De acordo com a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) aproximadamente 70% da população brasileira pode ter sintomas ligados ao mau funcionamento do sistema digestivo, com a gastrite, uma inflamação aguda na mucosa que reveste as paredes estomacais. Os efeitos são os mais variados, como azia, refluxo, sensação de estufamento e gases, que para muitas pessoas são vistos como normais. Mais uma vez, as causas estão ligadas a alguns erros no hábito alimentar, associados ao estresse dos grandes centros urbanos. Os medicamentos que deveriam tratar a doença, apenas amenizam os sintomas e podem oferecer riscos à saúde. E se a alimentação pode ser a sua causadora, também pode ser a sua solução.
Comer rápido demais, com preocupação, nervosismo, ou agitação, tomar líquidos com a refeição, fazer jejum prolongado, comer grandes quantidades de comida de uma só vez, abusar do café, da cafeína em geral, do refrigerante, do açúcar, do álcool e da fritura, principalmente depois de horas de jejum, somados ao estresse mental ou emocional são os principais fatores que prejudicam o funcionamento estomacal. Estes hábitos prejudicam a proteção da mucosa gástrica, alterando a ação do ácido clorídrico, presente naturalmente nesse órgão, o que pode gerar o processo inflamatório conhecido como gastrite. A deficiência de minerais como o zinco e das vitaminas do complexo B, presentes principalmente nas frutas, verduras e legumes, pode interferir na formação do ácido clorídrico.
O estômago produz naturalmente o ácido clorídrico porque o seu ph tem que ser muito ácido para fazer com que as vitaminas e os minerais sejam absorvidos, matar fungos e más bactérias, manter a microbiota saudável e digerir as proteínas para evitar processos inflamatórios. Qualquer fator que diminua a quantidade desse ácido, como consumir líquido durante a refeição, que vai diluí-lo, ou que faça com que ele não seja produzido adequadamente, como a falta de algumas vitaminas e minerais, vai diminuir a qualidade da digestão, fazendo com que os alimentos fiquem parados no estômago, fermentando. Essa fermentação pode causar azia, queimação, gases, refluxo, sensação de estufamento e até pigarro e tosse.
De acordo com a autora do livro "Entendendo a Importância do Processo Alimentar", Denise Madi, a gastrite até pode ser causada pela ação do ácido clorídrico na mucosa do estômago, quando houver uma diminuição do muco protetor, mas normalmente isso só acontece na minoria dos casos, a grande maioria é causada pela falta de ácido clorídrico. Porém, os medicamentos mais vendidos no País para combater a gastrite, inibem a produção do ácido clorídrico como se ele fosse o vilão do nosso estômago. Com menos ácido, o ph do estômago é alcalinizado, o que pode atenuar os sintomas desconfortáveis, porém, a absorção de todas as vitaminas e minerais e, em especial, a da vitamina B12, será prejudicada. Por isso, o uso prolongado desses medicamentos pode causar graves deficiências nutricionais. Essas deficiências, por sua vez, podem causar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, por exemplo, para quem é predisposto geneticamente. A relação entre o uso prolongado dos medicamentos para gastrite e essas doenças já foi comprovada por diversos estudos científicos. Esses medicamentos já são utilizados até para crianças, que poderão ter sérios problemas de absorção de vitaminas e minerais, queda no sistema imunológico e desenvolvimento de processos inflamatórios, se o consumo da droga for crônico.
A quantidade inadequada de ácido clorídrico também prejudica o controle necessário de fungos e más bactérias, prejudicando o equilíbrio da microbiota intestinal, o que desestabiliza o sistema imunológico. Além disso, o ph estomacal menos ácido dificulta a digestão de proteínas. O acúmulo das proteínas mal digeridas, por sua vez, pode causar inúmeros processos inflamatórios no organismo, com os mais variados sintomas, que vão desde problemas respiratórios como rinite, sinusite, bronquite, até emocionais como ansiedade, depressão, distúrbios de comportamento, passando por dermatite, obesidade, ovário policístico e dores articulares, entre tantos outros.
Alguns alimentos colaboram muito com o restabelecimento do sistema digestivo, como a couve e o inhame. A couve, de preferência orgânica, pode ser lavada e congelada inteira, com o talo, basta fazer um suco matinal com a couve batida com frutas da sua preferência, usando água ou água de coco, mas é bom evitar as frutas cítricas como laranja e limão e açúcar nem pensar. Eu gosto de bater com abacaxi ou com polpa de uva ou maracujá. Para que surta efeito ele deve ser consumido todos os dias, por pelo menos alguns meses.
O inhame pode ser consumido em forma de leite, batido com água e esse leite vegetal também pode ser batido com frutas. A receita é muito simples, basta bater no liquidificador 1 inhame médio com 150ml de água e depois coar. Aqui no Sudeste o inhame médio tem o tamanho da palma de uma mão, em outros Estados esse alimento é chamado de cará. Mas atenção, antes de batê-lo ele deve ser descascado, picado em pedaços grandes e ficar 2 minutos em água fervente, essa água deve ser descartada. Esse procedimento vai acabar com os fatores antinutricionais, que prejudicam a absorção de vitaminas e minerais pelo organismo. Abaixo vou colocar o link de um vídeo em que ensino a fazer o leite. De qualquer forma, se você sofre com problemas estomacais é sempre importante consultar um profissional especializado.
https://www.youtube.com/watch?v=V1Cj-guvyCw&t=57s