O problema dos resíduos plásticos – sobretudo provenientes de produtos descartáveis como garrafas pet, sacolas e copos – existe há décadas. A novidade é que atingimos um ponto no qual a proporção de material descartado, especialmente nos oceanos, se tornou tão descomunal, que não pode mais ser ignorada.
Tendo, muitas vezes, desempenhado papel-chave na criação de produtos focados mais na conveniência do que na longevidade, designers de todo mundo já chamam para si a responsabilidade de repensar o futuro do plástico. O que pode representar desde a total substituição por variedades biodegradáveis até a possibilidade de reelaborar o que já existe, sintetizando novos materiais.
Em sintonia com o movimento, a feira Maison & Objet, que ocorreu no mês passado em Paris, trouxe exemplos concretos das possibilidades abertas pela reciclagem, quando aplicada à produção de móveis e objetos utilitários.
O designer holandês Dirk Vander Kooij está entre aqueles que tentam mudar a percepção de valor do móvel de plástico reciclado. Sua série Meltingpot – produzida pela fusão de cadeiras, vasos, armários e outros itens descartados – apresenta textura e solidez comparáveis às do mármore.
A longo prazo, reutilizar plástico usado em vez de recorrer ao material virgem parece ser um caminho natural, tanto para designers como Kooij , que produz suas peças em ateliê, por conta própria, quanto para a grande indústria, sempre às voltas com volumes e cifras consideravelmente superiores.
Caso da Vondom, especializada em móveis externos, que extrai sua matéria-prima diretamente do mar – é a partir de redes de pesca e garrafas plásticas, recolhidas por pescadores e organizações ambientais, que surgem cadeiras como a Love, que leva a assinatura de Eugeni Quitllet.
Outra que entrou na onda, a italiana Guzzini apresentou em Paris a coleção de utilitários Tierra: sua primeira 100% feita a partir de garrafas de água descartáveis. De aspecto artesanal, o design lembra cerâmica. “É diferente do plástico novo, tem um efeito diferente, e você pode brincar com isso para criar uma nova estética”, sugere o designer Tito Toso, um dos responsáveis pelo projeto.