menor ainda é o mergulho na criatividade e exclusividade que os produtos de larga escala não garantem. “As artes nas paredes têm o poder de conectar o morador, de influenciar no comportamento das pessoas. Isso está muito vinculado com essa parte emocional que a gente não consegue mensurar, mas que, com certeza, é algo que tem uma premissa por trás muito forte”, expõe a arquiteta Mona Singal, do escritório Rua 141.

O muralismo é o nome que a pintura executada sobre uma parede recebe justamente pela sua dimensão. “A gente entende os murais como superfícies maiores – na parede, no muro, na fachada. Ele exige outro tipo de material e uma outra composição, afinal você pensa ele muito maior do que pensaria um quadro, por exemplo e com um outro impacto também, porque o quadro você consegue mudar de um lugar para o outro, o mural está ali e vai ficar sempre ali”, explica a artista Carolina Barbosa que, ao lado da artista Juliana Nersessian, compõe a dupla Lanó, especializada em murais.

Esse tipo de arte não surgiu hoje, pelo contrário. O muralismo foi cultivado nas civilizações gregas e romanas, com grandes exemplos no Renascimento. Mas, com o tempo, seu estilo foi mudando e hoje, o que é chamado de estilo contemporâneo dessa arte, implica em algo muito mais livre e pessoal. Por isso mesmo, é uma arte que exige confiança quando trazida para dentro de casa. “Eu tenho um estilo de arte e as pessoas vêm para mim buscando ele. É um trabalho muito mais autoral, mais autêntico, onde o artista tem a permissão pessoal de se expressar como ele se expressa”, diz a artista plástica Kalina Juzwiak, conhecida como Kaju. 

“Desde pequena, a arte foi a minha terapia”, conta a artista Kalina Juzwiak, que entra em um estado meditativo ao compor suas obras Foto: Kaju

A confiança é mútua uma vez que os clientes devem confiar nas artistas e as próprias artistas devem confiar muito na sua habilidade com a técnica. Isso porque todas as artistas entrevistadas pela reportagem, e a grande maioria que faz o muralismo por algum tempo, realiza a arte à mão livre. Eventuais esboços somente para aprovações de clientes ou para agilizar o processo no dia da pintura. “A inspiração está o tempo inteiro ao meu redor. Eu misturo dentro de mim e toda vez sai algo diferente”, ensina Kaju.

Durante a pandemia, a vontade de renovar a casa foi exponencial. Assim como a valorização do manual e do exclusivo. Por isso mesmo, a arte em paredes ganhou ainda mais atenção. Para a artista Nina Cohen, o período ajudou as pessoas a terem maior sensibilidade com as aquisições, especialmente para o bem estar. “Eu nunca achei que eu ia trabalhar tanto quanto eu trabalhei esse ano. Recebi muito orçamento e vi que, com segurança, era super possível ir nas casas das pessoas. Hoje em dia, é mais seguro eu pintar do que ir ao mercado”, brinca ela, que teve o dobro da demanda mensal com o isolamento.

A escolha do mural vai além da decoração, afinal, em tempos de lives e videochamadas, as paredes passam a ser cenários. “São novas possibilidades que as pessoas estão começando a procurar e são muito criativas”, conta a arquiteta Bianca Bahlis.

Conexão. Para Mona, a qualificação dos profissionais está diretamente relacionada ao aumento da produção dos artistas, especialmente nas áreas internas. “Desde os produtos que eles utilizam quanto a identidade de cada um através da arte”, diz ela que, em parceria com a artista Bruna Paschoarelli, renovou a sala de convívio das crianças no abrigo Lar Batista no Campo Limpo, em São Paulo.

“Nesse projeto, tive três pontos iniciais: o desejo das crianças, o projeto do escritório Rua 141 e as cores disponibilizadas pela Coral como doação para o projeto. Com esse material em mente, criei o jardim que as crianças queriam, imaginando-o como um grande abraço florido”, conta Bruna, que fez uma proposta de arte pensada para não ser algo nem muito infantil, nem muito jovem, pois o ambiente será utilizado por crianças de várias idades.

Projeto do Lar Batista tinha como objetivo trazer a natureza para dentro Foto: Nathalie Artaxo

A ideia era trazer a natureza para dentro do ambiente e configurar isso em todas as paredes para garantir a sensação de imersão. Mas engana-se quem pensa que, em ambientes residenciais, não é possível fazer a mesma sensação sem deixar um ambiente pesado. “Se pensarmos em um lavabo, um hall de entrada, dá para fazer todas as paredes. Mas, se pensarmos em um quarto, onde a gente costuma querer algo mais introspectivo, de descanso, de relaxamento, talvez não. É preciso estudar caso a caso”, conta Mona, que salienta que não existe regra na arte, porém é preciso ser criterioso em relação ao público que irá receber. 

Para isso, é preciso sentir o ambiente. Para um quarto infantil, por exemplo, não são indicadas geometrias duras, com cores muito fortes, pois isso influencia o comportamento da criança. “Existe essa sensibilidade do artista de entender o lugar, ler a pessoa, o gosto dela e ter essa flexibilização dentro do trabalho também”, diz Kaju.

Essa compreensão de si mesma é tão importante que muitas vezes resulta em um estado meditativo quando se inicia o trabalho. “Desde pequena, a arte foi minha terapia. Claro que hoje tem um lado comercial, mas, sempre antes de ir para um cliente, gosto de fazer um pequeno ritual de conexão comigo mesma”, conta Kaju que tem um estilo dual – com movimento e linhas retas e orgânicas.

Já Nina, que tem um estilo abstrato com botânica, traz também a característica única de levar a arte para além da parede “Acho legal quando não fica aquele quadro grande lá; gosto quando é algo mais orgânico e vai para além da parede. Para as quinas, para o teto”, conta.

Artista traz formas que vão para além da parede Foto: Nina Cohen

Habilidade. É importante lembrar que o mural não é algo que precisa ser pensado junto com o projeto. Afinal, com diversos vídeos ‘faça você mesmo’ disponíveis na internet, é possível fazer algo mais caseiro e econômico. Porém, existem vantagens em programar a parede junto com o projeto e contar com a ajuda de um profissional.

“Você tem uma visão mais ampla do que vai combinar. O ambiente é composto por diversos elementos e a parede pode até ganhar um destaque, mas precisa estar casando com o resto”, pontua Bianca. “Na residência, como já tem o mobiliário, o mural tem que ornar muito bem com o resto da decoração”, conta ela que, em parceria com a artista Marcela Rodrigues, fez uma parede que brinca com a cristaleira em um projeto da zona norte.

“Essa cliente queria dar destaque para a cristaleira, mas ao mesmo tempo queria algo que não pesasse no ambiente, por isso usamos uma única cor terrosa”, explica Marcela que, durante a execução do trabalho, teve de imaginar a posição exata da cristaleira, que foi removida para não sujar, e criar desenhos que saíssem dela, garantindo o destaque.

A arte emolduroue garantiu mais destaque à cristaleira Foto: Bianca Bahlis

“Convencer essa cliente foi um desafio, pois ela achava que ter um mural era algo muito ousado. Por isso mesmo a arte escolhida foi só um detalhe. E isso é muito legal da pintura: ela te dá a possibilidade de fazer apenas um detalhe também”, opina Bianca.

O divertido dos murais é que não exigem muita regra, porém isso não impossibilita erros. “As vantagens de se ter um profissional é ter alguém que possa conversar com você e que te toque de alguma forma; que tenha uma identidade e confiança com os materiais e métodos. A gente passa tranquilidade para os nossos clientes”, coloca Carolina.

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